quinta-feira , 14 novembro , 2024

‘The Handmaid’s Tale’: Conheça a série eleita pelo Emmy como a melhor de 2017

Um futuro distópico, com uma teonomia totalitária fundamentalista cristã. A nova série da plataforma de streaming Hulu traz essa combinação dolorosa que estes quatro elementos são capazes de originar. Em uma nação onde nada mais nasce e os temerosos tempos apocalípticos deixam fragmentos cada vez mais expressivos de sua chegada, a morte e as trevas emergem, dando à luz a uma nova era regressiva, subversiva, que usa a pureza e as distorções bíblicas para reavivar a escravidão da mente, da mulher, da individualidade, do coletivo. A cada morte, um novo nascimento. A cada novo nascimento, uma nova escravidão. Esta é a adaptação da aclamada obra de Margaret Atwood, The Handmaid’s Tale, grande vencedora do Emmy 2017 nas categorias melhor série, melhor atriz (Elisabeth Moss), melhor atriz coadjuvante (Ann Dowd), melhor direção e melhor roteiro – tudo nas categorias de drama.

A contemporaneidade é a própria culpada. A tecnologia, as altas emissões de gases poluentes, a evolução feminina em direção a uma independência independente demais. Seguindo os princípios fundamentais do romance de 1985, acrescentando as subsequentes progressões socioeconômicas e tecnológicas das décadas que sucederam os anos 80, a produção criada por Bruce Miller faz um paralelo com os tempos das aias, das servas oriundas do século XVI. Levando a premissa da servidão feminina aos extremos mais ardilosos, a adaptação segue fielmente a história uma vez contada por Atwood, se apresentando pontualmente em uma época onde nunca discutimos tanto o famoso papel da mulher na sociedade.



Em meio a uma era onde vozes – até então solitárias – ganham coro, estilos antes apedrejados agora já beiram a banalidade e salários gradativamente são equiparados, a década iniciada em 2010, e que já caminha para além de sua segunda metade, tem sido marcada por essas ávidas discussões. Desconfortáveis para alguns, desnecessárias para outros, esta época seria o estopim daquele conto da aia. Já estamos caminhando para tão longe de onde estivemos que talvez um freio, uma pausa, seja necessário. Na série desenvolvida pela Hulu, o desconforto advindo dos avanços sócio mentais da mulher chega ao seu ápice e todas as esferas globais que afetaram a perpetuidade da vida humana na Terra são colocadas sobre os lombos delas. Em linhas curtas, aqui, tudo é culpa da mulher.

Banindo a sensualidade, a inteligência, o poder de questionamento, o direito à leitura e até mesmo seu direito de ir e vir, as mulheres férteis se tornam as joias da coroa de Gileade, o antigo Estados Unidos agora tomado pelo regime totalitário. A elas, o papel de progenitoras é dado, em uma espécie de “cerimônia” onde o estupro é ritualizado. Para as estéreis, a servidão vem em um ambiente subversivo de prostituição forçada, como empregada doméstica ou até mesmo pela morte. Eliminando também a beleza, o vigor artístico e as cores que certa vez fizeram da América a Terra das Oportunidades e da Liberdade, a nova nação volta ao sistema quase feudal, regredindo os índices de poluição a 78%. O ar pode até estar purificado. A alma não. E em meio a tudo isso, uma serva conta a sua história. Somos apresentados a uma Elisabeth Moss diferente, a atriz que fez de suas raízes na aclamada série da AMC, Mad Men, traz o esplendor de uma das atuações mais dolorosas e impactantes de se testemunhar na tela da TV.

Tecnicamente falando, The Handmaid’s Tale reside na construção cinematográfica e interpretativa de seu roteiro. Ao colocar Elisabeth Moss como a aia que lidera, que sofre e que relata sua experiência, somos presenteados com uma das linguagens corporais mais simbólicas e angustiantes já vistas na televisão. A fala embargada, o corpo amuado e os olhos marejados refletem uma beleza sensível e delicada extraída do âmago da dor de quem se sente aprisionada dentro de si mesma. Na série, Moss também lidera as demais atuações, que acompanham sua maestria em um elenco onde todas – e todos – expressam bem os sons abafados que o regime fundamentalista consolidou no país.

Com uma direção belíssima e intimista, a câmera percorre Gileade como um espectador que possui uma visão privilegiada deste pequeno e secreto mundo. Testemunhamos closes desconfortáveis e intimidadores, onde a câmera capta a fraqueza e acontrastante fortaleza que o olhar indignante e sofrível de Offred (Moss) estampa diante de suas circunstâncias. Vemos feixes de luz permearem cortinas e janelas escuras, que tentam fazer da claridade um pequeno vislumbre de uma realidade que não existe mais. Somos absorvidos pela complexidade e magnitude de um roteiro que desconstrói a vida vivida por nós, fora da série fictícia, e nos imerge em um contexto social sufocante, hipnotizante e consternante. A cada novo episódio, adentramos este futuro distópico tão verídico e somos consumidos de tal forma que ao encerrarmos cada capítulo, somos tomados subitamente pelo plano real, como se saíssemos de um denso e imersivo coma.

The Handmaid’s Tale é muito mais que um conto tenebroso de um futuro cabível aos tempos em que vivemos. É a obra oitentista vanguardista, que vislumbrou 30 anos a frente de seu período e permitiu que hoje, em plenos 2017, possamos ampliar nosso debate e avaliar os passos que estamos dando em direção à consolidação do papel da mulher nos contextos em que ela se encontra. A evolução político social é irreversível. Que esta série jamais nos deixe esquecer disso.

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A contemporaneidade é a própria culpada. A tecnologia, as altas emissões de gases poluentes, a evolução feminina em direção a uma independência independente demais. Seguindo os princípios fundamentais do romance de 1985, acrescentando as subsequentes progressões socioeconômicas e tecnológicas das décadas que sucederam os anos 80, a produção criada por Bruce Miller faz um paralelo com os tempos das aias, das servas oriundas do século XVI. Levando a premissa da servidão feminina aos extremos mais ardilosos, a adaptação segue fielmente a história uma vez contada por Atwood, se apresentando pontualmente em uma época onde nunca discutimos tanto o famoso papel da mulher na sociedade.

Em meio a uma era onde vozes – até então solitárias – ganham coro, estilos antes apedrejados agora já beiram a banalidade e salários gradativamente são equiparados, a década iniciada em 2010, e que já caminha para além de sua segunda metade, tem sido marcada por essas ávidas discussões. Desconfortáveis para alguns, desnecessárias para outros, esta época seria o estopim daquele conto da aia. Já estamos caminhando para tão longe de onde estivemos que talvez um freio, uma pausa, seja necessário. Na série desenvolvida pela Hulu, o desconforto advindo dos avanços sócio mentais da mulher chega ao seu ápice e todas as esferas globais que afetaram a perpetuidade da vida humana na Terra são colocadas sobre os lombos delas. Em linhas curtas, aqui, tudo é culpa da mulher.

Banindo a sensualidade, a inteligência, o poder de questionamento, o direito à leitura e até mesmo seu direito de ir e vir, as mulheres férteis se tornam as joias da coroa de Gileade, o antigo Estados Unidos agora tomado pelo regime totalitário. A elas, o papel de progenitoras é dado, em uma espécie de “cerimônia” onde o estupro é ritualizado. Para as estéreis, a servidão vem em um ambiente subversivo de prostituição forçada, como empregada doméstica ou até mesmo pela morte. Eliminando também a beleza, o vigor artístico e as cores que certa vez fizeram da América a Terra das Oportunidades e da Liberdade, a nova nação volta ao sistema quase feudal, regredindo os índices de poluição a 78%. O ar pode até estar purificado. A alma não. E em meio a tudo isso, uma serva conta a sua história. Somos apresentados a uma Elisabeth Moss diferente, a atriz que fez de suas raízes na aclamada série da AMC, Mad Men, traz o esplendor de uma das atuações mais dolorosas e impactantes de se testemunhar na tela da TV.

Tecnicamente falando, The Handmaid’s Tale reside na construção cinematográfica e interpretativa de seu roteiro. Ao colocar Elisabeth Moss como a aia que lidera, que sofre e que relata sua experiência, somos presenteados com uma das linguagens corporais mais simbólicas e angustiantes já vistas na televisão. A fala embargada, o corpo amuado e os olhos marejados refletem uma beleza sensível e delicada extraída do âmago da dor de quem se sente aprisionada dentro de si mesma. Na série, Moss também lidera as demais atuações, que acompanham sua maestria em um elenco onde todas – e todos – expressam bem os sons abafados que o regime fundamentalista consolidou no país.

Com uma direção belíssima e intimista, a câmera percorre Gileade como um espectador que possui uma visão privilegiada deste pequeno e secreto mundo. Testemunhamos closes desconfortáveis e intimidadores, onde a câmera capta a fraqueza e acontrastante fortaleza que o olhar indignante e sofrível de Offred (Moss) estampa diante de suas circunstâncias. Vemos feixes de luz permearem cortinas e janelas escuras, que tentam fazer da claridade um pequeno vislumbre de uma realidade que não existe mais. Somos absorvidos pela complexidade e magnitude de um roteiro que desconstrói a vida vivida por nós, fora da série fictícia, e nos imerge em um contexto social sufocante, hipnotizante e consternante. A cada novo episódio, adentramos este futuro distópico tão verídico e somos consumidos de tal forma que ao encerrarmos cada capítulo, somos tomados subitamente pelo plano real, como se saíssemos de um denso e imersivo coma.

The Handmaid’s Tale é muito mais que um conto tenebroso de um futuro cabível aos tempos em que vivemos. É a obra oitentista vanguardista, que vislumbrou 30 anos a frente de seu período e permitiu que hoje, em plenos 2017, possamos ampliar nosso debate e avaliar os passos que estamos dando em direção à consolidação do papel da mulher nos contextos em que ela se encontra. A evolução político social é irreversível. Que esta série jamais nos deixe esquecer disso.

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