Bruce Willis foi um dos nomes mais cotados quando o assunto era filmes de ação. Mas, recentemente, ele e sua família anunciaram um quadro clínico que o impediria de continuar atuando: o ator foi diagnosticado com demência, e, aos poucos, sua memória e seu cérebro estão se degenerando. A notícia gerou uma onda de simpatia com relação ao ator, mas também levantou uma grande curiosidade sobre seus últimos trabalhos realizados. Provavelmente muito mais por conta deste último quesito do que pela qualidade em si, o filme ‘No Lugar Errado’ chegou à Netflix, e se manteve inabalável no Top 10 da plataforma por semanas.

Frank (Bruce Willis, de ‘A Fortaleza’) e Maggie (Lauren McCord, ‘A Fortaleza’) estão enfrentando uma barra: a filha deles, Chloe (Ashley Greene, a Alice da saga ‘Crepúsculo‘) foi diagnosticada com câncer. No meio do atordoamento, Frank e Maggie sofrem um acidente de carro, e Maggie acaba falecendo. Um ano se passa, Frank ainda não conseguiu reagir muito bem ao ocorrido, tendo sido afastado de suas funções policiais e vivendo hoje com um emprego como vigia noturno de uma loja de penhores no meio do nada. Certo dia, enquanto está de vigia, um homem armado aparece nos fundos da loja e acaba atirando em outro homem. Frank consegue rendê-lo a tempo de a polícia levá-lo preso, porém, Jake (Michael Sirow, de ‘A Fortaleza’) vê tudo e decide ir atrás de Frank, em busca de vingança pelo amigo preso, o que acabará colocando todo mundo em perigo e obrigando Frank, Chloe, Tammy (Stacey Danger, de ‘Demônio de Neon’) e o policial Craig (Texas Battle, de ‘Difícil de Matar’) a lutarem por suas vidas.

Tirando Bruce Willis, cuja atuação não pode ser analisada por conta de sua saúde, absolutamente todo o resto em ‘No Lugar Errado’ é simplesmente ruim. Muito ruim. Dá a impressão de que a produção gastou todo o orçamento com o cachê de um nome forte como Willis e economizou em todo o resto – elenco de apoio, roteiro, produção, continuísta. Nada funciona.

Escrito por Bill Lawrence (cujo projeto anterior tem a mesma média que o atual nos rankings) o roteiro tem diálogos péssimos, parece que tirados de um manual de como escrever roteiros. Nenhuma conversa é orgânica, tudo parece engessado, sem contar a excessiva necessidade de explicar o óbvio – a arma que caiu e precisa de close na arma; o flashback da doença da personagem, como se tivéssemos esquecido; a visita do vilão na cadeia para justificar sua caçada ao protagonista, sendo que o espectador fica sem saber/entender o que eles estavam fazendo ali, para início de conversa. Sem contar o excesso de justificativas existenciais dos personagens – o câncer que não influi em nada na história, o background policial do protagonista que não é dito no início, o suposto affair sáfico da filha que não é explicado. Tanto assunto, e nada é aprofundado.

Por fim, a direção amadora de Mike Burns (que anteriormente trabalhava com a música dos filmes) é de tranquilizar qualquer estudante de cinema. O trabalho dele é tão ruim, que para fazer a transição das cenas o único recurso que ele conhece é o fade out (aquele escurecer da tela), e daí temos uma hora e meia de um monte de fade out. Há uma cena literalmente com a câmera caída na cintura de Chloe, que parece um erro de gravação, mas que entrou no corte final. Há cenas de câmera tremendo. Há duas cenas de Bruce Willis correndo pela floresta que simplesmente dá pra ver a marcação (em vermelho!) do caminho por onde o ator deve correr, mas que ninguém se deu o trabalho de apagar na pós.

É realmente uma pena pensar que um dos últimos trabalhos de Bruce Willis tenha sido um filme tão ruim como ‘No Lugar Errado’. Ao menos ele, mesmo com todas as suas limitações, conseguiu se sair bem nesta produção.