Nem só de filmes de grandes estúdios é feito o cinema. E no gênero do terror, o mesmo ocorre. De fato, muitos cinéfilos inclusive afirmam de pés juntos que existe muito mais originalidade vinda do cinema independente. O que podemos dizer é que a qualidade autoral dos realizadores pode correr mais solta sem as amarras de um estúdio investindo centenas de milhões de dólares e exigindo de volta o dinheiro. Afinal, quando estamos “famintos” a vontade é maior. E em muitos casos, os primeiros filmes de diretores renomados são os preferidos dos fãs. É claro também que nem sempre mais dinheiro significa falta de qualidade, isto é, no roteiro pelo menos – o chamado “muitos cozinheiros na cozinha”.
Em 2021, muitos filmes de terror completam aniversário de dez anos de seu lançamento, como Pânico 4, Premonição 5, O Segredo da Cabana e os remakes de A Hora do Espanto e A Coisa. Porém, existem aqueles que costumam passar abaixo do radar, muitas vezes caindo no anonimato e se tornando desconhecidos para grande parte do público. Pensando em jogar uma luz nestes filmes menos populares, embora igualmente valiosos, sendo alguns verdadeiras preciosidades, resolvemos trazer esta nova lista com os filmes de terror cult que completam 10 anos e você precisa conhecer.
Ataque ao Prédio
Exibido no Festival do Rio 2011, onde tive a oportunidade inesquecível de conferir o longa nas telonas (depois disso o filme foi lançado direto em vídeo por aqui), Attack the Block no título original é uma produção britânica que foi descrita como “Cidade de Deus encontra Independence Day”. Deu para sentir que cult é a palavra de ordem aqui. Escrito e dirigido por Joe Cornish (roteirista de Homem-Formiga da Marvel) e produzido pelo “padrinho” Edgar Wright, este filme muito original serviu para, entre outras coisas, revelar os talentos de John Boyega e Jodie Whittaker (a nova Doutora de Doctor Who). Na trama uma invasão alienígena realizada na surdina por criaturas muito estranhas (uma mistura de lobo, urso e macaco) sacode a rotina de um conjunto habitacional barra-pesada repleto de bandidinhos nos subúrbios ingleses. E justamente os jovens marginais serão nossos heróis contra esta invasão nesta aventura.
Seita Mortal
O diretor Kevin Smith ficou conhecido como uma das vozes mais inovadoras do cinema independente norte-americano graças a filmes como O Balconista (1994) e Procura-se Amy (1997). Mas quando parecia não ter mais o que dizer neste universo, após a recepção, digamos, fria de alguns de seus projetos, resolveu se voltar para obras de terror. Diretor autoral, Smith seguiu escrevendo e dirigindo suas próprias histórias e o primeiro longa que marcou esta transição do cineasta foi este Seita Mortal (Red State). Igualmente exibido no Festival do Rio 2011, onde igualmente pude conferir nas telonas (igualmente sendo lançado em vídeo após o evento), Seita Mortal é uma crítica ácida e muito sangrenta sobre o fanatismo religioso e até onde as pessoas estão dispostas a irem em nome de sua fé cega. A favor do longa, o elogio de Quentin Tarantino dizendo tê-lo amado.
Hotel da Morte
Pérola escondida do terror independente, este longa desconhecido do grande público recebeu elogios da imprensa especializada na época, que foi o que o fez ser descoberto por seus fãs (como este que vos fala). Capaz e arrepiar até o último pelo da espinha, Hotel da Morte esteve por muito tempo no acervo da Netflix e agora se bandeou para os lados da Amazon como parte de sua biblioteca. A trama acompanha dois funcionários de hotel vividos por Sara Paxton e Pat Healy, que teimam em ser investigadores paranormais amadores nas horas vagas. Fãs de terror, eles consomem todo tipo de informação vinda da internet sobre lendas urbanas e assombrações. Acontece que existe uma mística em torno do próprio estabelecimento onde trabalham e a dupla está decidida a provar que o local não está “puro”.
Absentia
Um dos grandes nomes do terror na atualidade, o diretor Mike Flanagan tem no currículo filmes como O Espelho, Hush: A Morte Ouve, O Sono da Morte, Ouija: Origem do Mal, Jogo Perigoso, Doutor Sono e as séries A Maldição da Residência Hill e A Maldição da Mansão Bly. Tudo isso nos últimos anos. O cara não cansa de trabalhar. Antes de tudo isso, no entanto, em seu quarto longa-metragem, Flanagan já chamava atenção dos especialistas e aficionados com este Absentia. Na trama, duas irmãs começam a investigar um misterioso túnel e começam a suspeitar da ligação do local com uma série de desaparecimentos, incluindo o do marido de uma delas.
Hobo With a Shotgun
Embora muitos não tenham visto ou não compreendam, mas este filme nasceu como um dos curtas que simulavam trailers falsos dentro da “brincadeira” de Quentin Tarantino e Robert Rodriguez conhecida como Grindhouse (À Prova de Morte/Planeta Terror). Acontece que este aqui era parte de um concurso para a divulgação de Grindhouse no Canadá. O trailer falso ganhou o concurso e foi exibido apenas nos cinemas de lá. Quatro anos depois, se tornava um longa-metragem estrelado pelo saudoso Rutger Hauer na pele de um mendigo sem-teto justiceiro que com sua calibre 12 sai eliminando policiais corruptos, pedófilos e todo tipo de escória na cidade.
O Despertar
A estrela Rebecca Hall é quem protagoniza este terror gótico britânico. Passado em 1921 no pós-Primeira Guerra Mundial, Hall interpreta Florence Cathcart, especialista em desvendar casos tidos como sobrenaturais e desmascará-los como farsa. Sua mais nova missão é num internato onde visões de uma criança fantasma estão ocorrendo. No local ela irá se deparar com seu maior desafio para provar que a “entidade” presente não é exatamente o que todos pensam. Ou será?
A Casa Silenciosa
Remake de uma produção Uruguaia de 2010, que por aqui ficou conhecida como A Casa (La Casa Muda), a versão norte-americana era lançada logo no ano seguinte, tendo como protagonista a “cancelada” Elizabeth Olsen – a Wanda da Marvel. A trama apresenta uma jovem que termina presa dentro de uma casa por forças além de sua compreensão, sem conseguir contato com o mundo externo. Um dos chamarizes aqui é o plano-sequência que dá a impressão de que o filme foi todo gravado de uma tomada só, sem cortes. Uma curiosidade é que já se encontra em fase de pré-produção uma nova roupagem da história, desta vez na forma de uma produção indiana.
Virgínia
O imortal Francis Ford Coppola é um dos nomes mais lembrados e admirados de Hollywood por ter no currículo obras-primas como a trilogia O Poderoso Chefão, por exemplo, ainda enaltecidos por muitos como os melhores filmes de todos os tempos (ao menos os dois primeiros). Desde o fim da década de 90, o cineasta tem mostrando descontentamento com a indústria atual – assim como Brian De Palma e John Carpenter, outros dois grandes mestres – escolhendo por se ausentar do mercado e canalizar seus esforços em outras direções. Vez ou outra no entanto, Coppola lança um pequeno projeto aqui, outro acolá, sempre fazendo valer sua visão e sem qualquer amarra de grandes estúdios. Aqui, ele conta a história sobre um escritor de livros de terror, uma cidadezinha e o assassinato de uma jovem. Virgínia (Twixt) possui forte teor alucinógeno e conta com as presenças de Elle Fanning e Val Kilmer no elenco.
Relação Mortal
Aqui temos outro nome de prestígio na direção. A cineasta canadense Mary Harron dirigiu ao menos uma obra-prima em sua carreira, a sátira ácida, sombria e sangrenta Psicopata Americano (2000), que revelou ao mundo o talento de Christian Bale. Aqui, igualmente baseado num livro, Harron conta a história de um internato de meninas e como a chegada da novata Ernessa (Lily Cole) muda a rotina da protagonista Rebecca (Sarah Bolger). A amizade das duas logo se desenvolve para uma espiral de obsessão, revelando sua verdadeira natureza sobrenatural e sedenta de sangue.
Chillerama
Homenagem bem divertida de quatro jovens cineastas aos filmes B de terror, que funciona como um Grindhouse “de segunda” e sem nomes conhecidos no elenco ou na produção. Dividido em quatro segmentos, a história acompanha o último dia de funcionamento de um drive-in nos EUA, com a exibição de quatro curtas de terror raríssimos nunca anteriormente exibidos. Nos tais curtas, terror e comédia se misturam, donos de muito teor para maiores de idade. O primeiro é Wadzilla, que brinca com filmes de monstros gigantes como Godzilla. O segundo, I Was a Teenage Werebear é uma sátira aos filmes de lobisomem misturado à descoberta da homossexualidade de um jovem. No terceiro The Diary of Anne Frankenstein, o clássico de Mary Shelley vira alvo de uma trama envolvendo Hitler na Segunda Guerra Mundial. E o último, Zom-B-Movie parodia os filmes de zumbi dos anos 70 e 80.