Certos filmes nos fazem perceber que serão eternos mesmo em sua data de lançamento, quando nossas perspectivas ainda se encontram muito próximas à afinidade inicial, e longe de qualquer ressonância que tal obra ecoará ou não. Me refiro ao famoso “teste do tempo”. Este fator é o que faz grandes sucessos de determinada época caírem no esquecimento, não sendo mais tão comentados assim pelas gerações mais novas, como Tootsie e A Força do Destino, e outros fracassos de respectivos anos crescerem no status de culto até virarem paixão de cinéfilos no mundo todo, vide Blade Runner – O Caçador de Androides e O Enigma de Outro Mundo. E isso só para citar produções de 40 anos atrás no cinema. É claro que tal fator é aplicável também para filmes de 30, 20 e até 10 anos no passado.
Aqui, nesta nova matéria irei justamente testar a memória dos cinéfilos mais velhos e o conhecimento dos mais jovens, provocando neles e em você a capacidade de recordar de algumas superproduções de 21 anos atrás, que miravam se tornar os novos blockbusters atemporais do cinema, mas que terminaram rapidamente esquecidos e varridos para debaixo do tapete. Alguns podem até ter ressurgido como cult, mas a maioria caiu foi no ostracismo mesmo. Assim, confira abaixo e diga se você consegue lembrar de todos.
O Conde de Monte Cristo
Por incrível que possa parecer hoje em dia, nem tudo o que a Disney toca vira ouro. É o caso com esta superprodução baseada no clássico literário de Alexandre Dumas, que o estúdio havia escolhido para abrir o ano de 2002. A proposta tinha como precedente outra obra do mesmo autor, Os Três Mosqueteiros, que a Disney havia levado aos cinemas na forma de um divertido filme pipoca em 1993. Aqui, através da subsidiária Touchstone Pictures, a aventura de capa e espada tem uma proposta um pouco mais séria e dramática, afinal fala da traição de uma amizade e da missão de vingança do protagonista. Jim Caviezel vive o herói e Guy Pearce é o vilão da vez. Quem dirige é Kevin Reynolds (Robin Hood – O Príncipe dos Ladrões e Waterworld). O filme não foi um fracasso financeiro, embora também não tenha sido um sucesso. Mas hoje, vinte anos depois, quase não se ouve falar nele. Você lembrava desta versão?
A Onda dos Sonhos
A atriz latina durona Michelle Rodriguez começou sua carreira num drama sobre boxe (Boa de Briga, 2000) e seguiu para um filme de ação sobre corridas de carro (Velozes e Furiosos, 2001). Natural que seu filme seguinte fosse outra produção centrada em um esporte: aqui o surfe no Havaí. Produzido pela Universal Pictures, a verdadeira protagonista aqui é a loirinha Kate Bosworth, como parte de um trio de ratinhas de praia (que ainda inclui Rodriguez) surfistas, residentes do Havaí. As três trabalham num hotel para turistas, mas sua verdadeira paixão é pegar ondas, o que fazem em todo o seu tempo livre. O filme baseado num artigo de revista é em seu núcleo um romance, com a protagonista local se apaixonando por um turista da cidade. Para os que curtem o esporte, A Onda dos Sonhos vira quase um filme obrigatório. Justamente por isso, o longa não foi um fracasso, mas um sucesso moderado. A pergunta é: quantos ainda falam ou lembram dele hoje?
Equilibrium
Começamos a matéria com um filme que é pura cópia homenagem de Matrix (1999). O filme das irmãs Wachowski foi revolucionário das mais variadas maneiras para a história do cinema e por consequência bastante influente também. Assim, nos anos que seguiram o início da década de 2000 não faltaram produções que pegassem emprestado algumas referências a este clássico moderno. Um dos mais “descarados” foi este Equilibrium, escrito e dirigido por Kurt Wimmer (Ultravioleta). O filme é protagonizado por Christian Bale e o sumido Taye Diggs. É preciso levar em conta que este é o Bale pré-Batman e pré-Oscar, ainda tentando se acertar com o sucesso. A trama mistura clássicos literários como 1984 e Fahrenheit 451 ao visual de Matrix, mostrando um futuro onde é proibido ter quaisquer sentimentos, e um oficial da lei (Bale) desafiando o estabelecimento. Produção da Dimension Films de US$20 milhões, o longa arrecadou apenas US$5 milhões em bilheteria, mas ressurge hoje como item cult. Você conhecia?
A Máquina do Tempo
Outra tentativa de levar às telonas na forma de um blockbuster um livro clássico de um ator renomadíssimo do passado. Depois de Alexandre Dumas e O Conde de Monte Cristo na Disney, ganhávamos também a união de majors como a Warner e a Dreamworks levando aos cinemas A Máquina do Tempo, do escritor de ficção científica H.G. Wells, responsável também por O Homem Invisível, Guerra dos Mundos e A Ilha do Doutor Moreau. A história já havia sido transformada em filme em 1960, e aqui assumia ares de superprodução. Na trama, na década de 1890, um inventor consegue criar uma máquina do tempo para evitar uma tragédia do passado – mas termina sem querer viajando 800 mil anos no futuro, encontrando o planeta em guerra dividido entre duas raças. Juro que não estou intercalando a lista entre Christian Bale e Guy Pearce, mas depois de dois filmes com Bale, aqui está o segundo com Pearce. Considerando seu orçamento, este foi um sucesso moderado da Warner, mas a obra não é muito falada atualmente.
Reino de Fogo
No início da década passada, os dragões voltaram a ser populares. Com o advento da tecnologia, as criaturas mitológicas deixavam de ser criadas por stop-motion e animatrônicos para poderem ser devidamente representadas nas telonas através de efeitos visuais em CGI muito realistas. Superproduções da Warner e New Line vide Harry Potter e O Senhor dos Anéis contribuíram para o retorno triunfal dos grandes lagartões alados e cuspidores de fogo nas telonas – o que ecoou inclusive para as telinhas em Game of Thrones algum tempo depois. A Disney não queria ficar de fora da festa – afinal dragões são totalmente a sua. Assim, surgia esta superprodução do estúdio que trazia as criaturas bestiais misturadas em um filme pós-apocalíptico – uma realidade devastada no melhor estilo Mad Max. No futuro, a descoberta de dragões no nosso mundo foi responsável pela devastação da raça humana, cabendo a alguns grupos de sobreviventes resistir. Um deles é comandado por Christian Bale (ele de novo) e outro tem Matthew McConaughey como líder. Com comando do diretor de Elektra (2005), Rob Bowman, este foi outro longa que conseguiu se pagar. Mas quantas pessoas comentam sobre ele vinte anos depois?
Efeito Colateral
A carreira do astro Arnold Schwarzenegger começava a puxar o freio no final dos anos 90 e início de 2000. Seja pelo efeito negativo de Batman & Robin (1997), ou simplesmente por coincidência, suas superproduções da época, vide Fim dos Dias (1999) e O Sexto Dia (2000) já não significavam para o público o mesmo que sucessos estrondosos como O Exterminador do Futuro 2 (1991) e True Lies (1994), por exemplo. Fora isso, este seu projeto lançado há vinte anos sofria de outro mal – para além de sua capacidade de se comunicar com os fãs -, era lançado no pós-11 de setembro: o maior atentado terrorista da história do mundo. Muitos filmes da época como Homem-Aranha e Homens de Preto 2 eram adiados e sofriam modificações para eliminar da trama as torres gêmeas. Efeito Colateral possuía uma tarefa ainda mais difícil: toda a sua história girava em torno de um atentado terrorista em solo americano, e o protagonista vivido por Arnold saindo atrás dos criminosos para se vingar. A produção da Warner sequer conseguiu se pagar, se tornando um dos longas menos comentados na filmografia do austríaco.
O Terno de Dois Bilhões de Dólares
O astro Jackie Chan havia entrado em Hollywood com o pé direito graças ao sucesso do buddy cop movie A Hora do Rush. A altura que este The Tuxedo ( no título original) foi lançado, Chan já havia até mesmo estrelado a continuação A Hora do Rush 2 (2001). Aqui, o astro chinês especialista em luta deixava um pouco suas peripécias e acrobacias de lado, para contar com cenas de ação com cabos, redes e muitos efeitos especiais servindo de apoio. Mesmo que talvez não tenha sido a mais cara, podemos sentir que esta, em matéria de escopo e teor, é a produção com mais cara de blockbuster em sua filmografia. Bancado pela Dreamworks, o filme tira sarro da franquia de 007 e do gênero dos espiões de forma geral, querendo dizer que quem realiza tais façanhas inacreditáveis que sempre vemos nos filmes não são os agentes secretos, e sim seus ternos altamente tecnológicos e caríssimos, que apenas trazem a ilusão de atos humanos. Chan vive um motorista de taxi que entra de gaiato e herda um destes ternos de um grande espião. Agora, Chan pode fazer cenas de ação ainda mais inacreditáveis. A sumida Jennifer Love Hewitt também faz parte do elenco. O filme não fez sucesso, mas ficou longe do fracasso retumbante. Você lembra deste?
Sou Espião
Definitivamente no ano de 2002 não foi um dos melhores na vida e carreira do astro Eddie Murphy. Ao contrário, há vinte anos no passado, o comediante amargava um dos períodos mais desastrosos em seu currículo. Foram três superproduções e três grandes fiascos. Em outras matérias, como a do Framboesa de Ouro de vinte anos atrás e os maiores fracassos de vinte anos atrás, eu já havia comentado sobre a ficção científica cômica Pluto Nash – um dos maiores desastres financeiros da história do cinema. Mas não foi apenas prejuízo para a Warner que os filmes de Murphy deram, sobrando também para a Columbia / Sony. Com direção de Betty Thomas (28 Dias), Sou Espião é a versão para o cinema de um seriado clássico da década de 1960, que pegava carona nas histórias de espiões, intitulado Os Destemidos por aqui no Brasil. Uma das guinadas interessantes na adaptação é que no programa antigo, Kelly Robinson (Robert Culp) era branco e se passava por um jogador de tênis, com seu parceiro Alexander Scott (Bill Cosby) sendo negro. Na versão para o cinema, Kelly Robinson ganha as formas de Eddie Murphy e muda o esporte para boxe, e Alex ganha as formas de Owen Wilson. E termina aí os elementos interessantes do filme, que sequer conseguiu pagar seu orçamento nas bilheterias.
Em Má Companhia
O comediante Chris Rock nunca teve muita sorte no cinema, com a maioria de suas tentativas de emplacar no estrelato caindo por terra. Como protagonista de suas próprias comédias nas telonas, o humorista lançou filmes como O Céu Pode Esperar (2001), e inclusive dirigiu suas próprias produções com Um Pobretão na Casa Branca (2003), Acho que Amo Minha Mulher (2007) e No Auge da Fama (2014). Todos, infelizmente, se tornando fracassos de público e crítica. Só quando coadjuva nos filmes de Adam Sandler é que Rock obtém um pouco mais de abrangência. E para os que acham que o novo Jogos Mortais protagonizado por Chris Rock foi a escolha mais estranha do comediante na carreira, saiba que no passado ele já havia investido em filmes de ação. Em Má Companhia, produzido pela Disney e dirigido por Joel Schumacher, o humorista faz par com o grande Anthony Hopkins e brinca com o gênero da ação e espionagem. Você lembrava disso?
Clockstoppers – O Filme
O mínimo que a Paramount deveria ter feito era traduzir esse título quase impronunciável para quem não fala inglês no Brasil. Seja como for, assim como A Máquina do Tempo, esse filme juvenil é inspirado no trabalho proeminente de ficção científica do autor H.G. Wells. Aqui, adaptado para ser uma versão leve e juvenil da história. Dirigido por Jonathan Frakes, o Riker de Jornada nas Estrelas – A Nova Geração, um dos fatores que podem ter feito o filme não criar conexão com o público da época é a falta de nomes realmente famosos à frente do elenco. Quem protagoniza é Jesse Bradford, então um nome promissor de Hollywood, mas uma promessa que não se concretizou. Na trama, ele vive o filho de um inventor que criou um relógio que consegue fazer seu usuário se mexer com a velocidade do Flash, basicamente, dando a impressão de que o tempo congelou. Agora, os financiadores da experiência estão atrás do rapaz para recuperar o item precioso. A parceria entre a Paramount e a Nickeledeon pretendia que esse fosse seu novo sucesso da temporada, mas apesar de não ter se tornando um desastre de trem completo, poucos hoje lembram da existência deste filme.