Poder rever filmes que amamos no cinema é sempre incrível. Mas já imaginou como deve ser ainda melhor viver isso ao ar livre e com uma tela bem maior que a das salas tradicionais? Pois essa é justamente a proposta do Shell Open Air, evento que começou mais uma edição na última quarta (16/05) na Marina da Glória, Rio de Janeiro.
No primeiro dia, reservado apenas para convidados, foi exibido o clássico Curtindo a Vida Adoidado (1986), de John Hughes; já na quinta (17/05), na abertura oficial para o público, o escolhido foi nada menos que Titanic (1997) – superprodução de James Cameron que até hoje emociona uma legião de fãs. Inclusive eu (também conhecida como a-pessoa-mais-suspeita-do-mundo-para-falar-sobre-o-longa). Segura aí que lá vem textão sobre essa história…
Titanic: o filme responsável pela minha paixão por cinema
Lembro até hoje quando Titanic estreou no Brasil. Eu tinha uns sete anos e já era ligada a filmes, então é claro que fiquei empolgada para ver esta tal história com ~um ator bonitinho~ que morria congelado no final (sim, as pessoas não se importavam muito com spoiler nessa época, e todo mundo já chegava na sessão conhecendo o triste fim dos protagonistas Jack e Rose). Minha prima de 14 anos tinha sido a primeira a conferir entre o pessoal lá de casa, e eu me empolgava ainda mais com cada detalhe que ela me contava (“tem uma música linda da Celine Dion“/”Eles se beijam na ponta do navio”/”O Jack morre congelado e todo mundo na sala chora”). E, assim, arrisco dizer que me apaixonei por Titanic antes mesmo de assistir – e esse era só o começo de uma relação de amor (é sério, gente!) que dura até hoje. 20 anos depois.
Se você já era nascido nessa época e também viu Titanic nos cinemas, deve se lembrar do quanto era difícil conseguir uma sessão disponível. Como ainda não existia isso de comprar ingresso antecipado pela Internet, todo mundo tinha que tentar a sorte – e como as salas estavam lotando muito rápido, se não chegasse na bilheteria com uma boa antecedência, era preciso escolher outro filme ou arrumar algum novo programa para o dia. Isso aconteceu comigo na primeira vez que saí com meus pais para ver, e terminei na sessão do ratinho Stuart Little completamente frustrada por ainda não ter conseguido ver a história do navio que eu mal conhecia e já considerava pacas. Só fui realizar meu sonho (e juro que não estou sendo exagerada ao usar expressão, ver Titanic já era um objetivo nessa altura do campeonato) semanas depois, e já entrei na sala preparada para me emocionar com o enredo que eu já sabia de cor e salteado de tanto a minha prima falar.
Agora imagine como seria triste se, depois de todo esse amor precoce, eu acabasse não gostando do filme? Talvez isso realmente pudesse acontecer se fosse hoje em dia, porque sinto que sempre me decepciono quando espero demais de algo. Mas, aos sete anos, começando a me apaixonar de verdade pelo cinema, era quase impossível sair da sessão falando que “esperava mais do roteiro e das atuações e que apenas a edição de som salvou” (não que isso realmente aconteça em Titanic, hein. E espero mesmo que você, leitor, não tenha pensado isso).
Depois disso, dá para imaginar: minha obsessão pelo longa, obviamente, só aumentou. Meus cadernos do colégio em 1998 foram todos com capa de Kate Winslet e Leonardo DiCaprio no filme (e lembro que odiei quando a vendedora insinuou que eu só estava querendo aqueles “porque o ator era bonito”. NÃO ERA ISSO, OK?). Eu parava para assistir qualquer especial sobre os bastidores que passasse na TV; comprei o CD da trilha sonora; e fiz questão de pedir de presente a fita assim que começaram a vender. Um detalhe curioso, inclusive – e que diz muito sobre a minha relação com o longa – é o fato de eu ter escolhido a versão legendada em vez da dublada, embora eu ainda visse filmes dublados nessa época (afinal, eu tinha só sete anos). Minha justificativa quando me perguntavam porque eu preferia as legendas foi a de que eu “queria ouvir a voz dos atores” – e provavelmente foi a partir daí que, mesmo de maneira inconsciente, entendi a importância das atuações.
Enfim, para encurtar a história, digo sem dúvidas que Titanic foi o filme que me fez virar cinéfila. Ele não foi o primeiro que amei (Edward Mãos-de-Tesoura, não fique com ciúmes! Você sabe que tem seu espaço), mas foi o que me fez entender toda a magia da sétima arte: os bastidores (“Meu Deus, foi tudo gravado numa piscina!”, eu devo ter pensado), a trilha sonora (motivo que me faz ser piegas e amar Celine Dion até hoje) e o conceito de diretor (por causa de tantas entrevistas que eu via na televisão com o James Cameron). Ah, e também não dá para deixar de falar que foi com ele que tive meu primeiro shipp oficial e frustrado com Leo DiCaprio e Kate Winslet – que, como não poderia ser diferente, permanecem até hoje na minha lista de atores favoritos (mas eu já desisti de shippar e entendi que são só amigos mesmo).
Eu realmente poderia falar horas e escrever folhas e folhas sobre cada detalhe que me faz ser tão fã dessa produção de James Cameron e sobre tudo o que vivi quando a descobri. Mas, no fim das contas, basta dizer que pensar na minha relação com cinema é pensar, automaticamente, em Titanic – mas você já nem deve ter dúvidas disso se chegou até aqui…
Revisitar a história – pela 53245ª vez – foi ainda melhor com um cinema ao ar livre
Por mais que eu já tenha perdido as contas de quantas vezes vi Titanic, eu esperei 84 anos para poder reassistir no cinema (e se você não entendeu a referência, favor rever o filme para ontem e atualizar seu conhecimento de memes). Como perdi a reexibição especial de aniversário no ano passado, só tinha a lembrança do longa nas telonas em 98, quando as salas de exibição não chegavam nem perto do que são hoje… então, acho que não preciso nem falar como fiquei quando vi que o filme seria uma das atrações do Shell Open Air neste ano, certo?
Como seria a primeira vez que eu iria ao evento, a expectativa ainda era dupla: metade por revisitar Titanic, metade por descobrir como é ver um filme em uma tela imensa ao ar livre. E assim como aconteceu quando eu tinha sete anos, não terminei frustrada por esperar demais; pelo contrário, meu amor pela história que conheço de cor só foi renovado (se é que isso é possível) e eu saí encantada com todo o clima e qualidade da sessão-cinema na Marina da Glória.
Deu para ver que tudo foi pensando nos mínimos detalhes. Preocupados em transportar o público para o universo do filme, a produção acertou ao escolher o Quarteto Atlântico para se apresentar antes da exibição – e assim, ao som do violino, pudemos ouvir músicas da trilha sonora de Titanic e de outros clássicos do cinema, como Star Wars e Poderoso Chefão. E não parou por aí: brincando com a icônica cena em que Jack e Rose se beijam pela primeira vez, o evento também contou com a réplica de um navio para que casais e amigos pudessem fazer uma foto – que ficava pronta na hora – imitando a pose de braços abertos que a protagonista faz nesse momento. Válido pela brincadeira e pelo registro da noite mágica!
Mas a experiência de estar no Shell Open Air em si só começou mesmo quando o filme teve início, é claro – e tudo a partir daí foi um espetáculo. Por causa da nostalgia de rever um clássico em um cinema todo especial – e logo na maior tela ao ar livre do mundo -, foi emocionante quando as primeiras cenas começaram a aparecer com My Heart Will Go On tocando em versão instrumental ao fundo. Ao olhar para os lados, dava para ver toda a plateia com os olhos vidrados, como se estivesse assistindo ao longa pela primeira vez – e, no fim das contas, era quase isso mesmo, já que a qualidade da imagem e do som, em um ambiente tão diferente do tradicional, tornaram tudo novidade e ainda melhor.
E, assim, ao longo das conhecidas três horas de filme, o público viveu uma experiência conjunta. Todo mundo riu junto quando Rose falou a frase que virou piada na Internet (“Já faz 84 anos”); ficou tenso quando ela pensou em se jogar do navio e quase caiu de verdade; se emocionou – e preparou o celular para fazer stories – quando o casal se beijou pela primeira vez; falou junto o “pinte-me como uma de suas garotas francesas” na cena em que Jack desenha Rose nua; viveu cada segundo de suspense da tragédia no navio; e chorou quando o protagonista morreu congelado para cumprir a promessa que tinha feito à amada, de que ela morreria bem velha e quentinha em uma cama e não ali. Foi lindo e emocionante, como tudo que envolve essa história deve ser e sempre foi.
No entanto, apesar da minha relação pessoal, garanto que não precisava nem ser ~a louca do Titanic ~ para se emocionar e viver todo o clima do evento. É claro que rever um dos favoritos torna tudo ainda melhor; mas, pelo que vi desse meu primeiro contato com o Shell Open Air, todo filme ganha um toque especial nessas condições. E não é para menos: é a magia do cinema em sua melhor versão – e eu tive o prazer de viver isso pela primeira vez logo com a obra que me fez amar essa forma de arte…