Com a edição 2021 do Oscar cada vez mais próxima – a cerimônia vai ao ar no dia 25 de abril -, grande parte dos cinéfilos não fala de outra coisa. Além de correr atrás dos filmes indicados e discuti-los até perder a voz, é sempre interessante revisitar o passado também, e aprender um pouco mais da história do maior prêmio da sétima arte, assim como sobre o cinema em geral.
Como forma de aquecimento para os novos prêmios da Academia, daremos continuidade à nossa série de matérias de curiosidades sobre as edições passadas do Oscar. Desta vez, iremos comentar sobre os filmes indicados na querida década de 80, que muita gente não possui conhecimento e outros tantos possam ter esquecido. Vem com a gente visitar o passado pela rua da memória. Confira abaixo.
Uma Secretária de Futuro
Exemplar que permeou a Sessão da Tarde no início dos anos 90, à primeira vista muitos podem desmerecer o longa por se tratar de uma comédia. Sim, infelizmente o gênero não ganha o respeito que merece, mesmo quando traz muitas tintas de reflexão, empoderamento feminino e certo drama mesclados à sua trama, como é o caso aqui. Grande herdeiro de Como Eliminar o Seu Chefe (1980), assim como o citado, Uma Secretária de Futuro ganhou uma adaptação para um programa de TV em 1990, protagonizado por ninguém menos do que uma então desconhecida Sandra Bullock.
No filme de 1988, que concorreu ao Oscar de 1989, quem protagoniza é Melanie Griffith numa versão feminina dos Yuppies, jovens profissionais ambiciosos que ocupavam grandes cargos em empresas de renome. O filme mostra o quanto era difícil para uma mulher sair de uma posição de baixo em uma empresa e escalar rumo ao sucesso profissional. O longa recebeu indicações de melhor filme, atriz (Griffith), coadjuvantes (Sigourney Weaver e Joan Cusack), diretor (Mike Nichols) e levou o prêmio de canção para ‘Let the River Run’, de Carly Simon.
Atração Fatal
Um ano antes, lançado em 1987 e concorrendo ao Oscar 1988, este suspense ficou marcado como um dos melhores e mais influentes do subgênero thriller erótico. Clássico do Supercine, muitos podem não lembrar, mas esta história arrepiante esteve entre os cinco postulantes ao maior prêmio do cinema. Na trama, Michael Douglas é o safado da vez, um sujeito casado cometendo adultério. Ele deixa entrar em sua vida uma mulher abalada (vivida por Glenn Close), colocando sua vida, de sua mulher e pequena filha em perigo. Hoje, o filme pode ser interpretado de outra forma, e quem sabe diminuir um pouco da culpa da personagem de Close, sempre vista como uma das mais notórias vilãs do cinema – quando o grande culpado da situação é mesmo o homem.
Atração Fatal foi indicado a melhor filme, diretor (Adrian Lyne), roteiro adaptado, edição, atriz coadjuvante (Anne Archer) e, continuando a tradição de injustiça à atriz, melhor protagonista para Glenn Close, a eterna “perdedora”. É claro, sem vitória.
A Testemunha
O astro Harrison Ford sempre foi associado a filmes de ação. Mas dentre seu acervo de obras do gênero, existem longas de muito prestígio igualmente. É onde se encaixa este thriller sobre um policial (Ford) precisando se infiltrar numa comunidade Amish como um dos seus, a fim de proteger um menininho, testemunha de um assassinato. O filme serviu também para colocar certa luz em tal comunidade, na época tida com muito preconceito por seu estilo de vida bem peculiar (vivendo ainda conforme os 1800). No elenco, uma das musas da década de 80, Kelly McGillis, de Top Gun.
A Testemunha foi indicado melhor filme, ator (Harrison Ford), diretor (Peter Weir), fotografia, direção de arte, trilha sonora, e levou os de roteiro original e edição.
Tootsie
Já imaginou Uma Babá Quase Perfeita indicado para o Oscar de melhor filme? Bem, aqui temos quase isso, com sua versão dos anos 80. Antes do saudoso Robin Williams se vestir em drag para ficar perto dos filhos no filme de 1993, o veterano Dustin Hoffman havia feito o mesmo em 1982. A trama é levemente diferente, com o protagonista vivendo um ator duro e sem trabalho, que resolve se vestir de mulher para conseguir o papel em uma novela. Será que desce redondo hoje?
Seja como for, Tootsie foi indicado para absurdos 10 prêmios no Oscar: melhor filme, ator (Hoffman), diretor (Sydney Pollack), atriz coadjuvante (Teri Garr), roteiro original, fotografia, som, edição e canção; saindo vitorioso da categoria atriz coadjuvante para a lendária Jessica Lange, em início de carreira.
Hannah e Suas Irmãs
Digam o que quiserem, a contribuição de Woody Allen para o cinema é simplesmente importante demais. Hoje, um novo debate sobre a vida pessoal dos artistas entra em pauta. Seja como for, ao longo de sua carreira como realizador, Allen foi um dos cineastas mais constantes de Hollywood, entregando basicamente um filme por ano, desde a década de 1970. Mas ao se produzir tanto assim, quantos trabalhos possuem realmente ressonância com o público? Sem dúvidas podemos dizer que este é um deles.
Em seu longo acervo, apenas três obras tiveram a honraria de estar entre as indicadas a melhor filme, e esta é uma delas. As questões que sempre marcam presença em suas produções não podiam ficar de fora, assim o autor discute relacionamentos, traição, família, carreira, vida artística, numa história com protagonismo feminino de três irmãs bem diferentes, interpretadas por Mia Farrow, Dianne Wiest e Barbara Hershey. O filme foi indicado para 7 prêmios e levou 3 para casa. Hannah e Suas Irmãs foi nomeado para melhor filme, diretor (Allen), direção de arte e edição, e levou ator e atriz coadjuvantes (Michael Caine e Wiest) e roteiro (Allen).
Feitiço da Lua
Pensa só, como a maioria dos fãs reagiria hoje a um filme protagonizado por Cher e Nicolas Cage? Dupla improvável, certo? Mas não para 1987, quando esse longa com doses de romance e drama foi lançado. No auge de sua beleza, Cher interpreta uma ítalo-americana durona, se apaixonando pelo irmão de seu noivo (Cage). Feitiço da Lua é considerado uma das histórias de amor mais queridas da década de 80. O filme ganhou 3 Oscar dos 6 que estava indicado. Dentre as nomeações, melhor filme, coadjuvante (Vincent Gardenia) e diretor (Norman Jewison), e as vitórias de Cher (acredite!) como protagonista, coadjuvante (Olympia Dukakis) e roteiro original.
O Beijo da Mulher-Aranha
Hector Babenco, mesmo tendo nascido na Argentina, era brasileiro de coração e um de nossos maiores tesouros. Grande parte de seus filmes foram produzidos aqui em nosso país varonil. Não por menos, os críticos se derreteram em lágrimas com o documentário sobre sua vida, dirigido por sua companheira Bárbara Paz. Embora tenha uma lista de obras de prestígio em sua filmografia, vide Pixote (1981) e Carandiru (2003), podemos dizer que seu longa mais prestigiado é este O Beijo da Mulher-Aranha, lançado em 1985. E estamos falando de um cineasta que comandou Jack Nicholson e Meryl Streep juntos (em Ironweed, 1987). A relação entre um gay e um prisioneiro político emocionou o mundo e chegou até o Oscar, com indicações de melhor filme, roteiro adaptado, diretor (Babenco) e a vitória do protagonista William Hurt.
O Reencontro
Hoje, filmes sobre o reencontro de amigos do passado se tornou lugar comum, virando quase um subgênero seja dentro do drama ou da comédia. Pensando sobre isso, podemos apontar O Reencontro como um dos responsáveis pela influência e consolidação deste estilo de filme. Aqui, um grupo de colegas universitários se reencontra alguns anos depois numa casa de veraneio para discutir suas vidas e refletir sobre um colega falecido. Um dos verdadeiros chamarizes é o elenco de peso, com então novatos como Jeff Goldblum, Glenn Close, Kevin Kline, Tom Berenger e William Hurt. Ah sim, o filme é de 1983 e figurou na cerimônia de 1984. O Reencontro foi indicado aos Oscar de melhor filme, atriz coadjuvante (Glenn Close, sempre ela) e roteiro original, mas terminou sem vitórias.
Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida
Voltando 40 anos no passado, os blockbusters não eram o que são hoje. De fato, por mais que a esta altura já existissem filmes unicamente voltados ao entretenimento, perceber uma superprodução deste porte não era comum. Assim, imagine a mente do espectador ao se deparar com algo que continua impressionando audiências de hoje. Era algo totalmente sem precedentes. Seguindo de perto a cartilha dos primeiros blockbusters da história, como Tubarão e Star Wars (1975 e 1977), ambos indicados ao Oscar de melhor filme, o primeiro Indiana Jones igualmente recebia a honraria máxima da Academia. Os Caçadores da Arca Perdida recebeu indicações de melhor filme, diretor (Steven Spielberg), fotografia e trilha sonora, saindo vitorioso das categorias de direção de arte, som, edição, efeitos visuais e mais um prêmio especial por edição de som (na época a categoria não existia). Ah sim, o primeiro Indiana Jones é o único da lista a estar incluído entre os 250 melhores de todos os tempos na opinião do grande público.
E.T. – O Extraterrestre
Embora os mais novos não tenham tanto conhecimento, mas há um motivo para Steven Spielberg ser considerado um dos grandes da indústria cinematográfica de todos os tempos. Seus filmes de entretenimento sempre tiveram muito conteúdo e garantiam igualmente o prestígio de prêmios, muitos dos quais reservados ao diretor. Tubarão (1975), o primeiro blockbuster da história, recebeu indicação no Oscar de melhor filme. O mesmo feito foi conquistado por Indiana Jones (1981) e no ano seguinte por E.T. (1982). Se isso não é estar no topo do mundo? Imagina fazer filmes que são ao mesmo tempo fenômenos de bilheteria, eventos culturais no mundo inteiro e extremamente prestigiados com os intelectuais, críticos e membros da Academia. Nem os Deuses acertam tanto. A história de amizade entre um menino e uma criaturinha espacial emocionou o mundo e para o diretor, refletiu a separação dos pais e como foi crescer sem a figura paterna em casa.
E.T. bateu o recorde do item acima por um prêmio, sendo lembrado para nomeações em 9 categorias: melhor filme, diretor (Spielberg), roteiro original, fotografia, edição, e venceu as de melhores efeitos visuais, som, trilha sonora e edição de som.