sexta-feira , 8 novembro , 2024

10 Sucessos Fenomenais Inesperados dos Últimos Anos

O que define um sucesso absoluto? No caso de produções cinematográficas é fácil: a junção de uma gorda bilheteria (o que garante a adoração do público) com a aprovação da crítica especializada.

Existem sucessos. E existem os fenômenos. Aquele tipo de filme dos quais estão todos falando e que se você não quiser ficar de fora do assunto, precisa correr para assistir. Mas existem também os sucessos fenomenais inesperados. São aqueles tipos de filme pelos quais todos estavam receosos – seja por qual motivo for -, com os dois pés atrás e que ainda assim viveram para se mostrar a nova sensação do pedaço.

Pensando neste tipo de obra que conseguiu superar a descrença, formulamos nossa nova lista. Estes são os 10 filmes que se tornaram sucesso fenomenal inesperado.



Pantera Negra (2018)

Tudo bem que só de ser um filme da Marvel, a garantia de sucesso é certa. O lance aqui é que ninguém esperava, nem em seus sonhos mais felizes, o tamanho de tal sucesso. O primeiro super-herói negro em grande escala do cinema trazia uma carga social muito importante, dirigido por um cineasta negro e com um elenco majoritariamente negro. O personagem já havia causado boa impressão em seu debute na aventura Capitão América: Guerra Civil (2016), mas ter um filme solo era algo diferente.



Com o lançamento, veio o burburinho. A Marvel havia acertado novamente. Mas algo inédito acontecia, até mesmo para os padrões da casa – que precisou reconhecer o fenômeno. Pantera Negra se tornava um marco social, transcendendo Hollywood ou até mesmo uma produção cinematográfica. O filme se tornou a produção mais rentável do ano nos EUA e a segunda ao redor do mundo – ficando atrás somente de outro fenômeno, este esperado: Vingadores: Guerra Infinita.

Com a crítica não foi diferente e Pantera Negra marca 97% de aprovação, quase a nota máxima. O maior legado da superprodução, no entanto, foi mostrar que filmes deste porte protagonizados e comandados por negros funcionam. E funcionam muito bem. Sinal de bem-vindos novos tempos e de que Hollywood pode mudar sossegada, sem precisar se preocupar com o lucro.

Jumanji: Bem-Vindo à Selva (2017)

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A Sony já havia passado por um backlash parecido há pouco tempo. Em 2016, quando o primeiro trailer do novo Caça-Fantasmas, inteiramente protagonizado por mulheres, foi lançado no Youtube quebrou um triste recorde: se tornou o trailer com mais “descurtidas” da história da plataforma. O motivo: nerds mimizentos chorando e acusando os produtores de terem “acabado com suas infâncias”. Isso antes mesmo de poderem assistir ao longa. Mesmo tentando se envolver no manto do feminismo – como último recurso desesperado -, o filme não emplacou. Tudo bem que a qualidade da obra não ajudou muito.

Imagine o desespero dos executivos do mesmo estúdio, passando novamente por um incrível backlash pelo segundo ano consecutivo. A internet ardeu em comoção quando o primeiro trailer de Jumanji atingiu a rede. Pessoas que cresceram amando o filme original com o saudoso Robin Williams estavam mais do que descontentes com a nova roupagem, acusando-a de ser muito mais um veículo de Dwayne Johnson do que um remake/reboot/continuação de seu adorado filme. E eu de cá pensando com meus botões: “nunca soube que Jumanji tinha esta legião de culto”.

Mas para a extrema felicidade dos produtores, The Rock e todos os envolvidos, foi só a aventura juvenil atingir os cinemas, que o jogo virou de vez a seu favor. A ideia estranha de um novo Jumanji já havia caído nas graças de todos e com a aprovação de quase 80% da imprensa, curiosamente ainda mais alta que a do filme original de 1995, os céticos tiveram fé. O fracasso certo se tornava sucesso, mas não apenas isso, se tornava um fenômeno. O filme foi o quarto mais rentável de 2017 nos EUA (batendo simplesmente todos os lançamentos da Marvel) e o quinto ao redor do mundo, beirando a marca do US$1 bilhão. Alguém duvida que as continuações chegarão correndo?

Mulher-Maravilha (2017)

Podemos dizer que parte do sucesso de Pantera Negra se deve ao pioneirismo de Mulher-Maravilha. Antes um grande tabu, quando a primeira superprodução protagonizada por uma heroína mostrou que podia dar muito certo, outras que visavam aceitação de gênero ou raça vislumbraram a luz no fim do túnel. Mas você pergunta: por que Mulher-Maravilha, uma das personagens mais icônicas dos quadrinhos, era incerteza? Bem, por dois grandes motivos. O primeiro é o citado acima. Sim, já havíamos tido superproduções comandadas por mulheres em papeis principais, mas não deste porte, não deste subgênero ainda muito masculino.

Fora que outros haviam naufragado gloriosamente, vide Mulher Gato (2004), com Halle Berry, da mesma DC/Warner, e Elektra (2005), com Jennifer Garner. Chegamos ao segundo motivo, que se divide em uma bifurcação. Primeiro, a nova leva de produções da casa, a citada Warner/DC, não estava na melhor das fases, para dizer no mínimo, vindo de recepções que variavam de mornas a geladas, em filmes como O Homem de Aço (2013), Batman Vs. Superman (2016) e Esquadrão Suicida (2016). Mulher-Maravilha era quase como a última esperança deste universo não afundar.

Segundo, a protagonista Gal Gadot ainda estava em provação, por assim dizer. Muito criticada quando eleita para personificar a amazona, a israelense não havia impressionado incondicionalmente ao viver a heroína em BVS – tudo bem que a participação era pequena. Entretanto, quando chegou a hora de protagonizar seu filme solo, não faltaram elogios para a atriz. Mas com Liga da Justiça, lançado logo depois, pudemos perceber que ninguém a fotografa ou a utiliza como Patty Jenkins. Mulher-Maravilha ultrapassou todas as expectativas, marcando 92% de aprovação junto aos críticos. Além disso, se tornou fenômeno de bilheteria, em terceiro lugar nos EUA e décimo ao redor do mundo. Sim, as mulheres podem. E podem mais! O jogo mudou e Mulher-Maravilha 1984, a continuação a ser lançada ano que vem, já é um dos filmes mais esperados de 2019. Vida longa, Patty Jenkins e Gal Gadot.

Fragmentado (2017)

Quem já curtia cinema no final da década de 1990, conheceu de perto a ascensão de M. Night Shyamalan. Pouquíssimas vezes um diretor debutava no cenário mundial enaltecido com o título de gênio da sétima arte. Bastou uma obra (O Sexto Sentido) para Shyamalan ser tratado como o novo Spielberg ou o novo Hitchcock. Exageros da imprensa – que adora títulos. Mas depois, a cada novo trabalho o indiano perdia um pouco de seu prestígio. E isso parecia incomodá-lo. Até que, após o divisor de águas A Vila (2004), o cineasta resolveu declarar guerra aos críticos com A Dama na Água (2006).

Depois disso, parecia que a voz de autor do cineasta havia se calado, entre um desastre pretensioso aqui e um filme de aluguel ali. A volta por cima foi timidamente ensaiada com A Visita (2015), produção intimista na qual Shyamalan se despia de tudo e voltava a falar com o coração, ou com a paixão. Daí o ceticismo em relação a seu próximo trabalho, o então misterioso Fragmentado. Natural a desconfiança. Natural também os novos louros que o diretor recebeu após todos terem conferido o resultado de seu novo projeto.

Fragmentado trouxe um tour de force de James McAvoy – que fez todos gritarem “Oscar” – uma jovem talentosa recém-saída de um cult do gênero (Anya Taylor-Joy, de A Bruxa) e, acima de tudo, um texto caprichado de seu autor, fazendo de vez as pazes com crítica e público. E sim, com o sucesso. O desfecho que o interliga com outra obra sua, a qual todos pediam sequência, foi a cereja no bolo. O filme somou quase 80% de aprovação junto a imprensa e permaneceu por três semanas em primeiro lugar após sua estreia no início do ano passado – feito impressionando se levarmos em conta as competitivas bilheterias americanas, onde a cada semana filmes se devoram. E que venha Vidro, a continuação prometida para 2019.

Uma Aventura LEGO (2014)

Quando um longa-metragem para o cinema baseado nos brinquedos de encaixe LEGO foi anunciado, nem mesmo o mais visionário espectador fazia ideia do seu resultado. Na verdade, quase ninguém achava o conceito minimamente relevante ao ponto de render uma obra de qualidade. Nem mesmo as presenças dos diretores Christopher Miller e Phil Lord, responsáveis pelo hilário e insano reboot de Anjos da Lei (2012 e 2014), tirava a descrença geral.

Provando que até mesmo o material fonte mais idiota e inanimado pode render um bom filme se houver empenho e vontade, Uma Aventura LEGO surpreendeu dez entre dez espectadores, se mostrando um dos filmes mais divertidos não apenas de seu respectivo ano, como dos últimos anos igualmente. Escracho, metalinguagem, criatividade e excelente timing cômico fizeram de Lego um fenômeno, ao ponto de criar todo um universo derivado de animações da Warner, que já rendeu Lego Batman (2017) e Lego Ninjago (2017).

Uma Aventura Lego conquistou a crítica, com 96% de aprovação, o público, se tornando a quinta maior bilheteria nos EUA em seu respectivo ano, e o mundo. A continuação, programada para o ano que vem, seguirá o mesmo caminho. Alguém duvida?

Deadpool (2016)

Já vimos super-heróis salvando pessoas em filmes, séries, desenhos e quadrinhos. O que nunca havíamos visto era heróis salvando a carreira de seu intérprete. Bem, não desta forma. O ator Ryan Reynolds por pouco não entra para a história como o mais azarado quando o assunto é adaptação de quadrinhos. Tudo porque ele já tinha escorregado não uma, não duas, não três, mas quatro vezes antes de finalmente se redimir na pele de um personagem que, inclusive, já havia interpretado.

Primeiro foi Blade Trinity (2004), malfadada conclusão de uma boa franquia de herói obscuro. Depois – e talvez o pior da lista – foi X-Men Origens: Wolverine (2009), no qual personificou de forma totalmente equivocada o mercenário tagarela Wade Wilson, ao qual nunca se referem como Deadpool. E claro, não poderia faltar Lanterna Verde (2011), o pseudo divisor de águas para ao ator – como satirizado em Deadpool 2. Ah sim, e como esquecer de RIPD (2013), baseado nos quadrinhos de Peter M. Lenkov e Lucas Marangon. Apostando todas as suas fichas, Reynolds investiu em levar Deadpool de forma correta para as telonas, mas para isso era necessário muito sangue, palavrão, metalinguagem e censura alta, aposta arriscadíssima até então.

Depois de um teste de filmagens ter “vazado” na internet, a resposta foi mais do que positiva e os fãs clamavam por um filme do anti-herói, mas com a condição de ser produzido pela FOX nos termos do ator, em contato direto com a vontade dos fãs. Deadpool quebrou barreiras, se mostrou um filme de super-heróis de censura alta, que proibia a entrada justamente de seu público-alvo, e ainda assim se tornou um sucesso fenomenal. Assim como Pantera Negra mostrou que era possível para um elenco negro, Mulher-Maravilha cimentou as super-heroínas, Deadpool antes deles criava um subgênero dentro do cinema de super-heróis, mais adulto, lascivo e subversivo. Logan (2017) seguiu e a continuação Deadpool 2 (2018) também. O próximo da lista é Jovens Mutantes (2019). Com 83% de aprovação da imprensa, o filme de baixo orçamento se tornou o sexto mais rentável nos EUA em 2016 e o nono mundialmente. Impressionante para um personagem desconhecido e proibido. E que venham novas produções no estilo.

It: A Coisa (2017)

Pensa que a Warner só acerta em produção de terror quando se fala da franquia Invocação do Mal? Pois pense de novo. Indo contra todas as expectativas e descrenças, o diretor Andy Muschietti, apadrinhado de Guillermo del Toro, já havia ensaiado no gênero, com Mama (2013) – filme que ficou entre erros e acertos. It, no entanto, era muito mais ambicioso, quase um épico dividido em duas partes e, por isso mesmo, uma aposta arriscada.

Junte a isso o fato de que as obras de Stephen King na maioria das vezes não rendem filmes… bem, por assim dizer, muito bons – cof cof A Torre Negra cof cof. Além disso, It já havia sido transposto ao audiovisual, na forma de uma minissérie para a TV em dois episódios, que chegou por aqui como um filme longo nas locadoras. Apesar daquele filme portar uma participação icônica de Tim Curry como o irreverente palhaço Pennywise, basta uma segunda visita atualmente para perceber que nos apegávamos puramente a um valor nostálgico e que a obra não é lá muito boa.

O novo It funcionou e muito bem. A começar pelo título em português, A Coisa no lugar do esquisito Uma Obra-Prima do Medo. O elenco infantil é um deleite, destaque para a carismática Sophia Lillis, a única mulher do grupo. E quanto ao palhaço, numa síndrome de Coringa – Jack Nicholson contra Heath Ledger -, Bill Skarsgard mostra que nem sempre o clássico é melhor, num desempenho simplesmente impressionante. O filme é nostálgico, horripilante, mas também poético. Melhor que tudo isso, apresentou para uma nova gama de jovens fãs, a mitologia de Stephen King criada da forma ideal. It marca 85% de aprovação da imprensa e se tornou um dos filmes de terror mais rentáveis da história, a sétima maior bilheteira de 2017 nos EUA e a décima terceira no mundo. Alguém mais não consegue esperar pela parte dois, com Jessica Chastain e James McAvoy?

Guardiões da Galáxia (2014)

Mais uma vez, seguindo os passos de Pantera Negra, Mulher-Maravilha e Deapool, temos outro filme de super-heróis de quadrinho quebrando paradigmas na lista. Guardiões da Galáxia, no entanto, veio antes de todos esses e quebrou sua barreira antes. E qual foi a barreira desta vez, você pergunta. Bem, não foi a racial, de gênero ou a de censura alta. A barreira que a superprodução quebrou foi a de elevar personagens do time C ao primeiro escalão no patamar.

Tudo bem, você pode até dizer que a Marvel já havia conseguido tal feito com personagens como Homem de Ferro e Thor, que antes de seus respectivos filmes não eram heróis favoritos de ninguém. Mas estes são os que podemos chamar de personagens do time B, conhecidos ao menos nos círculos de aficionados. Com Guardiões, nem mesmo os amantes de quadrinhos sabiam bem do que se tratava.

Bastou um cineasta empenhado, do nível de James Gunn, para pouco tempo depois da estreia todos estarem apaixonados pelos personagens. Hoje em dia, Gamora, Rocket e Groot são itens indispensáveis em qualquer convenção de super-heróis. O filme não foi apenas sucesso, foi um fenômeno. E mostrou que com esforço e qualidade, qualquer personagem pode se tornar uma estrela e qualquer história pode cativar, se tornando icônica. Com 91% de aprovação da imprensa, o filme foi a terceira maior bilheteria de seu respectivo ano, tanto nos EUA quanto ao redor do mundo. O segundo, Vol. 2, seguiu a mesma linha. Mas a polêmica em torno do criador Gunn deixa uma nuvem de incerteza quanto ao terceiro filme.

Corra! (2017)

Ninguém tinha ouvido falar de Corra! até seu lançamento. O filme era vendido como um thriller racial. Confesso que não soube muito bem o que pensar ao assistir pela primeira vez a prévia. Sem entender o tom planejado, pensei estar vendo algo de péssimo gosto, que navegava por águas perigosas. E aí vieram as primeiras críticas, extremamente favoráveis. Mas até aí… quantos filmes já receberam aval da imprensa e morreram na praia. Junto às críticas, o falatório do público, um boca a boca garantindo o sucesso de bilheteira.

Pouquíssimo tempo após Fragmentado ter deixado a liderança das bilheterias americanas (duas semanas para ser mais preciso), outra obra de terror com muito a dizer se posicionava em primeiro. Corra! deu trabalho e fez frente à superproduções com Logan e Kong: Ilha da Caveira. Podemos, inclusive, dizer que o filme deu o pontapé para o fenômeno cultural e social alcançado por Pantera Negra. Afinal, a obra, por mais questões que levante, ainda é emoldurada no contexto do entretenimento.

Corra! fez mais e subiu até o Oscar. Quem imaginaria. Indicado para melhor filme. São os sinais dos novos tempos. Elogios da imprensa – com 99% de aprovação – e uma bilheteria impressionante para um filme tão pequeno – o que se traduz na aceitação plena do filme – é a receita que a Academia tem prestado atenção. Filmes como Corra! mostram que ideias podem valer mais do que astros e efeitos.E isso precisa ser valorizado. No comando, Jordan Peele, mais acostumado a atuações cômicas. Quem não quer ver o próximo trabalho do sujeito?

Um Lugar Silencioso (2018)

E que excelente época para os filmes de terror. O ano de 2017 foi excepcional, com obras como Fragmentado, Corra! e It: A Coisa. Todos querem ser os próximos. Alguns conseguem. É o caso com Um Lugar Silencioso, fenômeno do terror em 2018, enaltecido pela crítica, com 95% de aprovação.

Assim como Corra!, o filme traz um diretor inusitado no comando da produção. O ator John Krasinski é mais conhecido por sua participação numa série cômica, no entanto, deu o próximo passo ao confeccionar uma obra totalmente fora de sua zona de conforto. Para isso, escalou a parceira da vida real Emily Blunt e juntos criaram um clássico moderno. Muito semelhante a um episódio de Além da Imaginação, Um Lugar Silencioso nos apresenta uma realidade na qual qualquer barulho pode se tornar mortal.

O grande elemento do filme é o silêncio. Ele é primordial para uma sessão da obra. Além disso, Um Lugar Silencioso foi quase inteiramente confeccionado na linguagem de sinais, o que o transforma, na maior parte da projeção, em um terror mudo. O nível de tensão é alto. O longa é o mais rentável do ano dentro de seu gênero e está pronto para ganhar uma continuação. Mas será que precisava mesmo?

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O que define um sucesso absoluto? No caso de produções cinematográficas é fácil: a junção de uma gorda bilheteria (o que garante a adoração do público) com a aprovação da crítica especializada.

Existem sucessos. E existem os fenômenos. Aquele tipo de filme dos quais estão todos falando e que se você não quiser ficar de fora do assunto, precisa correr para assistir. Mas existem também os sucessos fenomenais inesperados. São aqueles tipos de filme pelos quais todos estavam receosos – seja por qual motivo for -, com os dois pés atrás e que ainda assim viveram para se mostrar a nova sensação do pedaço.

Pensando neste tipo de obra que conseguiu superar a descrença, formulamos nossa nova lista. Estes são os 10 filmes que se tornaram sucesso fenomenal inesperado.

Pantera Negra (2018)

Tudo bem que só de ser um filme da Marvel, a garantia de sucesso é certa. O lance aqui é que ninguém esperava, nem em seus sonhos mais felizes, o tamanho de tal sucesso. O primeiro super-herói negro em grande escala do cinema trazia uma carga social muito importante, dirigido por um cineasta negro e com um elenco majoritariamente negro. O personagem já havia causado boa impressão em seu debute na aventura Capitão América: Guerra Civil (2016), mas ter um filme solo era algo diferente.

Com o lançamento, veio o burburinho. A Marvel havia acertado novamente. Mas algo inédito acontecia, até mesmo para os padrões da casa – que precisou reconhecer o fenômeno. Pantera Negra se tornava um marco social, transcendendo Hollywood ou até mesmo uma produção cinematográfica. O filme se tornou a produção mais rentável do ano nos EUA e a segunda ao redor do mundo – ficando atrás somente de outro fenômeno, este esperado: Vingadores: Guerra Infinita.

Com a crítica não foi diferente e Pantera Negra marca 97% de aprovação, quase a nota máxima. O maior legado da superprodução, no entanto, foi mostrar que filmes deste porte protagonizados e comandados por negros funcionam. E funcionam muito bem. Sinal de bem-vindos novos tempos e de que Hollywood pode mudar sossegada, sem precisar se preocupar com o lucro.

Jumanji: Bem-Vindo à Selva (2017)

A Sony já havia passado por um backlash parecido há pouco tempo. Em 2016, quando o primeiro trailer do novo Caça-Fantasmas, inteiramente protagonizado por mulheres, foi lançado no Youtube quebrou um triste recorde: se tornou o trailer com mais “descurtidas” da história da plataforma. O motivo: nerds mimizentos chorando e acusando os produtores de terem “acabado com suas infâncias”. Isso antes mesmo de poderem assistir ao longa. Mesmo tentando se envolver no manto do feminismo – como último recurso desesperado -, o filme não emplacou. Tudo bem que a qualidade da obra não ajudou muito.

Imagine o desespero dos executivos do mesmo estúdio, passando novamente por um incrível backlash pelo segundo ano consecutivo. A internet ardeu em comoção quando o primeiro trailer de Jumanji atingiu a rede. Pessoas que cresceram amando o filme original com o saudoso Robin Williams estavam mais do que descontentes com a nova roupagem, acusando-a de ser muito mais um veículo de Dwayne Johnson do que um remake/reboot/continuação de seu adorado filme. E eu de cá pensando com meus botões: “nunca soube que Jumanji tinha esta legião de culto”.

Mas para a extrema felicidade dos produtores, The Rock e todos os envolvidos, foi só a aventura juvenil atingir os cinemas, que o jogo virou de vez a seu favor. A ideia estranha de um novo Jumanji já havia caído nas graças de todos e com a aprovação de quase 80% da imprensa, curiosamente ainda mais alta que a do filme original de 1995, os céticos tiveram fé. O fracasso certo se tornava sucesso, mas não apenas isso, se tornava um fenômeno. O filme foi o quarto mais rentável de 2017 nos EUA (batendo simplesmente todos os lançamentos da Marvel) e o quinto ao redor do mundo, beirando a marca do US$1 bilhão. Alguém duvida que as continuações chegarão correndo?

Mulher-Maravilha (2017)

Podemos dizer que parte do sucesso de Pantera Negra se deve ao pioneirismo de Mulher-Maravilha. Antes um grande tabu, quando a primeira superprodução protagonizada por uma heroína mostrou que podia dar muito certo, outras que visavam aceitação de gênero ou raça vislumbraram a luz no fim do túnel. Mas você pergunta: por que Mulher-Maravilha, uma das personagens mais icônicas dos quadrinhos, era incerteza? Bem, por dois grandes motivos. O primeiro é o citado acima. Sim, já havíamos tido superproduções comandadas por mulheres em papeis principais, mas não deste porte, não deste subgênero ainda muito masculino.

Fora que outros haviam naufragado gloriosamente, vide Mulher Gato (2004), com Halle Berry, da mesma DC/Warner, e Elektra (2005), com Jennifer Garner. Chegamos ao segundo motivo, que se divide em uma bifurcação. Primeiro, a nova leva de produções da casa, a citada Warner/DC, não estava na melhor das fases, para dizer no mínimo, vindo de recepções que variavam de mornas a geladas, em filmes como O Homem de Aço (2013), Batman Vs. Superman (2016) e Esquadrão Suicida (2016). Mulher-Maravilha era quase como a última esperança deste universo não afundar.

Segundo, a protagonista Gal Gadot ainda estava em provação, por assim dizer. Muito criticada quando eleita para personificar a amazona, a israelense não havia impressionado incondicionalmente ao viver a heroína em BVS – tudo bem que a participação era pequena. Entretanto, quando chegou a hora de protagonizar seu filme solo, não faltaram elogios para a atriz. Mas com Liga da Justiça, lançado logo depois, pudemos perceber que ninguém a fotografa ou a utiliza como Patty Jenkins. Mulher-Maravilha ultrapassou todas as expectativas, marcando 92% de aprovação junto aos críticos. Além disso, se tornou fenômeno de bilheteria, em terceiro lugar nos EUA e décimo ao redor do mundo. Sim, as mulheres podem. E podem mais! O jogo mudou e Mulher-Maravilha 1984, a continuação a ser lançada ano que vem, já é um dos filmes mais esperados de 2019. Vida longa, Patty Jenkins e Gal Gadot.

Fragmentado (2017)

Quem já curtia cinema no final da década de 1990, conheceu de perto a ascensão de M. Night Shyamalan. Pouquíssimas vezes um diretor debutava no cenário mundial enaltecido com o título de gênio da sétima arte. Bastou uma obra (O Sexto Sentido) para Shyamalan ser tratado como o novo Spielberg ou o novo Hitchcock. Exageros da imprensa – que adora títulos. Mas depois, a cada novo trabalho o indiano perdia um pouco de seu prestígio. E isso parecia incomodá-lo. Até que, após o divisor de águas A Vila (2004), o cineasta resolveu declarar guerra aos críticos com A Dama na Água (2006).

Depois disso, parecia que a voz de autor do cineasta havia se calado, entre um desastre pretensioso aqui e um filme de aluguel ali. A volta por cima foi timidamente ensaiada com A Visita (2015), produção intimista na qual Shyamalan se despia de tudo e voltava a falar com o coração, ou com a paixão. Daí o ceticismo em relação a seu próximo trabalho, o então misterioso Fragmentado. Natural a desconfiança. Natural também os novos louros que o diretor recebeu após todos terem conferido o resultado de seu novo projeto.

Fragmentado trouxe um tour de force de James McAvoy – que fez todos gritarem “Oscar” – uma jovem talentosa recém-saída de um cult do gênero (Anya Taylor-Joy, de A Bruxa) e, acima de tudo, um texto caprichado de seu autor, fazendo de vez as pazes com crítica e público. E sim, com o sucesso. O desfecho que o interliga com outra obra sua, a qual todos pediam sequência, foi a cereja no bolo. O filme somou quase 80% de aprovação junto a imprensa e permaneceu por três semanas em primeiro lugar após sua estreia no início do ano passado – feito impressionando se levarmos em conta as competitivas bilheterias americanas, onde a cada semana filmes se devoram. E que venha Vidro, a continuação prometida para 2019.

Uma Aventura LEGO (2014)

Quando um longa-metragem para o cinema baseado nos brinquedos de encaixe LEGO foi anunciado, nem mesmo o mais visionário espectador fazia ideia do seu resultado. Na verdade, quase ninguém achava o conceito minimamente relevante ao ponto de render uma obra de qualidade. Nem mesmo as presenças dos diretores Christopher Miller e Phil Lord, responsáveis pelo hilário e insano reboot de Anjos da Lei (2012 e 2014), tirava a descrença geral.

Provando que até mesmo o material fonte mais idiota e inanimado pode render um bom filme se houver empenho e vontade, Uma Aventura LEGO surpreendeu dez entre dez espectadores, se mostrando um dos filmes mais divertidos não apenas de seu respectivo ano, como dos últimos anos igualmente. Escracho, metalinguagem, criatividade e excelente timing cômico fizeram de Lego um fenômeno, ao ponto de criar todo um universo derivado de animações da Warner, que já rendeu Lego Batman (2017) e Lego Ninjago (2017).

Uma Aventura Lego conquistou a crítica, com 96% de aprovação, o público, se tornando a quinta maior bilheteria nos EUA em seu respectivo ano, e o mundo. A continuação, programada para o ano que vem, seguirá o mesmo caminho. Alguém duvida?

Deadpool (2016)

Já vimos super-heróis salvando pessoas em filmes, séries, desenhos e quadrinhos. O que nunca havíamos visto era heróis salvando a carreira de seu intérprete. Bem, não desta forma. O ator Ryan Reynolds por pouco não entra para a história como o mais azarado quando o assunto é adaptação de quadrinhos. Tudo porque ele já tinha escorregado não uma, não duas, não três, mas quatro vezes antes de finalmente se redimir na pele de um personagem que, inclusive, já havia interpretado.

Primeiro foi Blade Trinity (2004), malfadada conclusão de uma boa franquia de herói obscuro. Depois – e talvez o pior da lista – foi X-Men Origens: Wolverine (2009), no qual personificou de forma totalmente equivocada o mercenário tagarela Wade Wilson, ao qual nunca se referem como Deadpool. E claro, não poderia faltar Lanterna Verde (2011), o pseudo divisor de águas para ao ator – como satirizado em Deadpool 2. Ah sim, e como esquecer de RIPD (2013), baseado nos quadrinhos de Peter M. Lenkov e Lucas Marangon. Apostando todas as suas fichas, Reynolds investiu em levar Deadpool de forma correta para as telonas, mas para isso era necessário muito sangue, palavrão, metalinguagem e censura alta, aposta arriscadíssima até então.

Depois de um teste de filmagens ter “vazado” na internet, a resposta foi mais do que positiva e os fãs clamavam por um filme do anti-herói, mas com a condição de ser produzido pela FOX nos termos do ator, em contato direto com a vontade dos fãs. Deadpool quebrou barreiras, se mostrou um filme de super-heróis de censura alta, que proibia a entrada justamente de seu público-alvo, e ainda assim se tornou um sucesso fenomenal. Assim como Pantera Negra mostrou que era possível para um elenco negro, Mulher-Maravilha cimentou as super-heroínas, Deadpool antes deles criava um subgênero dentro do cinema de super-heróis, mais adulto, lascivo e subversivo. Logan (2017) seguiu e a continuação Deadpool 2 (2018) também. O próximo da lista é Jovens Mutantes (2019). Com 83% de aprovação da imprensa, o filme de baixo orçamento se tornou o sexto mais rentável nos EUA em 2016 e o nono mundialmente. Impressionante para um personagem desconhecido e proibido. E que venham novas produções no estilo.

It: A Coisa (2017)

Pensa que a Warner só acerta em produção de terror quando se fala da franquia Invocação do Mal? Pois pense de novo. Indo contra todas as expectativas e descrenças, o diretor Andy Muschietti, apadrinhado de Guillermo del Toro, já havia ensaiado no gênero, com Mama (2013) – filme que ficou entre erros e acertos. It, no entanto, era muito mais ambicioso, quase um épico dividido em duas partes e, por isso mesmo, uma aposta arriscada.

Junte a isso o fato de que as obras de Stephen King na maioria das vezes não rendem filmes… bem, por assim dizer, muito bons – cof cof A Torre Negra cof cof. Além disso, It já havia sido transposto ao audiovisual, na forma de uma minissérie para a TV em dois episódios, que chegou por aqui como um filme longo nas locadoras. Apesar daquele filme portar uma participação icônica de Tim Curry como o irreverente palhaço Pennywise, basta uma segunda visita atualmente para perceber que nos apegávamos puramente a um valor nostálgico e que a obra não é lá muito boa.

O novo It funcionou e muito bem. A começar pelo título em português, A Coisa no lugar do esquisito Uma Obra-Prima do Medo. O elenco infantil é um deleite, destaque para a carismática Sophia Lillis, a única mulher do grupo. E quanto ao palhaço, numa síndrome de Coringa – Jack Nicholson contra Heath Ledger -, Bill Skarsgard mostra que nem sempre o clássico é melhor, num desempenho simplesmente impressionante. O filme é nostálgico, horripilante, mas também poético. Melhor que tudo isso, apresentou para uma nova gama de jovens fãs, a mitologia de Stephen King criada da forma ideal. It marca 85% de aprovação da imprensa e se tornou um dos filmes de terror mais rentáveis da história, a sétima maior bilheteira de 2017 nos EUA e a décima terceira no mundo. Alguém mais não consegue esperar pela parte dois, com Jessica Chastain e James McAvoy?

Guardiões da Galáxia (2014)

Mais uma vez, seguindo os passos de Pantera Negra, Mulher-Maravilha e Deapool, temos outro filme de super-heróis de quadrinho quebrando paradigmas na lista. Guardiões da Galáxia, no entanto, veio antes de todos esses e quebrou sua barreira antes. E qual foi a barreira desta vez, você pergunta. Bem, não foi a racial, de gênero ou a de censura alta. A barreira que a superprodução quebrou foi a de elevar personagens do time C ao primeiro escalão no patamar.

Tudo bem, você pode até dizer que a Marvel já havia conseguido tal feito com personagens como Homem de Ferro e Thor, que antes de seus respectivos filmes não eram heróis favoritos de ninguém. Mas estes são os que podemos chamar de personagens do time B, conhecidos ao menos nos círculos de aficionados. Com Guardiões, nem mesmo os amantes de quadrinhos sabiam bem do que se tratava.

Bastou um cineasta empenhado, do nível de James Gunn, para pouco tempo depois da estreia todos estarem apaixonados pelos personagens. Hoje em dia, Gamora, Rocket e Groot são itens indispensáveis em qualquer convenção de super-heróis. O filme não foi apenas sucesso, foi um fenômeno. E mostrou que com esforço e qualidade, qualquer personagem pode se tornar uma estrela e qualquer história pode cativar, se tornando icônica. Com 91% de aprovação da imprensa, o filme foi a terceira maior bilheteria de seu respectivo ano, tanto nos EUA quanto ao redor do mundo. O segundo, Vol. 2, seguiu a mesma linha. Mas a polêmica em torno do criador Gunn deixa uma nuvem de incerteza quanto ao terceiro filme.

Corra! (2017)

Ninguém tinha ouvido falar de Corra! até seu lançamento. O filme era vendido como um thriller racial. Confesso que não soube muito bem o que pensar ao assistir pela primeira vez a prévia. Sem entender o tom planejado, pensei estar vendo algo de péssimo gosto, que navegava por águas perigosas. E aí vieram as primeiras críticas, extremamente favoráveis. Mas até aí… quantos filmes já receberam aval da imprensa e morreram na praia. Junto às críticas, o falatório do público, um boca a boca garantindo o sucesso de bilheteira.

Pouquíssimo tempo após Fragmentado ter deixado a liderança das bilheterias americanas (duas semanas para ser mais preciso), outra obra de terror com muito a dizer se posicionava em primeiro. Corra! deu trabalho e fez frente à superproduções com Logan e Kong: Ilha da Caveira. Podemos, inclusive, dizer que o filme deu o pontapé para o fenômeno cultural e social alcançado por Pantera Negra. Afinal, a obra, por mais questões que levante, ainda é emoldurada no contexto do entretenimento.

Corra! fez mais e subiu até o Oscar. Quem imaginaria. Indicado para melhor filme. São os sinais dos novos tempos. Elogios da imprensa – com 99% de aprovação – e uma bilheteria impressionante para um filme tão pequeno – o que se traduz na aceitação plena do filme – é a receita que a Academia tem prestado atenção. Filmes como Corra! mostram que ideias podem valer mais do que astros e efeitos.E isso precisa ser valorizado. No comando, Jordan Peele, mais acostumado a atuações cômicas. Quem não quer ver o próximo trabalho do sujeito?

Um Lugar Silencioso (2018)

E que excelente época para os filmes de terror. O ano de 2017 foi excepcional, com obras como Fragmentado, Corra! e It: A Coisa. Todos querem ser os próximos. Alguns conseguem. É o caso com Um Lugar Silencioso, fenômeno do terror em 2018, enaltecido pela crítica, com 95% de aprovação.

Assim como Corra!, o filme traz um diretor inusitado no comando da produção. O ator John Krasinski é mais conhecido por sua participação numa série cômica, no entanto, deu o próximo passo ao confeccionar uma obra totalmente fora de sua zona de conforto. Para isso, escalou a parceira da vida real Emily Blunt e juntos criaram um clássico moderno. Muito semelhante a um episódio de Além da Imaginação, Um Lugar Silencioso nos apresenta uma realidade na qual qualquer barulho pode se tornar mortal.

O grande elemento do filme é o silêncio. Ele é primordial para uma sessão da obra. Além disso, Um Lugar Silencioso foi quase inteiramente confeccionado na linguagem de sinais, o que o transforma, na maior parte da projeção, em um terror mudo. O nível de tensão é alto. O longa é o mais rentável do ano dentro de seu gênero e está pronto para ganhar uma continuação. Mas será que precisava mesmo?

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