domingo , 22 dezembro , 2024

Você Conhece os Filmes que Completam 100 Anos em 2020?

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“Eu vejo o futuro repetir o passado…”, já dizia Cazuza na canção ‘O Tempo Não Para’ (1988) e esta frase é uma verdade incontestável do cinema. Com apenas cento e poucos anos, a sétima arte comparada a todas as outras formas de expressão é uma criança, no entanto, é complicado ficar a par de tudo que foi produzido nesta trajetória. Ao refletir sobre isso, o CinePOP decidiu relembrar algumas obras que completam 100 anos em 2020

Comparadas a nossa expectativa de vida, entre 75 a 80 anos, as obras centenárias parecem muito distantes dos dias atuais. Ledo engano, caro leitor, os realizadores do século XX e XXI beberam e ainda bebem da influências dos pioneiros do cinematógrafo. Confira a lista abaixo e veja como tudo se repete. 



O mais importante: você já assistiu a alguma dessas obras ou suas readaptações?

O Gabinete do Dr. Caligari (Das Cabinet des Dr. Caligari, Alemanha)

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Considerado o expoente do Expressionismo Alemão, o filme de Robert Wiene é consagrado por uma quebra de paradigmas das artes cinematográficas influenciada pela filosofia de Nietzsche e as teorias do inconsciente de Freud, na qual a razão perde espaço para a fantasia e a subjetividade. 

Sendo o primeiro do gênero, suas deformidades e sensações sombrias deram uma nova perspectiva ao cinema e derivou as produções Nosferatu (1922) e Metrópolis (1927). Suas influências são visíveis, por exemplo, em filmes de Tim Burton, como Os Fantasmas Se Divertem (1988), Edwards Mãos de Tesoura (1990) e A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça (1999). A história em si é um mistério de assassinato e espionagem relacionados à hipnose e premonições. 

O Golem (Der Golem, wie er in die Welt kam, Alemanha)

Baseado no folclore judeu europeu, a produção conta a história de uma comunidade judaica em Praga, ameaçada de expulsão da cidade. Para proteger seu povo, um rabino cria uma monstruosa e mágica criatura de barro, mas o plano sai pela culatra. Grande parte do charme do filme está em seu estilo visual, uma mistura de medieval, art nouveau e surrealismo.

Esta já é uma refilmagem de Der Golem (1915), de 60 minutos, do mesmo realizador Paul Wegener (1874–1948) junto com Henrik Galeen (1881–1949), que viria a ser o roteirista de Nosferatu (1922). A mesma história foi adaptada diversas vezes, a mais recente foi A Lenda de Golem (2019), uma produção israelense.

Sex (Sex, EUA)

Quem você pensa que representa o arquétipo femme fatale no século XXI? Scarlett Johansson? Blake Lively? Ana de Armas? Pois bem, Louise Glaum era a femme fatale, ou no inglês, vamp do mundo cinematográfico 100 anos atrás. Apesar de sem tradução para o português, o silencioso filme de Fred Niblo foi um sucesso de bilheteria e recebeu ampla cobertura nos jornais em 1920. 

Por conta do título provocativo, a obra foi censurada em alguns cinemas, causando polêmica em torno do enredo. Na história, a atriz Adrienne Renault (Louise Glaum) usa os seus atributos físicos e perspicácia para seduzir um homem casado e, por fim, abandona-o por um pretendente mais rico. 

O Médico e o Monstro (Le Docteur Jekyll and M. Hyde, EUA)

Quase todo mundo já viu a história do Dr. Jekyll e Hyde, mas ninguém o representa com tanta maestria quanto o ator John Barrymore. Com efeitos especiais incríveis para a época, a metamorfose do personagem é o grande momento da obra de John S. Robertson, tanto que é impossível reconhecer o mesmo ator como Dr. Jekyll e o Sr. Hyde.

Baseado na história de Robert Louis Stevenson, o enredo é um grande experimento do entusiasmado doutor Henry Jekyll. Fascinado pelos contrastantes da natureza humana, ele fica obcecado pela ideia de separá-los. Existem inúmeras adaptações deste romance, a mais recente foi Jekyll (2007), de Scott Zakarin

Horizonte Sombrio (Way Down East, EUA)

Pai do clássico O Nascimento de uma Nação (1915), D. W. Graffiti é o divisor de águas da narrativa cinematográfica tal como a conhecemos. Com este melodrama silencioso, o realizador teve o seu último grande sucesso de bilheteria. Os seus filmes sempre buscavam promover a decência e a moralidade, fazendo um julgamento do bem contra o mal. 

Assim como nesta trama, em que uma ingênua camponesa é levada a um casamento falso por um rico mulherengo. Apesar da mancha de ter tido um filho fora do matrimônio, ela luta para reconstruir sua vida. Uma cena clássica deste filme é a protagonista Anna Moore (Lilian Gish) tentando escapar através de um rio congelado, pulando de um bloco de gelo à deriva a outro.

A Marca do Zorro (The Mark of Zorro, EUA)

Na antiga Califórnia hispânica, o governo colonial é contra o Zorro. Um herói mascarado do povo, que aparece sempre com uma espada flamejante e um senso de humor atlético, deixando nos rostos dos malfeitores a sua marca. Com o tempo o personagem tornou-se parte da cultura ocidental, tal como Robin Hood, e ganhou diversas versões. A refilmagem mais popular é A Máscara do Zorro (1998), com Antonio Banderas e Catherine Zeta-Jones, indicada a dois Oscar. 

O maestro deste faroeste, Fred Niblo (1874–1948) é um dos grandes nomes do cinema do anos 20 nos EUA. Não à toa dois filmes do cineasta aparecem na nossa lista. Seu nome é citado também no filme O Artista (2011), obra que comenta a passagem do cinema mudo ao falado.

Dentro de Nossas Portas (Within Our Gates, EUA)

Considerado o pai do cinema afro-americano, Oscar Micheaux (1884–1951) foi o primeiro norte-americano afrodescendente a dirigir um longa-metragem, o The Homesteader (1919). Seu segundo filme, Dentro de Nossas Portas foi uma crítica, mais ou menos velada, a O Nascimento de uma Nação (1915), dirigido por D.W. Griffith. A obra de 1915 chocou a comunidade afro-americana e os defensores dos direitos civis na época. 

Trata-se da história de uma mulher em busca de ajuda financeira para uma escola pobre de alunos negros. O filme, no entanto, está repleto de observações sobre o preconceito racial. Por exemplo, uma fanática sulista é contra o sufrágio feminino por temer que as mulheres negras tenham direito ao voto. 

Coração Gaúcho (Brasil)

Onde estava o cinema brasileiro em 1920? Segundo enciclopédias da web, o nosso país produziu três longas-metragens, entre elas esta adaptação do romance O Gaúcho (1870), de José de Alencar. Dirigida por Luiz de Barros, responsável por mais 50 filmes nacionais, a obra conta também com os atores Manuel F. Araújo e o português Antônio Silva

O enredo de triângulo amoroso entre Félix, Catita e Manuel tem como pano de fundo a Revolução Farroupilha (1835-1945), da qual o protagonista Manuel participa como homem de confiança de seu padrinho, Bento Gonçalves. A história ganhou uma adaptação mais conhecida chamada Paixão de Gaúcho (1957), dirigida por Walter George Durst .

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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“Eu vejo o futuro repetir o passado…”, já dizia Cazuza na canção ‘O Tempo Não Para’ (1988) e esta frase é uma verdade incontestável do cinema. Com apenas cento e poucos anos, a sétima arte comparada a todas as outras formas de expressão é uma criança, no entanto, é complicado ficar a par de tudo que foi produzido nesta trajetória. Ao refletir sobre isso, o CinePOP decidiu relembrar algumas obras que completam 100 anos em 2020

Comparadas a nossa expectativa de vida, entre 75 a 80 anos, as obras centenárias parecem muito distantes dos dias atuais. Ledo engano, caro leitor, os realizadores do século XX e XXI beberam e ainda bebem da influências dos pioneiros do cinematógrafo. Confira a lista abaixo e veja como tudo se repete. 

O mais importante: você já assistiu a alguma dessas obras ou suas readaptações?

O Gabinete do Dr. Caligari (Das Cabinet des Dr. Caligari, Alemanha)

Considerado o expoente do Expressionismo Alemão, o filme de Robert Wiene é consagrado por uma quebra de paradigmas das artes cinematográficas influenciada pela filosofia de Nietzsche e as teorias do inconsciente de Freud, na qual a razão perde espaço para a fantasia e a subjetividade. 

Sendo o primeiro do gênero, suas deformidades e sensações sombrias deram uma nova perspectiva ao cinema e derivou as produções Nosferatu (1922) e Metrópolis (1927). Suas influências são visíveis, por exemplo, em filmes de Tim Burton, como Os Fantasmas Se Divertem (1988), Edwards Mãos de Tesoura (1990) e A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça (1999). A história em si é um mistério de assassinato e espionagem relacionados à hipnose e premonições. 

O Golem (Der Golem, wie er in die Welt kam, Alemanha)

Baseado no folclore judeu europeu, a produção conta a história de uma comunidade judaica em Praga, ameaçada de expulsão da cidade. Para proteger seu povo, um rabino cria uma monstruosa e mágica criatura de barro, mas o plano sai pela culatra. Grande parte do charme do filme está em seu estilo visual, uma mistura de medieval, art nouveau e surrealismo.

Esta já é uma refilmagem de Der Golem (1915), de 60 minutos, do mesmo realizador Paul Wegener (1874–1948) junto com Henrik Galeen (1881–1949), que viria a ser o roteirista de Nosferatu (1922). A mesma história foi adaptada diversas vezes, a mais recente foi A Lenda de Golem (2019), uma produção israelense.

Sex (Sex, EUA)

Quem você pensa que representa o arquétipo femme fatale no século XXI? Scarlett Johansson? Blake Lively? Ana de Armas? Pois bem, Louise Glaum era a femme fatale, ou no inglês, vamp do mundo cinematográfico 100 anos atrás. Apesar de sem tradução para o português, o silencioso filme de Fred Niblo foi um sucesso de bilheteria e recebeu ampla cobertura nos jornais em 1920. 

Por conta do título provocativo, a obra foi censurada em alguns cinemas, causando polêmica em torno do enredo. Na história, a atriz Adrienne Renault (Louise Glaum) usa os seus atributos físicos e perspicácia para seduzir um homem casado e, por fim, abandona-o por um pretendente mais rico. 

O Médico e o Monstro (Le Docteur Jekyll and M. Hyde, EUA)

Quase todo mundo já viu a história do Dr. Jekyll e Hyde, mas ninguém o representa com tanta maestria quanto o ator John Barrymore. Com efeitos especiais incríveis para a época, a metamorfose do personagem é o grande momento da obra de John S. Robertson, tanto que é impossível reconhecer o mesmo ator como Dr. Jekyll e o Sr. Hyde.

Baseado na história de Robert Louis Stevenson, o enredo é um grande experimento do entusiasmado doutor Henry Jekyll. Fascinado pelos contrastantes da natureza humana, ele fica obcecado pela ideia de separá-los. Existem inúmeras adaptações deste romance, a mais recente foi Jekyll (2007), de Scott Zakarin

Horizonte Sombrio (Way Down East, EUA)

Pai do clássico O Nascimento de uma Nação (1915), D. W. Graffiti é o divisor de águas da narrativa cinematográfica tal como a conhecemos. Com este melodrama silencioso, o realizador teve o seu último grande sucesso de bilheteria. Os seus filmes sempre buscavam promover a decência e a moralidade, fazendo um julgamento do bem contra o mal. 

Assim como nesta trama, em que uma ingênua camponesa é levada a um casamento falso por um rico mulherengo. Apesar da mancha de ter tido um filho fora do matrimônio, ela luta para reconstruir sua vida. Uma cena clássica deste filme é a protagonista Anna Moore (Lilian Gish) tentando escapar através de um rio congelado, pulando de um bloco de gelo à deriva a outro.

A Marca do Zorro (The Mark of Zorro, EUA)

Na antiga Califórnia hispânica, o governo colonial é contra o Zorro. Um herói mascarado do povo, que aparece sempre com uma espada flamejante e um senso de humor atlético, deixando nos rostos dos malfeitores a sua marca. Com o tempo o personagem tornou-se parte da cultura ocidental, tal como Robin Hood, e ganhou diversas versões. A refilmagem mais popular é A Máscara do Zorro (1998), com Antonio Banderas e Catherine Zeta-Jones, indicada a dois Oscar. 

O maestro deste faroeste, Fred Niblo (1874–1948) é um dos grandes nomes do cinema do anos 20 nos EUA. Não à toa dois filmes do cineasta aparecem na nossa lista. Seu nome é citado também no filme O Artista (2011), obra que comenta a passagem do cinema mudo ao falado.

Dentro de Nossas Portas (Within Our Gates, EUA)

Considerado o pai do cinema afro-americano, Oscar Micheaux (1884–1951) foi o primeiro norte-americano afrodescendente a dirigir um longa-metragem, o The Homesteader (1919). Seu segundo filme, Dentro de Nossas Portas foi uma crítica, mais ou menos velada, a O Nascimento de uma Nação (1915), dirigido por D.W. Griffith. A obra de 1915 chocou a comunidade afro-americana e os defensores dos direitos civis na época. 

Trata-se da história de uma mulher em busca de ajuda financeira para uma escola pobre de alunos negros. O filme, no entanto, está repleto de observações sobre o preconceito racial. Por exemplo, uma fanática sulista é contra o sufrágio feminino por temer que as mulheres negras tenham direito ao voto. 

Coração Gaúcho (Brasil)

Onde estava o cinema brasileiro em 1920? Segundo enciclopédias da web, o nosso país produziu três longas-metragens, entre elas esta adaptação do romance O Gaúcho (1870), de José de Alencar. Dirigida por Luiz de Barros, responsável por mais 50 filmes nacionais, a obra conta também com os atores Manuel F. Araújo e o português Antônio Silva

O enredo de triângulo amoroso entre Félix, Catita e Manuel tem como pano de fundo a Revolução Farroupilha (1835-1945), da qual o protagonista Manuel participa como homem de confiança de seu padrinho, Bento Gonçalves. A história ganhou uma adaptação mais conhecida chamada Paixão de Gaúcho (1957), dirigida por Walter George Durst .

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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