Excelentes filmes ganharam as telonas de todo mundo nesse 2022 de retorno para as grandes bilheterias no cinema após meses de indefinições por conta da pandemia. E um fato importante que pensei, a cada novo filme visto, é que a presença feminina na direção vem crescendo mais a cada ano numa eterna luta dentro de um mercado audiovisual ainda muito machista. Pensando nesse assunto, resolvi criar uma lista com 10 filmaços dirigidos por mulheres (inclusive ótimas cineastas brasileiras) que vi até o momento nesse 2022:
Um choque entre dois mundos é a combustão que nos leva para uma estrada de diversos conflitos e escolhas, onde o paradoxo entre a impulsividade e a premeditação vira um reflexo dilacerante da natureza humana. Escrito e dirigido pela cineasta paulista Carolina Markowicz (em seu primeiro longa-metragem), Carvão joga na tela contradições camufladas de dilemas morais e a hipocrisia do julgamento para os que chegam e para os que estão no epicentro dessa história ambientada em uma casa humilde no interior de nosso país. Surpreendente até seu último minuto, somos testemunhas de mais uma grande obra do cinema brasileiro.
Vencedor da Mostra Um Certo Olhar em Cannes, o longa-metragem francês Os Piores nos leva a uma gangorra de emoções em uma história profunda sobre alguns jovens de um bairro francês que são chamados durante o verão para realizar um longa-metragem. A questão aqui é que seus personagens no filme acabam de alguma forma tendo uma relação impactante com a realidade deles em um mundo repleto de altos e baixos. Um primoroso trabalho das cineastas Lise Akoka e Romane Gueret. Um dos melhores filmes da seleção do Festival do Rio desse ano.
Vencedor do Leopardo de Ouro no Festival de Locarno nesse ano, o longa-metragem brasileiro Regra 34 é um chocante projeto que consegue unir em uma mesma trajetória reflexões importantes de nossa sociedade, desde de interpretações sobre leis, dos direitos das mulheres, da violência sob alguns pontos de vistas, até o infinito universo dos desejos ligados aos impulsos virtuais. A cineasta Julia Murat consegue com sua forte protagonista (interpretada pela ótima Sol Miranda) nos levar à 100 minutos de impactantes diálogos e ações. Regra 34 é um filme que demora a sair de nossas mentes, há uma reflexão constante sobre os ótimos temas abordados, principalmente sobre as várias óticas da violência. O projeto faz parte da seleção do Festival do Rio 2022 e também da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo do mesmo ano.
Dirigido pela cineasta Maria Clara Escobar, em seu primeiro longa-metragem de ficção como diretora, o filme nos leva para a história de Laura (Carla Kinzo) que está num relacionamento há oito anos com Israel (Otto Jr.) com quem tem um filho. Ela se vê paralisada diversas vezes pelas dúvidas e formas de entender a sua vida. Além de tudo, entender um lugar que já tentou olhar demais acaba sendo o ponto de ruptura que chega para a personagem. Certo dia, resolve sair de casa, embarcando em uma viagem sem avisos, deixando Israel e seu filho, em busca de reconectar consigo mesma. As imagens aqui dizem muito, muitas vezes sem falas, é um recorte profundo que muitas vezes pode parecer um quebra-cabeça para o espectador pois a narrativa gira em torno de uma personagem em conflito.
Boa Sorte, Leo grande
As quebras dos paradigmas por meio de interessantes diálogos. Dirigido pela cineasta australiana Sophie Hyde e com roteiro assinado pela britânica Katy Brand, Boa Sorte, Leo Grande fala sobre um embate amistoso de gerações, que também abre-se brechas para aprendizados, entre uma mulher na faixa dos 50 anos que só conheceu um homem na cama e um jovem que usa do corpo como ferramenta de trabalho. Ao longo das pouco mais de uma hora e meia de projeção, acompanhamos uma forte harmonia entre os personagens que se encontram por alguns dias no mesmo quarto de hotel. Parece que estamos na primeira fileira de uma peça de teatro onde os diálogos nos cativam e nos fazem refletir sobre os dois intrigantes personagens.
Um poderoso recorte sobre a maternidade. Buscando trazer as transformações do corpo e da vida de uma forte protagonista, a cineasta gaúcha Dainara Toffoli nos coloca diante de várias questões que giram em torno da maternidade. Em dúvidas sobre quase tudo que a cerca, a personagem principal, interpretada brilhantemente por Monica Iozzi, busca dar um passo de cada vez dentro de um universo de possibilidades. Seu sofrer vira luto em uma virada que a trama nos apresenta provocando um recorte cada vez mais íntimo de uma mulher em busca das melhores soluções dentro das variáveis que estão no seu presente.
Os conflitos contra um mundo secreto, quase inimaginável. Chegou ao catálogo da Star+ no mês de março um filme que esconde muito bem suas camadas de conflitos com personagens instigantes e que colocam em xeque, de alguma forma, questões sobre relacionamentos. Ao longo de quase duas horas de projeção, e com cerca de meio hora de distância entre a primeira cena e os créditos iniciais, vamos acompanhando a saga de uma jovem, com dedo podre para relacionamentos, em confronto contra uma inusitada situação. As surpresas do roteiro realmente deixam o longa-metragem com um nível de tensão lá no alto. Dirigido pela cineasta Mimi Cave e com roteiro de Lauryn Kahn.
A Vida Depois
As consequências após a tragédia. Buscando retratar o período pós traumático de uma jovem de 16 anos após acontecimentos terríveis que presenciou em sua escola, A Vida Depois é um profundo drama sobre escolhas, descobertas e as inúmeras maneiras de passar por um trauma. A relação com os amigos, com a família, o medo, a ansiedade, as verdades do sentir ficam escondidas, presas dentro de uma jovem que enxergava tudo de forma diferente até o ocorrido. Escrito e dirigido pela cineasta canadense Megan Park, estreando em longas-metragens, protagonizado pela atriz Jenna Ortega.
Exibido na Mostra Panorama do Festival de Berlim e selecionado para o Festival do Rio, Canção de Ninar nos leva para uma jornada profunda de uma forte protagonista, cheia de conflitos sobre a chegada da primeira filha, e também do reencontro com o seu passado além das surpresas que chegam na sua trajetória. Escrito e dirigido pela cineasta espanhola Alauda Ruiz de Azúa, o filme, extremamente sensível, delicado, que se entrega à melancolia de forma inteligente, é um recorte contemporâneo da maternidade.
Não se Preocupe, Querida
Um experimento dentro de uma manipulação existencialista. Nessa frase podemos definir tudo que vemos nas pouco mais de duas horas de projeção do projeto da cineasta, e também atriz, Olivia Wilde, Não se Preocupe, querida. A perfeição e a harmonia de tudo ao redor da protagonista chama a atenção do espectador desde o primeiro minuto e aos poucos vamos entendendo melhor uma série de mistérios que se sucedem nesse curioso projeto que encosta em alguns pontos com a sensação do universo das séries de 2022, Ruptura.