domingo , 22 dezembro , 2024

03 de outubro | É dia de relembrar o clássico ‘Meninas Malvadas’!

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Um ano depois do sucesso de Sexta-Feira Muito Louca’, filme que definitivamente colocou o nome de Mark Waters no promissor cenário hollywoodiano, o diretor em questão resolveu manter-se na expansiva e ainda não tão explorada subvertente narrativa que engloba as comédias românticas adolescentes. É claro que, considerando a generosa quantidade de obras lançadas na década de 1990 – que já trouxeram Alicia Silverstone  como uma das queridinhas da América por As Patricinhas de Beverly Hills’ –, Waters já teria um respaldo para trazer a perspectiva da famigerada high school para a contemporaneidade e a geração millenial que só agora chegava aos temores do colégio. E foi da forma mais inesperada e irreverente possível que ele conseguiu arquitetar um dos longas mais memoráveis de todos os tempos: Meninas Malvadas.

Primeiramente, o diretor soube escolher muito bem o seu elenco ao colocar mais uma vez Lindsay Lohan no holofote principal. Na iteração anterior, ela já havia encarnado a roqueira rebelde Anna, e aqui ela transmuta-se em uma jovem adolescente chamada Cady que passou a vida inteira recebendo educação escolar em casa e, quando retorna da África com seus pais, percebe que o mundo vai muito além disso. Ela ingressa na escola local e logo começa a traçar inúmeros paralelos entre a savana africana e os claustrofóbicos corredores do colégio, associando cada um dos alunos a um predador ou presa diferentes. E surpresa: isso se mantém inclusive para a queen bee da escola, a líder de torcida extremamente ácida Regina George (Rachel McAdams como nunca antes vista) e suas minions, Gretchen (Lacey Chabert) e Karen (Amanda Seyfried).



Se trouxermos tal premissa para os dias de hoje, podemos separar uma lista interminável que tem como pano de fundo as intrigas escolares entre grupos totalmente diferentes entre si – e isso já foi visto, ainda que às avessas, em O Clube dos Cinco’. Porém a forma como a narrativa se desenvolve vai muito além do que esperamos e é marcada por tantas sacadas geniais de roteiro que fica muito difícil não incorporar alguns dos infinitos bordões reproduzidos pelos personagens. Cady, a princípio ingênua, cai na lábia de Regina e tenta se aproximar do grupo apenas para descobrir que funciona como a “novata estranha cuja única função é tornar a ‘rainha do baile’ ainda mais desejada”.

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A ideia de amizade nutrida por Regina é bizarra, para não dizer abusiva; apesar de claramente expressar algo que acontece entre adolescentes tão diferentes entre, Waters, em colaboração com o incrível tato e timing cômico de Tina Fey, consegue desviar do excessivo drama para quebras de expectativa que nos fazem gargalhar sem ao menos entender o porquê – ora, o diretor se utiliza até de slow motion para depois descontruir algo que associamos a uma construção cênica etérea e intocável. Em uma das diversas sequências maravilhosamente bem construídas, a personagem de McAdams mostra o seu real veneno ao convidar Cady para uma festa à fantasia apenas para fazê-la passar vergonha e mostrar quem é que manda.

Tomando a ingenuidade e a crença de que todas as pessoas são boas da nossa protagonista, temos a presença de seus guardiões e conselheiros, representados pela incomparável dupla Janis (Lizzy Caplan) e Damian (Daniel Franzese), a gótica e o gay do colégio que são marginalizados por não viverem dentro dos padrões a que são obrigados a encarar todos os dias. Desde o primeiro dia de aula, Cady forma uma relação de amizade que inclusive é base para a arquitetura de um plano de vingança contra a perfeição feérica de Regina; logo, ela se transforma naquilo que sempre criticou e não percebe que cai nos mesmos erros que suas “aminimigas”.

Mesmo com o profundo respaldo – o qual não conseguiríamos acreditar ser possível – o roteiro tem um ritmo incrível e funciona como uma fatia satírica de uma sociedade macrocósmica muito mais hipócrita do que parece. Se Regina é do jeito que é, é devido ao meio em que vive – um núcleo matriarcal comandado pela Sra. George (encarnada pela hilária Amy Poehler) que se esquece de suas responsabilidades como adulta e crê piamente ter a mesma idade da filha. E o mais incrível é como cada um dos personagens coadjuvantes têm a sua representatividade e o seu próprio arco muito bem estruturado, com começo, meio e fim – passando pelas saídas convencionais de redenção, perdão, apatia e afins.

E o que ficará de tal obra? Bom, além de uma história que perpassa por vários gêneros, são os clássicos e imortais bordões que mais ficarão na memória do público, ainda mais por serem trazidos à tona em momentos onde os acontecimentos em questão falam por si só. Frases como “às quartas-feiras, nós usamos rosa” e “isso é tão barro!” marcaram e ainda marcam gerações, movendo uma cultura que se apoia no cômico para embasar-se em críticas sociais que são vistas como “drama”. E como se não bastasse, Meninas Malvadas mostra o dom inegável de criar sequências aplaudíveis por sua irreverência adolescente – como a cena de Jingle Bell Rock performada pelas quatro garotas principais.

Mark Waters novamente acertou em cheio com uma obra que podia ser o mesmo do mesmo, mas se mostrou com potencial muito maior do que lhe daríamos crédito. Afinal, não é todo dia que um filme entra para sua lista de favoritos de todos os tempos e marca públicos das mais variadas idades ao reformular a perspectiva de um gênero completo.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Primeiramente, o diretor soube escolher muito bem o seu elenco ao colocar mais uma vez Lindsay Lohan no holofote principal. Na iteração anterior, ela já havia encarnado a roqueira rebelde Anna, e aqui ela transmuta-se em uma jovem adolescente chamada Cady que passou a vida inteira recebendo educação escolar em casa e, quando retorna da África com seus pais, percebe que o mundo vai muito além disso. Ela ingressa na escola local e logo começa a traçar inúmeros paralelos entre a savana africana e os claustrofóbicos corredores do colégio, associando cada um dos alunos a um predador ou presa diferentes. E surpresa: isso se mantém inclusive para a queen bee da escola, a líder de torcida extremamente ácida Regina George (Rachel McAdams como nunca antes vista) e suas minions, Gretchen (Lacey Chabert) e Karen (Amanda Seyfried).

Se trouxermos tal premissa para os dias de hoje, podemos separar uma lista interminável que tem como pano de fundo as intrigas escolares entre grupos totalmente diferentes entre si – e isso já foi visto, ainda que às avessas, em O Clube dos Cinco’. Porém a forma como a narrativa se desenvolve vai muito além do que esperamos e é marcada por tantas sacadas geniais de roteiro que fica muito difícil não incorporar alguns dos infinitos bordões reproduzidos pelos personagens. Cady, a princípio ingênua, cai na lábia de Regina e tenta se aproximar do grupo apenas para descobrir que funciona como a “novata estranha cuja única função é tornar a ‘rainha do baile’ ainda mais desejada”.

A ideia de amizade nutrida por Regina é bizarra, para não dizer abusiva; apesar de claramente expressar algo que acontece entre adolescentes tão diferentes entre, Waters, em colaboração com o incrível tato e timing cômico de Tina Fey, consegue desviar do excessivo drama para quebras de expectativa que nos fazem gargalhar sem ao menos entender o porquê – ora, o diretor se utiliza até de slow motion para depois descontruir algo que associamos a uma construção cênica etérea e intocável. Em uma das diversas sequências maravilhosamente bem construídas, a personagem de McAdams mostra o seu real veneno ao convidar Cady para uma festa à fantasia apenas para fazê-la passar vergonha e mostrar quem é que manda.

Tomando a ingenuidade e a crença de que todas as pessoas são boas da nossa protagonista, temos a presença de seus guardiões e conselheiros, representados pela incomparável dupla Janis (Lizzy Caplan) e Damian (Daniel Franzese), a gótica e o gay do colégio que são marginalizados por não viverem dentro dos padrões a que são obrigados a encarar todos os dias. Desde o primeiro dia de aula, Cady forma uma relação de amizade que inclusive é base para a arquitetura de um plano de vingança contra a perfeição feérica de Regina; logo, ela se transforma naquilo que sempre criticou e não percebe que cai nos mesmos erros que suas “aminimigas”.

Mesmo com o profundo respaldo – o qual não conseguiríamos acreditar ser possível – o roteiro tem um ritmo incrível e funciona como uma fatia satírica de uma sociedade macrocósmica muito mais hipócrita do que parece. Se Regina é do jeito que é, é devido ao meio em que vive – um núcleo matriarcal comandado pela Sra. George (encarnada pela hilária Amy Poehler) que se esquece de suas responsabilidades como adulta e crê piamente ter a mesma idade da filha. E o mais incrível é como cada um dos personagens coadjuvantes têm a sua representatividade e o seu próprio arco muito bem estruturado, com começo, meio e fim – passando pelas saídas convencionais de redenção, perdão, apatia e afins.

E o que ficará de tal obra? Bom, além de uma história que perpassa por vários gêneros, são os clássicos e imortais bordões que mais ficarão na memória do público, ainda mais por serem trazidos à tona em momentos onde os acontecimentos em questão falam por si só. Frases como “às quartas-feiras, nós usamos rosa” e “isso é tão barro!” marcaram e ainda marcam gerações, movendo uma cultura que se apoia no cômico para embasar-se em críticas sociais que são vistas como “drama”. E como se não bastasse, Meninas Malvadas mostra o dom inegável de criar sequências aplaudíveis por sua irreverência adolescente – como a cena de Jingle Bell Rock performada pelas quatro garotas principais.

Mark Waters novamente acertou em cheio com uma obra que podia ser o mesmo do mesmo, mas se mostrou com potencial muito maior do que lhe daríamos crédito. Afinal, não é todo dia que um filme entra para sua lista de favoritos de todos os tempos e marca públicos das mais variadas idades ao reformular a perspectiva de um gênero completo.

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