A música tem um papel essencial na nossa vida – e é capaz de nos transportar aos mais diversos.
Nos últimos anos, os artistas contemporâneos pareceram resgatar as glórias dos anos 70, 80 e 90 com produções incríveis, nostálgicas e recheadas de uma saudosa originalidade que nos guiou por anos bastante difíceis. Tivemos, por exemplo, o retorno ao disco de Dua Lipa e Kylie Minogue, ou a exaltação do house promovida por Lady Gaga e Beyoncé.
Pensando nisso, preparamos uma lista com dez álbuns incríveis que nos levam de volta no tempo e que você precisa ouvir.
Veja abaixo as nossas escolhas:
CONFESSIONS ON A DANCEFLOOR, Madonna (2005)
‘Confessions on a Dancefloor’ é uma ode ao narcótico saudosismo das pistas de dança dos anos 1970 e 1980, incorporando elementos do disco, do dance e do new wave para um universo ao mesmo tempo ácido e envolvente, além de entregar algumas das melhores canções da década passada. O resultado acrescentou mais capítulos ao legado de Madonna e a colocou no centro dos holofotes, concedendo-lhe mais duas estatuetas e mais de dez milhões de cópias vendidas – e, levando em conta que números realmente não importam, o sucesso inesperado de seu décimo álbum de estúdio atravessa as gerações e permanece impactando a esfera musical até os dias de hoje.
FUTURE NOSTALGIA, Dua Lipa (2020)
Com ‘Future Nostalgia’, Dua Lipa provou que veio para ficar – e que está pronta para fazer parte das A-Lists da esfera musical. Ao longo de onze canções unidas em um mesmo pano de fundo e convergindo para uma homenagem aplaudível àquilo que a inspira desde sempre, a cantora representa uma urgência coletiva, um pastiche cultural que é canalizado sem qualquer presunção (e era de se esperar que alguém recuperasse a união de vários segmentos, visto que há tempos não víamos isso com tanta expressividade no panorama geral).
CHROMATICA, Lady Gaga (2020)
A cada canção, percebe-se que a inusitada parceria assinada entre Lady Gaga e BloodPop funcionou em todos os aspectos: comandando o poderoso e inebriante liricismo, as peças sintéticas, mergulhadas sem escrúpulos em autotunes e dramatizações robóticas (nos relembrando de ‘ARTPOP’ inúmeras vezes), fornecem uma dúbia interpretação. Mostra-se, à medida que viajamos através desse colorido e vibrante mundo, o apreço pela estética instrumental dos anos 1980 e 1990, principalmente para as vanguardas do europop e do disco-dance. E, seguindo os passos de outras figuras, Gaga mantém-se verdadeira à sua identidade única e cria uma obra-prima, uma vendeta pessoal para aqueles que declaravam sua morte artística há alguns anos.
WHAT’S YOUR PLEASURE, Jessie Ware (2020)
Jessie Ware fez um estrondoso e aplaudível retorno para o mundo da música com o lançamento de ‘What’s Your Pleasure’, seu quarto álbum de estúdio. Sua arquitetura requintada e a ressonância que criou com o hi-NRG e com o post-disco transformaram o que poderia ser uma produção qualquer em um escapismo de alta qualidade, pincelado com as conhecidas incursões semi-melancólicas e uma narcótica jornada arranjada com perfeição ao longo de doze faixas.
UNGODLY HOUR, Chloe x Halle (2020)
Dois anos após o lançamento de seu primeiro álbum de estúdio, Chloe x Halle (dupla formada por Chloe Bailey e Halle Bailey) retornaram para os holofotes com a estreia de ‘Ungodly Hour’. O disco é uma competente produção que explora, talvez mais que a investida anterior (‘The Kids Are Alright’), as habilidades e as incursões vocais de ambas as artistas, bem como letras recheadas com uma envolvência sensual e imediatamente relacionável com qualquer ouvinte que venha procurando boas músicas.
DISCO, Kylie Minogue (2020)
Desde o prematuro anúncio de que traria tendências clássicas do que se entende como a melhor era do pop, era inegável que a legião de fãs de Kylie Minogue ficaria em êxtase com o lançamento de ‘Disco’, aguardando o que a imperatriz australiana da indústria fonográfica lhes entregaria. Como era de se esperar, o forte primeiro single, “Say Something”, daria as cartas do jogo através de uma bombástica sutileza movida por sintetizadores e um cativante ritmo – canalizado para as outras duas canções promocionais, a sinestésica “Magic” e a irretocável “I Love It”. Não é nenhuma surpresa que a garantia de uma produção coesa era certeira, mas o que não esperávamos era que o CD seria uma homenagem não apenas a si mesma, mas a todas as divas que explodiram na época em questão – incluindo Gloria Gaynor, Diana Ross, Roberta Kelly e tantas outras.
A TOUCH OF THE BEAT, Aly & AJ (2021)
Composto por doze faixas, o monstruoso e poético título ‘A Touch of the Beat Gets You Up on Your Feet Gets You Out and Then Into the Sun’, de Aly & AJ, representa uma forte mudança no estilo apresentado aos fãs desde sua estreia nos anos 2000. Carregando apreço pelo costumeiro e mercadológico pop-rock ou pelo classicismo do nu-house, Aly e AJ resolveram apostar fichas em um nicho que começou a ser explorado ainda nas protuberâncias sessentistas do cenário europeu – o rock eletrônico ou synth-rock. É a partir daí que insurge a arquitetura principal da produção, alastrando-se ao longo de quase cinquenta minutos de forma a não cair na repetição e apresentar uma nostálgica e, ao mesmo tempo, original identidade sonora.
DAWN FM, The Weeknd (2022)
O lead single de ‘Dawn FM’ veio na forma de “Take My Breath”, uma das melhores canções da carreira do artista. Mantendo um belíssimo diálogo com a clássica “Blinding Lights”, a faixa se lança a um ambicioso projeto que estende ramificações pelo pop psicodélico e pelo disco, fazendo um incrível e desmedido uso de sintetizadores que remontam a Donna Summer com “I Feel Love” e ao lendário pai do disco, Giorgio Moroder. Além de uma coesa e soberba produção, cortesia principalmente de Martin (cujo extenso trabalho parece tê-lo preparado para este momento de maior ousadia), somos agraciados com uma evocativa progressão e vocais poderosos que respaldam a sensual narrativa que se desenrola.
RENAISSANCE, Beyoncé (2022)
O primeiro capítulo de ‘Renaissance’ marca mais uma transição profunda nas idiossincrasias eternizadas por Beyoncé, em que o art pop, o trip-hop e o R&B conceituais do disco anterior, ‘Lemonade’, são deixados de lado em prol de um mergulho no ponto de encontro entre o passado e o futuro. Logo, a amálgama de estilos, que já vinha sido explorada por nomes como Lady Gaga, Dua Lipa e Drake nos últimos meses e anos, ganha um escopo gigantesco e de profunda sinestesia em basicamente qualquer uma das faixas que escolhamos para ouvir.
THAT! FEELS GOOD!, Jessie Ware (2023)
É quase impossível escolher um ponto alto de ‘That! Feels Good!’, visto que o álbum, em sua completude, é inenarrável e indescritível. Afinal, Jessie Ware não apenas nos convida para um convite deliciosamente anacrônico, perpassando as várias fases de um estilo de música que sofre constantes revisitações e redescobertas; ela dilui as barreiras entre som e imagem, criando uma confluência de textura que nos transporta a outro mundo – um mundo sem estresses contínuos e que a única obrigação é se divertir e aproveitar o que há de ser oferecido. Não é à toa que boa parte da temática adote uma persona sensual, livre de amarras e que é movida pelo poder empoderador da música.