Que a música tem um poder transformador, isso não é nenhuma novidade.
Ao longo das nossas vidas, a música é capaz de nos fazer sentir diferentes coisas – desde nos convidar a refletir sobre o sentido da existência até sentir a dor de um coração partido, permitindo que nos conectemos das mais diferentes maneiras. Mas, às vezes, a única coisa que queremos é mergulhar no mais puro hedonismo e esquecer a vida nem que seja por breves momentos.
Por esse motivo, preparamos uma breve lista elencando dez álbuns para você ouvir quando quiser deixar os problemas de lado e apenas dançar
Veja abaixo as nossas escolhas:
FEVER, Kylie Minogue (2001)
‘Fever’, de Kylie Minogue, continua tão original quanto quando estreou: ao longo de breves doze faixas, a cantora e compositora demonstrou um apreço pelo minimalismo estético e pela coesão sonora, marcado pelas batidas envolventes e eletrônicas que refletiam sua entrada no “mundo moderno” e no novo milênio – fazendo um barulho considerável que estendeu seus ramos para inúmeros discos futuros, incluindo o elogiado ‘Confessions on a Dance Floor’, de Madonna, em 2005; o aguardado comeback de Britney Spears em 2007, ‘Blackout’; a estreia de Paris Hilton no escopo fonográfico com sua obra homônimo, em 2006; e até mesmo com a mistura explosiva do synth-pop e do electro-pop de ‘The Fame’, de Lady Gaga.
CONFESSIONS ON A DANCE FLOOR, Madonna (2005)
Em 2005, Madonna fez o que ninguém esperava: retornou à forma. Com diversos veículos falando sobre o fim da veia artística da popstar, o público começava a duvidar de que a performer conseguiria resgatar as raízes que a colocaram no topo do mundo – mas foi exatamente o que ela fez. Naquele ano, a cantora e compositora mergulhou de cabeça na nostalgia oitentista de seus primeiros anos com ‘Confessions on a Dance Floor’, seu CD mais bem produzido depois de ‘Ray of Light’. Aliando-se a Stuart Price e chamando novamente as ousadas mãos de Mirwais Ahmadzaï, as doze longas faixas se comprimem em um set dançante, vibrante, colorido e incansável que reitera o status imbatível de uma das mulheres mais poderosas de todos os tempos.
BODY TALK, Robyn (2010)
Em seu sétimo álbum de estúdio, a artista sueca Robyn continuou a ser adorada internacionalmente. ‘Body Talk’ foi aclamado pela crítica internacional, apesar de ter sido esnobado nas principais premiações musicais. Através de quinze faixas originais compostas em menos de seis meses, a compositora se transformou em uma das vozes da atualidade, entregando para o mundo impecáveis tracks como “Call Your Girlfriend” e “Dancing On My Own”.
THE ARCHANDROID, Janelle Monáe (2010)
O álbum de estreia de Janelle Monáe é, sem sombra de dúvida, um dos melhores do século e foi aclamadíssimo desde o momento em que chegou aos ouvidos dos fãs e da crítica. Misturando letras profundas e ritmos dançantes – além de fazer uma declaração de amor para o clássico filme ‘Metrópolis’ -, a fusão de neo-soul e psychedelic pop é irretocável do começo ao fim e foi apenas o pontapé inicial para uma carreira meteórica.
TEENAGE DREAM, Katy Perry (2010)
Para o bem ou para o mal, ‘Teenage Dream’ mostrou um lado indesculpavelmente avassalador de Katy Perry. Ela já havia chocado a sociedade conservadora alguns anos atrás e, aqui, o choque se transformaria em um apelo pelo amadurecimento e pelo enaltecimento de nossas próprias personalidades – como visto em “Firework”, até hoje um dos hinos LGBTQIA+ que não podem faltar nas playlists de orgulho. Mais do que isso, Perry condiciona a música a se transformar em um espetáculo visual e sonoro.
ARTPOP, Lady Gaga (2013)
Já se foi o tempo que falar mal de ‘ARTPOP’ era moda; agora, é necessário reconhecer o grandioso impacto do terceiro álbum de Lady Gaga na cultura mundial e entender que a produção, lançada em 2013, estava muito além de seu tempo. Diferente de investidas anteriores, Gaga mergulhou de cabeça na desconstrução da imagem solidificada na década anterior, assim como Andy Warhol e Sun Ra (que servem de referência para a arquitetura estética em questão). O positivismo crítico de “Applause” e a rendição à cultura mainstream com “Donatella” e “Fashion!”, embebidos em um pastiche que faz menção a si mesma e àqueles que influenciaram sua carreira, ganham uma dimensão para além do visto em primeiro plano.
FUTURE NOSTALGIA, Dua Lipa (2020)
Ao longo de onze canções unidas em um mesmo pano de fundo e convergindo para uma homenagem aplaudível àquilo que a inspira desde sempre, Dua Lipa representa uma urgência coletiva, um pastiche cultural que é canalizado sem qualquer presunção (e era de se esperar que alguém recuperasse a união de vários segmentos, visto que há tempos não víamos isso com tanta expressividade no panorama geral). Com ‘Future Nostalgia’, a cantora e compositora abraça os anos 1980 de forma original e saudosista, ao mesmo tempo, nos convidando para as pistas de dança e deixar os pesares para trás.
FETCH THE BOLT CUTTERS, Fiona Apple (2020)
‘Fetch The Bolt Cutters’ vai muito além de uma simples resenha ou de algo que ouvimos apenas para passar o tempo: o último álbum de Fiona Apple atravessa quaisquer preceitos engessados que já carregávamos da indústria musical, destroçando-os em mil pedacinhos e reorganizando-os em um romance, um thriller, um drama, cujas páginas são pequenas e suntuosas caixinhas de surpresas. Mais do que isso, este é um dos poucos casos que entrega muito mais do que promete: iniciando com um irreverente estrondo e terminando com um estrondo ainda mais espetacular.
RENAISSANCE, Beyoncé (2022)
O primeiro capítulo de ‘Renaissance’ marca mais uma transição profunda nas idiossincrasias eternizadas por Beyoncé, em que o art pop, o trip-hop e o R&B conceituais do disco anteriores são deixados de lado em prol de um mergulho no ponto de encontro entre o passado e o futuro. Logo, a amálgama de estilos ganha um escopo gigantesco e de profunda sinestesia em basicamente qualquer uma das faixas que escolhamos para ouvir – movida pela celebração do prazer em uma hedonística e orgásmica jornada sonora que não desequilibra em nenhum momento.
THAT! FEELS GOOD!, Jessie Ware (2023)
É quase impossível escolher um ponto alto de ‘That! Feels Good!’, visto que ela, em sua completude, é inenarrável e indescritível. Afinal, Jessie Ware não apenas nos convida para um convite deliciosamente anacrônico, perpassando as várias fases de um estilo de música que sofre constantes revisitações e redescobertas; ela dilui as barreiras entre som e imagem, criando uma confluência de textura que nos transporta a outro mundo – um mundo sem estresses contínuos e que a única obrigação é se divertir e aproveitar o que há de ser oferecido. Não é à toa que boa parte da temática adote uma persona sensual, livre de amarras e que é movida pelo poder empoderador da música.