Filmes como Vovô Sem Vergonha são à prova de crítica. Isso porque aqui não contam atuações, fotografia, trilha sonora, ou qualquer outro quesito geralmente avaliado numa produção cinematográfica. A comédia, aliás, sempre foi um gênero um pouco a parte para os especialistas em cinema, afinal o que parece contar é mesmo se o filme te faz ou não rir. Existem também muitas variações da comédia. E é preciso descobrir qual vai falar melhor com você. Qual faz mais o seu estilo.
Existe o humor adolescente, no qual estão incluídos os filmes paródia (como Todo Mundo em Pânico), há muito mirado a uma fatia mais jovem do grande público. Existem os filmes de humor mais refinado, que seria o oposto, mirado a uma fatia mais velha do público (no qual os filmes de Woody Allen se encaixariam, por exemplo). E existem também os filmes ultrajantes e politicamente incorretos, adição recente ao subgênero da comédia. Os filmes escrachados de Will Ferrell (Os Estagiários) e Sacha Baron Cohen (Os Miseráveis) entrariam nessa lista.
Esse tipo de filme é repudiado por muitos, simplesmente pelo fato de que é garantido de ofender metade de um cinema cheio. Nem todos são adeptos do humor incorreto, negro, e sujo. Borat (2006), por exemplo, não é um filme unânime. Mas está na lista da maioria dos críticos como uma das melhores comédias dos últimos anos, dessas listas de filmes imperdíveis. Sacha Baron Cohen de forma esperta decidiu colocar um espelho diante da sociedade americana, com a desculpa de ser um cidadão vindo de fora, sem o conhecimento da cultural local.
Filmes “pegadinha” servem para analisarmos o comportamento humano em situações absurdas que talvez não se apresentem nunca mais durante a vida de tais pessoas. Particularmente nunca fui grande fã das façanhas de Johnny Knoxville e sua trupe do Jackass. Dispensei todos os filmes (ou esquetes de acidentes filmados), e nunca me importei com o programa de TV. Mas quando soube de Vovô Sem Vergonha, e dei uma olhada no trailer, percebi que poderia ser algo diferente.
Protagonizado apenas por Knoxville na pele do octogenário Irving Zisman (personagem recorrente no programa), o filme é também uma sequência de esquetes nos quais pessoas comuns são pegas em ciladas filmadas para expor seu comportamento durante uma situação completamente fora do normal. A diferença é que todas as cenas montam uma narrativa ao longo de seus 92 minutos de exibição. Escrito por Knoxville, Jeff Tremaine (diretor do filme e da série de TV), e acreditem, Spike Jonze (diretor de Quero Ser John Malkovich, Adaptação, Onde Vivem os Monstros, e do recente Ela), o filme mostra a saga épica do idoso incorreto ao levar seu netinho Billy de volta aos braços do pai.
Vovô Sem Vergonha se dá ao trabalho de apresentar um relacionamento mais bem explorado entre o menino e o avô do que esperaríamos, ou do que o filme verdadeiramente necessita. O menino Jackson Nicoll (que vive Billy), aliás, está ótimo. Ele é um ator nato. Em uma cena, se veste de menina para chocar (merecidamente) quem nos choca: as mães que fazem de suas filhas animais de exposição em concursos de beleza – criando desde cedo pequenos seres robotizados. Então, por esse aspecto podemos achar certa justiça no que Knoxville faz.
Não chega a exibir os esqueletos no armário como Cohen fez em Borat, mas sem dúvidas mescla questões em seu discurso escrachado. Irving invade um show de strippers masculinos e conversa com as donas de casa assanhadas em busca de se dar bem. No final, em um encontro de motoqueiros de um grupo contra abusos infantis, cria para eles a situação dos sonhos, na qual triunfam como heróis sem pestanejar. No geral, Knoxville mostra uma América solícita e simpática, que em sua maioria entra na brincadeira. Se está bom o bastante para Spike Jonze, está bom para mim também.