Vivemos uma realidade no entretenimento mundial onde é muito mais fácil e vantajoso apostar em marcas famosas e estabelecidas. Ou seja, se algo funciona e faz sucesso, pode ter certeza que terá continuações. E sim, estamos falando em especial das produções audiovisuais. Se uma série estreia bem em sua primeira temporada, obviamente abrirá espaço para a segunda, mesmo que a história não peça muito para continuar, vide Westworld. Às vezes inclusive esticando sua trama até não dar mais, como aconteceu com Lost.
Mas aqui, o assunto são as produções cinematográficas – que seguem o mesmo caminho, é claro. Se um filme faz sucesso caindo nas graças do público, pode ter certeza que será rapidamente revisitado. Nada de errado nisso. O problema é quando a ganância fala mais alto e o interesse é apenas financeiro, atropelando a coerência de uma boa história. Muitos sequer possuem qualquer narrativa e apostam somente no valor da afinidade do espectador. Pensando nisso, resolvemos por esta nova matéria relembrando algumas continuações de filmes recentes bem famosas que foram massacradas pelos críticos por, digamos, ir do nada a lugar algum, mostrando realmente não ter qualquer coisa a dizer. Confira abaixo e não esqueça de comentar.
MIB: Homens de Preto – Internacional
Homens de Preto (1997) foi um verdadeiro fenômeno, e ano que vem completa 25 anos de lançamento. A febre foi tanta que gerou até mesmo um desenho animado e duas continuações. Mas quando pensamos em MIB, lembramos automaticamente da dupla Will Smith e Tommy Lee Jones, cujos estilos contraditórios se completavam perfeitamente. Mas e que tal uma pitada de Marvel para revigorar esta franquia da Sony? Afinal, o que poderia dar errado ao se temperar MIB com a ótima química dos atores Chris Hemsworth e Tessa Thompson vista e aplaudida em Thor Ragnarok (2017)? Bem, tudo, já que o quarto filme da franquia e o único sem a dupla Smith / Jones se mostrou algo tão genérico e esquecível que os críticos não tiveram opção a não ser tascar um irrisório 23% de aprovação.
X-Men: Fênix Negra
Muitos estão dando graças a Deus pela Fox ter sido comprada pela Disney e assim a franquia X-Men ter ido parar em seu lugar de direito, junto ao MCU. Assim, em breve poderemos ver os mutantes que são um dos carros-chefe da editora interagir nas telonas com outros tantos personagens queridos. A franquia X-Men até começou bem nos cinemas, recebeu elogios e foi um dos filmes responsáveis pela onda de produções do gênero que temos hoje, indiscutivelmente. À altura do lançamento deste filme, porém, a franquia já tinha visto altos e baixos, mas nada nos prepararia para esta obra totalmente sem sal. A verdade é que a história da Fênix Negra já havia sido contada em O Confronto Final (2006), e salvação seria se fosse contada desta vez da maneira certa. Não rolou. Os críticos deram míseros 22% de aprovação, merecidamente.
Malévola: Dona do Mal
A graça do primeiro Malévola, de 2014, foi subverter a história da Bela Adormecida focando na vilã do título, a bruxa que é uma das maiores vilãs do acervo Disney. A surpresa foi ver como a estrela Angelina Jolie caiu como uma luva no papel, já que esse era um projeto muito pessoal para a atriz, sendo o longa animado um dos preferidos dela. Já esta sequência tardia, lançada cinco anos depois (em 2019) mostra-se um verdadeiro caça-níquel, cujo atrativo não mais era Jolie, e sim a presença de outra musa, Michelle Pfeiffer. Dizem as más línguas que Jolie fez o filme unicamente pelo dinheiro, precisando sanar algumas dívidas financeiras. Como resultado, os críticos torceram o nariz com apenas 39% de aprovação.
O Paradoxo Cloverfield
Aqui temos um caso onde o segundo exemplar é muito superior ao primeiro da franquia. Cloverfield – Monstro (2008) é um eficiente filme… bem, de monstro, que ajudou a fortificar o estilo found footage nos anos 2000. No entanto, quase dez anos depois, Rua Cloferfield, 10 (2016) se mostrou um exímio e tenso estudo psicológico de personagens, pegando a todos de surpresa. Justamente por isso, foi no mínimo embasbacante presenciar esta patacoada espacial, com efeitos toscos e sem qualquer suspense ou medo. O elenco é muito bom, mas o filme só serviu para colocar um ponto final (até o momento) na promissora franquia, inclusive fazendo o quarto exemplar (Operação Overlord) mudar de nome. Os críticos não tiveram outra escolha a não ser avaliar o “terror” com 21% de aprovação.
Olhos Famintos 3
Essa é uma franquia de terror marcada por escândalos em seus bastidores, mas que mesmo assim continua tendo seus adeptos por ter conquistado certo status de cult. O mais impressionante é a presença do grande Francis Ford Coppola como produtor dos dois primeiros filmes. O original, de 2001, completa vinte anos de seu lançamento em 2021, mas está bem longe de ser essa Coca-Cola toda alardeada pelos fãs. O segundo, de 2003, já diminuiu o hype. Mas nada prepararia para a devastação do terceiro, lançado em 2017, comandado pelo mesmo Victor Salva dos anteriores, diretor condenado por abuso de menores. Um reboot da franquia é anunciado para este ano, sem o envolvimento de Salva. Esperamos que os efeitos e a maquiagem do monstro sejam melhores do que os anteriores. Enquanto isso, o terceiro Olhos Famintos foi avaliado 17% de aprovação pelos críticos.
Alice Através do Espelho
A Disney domina o mundo, e nesse processo é claro que a ganância está envolvida. Sim, a casa do Mickey já lançou muitas continuações desnecessárias que ficaram bem aquém de seus filmes originais. Uma das mais sem vergonha é essa sequência de Alice no País das Maravilhas (2010), de Tim Burton – um filme muito destemperado e um dos pontos mais baixos na carreira do cineasta, mas que fez enorme sucesso com as crianças. Assim, longos seis anos depois, o estúdio achou que seria uma boa continuar a história. Sentimos em tela a vontade zero de Johnny Depp, Anne Hathaway, Mia Wasikowska e afins de estarem ali. E Tim Burton… bem, ele não estava mesmo, pulando para o cargo de “produtor”. A avaliação dos críticos para um dos filmes mais sem alma de anos recentes foi de 29% de aprovação.
Bruxa de Blair
Aqui a desgraça foi tanta que o filme resolveu trocar de nome a esta altura do campeonato. Ao menos é o que informa o IMDB, que intitula a obra como A Maldição de Blackhills: Bruxa de Blair 3. O filme original mudou o jogo no fim dos anos 90, se tornou fenômeno minimalista independente e cimentou o found footage para os novos tempos. A ganância fez os produtores continuarem o que não precisava (ou devia) ser continuado. Assim surgiu O Livro das Sombras (2000) logo no ano seguinte, resultando num dos piores filmes de todos os tempos na opinião do grande público. Quase vinte anos depois da sequência alguns “gênios” de Hollywood acharam ter encontrado a ideia de ouro para um terceiro filme. Que tal um reboot / continuação misturando os estilos do found footage com a estética tradicional, e transformando a bruxa num monstro que podemos ver? Agora me diz, quem deu sinal verde para isso? O resultado: 38% de aprovação dos críticos – o que ainda me parece bem alto.
Os Estranhos: Caçada Noturna
Filmes de invasão doméstica se tornaram um subgênero dentro do terror. Para a nova geração, um cult muito lembrado é Os Estranhos (2007). Apesar de quase não ser comentado hoje em dia, o filme fez sucesso com os aficionados, contando com a presença da estrela Liv Tyler, mesmo sendo um longa, para falta de definição melhor, digno de qualquer nota. Na trama um casal é atormentado em sua casa de campo por um trio de psicopatas sádicos mascarados. Dizem ter sido baseado numa história real. Pedia continuação? Não. Teve? Certamente, uma ocorrida quase dez anos depois, que explica muito pouco e resolve apelar para o lugar comum. Ah sim, a presença do nome mais conhecido aqui, o da ruiva voluptuosa Christina Hendricks, é pura enganação, já que ela fica em cena por uns 15 minutos. Melhor para ela, pior para nós. Com tantos “atrativos” a solução dos críticos foi uma avaliação de 39% de aprovação – o que ainda é alto demais para o filme.
Rota de Fuga 2: Hades
Adoramos o astro Sylvester Stallone. Particularmente, seus filmes tiveram grande valor na formação cinéfila deste amigo que vos fala. E para sempre ele será um ídolo. Mas como sabemos o mundo pode ser cruel, e em sua terceira idade Sly já não encontra tantos projetos para estrelar como outrora. Um dos mais legais de anos recentes foi Rota de Fuga (2013), que o une pela primeira vez em tela durante toda a projeção com seu eterno rival do passado, Arnold Schwarzenegger. E essa era uma, senão a única graça do filme. Cinco anos depois, Stallone cismou de continuar essa história e buscou investimento na Ásia. Resultado: muitos atores asiáticos roubando sua cena, com o astro se tornando coadjuvante de sua própria produção. A incoerência desta continuação não passou em branco sequer pelo próprio Sly, que veio a público detonar a qualidade da sequência. Com vergonhosos 8% de aprovação dos críticos, Rota de Fuga 2: Hades (2018) é um dos piores filmes em anos recentes na opinião dos especialistas. Dizem que a coisa melhora um pouco no terceiro Rota de Fuga 3 – O Resgate (2019), mas quem vai arriscar ver para saber? Eu não.
Invasão Zumbi 2: Península
É muito mais triste quando vemos uma continuação ruim de um filme maravilhoso, que fez um baita sucesso com os críticos e público, demonstrando um propósito para além das telas. O primeiro Invasão Zumbi (Train to Busan) serviu para abrir os olhos de grande parte dos espectadores para filmes de gênero vindos da Ásia, em especial da Coreia do Sul. É claro que o terror japonês já havia emplacado com os cinéfilos brasileiros e do mundo, mas ainda assim eram restritos a uma parcela cult underground. Invasão Zumbi (2016) elevou tais filmes ao meio mainstream, sendo exibido em cinemas de shopping junto com as produções mais comerciais. Ao ser colocado na plataforma da Netflix seguiu aumentando sua popularidade com novos espectadores, que iam descobrindo-o. Com 94% de aprovação dos críticos, era seguro dizer que o hype para a sequência havia sido gerado. E quando ela de fato estreou, em meio a pandemia do Coronavírus, bem, digamos que o barulho ficou muito longe de ser o mesmo. A avaliação da imprensa nem foi das mais negativas para Península (2020), com 54% de aprovação. Mas esperava-se bem mais para algo dentro da franquia.