Está em cartaz nos cinemas brasileiros Gloria Bell, novo filme protagonizado por Julianne Moore. O longa é a refilmagem do chileno Gloria (2013), dirigido por Sebastián Lelio (Uma Mulher Fantástica), que também comanda o remake. O filme fala sobre a personagem principal, uma mulher de meia idade, divorciada e com os filhos já adultos. Com suas “tarefas” cumpridas, ela decide recomeçar a viver unicamente para si, se aventurando por um novo romance.
Gloria Bell é uma refilmagem que não fica devendo nada ao seu original, pelo contrário, em muitos elementos consegue inclusive transcendê-lo, e é um dos melhores filmes deste início de 2019.
Aproveitando este gancho, resolvemos falar sobre um tema não muito adereçado: romances maduros. Os tipos de romance que fazem mais sucesso são os que mostram o relacionamento entre dois jovens. Porém, romances entre pessoas mais experientes podem render filmes igualmente emocionantes e, muitas vezes, ainda mais profundos, por dispensar trivialidades. Vem com a gente conhecer estes filmes que mostram que toda forma de amor é válida.
Gloria Bell (2018)
Começamos a lista com o filme que a motivou. Lembro bem a impressão que Gloria me causou em 2013. O filme mexe com nosso íntimo de forma única, abordando solidão e segundas chances. Ao adentrar a sessão do “novo” Gloria, a surpresa foi ver os mesmos sentimentos vindo à tona, de forma ainda mais intensa – mesmo já sabendo perfeitamente o que encontraria. Fora isso, Julianne Moore está em seu auge, numa atuação irradiante, exibindo o auge de sua forma física aos quase 60 anos de idade.
As Pontes de Madison (1995)
Baseado no romance de Robert James Waller, este filme apresenta um casal improvável: Clint Eastwood e Meryl Streep. Mas que nem por isso deixou de ter química, muito pelo contrário, a interação foi tão eficiente que o longa se mantém como um grande preferido do gênero na opinião de muita gente. Dirigido pelo próprio Eastwood, dono de uma sutileza ímpar, o filme conta o tórrido caso de amor entre uma dona de casa insatisfeita e um fotógrafo desgarrado que se apaixona pela primeira vez. A cena final é de arrepiar a espinha e partir o coração. Na época, Eastwood tinha 65 anos e Streep tinha 46 anos.
Alguém tem que Ceder (2003)
Apostando na fama real de Jack Nicholson, um notório farrista e mulherengo, este filme traz o ator na pele de um produtor musical de sucesso, que só se envolve com mulheres bem mais novas que ele. Numa destas aventuras, o sujeito passa mal na hora do “vamos ver” e precisa ser internado às pressas devido a um ataque cardíaco. Neste momento, ele conhece acidentalmente a família de sua “namorada”, e termina desenvolvendo fortes laços de afeto com a mãe da menina, uma famosa escritora – papel de Diane Keaton. Mas não sem antes trocarem muitas farpas. Nicholson tinha 66 anos quando estrelou o longa, e Keaton tinha 57 anos.
Nossas Noites (2017)
O veteraníssimo Robert Redford anunciou sua aposentadoria ano passado, com o canto do Cisne O Velho e a Arma. Antes disso, a Netflix foi esperta o suficiente para conseguir dois filmes com um dos maiores atores de todos os tempos. O segundo foi este romance da terceira idade, no qual faz parte amoroso com outra lenda viva do cinema, Jane Fonda. O filme apresenta a dupla como viúvos vivendo próximos um do outro como vizinhos, mas que nunca tiveram muito contato. Tudo muda quando a personagem de Fonda decide investir num relacionamento com o sujeito. Na época, Robert Redford tinha 81 anos e Fonda, 80 anos.
45 Anos (2015)
Indicado ao tão atrasado Oscar de melhor atriz para a veterana Charlotte Rampling, este é provavelmente o filme mais triste e mais dramático da lista. Rampling e Tom Courtenay vivem um casal unido por décadas, que na terceira idade terminam tendo uma crise irremediável em seu casamento. Tudo começa quando a mulher descobre coisas sobre o passado do companheiro, que são irremediáveis para ela, fazendo-a acreditar que sua vida no relacionamento foi uma farsa durante todo este tempo. E agora? Continua apenas sorrindo? Rampling tinha 69 anos e Courteney tinha 78 anos.
À Procura do Amor (2013)
Talvez o filme com o casal mais jovem da lista, esta obra marcou um dos últimos e mais emocionantes trabalhos da carreira do saudoso James Gandolfini. O filme foi lançado no mesmo ano de sua morte. Atuando totalmente contra o tipo de produções que costumava protagonizar, Gandolfini tem um desempenho afetuoso na pele de um sujeito em busca de uma nova chance no amor. Divorciado, ele termina se encantando pela protagonista vivida por Julia Louis-Dreyfus (a eterna Elaine da série Seinfeld), em seu papel definitivo no cinema. Na época, Gandolfini tinha 51 anos, e Louis-Dreyfus tinha 52 anos.
Elsa & Fred (2014)
Outra refilmagem de uma produção latina, esta argentina protagonizada por Manuel Alexandre e China Zorrilla. Na versão americana, que não é comandada pelo mesmo diretor desta vez, quem protagoniza são os veteranos da era de ouro de Hollywood, Christopher Plummer e Shirley MacLaine. Aqui, igualmente temos o romance inesperado nascendo entre duas pessoas da terceira idade solitárias, que começam a confiar um no outro a fim de companhia. Entre o repertório da dupla, além da rabugice, está a prática da dança de salão. Plummer tinha 85 anos na época e MacLaine tinha 80 anos.
Tinha que Ser Você (2008)
Outro casal improvável da sétima arte chega com este filme. O baixinho Dustin Hoffman e a britânica Emma Thompson se conectam e vivem um romance fora do comum. Na trama, o ator interpreta um sujeito americano, viajando para Londres para o casamento da filha. No país, ele conhece e se apaixona pela personagem de Thompson. Mas apesar do mar de rosas inicial, os relacionamentos com pessoas maduras podem não ser as mil maravilhas, se mostrando inclusive mais difícil por envolver diversas outras situações e pessoas. Na época, Hoffman tinha 71 anos e Thompson tinha 49 anos.
Longe Dela (2006)
Os dois últimos itens da lista prometem partir o coração até mesmo do espectador mais insensível, duro e frio. O primeiro é esta obra-prima dirigida pela talentosa Sarah Polley. O filme traz um romance muito diferente e fala também sobre a doença de Alzheimer. Um casal juntos há décadas, sofre um tremendo baque quando a mulher, papel da musa Julie Christie, se descobre com a terrível doença degenerativa, que vai causando seu esquecimento. É muito dolorido ver a companheira ir a cada dia apagando o marido de sua vida. Para não dizer desesperador. Assim, aos poucos o personagem de Gordon Pinsent vai perdendo lugar e sendo jogado para escanteio na lista de prioridades da mulher. Na época, Julie Christie tinha 66 anos, e Gordon Pinsent tinha 76 anos.
Reaprendendo a Amar (2015)
Outro filme de molhar os lencinhos de lágrimas, este um pouco menos conhecido do grande público, mas igualmente pra lá de emocionante – que você precisa assistir. Quem protagoniza aqui é Blythe Danner, mãe de Gwyneth Paltrow na vida real. A atriz veterana nunca teve muito destaque em sua carreira, mas começou a ser reconhecida com a maturidade. Um de seus trabalhos mais lembrados é como a esposa de Robert De Niro na franquia cômica Entrando numa Fria (2000, 2004 e 2010). Aqui, ela vive uma viúva, que descobre uma nova paixão na terceira idade, e começa a viver uma de suas maiores aventuras com o pretendente interpretado por Sam Elliott – outro grande veterano da indústria -, indicado ao Oscar de coadjuvante este ano por Nasce uma Estrela. Danner tinha 72 anos no lançamento do filme, e Elliott estava com 71 anos.
Bônus:
Depois da Meia Noite (2013)
A escolha deste item para a lista pode ser inusitada, mas não é equivocada. Trata-se da terceira parte da trilogia (até o momento) criada pelo diretor Richard Linklater e pelos atores Ethan Hawke e Julie Delpy. Tudo começou em 1995, quando a dupla, então na faixa dos vinte e poucos anos, se conhece em viagem pela Europa e se apaixona. Por uma noite, uma das relações mais memoráveis da sétima arte se desenvolveu. Quase dez anos depois, em 2004, eles voltavam a se encontrar – agora na casa dos trinta e poucos anos, e com as vidas em outro estágio. Mais outros dez anos, e o trio apresenta o terceiro encontro da dupla, agora casados, com sua própria família, e enfrentando o peso do dia a dia e da rotina. Este é o filme mais maduro da trilogia e justamente por isso, o mais amargo, pesado, triste e real.