domingo, agosto 18, 2024

Crítica | Twisters resgata o apogeu do cinema catástrofe com maestria técnica e entretenimento de primeira

Calamidades de proporções dantescas, que afloram o espírito ufanista de uma América que adora se unir pela dor, fizeram dos anos 90 o apogeu do cinema catástrofe. Estampando um leque vasto de desastres das mais diversas naturezas, a indústria hollywoodiana nos presenteou com um rico catálogo de longas que marcaram a cultura POP, principalmente no Brasil, em infindáveis reprises em quadros como Sessão da Tarde, Tela Quente e Temperatura Máxima.

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Nessa toada catastrófica, Independence Day (1996), Daylight (1996), Volcano – A Fúria (1997), Armageddon (1998), Impacto Profundo (1998) e o original Twister (1996) invadiram nossas rotinas, nos transportaram para um universo de caos e destruição em massa e despertaram nossa curiosidade por cenários que jamais vivemos em nossa geografia local. Pouco mais de duas décadas depois, o som estrondoso desse subgênero se silencia. Deixado para trás, restam-se apenas frangalhos e fragmentos de um cinema imagético, tempestuoso e eletrizante. Mas pelas mãos do cineasta Lee Isaac Chung e do roteirista Mark L. Smith, esse estilo de blockbuster ressurge das cinzas, revigorado e pronto para retomar uma franquia tão desgastada pelo tempo – e por sequências ruins.

Twisters se apropria de um cauteloso e cuidadoso conceito científico para desenvolver suas expectativas fictícias dentro da trama. Aqui, Kate (Daisy Edgar-Jones) e seus amigos tentam desenvolver uma tecnologia que os permita “domar” tornados, evitando consequências caóticas nas regiões comumente mais afetadas por furacões. Marcada por traumas e perdas, essa trajetória se cruza com a clássica jornada do herói, onde passado e presente se digladiam diante de um elemento em comum. É nesse dilema psicoemocional com toques ambientais que reside a essência do longa. Com alicerces arraigados em uma tragédia tão palpável – tamanho o realismo da direção -, Isaac Chung se vê pronto para nos arrebatar em direção a uma inesperada e deliciosa aventura por entre medos, tempestades e adrenalina.

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Twisters é impecável em sua construção técnica. Estampando uma fotografia estonteante, conduzida por Dan Mindel, o longa de ação evidencia a beleza idílica do estado de Oklahoma, nos conecta às origens do diretor e traz o equilíbrio perfeito entre ciência e entretenimento. Um blockbuster perfeito para a temporada de férias, a nova iteração é um esplendor de efeitos práticos, cenas muito bem elaboradas e espirais de tornados emocionantes, que nos tragam para dentro da narrativa e para os conflitos e embates entre os personagens. Abusando ao máximo do carisma de Glen Powell, um dos atores mais desejados pelos principais estúdios, o filme é uma experiência cinematográfica a la mode, à moda antiga.

Com ares noventistas e protagonistas que flertam com os tropos hollywoodianos propositalmente, Twisters ainda tem tudo aquilo que tanto sentimos falta no cinema e que se perdeu em meio à agendas políticas, pressões bregas de contas falsas do Twitter e roteiros ruins. Um entretenimento enérgico que nos rouba da realidade rumo ao inimaginável, o filme se despe da necessidade de palestrar para sua audiência, aborda questões climáticas com sutileza e sem pedantismo e não faz de seu roteiro uma oportunidade perdida. Com pitadas bem-humoradas e personagens absolutamente carismáticos e identificáveis (Anthony Ramos acerta com sua duplicidade em tela), a produção foge da terrível sombra da Mary Sue e faz de sua heroína uma mulher quebrada em busca de redenção, que não possui todas as respostas, erra até acertar e encontra em seu suposto algoz um genuíno e fascinante homem.

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Mostrando todo o star quality que Daisy Edgar-Jones possui para sustentar um blockbuster, mesmo ainda sendo um nome pouco conhecido entre o público de massa, Twisters é uma aventura familiar que surpreende a audiência, ainda que sua proposta carregue ares previsíveis. Com uma trilha sonora adaptada marcada pela música country de gente como Luke Combs, a produção firma seus alicerces nas tradições interioranas dos Estados Unidos, apresenta personagens diversos e ao invés de reduzi-los à bandeiras ideológicas, os carrega de profundidade canônica. Divertido e angustiante, o filme de Isaac Chung conta com acordes vorazes, que tornam a trilha original de Benjamin Wallfisch o toque perfeito para nos levar a cada extremo emocional. Sinestésico, intenso e catártico, Twisters é o filme que você precisa vivenciar diante da maior tela possível.

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