Como muitos de vocês sabem, boa parte das obras que chegam nos cinemas ou direto nos streamings são baseadas em livros. Adaptar páginas e mais páginas e transformar isso em uma narrativa cinematográfica não é tarefa fácil, muitos projetos acabam naufragando e outros triunfando. Pensando nisso, segue abaixo uma lista bem legal com 10 livros que viraram 10 ótimos filmes:
Como resumir uma história complexa que envolve sentimentos conflitantes e brilhantismo em paralelo a impactantes poderes dentro de um cenário bélico mundial que se estende até os dias atuais? O novo trabalho do cineasta britânico Christopher Nolan, baseado no livro vencedor do Pulitzer, American Prometheus, uma biografia de J. Robert Oppenheimer escrito pela dupla Kai Bird e Martin J. Sherwin, explora com maestria o uso das possibilidades de uma narrativa, buscando em detalhes chaves os elos para contar uma história de brilhantismo e caos emocional que influenciou poderes que vemos até hoje na geopolítica mundial. Sem adotar o tão batido CGI (imagens geradas por computador), o filme mais longo da carreira de Nolan, com 180 minutos, nos mostra de forma impactante a vida, os romances, os fundamentais encontros, sua relação conturbada com o governo americano, as decisões polêmicas do ‘pai da bomba atômica’.
Se a Rua Beale Falasse
Um olhar vale mais que mil palavras. Baseado no livro homônimo, de James Baldwin, publicado no início da década de 70, Se a Rua Beale Falasse, trabalho de Barry Jenkins mesmo diretor e roteirista de Moonlight – Sob a Luz do Luar, que conquistou Oscar de Melhor Filme e Melhor Roteiro Adaptado em 2017, possui arcos bem definidos (mesmo que alguns um pouco cansativos), sugere idas e vindas em torno do problema em que um dos personagens centrais é colocado. Mas o roteiro é muito mais sobre uma prisão feita de maneira equivocada, é sobre a importância do amor e também sobre todo um contexto social que reflete em um país que não conseguiu se desprender por completo do ódio racial.
Stan & Ollie – O Gordo e o Magro
O objetivo mais alto do artista consiste em exprimir na fisionomia e nos movimentos do corpo as paixões da alma. No ano de 2018, quase desapercebido, um grande retrato íntimo e muito carinhoso de dois grandes atores do cinema ganharam as telonas de alguns lugares do mundo. Stan & Ollie – O Gordo e o Magro além de um roteiro primoroso baseado na obra de A.J.Marriot, Laurel & Hardy – The British Tours, conta com duas inspiradas atuações dos ótimos atores Steve Coogan e John C. Reilly. Esse último, inclusive, indicado ao Globo de Ouro por esse grande papel. Quando a comédia em forma de arte se introduz em paralelo aos dramas da vida, o projeto consegue criar uma fórmula mágica de emoção não deixando o espectador tirar os olhos da tela.
Os laços que nascem através das mais diversas conexões. Baseado na obra homônima da antropóloga e escritora Rosa Liksom e dirigido pelo cineasta finlandês Juho Kuosmanen, Vagão nº6 aborda o inusitado encontro de dois estranhos e suas formas de entender a vida e, numa pegada Junguiana, como podem reagir ao confronto imposto pelo destino através da conexão com outras pessoas. Exibido no Festival de Cannes em 2021, na Mostra de SP e representante da Finlândia ao Globo de Ouro e ao Oscar 2022, o filme é uma jornada repleta de conflitos rumo às respostas que os personagens muitas vezes nem sabem de quais perguntas. Uma história de amor? Uma história de amizade? Peças que de tão diferentes se encaixam? A interpretação para a relação que vai se estabelecendo entre essas duas almas, que parecem completamente opostas a princípio, fica aos olhos do espectador.
Os traumáticos absurdos para se chegar ao basta. Trazendo para o público reflexões sobre um choque de realidade, que envolve a fé, nascido através da violência cruel de homens contra mulheres, a premiada atriz e cineasta Sarah Polley apresenta um recorte de algumas mulheres vivendo uma realidade ultraconservadora dentro de uma comunidade, que destrói qualquer ideia de modernidade no seu cotidiano, inclusive onde as mulheres não podem aprender ler, que precisam decidir em pouco tempo como buscar um futuro melhor para elas e seus filhos. Baseado na obra Women Talking da escritora canadense Miriam Toews, e indicado à dois Oscars em 2023, nas categorias Melhor Filme e Melhor Roteiro Adaptado, Entre Mulheres é um filme urgente, importante e impactante.
Os medos e o duelo sobre a intimidade dentro de um renascer. Baseado na obra Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres de Clarice Lispector o longa-metragem O Livro dos Prazeres dirigido por Marcela Lordy é uma imersão à vida de uma mulher, livre, que busca o entendimento dos seus desejos através de situações onde transbordam suas emoções. Tendo lindas paisagens do Rio de Janeiro como plano de fundo, vamos entendendo aos poucos essa forte personagem que nos apresenta mais um trabalho irretocável de uma das grandes atrizes do cinema brasileiro, Simone Spoladore.
O que aprendemos com a vida é o suficiente para nos tornarmos pessoas felizes? No início da década de 80, chegava aos cinemas de todo o mundo, dirigido por George Roy Hill e baseado na obra The World According to Garp de John Irving, O Mundo Segundo Garp. O longa-metragem de um pouco mais de duas horas de projeção nos conta a saga de homem que descobre o início da vida através dos olhos e atitudes da mãe, uma corajosa mulher, bem à frente do seu tempo, que o criou sem um pai, por opção. Atemporal, fala também sobre a sexualidade, dificuldades de um casamento, sobre o preconceito, sobre a força do feminismo. Um maravilhoso trabalho. Inesquecível. Talvez, o melhor filme da carreira do grande Robin Williams e um dos melhores da carreira de Glenn Close.
A Vida Extraordinária de David Copperfield
A vida e sua trajetória: o que para alguns pode parecer até um conto de fadas! Não se engane, não tem nada de ilusionismo nas próximas palavras. Baseado no livro de Charles Dickens chamado David Copperfield, publicado em meados de 1850, The Personal History Of David Copperfield, dirigido pelo cineasta escocês Armando Iannucci (A Morte de Stalin) é antes de mais nada uma metáfora muito inteligente por trás de toda a luta de classes diferentes, em um período antigo onde o mundo buscava seu desenvolvimento. Repleto de personagens excêntricos (lembra até certo ponto a obra-prima de Tim Burton, Peixe Grande e Suas Maravilhosas Histórias), com uma direção de arte impecável, a saga de David é muito dinâmica, não dá tempo para piscar. Há também um desfile de artistas competentes que formam um conjunto harmônico de grandes atuações.
Toda família feliz é igual mas toda família infeliz é única. Escrito e dirigido pela cineasta francesa Mona Achache, com roteiro baseado na obra A Elegância do Ouriço de Muriel Barbery, O Porco Espinho, lançado no ano de 2009, é um belíssimo filme que usa de diversos contrapontos para nos fazer enxergar todo um contexto sob a ótica de duas solitárias (cada uma à sua maneira): uma jovem super esperta que está decidida a se matar e uma solitária zeladora leitora assídua. Diálogos sobre livros, questões existenciais, cotidiano estressante, impossível não abrir um sorriso e também não ficar com o coração apertado após assistir a esse belo trabalho que diz muito sobre amizade e esperança.
A revolta dos atingidos pela canalhice de alguns. Lançado no circuito brasileiro no final do segundo semestre do ano passado, A Odisseia dos Tontos, filme estrelado pelo grande ator argentino Ricardo Darín, é antes de mais nada uma crítica social importante que gira em torno da enorme crise financeira vivida pela Argentina no início do século. Baseado na obra La noche de la Usina escrito por Eduardo Sacheri, o projeto aborda o caos de maneira inteligência, com ótima trilha e generosas pitadas cômicas.