domingo , 22 dezembro , 2024

Vamos falar de Terror? Analisando ‘Pânico’, ‘O Exorcista’, ‘Sexta-Feira 13’ e outros!

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Conhecido como um gênero menor por muitos críticos (tapados) de cinema, o terror é um dos caminhos mais eficientes para a canalização dos medos e horrores sociais que nos dominam a cada dia. Pensando nisso, elaboramos, junto com o nosso parceiro Leonardo Campos, pesquisador da História e da linguagem dos filmes de terror, uma lista com produções que marcaram a história e radiografaram muitas questões políticas e sociais de suas respectivas épocas.

 



1 – O Exorcista

exorcista_4

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A adaptação do romance de William Peter Blatty investiu em um excelente trabalho de montagem, som, enquadramentos instigantes e atuações viscerais. Nomeado ao Oscar, a produção pode ser pensada como uma metáfora para a “juventude transviada” que ganhou força nos Estados Unidos após a década de 1950. Segue alguns pontos necessários para reforçar a análise:

1 – Se você observar bem, o “mal” adentra em um lar com uma mãe solteira, atriz de cinema, em suma, livre e dona de si.

2 – Para alguns estudiosos do mundo acadêmico, Regan, representada com maestria por Linda Blair e dirigida pelo competente William Friedkin, é uma representação simbólica dos males que acometiam os jovens oriundos da sociedade tradicional estadunidense da época, estrato social em frangalhos após a liberação sexual e a viagem ao âmbito das drogas permitidas pelos movimentos sociais que exigiam um novo olhar para a dinâmica do mundo.

 

2 – O Massacre da Serra Elétrica

TexasChainsawMassacreMarilynBurnsLSBryanstonDistributionCompany

Um dos filmes que permanecem constantemente na memória do cinema, haja vista a quantidade de continuações e referências na cultura pop. A trama sobre uma família de canibais que ataca um grupo de hippies que atravessam o Texas vai muito além do que se fala por aí.

O que é preciso observar? Seguem alguns pontos críticos básicos:

1 – Os jovens precisam adentrar no vilarejo por conta da falta de gasolina no carro. Nesta época, a OPEP fechou às portas para os Estados Unidos e uma crise energética dominou a nação, num dos movimentos políticos mais tensos entre Oriente e Ocidente. Sem petróleo, muitas fábricas ficaram prejudicadas no que tange à produção. Isso perpassa discretamente pelo filme, por isso é importante o espectador ficar atento.

terror_1

2 – O Texas é uma espécie de “Nordeste” brasileiro. Sofre preconceitos por parte de outras regiões. Um dos motivos, na época, era pelo fato da morte de Kennedy ter sido em uma visita ao local. Outra questão importante é a presença de hippies sendo assassinados por uma família disfuncional, além da crítica escancarada ao que acontecia na Guerra do Vietnã.

 

3 – Sexta-Feira 13

sextafeira13_2

Quando criança o menino Jason morreu afogado por conta da displicência dos monitores do Acampamento Crystal Lake. Próximo ao processo de reabertura, alguns anos depois, alguns monitores são brutalmente assassinados. Descobrimos, ao final do filme, ser a mãe de Jason a assassina vingativa. Ela acaba morrendo, mas o festival de sangue não acaba. Jason retorna dos mortos e protagoniza, como vilão mascarado, várias continuações.

Segundo abordagens acadêmicas sobre a série, há nos filmes alguns pontos críticos que devem ser pensados delicadamente:

1 – A Final Girl. Mesmo que acompanhada de homens em alguns filmes, é a garota que no final das contas domina a situação e enfrenta o vilão mascarado. Para Carol Clover, especialista nos estudos de gênero, esse duelo é uma metáfora para as relações conflituosas entre homens e mulheres na sociedade, principalmente nos tensos anos 1980.

2 – De acordo com algumas análises, há uma lógica bastante racista nos filmes de terror. Isso, inclusive, já foi discutido ligeiramente em Pânico 3, quando um personagem alega que não se importa com o roteiro que está lendo, pois historicamente o elemento negro sempre é eliminado das narrativas de terror. Se formos observar, há certa lógica nessa dinâmica de pensamento. Em Sexta-Feira 13 parte 5, há uma criança protagonista negra, mas nas partes 3, 7 e 8, não há espaço para heroísmos. No campo dos estudos essa questão é chamada de Efeito Lando, associado ao personagem icônico de Star Wars.

 

4 –  Quadrilogia Pânico

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Desde o primeiro filme que Wes Craven estabeleceu uma crítica interessante ao processo de espetacularização da violência. Sidney (Neve Campbell) é vítima em potencial: a mãe foi assassinada violentamente, seus amigos idem. Perseguida quatro vezes, juntamente com a dupla Gale (Courteney Cox) e Dewey (David Arquette), a personagem era alvo constante dos males da sociedade do espetáculo. Observe:

1 – No primeiro filme, a repórter Gale lucra com cada assassinato, sem pensar sequer na vítima central do processo: Sidney. Torna-se evidente a crítica à falta de ética e o banho de sangue do jornalismo mundial, num processo de espetacularização e banalização da violência.

2 – No segundo filme, além da abertura que retoma as discussões sobre o negro no cinema, há também a banalização e a teatralidade da violência, com Sidney encenando em um palco, ao estilo tragédia grega. Um dos raros casos de uma continuação superior ao “original”.

3 – No terceiro filme, Sidney precisa lidar com a mídia e por isso, se esconde. A série cinematográfica sobre a sua vida está a todo vapor em Hollywood e novos assassinatos dominam as manchetes da mídia. A violência está cada vez mais espetacularizada.

3 – No quarto e ótimo filme, Sidney enfrenta um mal ainda pior. A mídia está mais pulverizada, pois a época dos celulares e redes sociais deixa a exclusividade dos tabloides de lado. Os crimes, além de executados, são filmados para demonstração e narcisismo do psicopata da vez.

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Para entender as afirmações é preciso conhecer mais sobre o teórico responsável pelo conceito de Sociedade do Espetáculo: Guy Debord. O filósofo foi um dos fundadores, nos idos de 1957, na Itália, da Internacional Situacionista, um movimento pautado por ideias artísticas, políticas e aspirações de operar transformações sociais. Um dos pontos basilares da sua obra é a presença de imagens na sociedade, concomitante ao processo de alienação que estes produtos, ou seja, filmes, manifestações de publicidade e propaganda, dentre outros, poderiam provocar. Para o teórico francês, eram todos itens que induziam as pessoas à passividade e à aceitação do capitalismo.

O espetáculo é tratado pelo teórico como um agente de manipulação social e uma coletividade conformista, comparando-o, inclusive, à Guerra do Ópio, momento histórico que tem o objetivo de embriagar os atores sociais e fazer com que eles se identifiquem com as mercadorias que estão sendo oferecidas, e, consequentemente as consumam.

O conceito de espetáculo, pelo que podemos observar, passou a designar na literatura acadêmica e jornalística os simples excessos midiáticos envolvendo indivíduos, produções da indústria cultural e, mais recentemente, da esfera virtual, espaço de disseminação mais ampla dos requintes da cultura do espetáculo.

Em sua participação no programa Hora da Coruja, com o eixo temático “Atualizações do conceito de sociedade do espetáculo”, a professora Olgária Matos apresentou algumas considerações relevantes sobre a trajetória dos conceitos do teórico Guy Debord, atualizando-os. Ela diz que o que podemos aproveitar da teoria do espetáculo é a análise do mundo contemporâneo orientado pelo fetiche, em que a informação se repete, não há total confirmação da plena veracidade dos fatos (boatos) que até estampam capas de jornais e revistas renomados, bem como a falta de apuro na análise de fenômenos complexos, como guerras civis, acontecimentos políticos, dentre outros assuntos.

 

5 – Despertar dos Mortos

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Em 1968, o diretor George Romero reinventou os filmes de zumbis. A Noite dos Mortos Vivos se tornou um clássico, seguido dez anos depois de O Despertar dos Mortos. Aparentemente um filme de monstros comedores de carne humana. Mas será que é só isso mesmo? No filme, um grupo de sobreviventes vai parar um em shopping center, local utilizado para refúgio da multidão de mortos que os persegue.

Desprovidos de qualquer vestígio de humanidade, os zumbis do filme retém o impulso consumista como a última lembrança das suas respectivas vidas. O fetiche da mercadoria, termo cunhado por Karl Marx, perde o seu sentido neste filme, haja vista que os produtos exibidos nas prateleiras das lojas esvaziaram no que tange aos seus valores simbólicos, bem como o poder de atração, tornando-se apenas simples objetos. Os refugiados olham para as mercadorias sem a mesma intensidade da vida “normal” no cotidiano, e os zumbis (metáfora dos seres humanos atraídos pela ótica da cultura do consumo) representam bem o processo de massificação e nivelamento promovido pelo sistema capitalista.

 

Finalizando… coisas para se pensar sobre os filmes de terror…

Pânico e a sociedade do espetáculo; Sexta-Feira 13 e as relações de poder entre homens e mulheres, bem como os códigos sexuais e a virgindade como recurso para se manter ileso; Psicose e os códigos de censura nos anos 1960; Alien e outras tantas narrativas de monstros e invasões alienígenas como metáforas para as tensões da Guerra Fria e da bomba atômica. São alegorias presentes nestas narrativas que vão muito além da iniciativa de apenas assustar ou entreter. Seja um espectador mais crítico, tente aliar o entretenimento com a análise mais apurada, pois o espetáculo ganha maiores projeções se houver aproximação (para garantir a diversão) e o distanciamento (para garantir o senso crítico mais aguçado). Bons filmes para você.

 

Por que essas narrativas causam fascínio em algumas pessoas?

Conforme aponta os cineastas do gênero, estes filmes são alegorias para os nossos medos. Nós assistimos em casa ou no cinema, seguros em nossas poltronas. Sabemos que o acontece dentro da tela fica por lá, serve como válvula de escape para as nossas ansiedades. É a namorada ou o namorado que agarra o braço do seu companheiro ao sentir medo, é o grito que expurga uma inquietude que nos acompanha desde criança.

 

O que há de interessante em narrativas com banho de sangue e atos de violência?

As alegorias. Isso importa e muito. Estamos acostumados a pensar o drama como a fonte ideal para se extrair elementos críticos. A seriedade do drama põe em xeque o dito riso fácil da comédia e a violência explícita dos filmes de terror. Salva as devidas proporções, geralmente os “intelectuais” mais puristas elevam o drama e esquecem as possibilidades destes outros gêneros. Esta questão é histórica e já nos acompanha há tempos no contexto das manifestações artísticas.

 

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Conhecido como um gênero menor por muitos críticos (tapados) de cinema, o terror é um dos caminhos mais eficientes para a canalização dos medos e horrores sociais que nos dominam a cada dia. Pensando nisso, elaboramos, junto com o nosso parceiro Leonardo Campos, pesquisador da História e da linguagem dos filmes de terror, uma lista com produções que marcaram a história e radiografaram muitas questões políticas e sociais de suas respectivas épocas.

 

1 – O Exorcista

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A adaptação do romance de William Peter Blatty investiu em um excelente trabalho de montagem, som, enquadramentos instigantes e atuações viscerais. Nomeado ao Oscar, a produção pode ser pensada como uma metáfora para a “juventude transviada” que ganhou força nos Estados Unidos após a década de 1950. Segue alguns pontos necessários para reforçar a análise:

1 – Se você observar bem, o “mal” adentra em um lar com uma mãe solteira, atriz de cinema, em suma, livre e dona de si.

2 – Para alguns estudiosos do mundo acadêmico, Regan, representada com maestria por Linda Blair e dirigida pelo competente William Friedkin, é uma representação simbólica dos males que acometiam os jovens oriundos da sociedade tradicional estadunidense da época, estrato social em frangalhos após a liberação sexual e a viagem ao âmbito das drogas permitidas pelos movimentos sociais que exigiam um novo olhar para a dinâmica do mundo.

 

2 – O Massacre da Serra Elétrica

TexasChainsawMassacreMarilynBurnsLSBryanstonDistributionCompany

Um dos filmes que permanecem constantemente na memória do cinema, haja vista a quantidade de continuações e referências na cultura pop. A trama sobre uma família de canibais que ataca um grupo de hippies que atravessam o Texas vai muito além do que se fala por aí.

O que é preciso observar? Seguem alguns pontos críticos básicos:

1 – Os jovens precisam adentrar no vilarejo por conta da falta de gasolina no carro. Nesta época, a OPEP fechou às portas para os Estados Unidos e uma crise energética dominou a nação, num dos movimentos políticos mais tensos entre Oriente e Ocidente. Sem petróleo, muitas fábricas ficaram prejudicadas no que tange à produção. Isso perpassa discretamente pelo filme, por isso é importante o espectador ficar atento.

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2 – O Texas é uma espécie de “Nordeste” brasileiro. Sofre preconceitos por parte de outras regiões. Um dos motivos, na época, era pelo fato da morte de Kennedy ter sido em uma visita ao local. Outra questão importante é a presença de hippies sendo assassinados por uma família disfuncional, além da crítica escancarada ao que acontecia na Guerra do Vietnã.

 

3 – Sexta-Feira 13

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Quando criança o menino Jason morreu afogado por conta da displicência dos monitores do Acampamento Crystal Lake. Próximo ao processo de reabertura, alguns anos depois, alguns monitores são brutalmente assassinados. Descobrimos, ao final do filme, ser a mãe de Jason a assassina vingativa. Ela acaba morrendo, mas o festival de sangue não acaba. Jason retorna dos mortos e protagoniza, como vilão mascarado, várias continuações.

Segundo abordagens acadêmicas sobre a série, há nos filmes alguns pontos críticos que devem ser pensados delicadamente:

1 – A Final Girl. Mesmo que acompanhada de homens em alguns filmes, é a garota que no final das contas domina a situação e enfrenta o vilão mascarado. Para Carol Clover, especialista nos estudos de gênero, esse duelo é uma metáfora para as relações conflituosas entre homens e mulheres na sociedade, principalmente nos tensos anos 1980.

2 – De acordo com algumas análises, há uma lógica bastante racista nos filmes de terror. Isso, inclusive, já foi discutido ligeiramente em Pânico 3, quando um personagem alega que não se importa com o roteiro que está lendo, pois historicamente o elemento negro sempre é eliminado das narrativas de terror. Se formos observar, há certa lógica nessa dinâmica de pensamento. Em Sexta-Feira 13 parte 5, há uma criança protagonista negra, mas nas partes 3, 7 e 8, não há espaço para heroísmos. No campo dos estudos essa questão é chamada de Efeito Lando, associado ao personagem icônico de Star Wars.

 

4 –  Quadrilogia Pânico

panico2_3

Desde o primeiro filme que Wes Craven estabeleceu uma crítica interessante ao processo de espetacularização da violência. Sidney (Neve Campbell) é vítima em potencial: a mãe foi assassinada violentamente, seus amigos idem. Perseguida quatro vezes, juntamente com a dupla Gale (Courteney Cox) e Dewey (David Arquette), a personagem era alvo constante dos males da sociedade do espetáculo. Observe:

1 – No primeiro filme, a repórter Gale lucra com cada assassinato, sem pensar sequer na vítima central do processo: Sidney. Torna-se evidente a crítica à falta de ética e o banho de sangue do jornalismo mundial, num processo de espetacularização e banalização da violência.

2 – No segundo filme, além da abertura que retoma as discussões sobre o negro no cinema, há também a banalização e a teatralidade da violência, com Sidney encenando em um palco, ao estilo tragédia grega. Um dos raros casos de uma continuação superior ao “original”.

3 – No terceiro filme, Sidney precisa lidar com a mídia e por isso, se esconde. A série cinematográfica sobre a sua vida está a todo vapor em Hollywood e novos assassinatos dominam as manchetes da mídia. A violência está cada vez mais espetacularizada.

3 – No quarto e ótimo filme, Sidney enfrenta um mal ainda pior. A mídia está mais pulverizada, pois a época dos celulares e redes sociais deixa a exclusividade dos tabloides de lado. Os crimes, além de executados, são filmados para demonstração e narcisismo do psicopata da vez.

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Para entender as afirmações é preciso conhecer mais sobre o teórico responsável pelo conceito de Sociedade do Espetáculo: Guy Debord. O filósofo foi um dos fundadores, nos idos de 1957, na Itália, da Internacional Situacionista, um movimento pautado por ideias artísticas, políticas e aspirações de operar transformações sociais. Um dos pontos basilares da sua obra é a presença de imagens na sociedade, concomitante ao processo de alienação que estes produtos, ou seja, filmes, manifestações de publicidade e propaganda, dentre outros, poderiam provocar. Para o teórico francês, eram todos itens que induziam as pessoas à passividade e à aceitação do capitalismo.

O espetáculo é tratado pelo teórico como um agente de manipulação social e uma coletividade conformista, comparando-o, inclusive, à Guerra do Ópio, momento histórico que tem o objetivo de embriagar os atores sociais e fazer com que eles se identifiquem com as mercadorias que estão sendo oferecidas, e, consequentemente as consumam.

O conceito de espetáculo, pelo que podemos observar, passou a designar na literatura acadêmica e jornalística os simples excessos midiáticos envolvendo indivíduos, produções da indústria cultural e, mais recentemente, da esfera virtual, espaço de disseminação mais ampla dos requintes da cultura do espetáculo.

Em sua participação no programa Hora da Coruja, com o eixo temático “Atualizações do conceito de sociedade do espetáculo”, a professora Olgária Matos apresentou algumas considerações relevantes sobre a trajetória dos conceitos do teórico Guy Debord, atualizando-os. Ela diz que o que podemos aproveitar da teoria do espetáculo é a análise do mundo contemporâneo orientado pelo fetiche, em que a informação se repete, não há total confirmação da plena veracidade dos fatos (boatos) que até estampam capas de jornais e revistas renomados, bem como a falta de apuro na análise de fenômenos complexos, como guerras civis, acontecimentos políticos, dentre outros assuntos.

 

5 – Despertar dos Mortos

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Em 1968, o diretor George Romero reinventou os filmes de zumbis. A Noite dos Mortos Vivos se tornou um clássico, seguido dez anos depois de O Despertar dos Mortos. Aparentemente um filme de monstros comedores de carne humana. Mas será que é só isso mesmo? No filme, um grupo de sobreviventes vai parar um em shopping center, local utilizado para refúgio da multidão de mortos que os persegue.

Desprovidos de qualquer vestígio de humanidade, os zumbis do filme retém o impulso consumista como a última lembrança das suas respectivas vidas. O fetiche da mercadoria, termo cunhado por Karl Marx, perde o seu sentido neste filme, haja vista que os produtos exibidos nas prateleiras das lojas esvaziaram no que tange aos seus valores simbólicos, bem como o poder de atração, tornando-se apenas simples objetos. Os refugiados olham para as mercadorias sem a mesma intensidade da vida “normal” no cotidiano, e os zumbis (metáfora dos seres humanos atraídos pela ótica da cultura do consumo) representam bem o processo de massificação e nivelamento promovido pelo sistema capitalista.

 

Finalizando… coisas para se pensar sobre os filmes de terror…

Pânico e a sociedade do espetáculo; Sexta-Feira 13 e as relações de poder entre homens e mulheres, bem como os códigos sexuais e a virgindade como recurso para se manter ileso; Psicose e os códigos de censura nos anos 1960; Alien e outras tantas narrativas de monstros e invasões alienígenas como metáforas para as tensões da Guerra Fria e da bomba atômica. São alegorias presentes nestas narrativas que vão muito além da iniciativa de apenas assustar ou entreter. Seja um espectador mais crítico, tente aliar o entretenimento com a análise mais apurada, pois o espetáculo ganha maiores projeções se houver aproximação (para garantir a diversão) e o distanciamento (para garantir o senso crítico mais aguçado). Bons filmes para você.

 

Por que essas narrativas causam fascínio em algumas pessoas?

Conforme aponta os cineastas do gênero, estes filmes são alegorias para os nossos medos. Nós assistimos em casa ou no cinema, seguros em nossas poltronas. Sabemos que o acontece dentro da tela fica por lá, serve como válvula de escape para as nossas ansiedades. É a namorada ou o namorado que agarra o braço do seu companheiro ao sentir medo, é o grito que expurga uma inquietude que nos acompanha desde criança.

 

O que há de interessante em narrativas com banho de sangue e atos de violência?

As alegorias. Isso importa e muito. Estamos acostumados a pensar o drama como a fonte ideal para se extrair elementos críticos. A seriedade do drama põe em xeque o dito riso fácil da comédia e a violência explícita dos filmes de terror. Salva as devidas proporções, geralmente os “intelectuais” mais puristas elevam o drama e esquecem as possibilidades destes outros gêneros. Esta questão é histórica e já nos acompanha há tempos no contexto das manifestações artísticas.

 

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