Em cartaz atualmente nos cinemas brasileiros com Você Nunca Esteve Realmente Aqui – filme que guarda mais uma de suas estupendas atuações -, Joaquin Phoenix atingiu o patamar dos maiores intérpretes do cinema. O ator camaleão realmente pode fazer de tudo, exibindo grande alcance performático, indo de uma ponta a outra do espectro – do humor ao drama, da vilania ao heroísmo, do trauma à redenção.
Crítica | Você Nunca Esteve Realmente Aqui – ‘Taxi Driver’ encontra a fúria de Joaquin Phoenix
Poucos atores da atualidade escolhem projetos tão desafiadores e conseguem constantemente se sobressair neles, mesmo quando o filme não o acompanha. Pensando nisso, resolvemos homenagear este grande artista com nossa nova lista. Estas são 10 das grandes atuações da carreira de Joaquin Phoenix. Diga abaixo quais são as suas favoritas.
Gladiador (2000)
Um dos épicos mais adorados da história do cinema, Gladiador, de Ridley Scott, foi indicado para 12 Oscar e venceu 5, incluindo melhor filme e melhor ator para Russell Crowe, na pele do general transformado em escravo e depois transformado em gladiador Maximus Decimus Meridius. Mas o que seria de um grande herói sem um grande antagonista à altura. E Phoenix provém justamente isso.
Entre as indicações ao Oscar que o filme recebeu está a de ator coadjuvante, a primeira da carreira de Joaquin Phoenix. Seu trabalho como o cruel e covarde Commodus, o herdeiro preterido e incestuoso, é de tamanha intensidade que se torna um daqueles vilões que adoramos odiar, entrando para o hall de célebres personagens do tipo. Nesta época, Phoenix ainda não tinha o peso que possui hoje, mas já demonstrava seu brilhantismo inerente.
Johnny & June (2005)
Baseado no livro do próprio Johnny Cash, Phoenix sofre uma incrível transformação ao personificar o icônico músico. Podemos dizer que foi daqui que começou a surgir a lenda em torno das performances metódicas do ator.
Apesar de uma entrega assombrosa por parte de Phoenix, sua indicação (a segunda da carreira) não foi seguida de vitória, ao contrário do desempenho da companheira de cena Reese Witherspoon – provando mais uma vez que os prêmios da Academia funcionam muito à base de Lobby e nem sempre acertam. O filme tem o comando de James Mangold, o mesmo do sucesso Logan (2017).
O Mestre (2012)
Excelência chama excelência. E uma coisa que todo grande ator faz é se cercar de talento, sejam outros atores, produtores renomados e, principalmente, diretores de prestígio. Atualmente, poucos cineastas possuem a mão de confeiteiro de Paul Thomas Anderson. A prova disso é que dificilmente um filme do diretor passa em branco na época de premiações. O Mestre marca a primeira parceria destes talentos proeminentes.
Nesta espécie de relato dos primórdios da Cientologia, Phoenix interpreta Freddie Quell, veterano da marinha perdido sem rumo ao voltar para casa. Repleto de frustrações e raiva, o sujeito ruma velozmente em direção ao fundo do poço. É quando em sua vida aparece uma luz no fim do túnel, surgida através de uma religião/seita recém-criada por Lancaster Dodd. Phoenix dá show, mas ele não está sozinho e como dito, recebe total amparo de atuações igualmente chamativas, de Philip Seymour Hoffman e Amy Adams – todas indicadas ao Oscar, marcando a terceira e última (até o momento) para o ator.
Ela (2013)
O desempenho mais melancólico da carreira do ator, traz Phoenix como um homem apaixonado pela voz de Scarlett Johansson. Na verdade, ele interpreta Theodore, sujeito sensível e introspectivo, que se vê entregue a solidão após o término de um relacionamento muito dolorido. Sem qualquer vontade de recomeçar do zero com outra pessoa, ele termina interagindo com uma inteligência artificial e criando com ela um dos relacionamentos mais inusitados e belos da história do cinema. O filme se passa num futuro próximo.
Acostumado a viver personagens traumatizados e problemáticos, em sua maioria truculentos, Phoenix demonstra com este filme outro lado de seu repertório, igualmente cativante. Indicado para 5 prêmios no Oscar, incluindo melhor filme, ELA levou na categoria de roteiro original para o diretor Spike Jonze. Infelizmente, o desempenho de Phoenix não foi lembrando, causando uma das maiores injustiças de anos recentes. No elenco, além de Johansson e do ator, uma constelação feminina, que conta com Amy Adams, Rooney Mara e Olivia Wilde.
Um Sonho Sem Limites (1995)
O que maior parte do público lembra ao pensar neste filme é da incrível atuação da protagonista Nicole Kidman na pele de uma aspirante a jornalista sem escrúpulos, que faz de tudo pela fama e sucesso. É uma espécie feminina de O Abutre (2014), voltada ao humor negro e baseado numa inacreditável história real. Dirigido por Gus Van Sant, o filme marcou um divisor de águas na carreira de Kidman, mostrando a atriz por trás do rostinho lindo.
Mas por que citamos o filme se os holofotes estão em Kidman? Bem, porque não muito atrás está um desempenho que igualmente serviu como marco para a carreira de Joaquin Phoenix. Primeiro, por se tratar do primeiro filme de sua fase adulta na qual ele deixava de lado de vez a alcunha de Leaf Phoenix (como era conhecido em seus trabalhos na infância e adolescência) e assumia o nome Joaquin. E segundo, por se tratar da atuação da qual todos começaram a prestar atenção no ator e perceber um grande talento a ser moldado. Phoenix tinha 21 anos ao interpretar Jimmy Emmett, um dos jovens manipulados pela felina protagonista.
Vício Inerente (2014)
Segundo trabalho do ator ao lado do talentoso PTA, a dupla segue por um caminho totalmente inverso do intenso O Mestre. Esta é uma comédia escrachada, moldada às formas de um noir detetivesco, com a típica roupagem dos filmes do diretor. Ou seja, espere muito mais questões do que respostas e cenas pra lá de enigmáticas.
Mesmo carregando nas tintas de sua inspiração – claramente uma homenagem aos trabalhos dos irmãos Coen, em especial o cult O Grande Lebowski (1998) -, e não chegando ao mesmo patamar, a comédia surpreende por ser o ponto fora da curva extremo para as carreiras tanto de PTA quanto de Phoenix. Sinal de um grande ator, o intérprete entrega outra performance pra lá de empenhada na pele do maconheiro atrapalhado Larry ‘Doc’ Sportello, fazendo rir em muitos trechos nonsense. O elenco é uma verdadeira constelação e conta com nomes como Josh Brolin, Reese Witherspoon e a revelação de Katherine Waterson, entre outros.
Eu Ainda Estou Aqui (2010)
Joaquin Phoenix teve uma vida traumática fora das telas também. Ainda criança, perdeu o irmão mais velho, o também ator River Phoenix – muito comparado a James Dean – devido a uma overdose. No início desta década, todos achavam que o ator havia enlouquecido e saído dos trilhos de vez. Seu comportamento errático era reportado por toda a cidade, inclusive em aparições em talk shows – o caso mais notório sendo no programa de David Letterman (que pode ser visto no Youtube).
O que parecia ser mais uma vítima do sucesso, vide Britney Spears e Lindsay Lohan, era na verdade uma grande brincadeira, fruto experimental para este filme, o documentário falso Eu Ainda Estou Aqui. Bem, ao menos foi o que Phoenix e o diretor do projeto, e cunhado do ator, Casey Affleck, quiseram nos fazer acreditar. O fato é que o filme está aí para quem quiser ver. Nele, vemos Phoenix interpretar a si mesmo, saturado da indústria, largando a carreira de ator para se concentrar em seu novo projeto: se tornar um cantor de rap. A ideia do filme não deu muito certo, e ele voltaria à normalidade dois anos depois com O Mestre. De qualquer forma, só mesmo um grande ator para enganar de verdade o mundo inteiro. Sua maior prova de talento. Ou será que foi verdade?
Amantes (2008)
Um dos projetos menos lembrados na filmografia de Joaquin Phoenix, este foi seu último trabalho antes de embarcar na “loucura” de Eu Ainda Estou Aqui. Curiosamente, este filme que passou abaixo do radar de todos, guarda um dos desempenhos mais contidos e introspectivos da carreira do ator, porém, igualmente marcante. No papel, estão todas as características que veríamos depois em outros trabalhos seus mais chamativos: a melancolia, solidão, a falta de sentido na vida e uma ponta de esperança para a redenção.
Nesta terceira colaboração com o diretor James Gray – num total de quatro, a última sendo Era uma Vez em Nova York (2013) -, o ator vive Leonard Kraditor, um sujeito sem muitas aspirações cujo futuro já está delineado para ele, sem que tenha muito a dizer sobre. O que lhe aguarda adiante é assumir o negócio da família e casar com Sandra (Vinessa Shaw), filha de amigos dos pais e parte de um casamento arranjado, com quem ele não possui afinidade. Seu coração, no entanto, orbita em direção a Michelle (Gwyneth Paltrow), a nova vizinha, desapegada e de espírito livre. Phoenix entrega aqui um papel pouco visto em sua filmografia, ainda mais nesta nova fase.
O Homem Irracional (2015)
Existem alguns itens que todo grande ator precisa riscar de sua lista. Um deles é trabalhar com o lendário Woody Allen. Pena que nem todos irão poder realizar tal feito. Mas Joaquin Phoenix pôde. Este, no entanto, é o que podemos chamar de filme menor do cineasta. A talentosa Emma Stone também está no elenco, e ao contrário de musas anteriores de Allen, vide Scarlett Johansson, suas duas colaborações com o diretor (este e Magia ao Luar) não se relevaram obras marcantes em sua filmografia.
Seja como for, uma coisa é inegável: a força com que Phoenix entrega sua atuação e como molda seu personagem. Aqui, ele é Abe Lucas, um atormentado professor universitário, que parece ter desistido de se importar com qualquer aspecto de sua vida. Desmotivado, o sujeito beira o suicídio. Stone vive uma aluna em busca de salvar o sujeito, que termina se apaixonando por ele (ei, o que seria de um filme de Woody Allen sem o relacionamento entre uma jovem com um homem bem mais velho). Existe um grande ponto de virada, tanto no filme, quanto no protagonista. Ponto este que o próprio Allen pediu para não ser revelado, a fim de não estragar a experiência de quem assiste. E quem somos nós para contradizer o gênio.
Maria Madalena (2018)
Muitos taxaram o novo filme do diretor Garth Davis (Lion: Uma Jornada para Casa) como uma obra morna e esquecível. É difícil entregar uma produção sobre o tema que seja marcante sem apelar para certa polêmica (como foi o caso com os ótimos A Última Tentação de Cristo, de Scorsese, e A Paixão de Cristo, de Mel Gibson). A verdade é que este filme faz mais do que apenas redimir historicamente uma das figuras mais injustiçadas de todos os tempos.
Maria Madalena durante séculos teve seu nome reduzido, e sua importância junto a criação do cristianismo desmerecida. Mas além desta retratação, o filme traz desempenhos quase líricos de seus intérpretes. Phoenix traz imensa serenidade para sua personificação de Jesus, na atuação mais onírica de sua carreira. Sua performance exala paz e grande calmaria. Já Rooney Mara, outra grande atriz subestimada, é a aprendiz em busca de liberdade. Os atores engataram num relacionamento na vida real.
Bônus 1:
Já está mais do que na hora de uma nova indicação ao Oscar para Joaquin Phoenix. E quem sabe ela pode sair este ano. Além de Jesus Cristo em Maria Madalena – filme que deve se manter afastado dos radares de prêmios – o ator entregou dois trabalhos excepcionais que podem emplacar no gosto dos votantes. O primeiro é justamente o citado Você Nunca Esteve Realmente Aqui, no qual ele vive um veterano militar atormentado, pegando para si uma missão muito especial e assim fazendo justiça contra traficantes sexuais com as próprias mãos. Um dos chamarizes sem dúvida é a atuação de Phoenix. O filme, no entanto, foi lançado em 2017 por diversos festivais, estreando em circuito nos EUA em abril deste ano. O que pode ser muito distante para os votantes lembrarem daqui a alguns meses.
Don´t Worry, He Won´t Get Far on Foot, no entanto, pode ser a escolha ideal para tal missão. O filme marca a reunião do ator com o cineasta Gus Van Sant e relata a história real do cartunista John Callahan, que após um grave acidente se torna cadeirante e decide se curar do alcoolismo. Phoenix vive o protagonista, fazendo uso da transformação física que a Academia tanto gosta.
Bônus 2:
Coringa
Ainda em fase de pré-produção, este filme pode ser algo realmente único no subgênero. Associar Joaquin Phoenix, um ator tão intenso quanto ele, a um filme de super-herói não é uma tarefa tão fácil quanto se pensa. A Marvel já tentou com Doutor Estranho, mas foram negados. O motivo, muito provavelmente, deve ter sido a falta de liberdade artística e a ligação obrigatória com novos projetos. A DC conseguiu, sabe-se lá em quais termos para isso. Um personagem como o Coringa merece uma atuação que só Phoenix pode dar.
Além disso, a produção deste filme solo do vilão é de ninguém menos do que Martin Scorsese. E o elenco contará ainda com os somatórios do lendário Robert De Niro e da ótima Zazie Beetz. Imaginem as possibilidades.