O significado de milhões de pequenas coisas. Chegava aos cinemas três décadas atrás um filme apaixonante que navega do luto ao recomeço pelas linhas intensas e imprevisíveis do amor. Indicado para dois Oscars, Sintonia de Amor contorna a melancolia com a esperança trazendo carismáticos personagens que são levados para um encontro às cegas num tempo onde o Tinder nem pensava em existir. Dirigido pela cineasta Nora Ephron, esse é um dos três filmes estrelados pela dupla Tom Hanks e Meg Ryan. O mais rentável de todos eles.
Na trama, conhecemos Sam (Tom Hanks), um arquiteto de luto que se muda para Seattle com o filho em busca de um novo recomeço após a morte da esposa. Um ano e meio depois e sem avançar muito no luto ainda intenso, numa noite de natal seu filho resolve enviar uma mensagem para um programa de uma rádio pedindo ajuda para o pai arranjar uma nova esposa. A mensagem toca os corações de muitos, inclusive da jornalista Anne (Meg Ryan) que embarca em uma viagem para conhecer essa família de dois.
Inspirado no clássico da década de 50, Tarde Demais para Esquecer, a narrativa segue em paralelo as vidas de Sam e Anne tendo como interseção a possibilidade do amar. Assim, vemos um possível encontro entre um homem abalado pelo trauma que perdeu um pouco da esperança de amar intensamente e de uma mulher sonhadora que percebe aos poucos que o seu presente não é da forma como queria. A construção dos personagens, seus dramas e conflitos, são vistas de formas separadas.
O sentido de família aqui é muito bem explorado pelo roteiro. Do luto ao recomeço, há um enorme espaço onde o desenvolvimento dos personagens acontecer através dos olhares para os conflitos, não só dos protagonistas mas dos coadjuvantes que os cercam, que se seguem mesmo tendo o exagero, as licenças poéticas em muitas linhas. Aqui o impossível é aproximado ao inusitado, ou ao ar de sabedoria do destino, fato esse que aproxima os corações sonhadores do lado de cá da telona.
A direção da cineasta nova-ioquina Nora Ephron (falecida em 2012) é maravilhosa. Consegue captar os detalhes das emoções conflitantes, de dois personagens completamente diferentes, unindo a composição das cenas com uma narrativa que flui de forma dinâmica. Sintonia de Amor foi seu segundo longa-metragem da carreira dela e anos mais tarde, no final da década de 90, dirigia novamente Tom Hanks e Meg Ryan em um outro fofíssimo projeto. Seu último filme foi em 2009, onde dirigiu Amy Adams e Meryl Streep no elogiado Julie & Julia.
Mas nada funcionaria se não houvesse química entre os dois artistas protagonistas. Meg e Tom, mesmo cada qual no seu quadrado (já que poucas vezes se encontram em cena), conseguem encontrar pontes através dos sentimentos de seus personagens. Essa elogiada harmonia já tinha sido vista em Joe e o Vulcão de John Patrick Shanley, lançado em 1990, e também num filme que reflete sobre os primórdios dos encontros digitais, Mensagem para Você.
Um outro ingrediente é fundamental por aqui! A trilha sonora é marcante, com lindas versões de clássicos da música. Nat King Cole, Louis Armstrong, Céline Dion, Joe Cocker são algumas das vozes que ouvimos em canções fabulosas, como: As Time Goes By, When I Fall In Love, A Kiss To Build A Dream On.
Duas curiosidades sobre o filme. A primeira é que Tom Hanks e Meg Ryan só tiveram cerca de dois minutos de tempo de tela juntos em cena. A segunda, é que durante a sua folga, Tom Hanks começava a gravar a dublagem do primeiro Toy Story.
Sintonia de Amor é um sucesso dos anos 90, um filme para todos os românticos continuarem suas caminhadas na esperança de que o grande amor da vida existe e pode te encontrar em qualquer lugar.