Berço da nossa atual democracia, a Revolução Francesa é celebrada pelos seus ideais de liberdade, igualdade e fraternidade todo dia 14 de julho, feriado nacional na França. Pano de fundo de romances épicos e de filmes cômicos, a data marca a Tomada da Bastilha, em Paris, e o dia da inssurreição do povo contra a aristocracia e a monarquia do país em 1789.
Embora este dia seja um marco, o processo revolucionário se deu ao longo de dias e anos, impulsionado pela revolta do povo contra os excessivos aumentos de impostos e do valor dos alimentos essenciais, como o pão. Os resultados dessa ação reverberaram em todo o mundo e até hoje nos ensinam a lutar contra os modelos de poderes ditatoriais e autocratas.
Se você se interessa por história mundial, política ou boas narrativas, confira a lista de filmes abaixo e veja-os. Conhece algum outro título para entrar nessa seleção?
A Marselhesa (1938), de Jean Renoir
Apesar de dirigido pelo renomado cineasta francês Jean Renoir, A Marselhesa parece ter sido esquecido nas gavetas do tempo. Financiado em parte por recursos públicos, a produção dividiu opiniões na época por conta do direcionamento da narrativa centrada nas atribulações das pessoas comuns durante o período de 1789 a 1792, ou seja, um filme mais preocupado com os cidadãos do que com a realeza.
Protagonizado pelo irmão do diretor Pierre Renoir (como Luís XVI) e Lise Delamare (na pele de Maria Antonieta), A Marselhesa tenta ser uma obra mais realista sobre o momento histórico por conta do sua produção e lançamento em 1938, pleno período da Frente Popular, isto é, a coligação dos partidos de esquerda, operários, radicais e comunistas em maioria no congresso contra os movimentos antifascistas.
A título de curiosidade, A Marselhesa é o título do hino nacional francês, composto pelo oficial do exército Claude Joseph Rouget de Lisle. O batismo, no entanto, é feito pelos revolucionários do sul da França, vindos a pé de Marselha a Paris para participar da revolução. Enquanto marchavam em direção à capital, eles cantavam a composição.
Com uma abordagem menos dramática e mais prática, a revolução francesa de Jean Renoir pode ser vista na íntegra (2h) e com legendas em português no Vimeo. Clique aqui.
O Calvário de uma Rainha (1956), de Jean Delannoy
Infelizmente, temos que admitir que a personagem mais icônica e remanescente da Revolução Francesa na cultura popular é Maria Antonieta. Seja pela sua intrigante vida, seja pela sua representação em dezenas de livros e filmes, a rainha consorte da França e o seu fatal destino são um dos temas mais abordados durante o período da Revolução.
Com Michèle Morgan, Richard Todd e Jacques Morel no elenco, a produção acompanha o destino extraordinário de Maria Antonieta, desde sua chegada de Viena à corte da França até sua morte no cadafalso em outubro de 1793. Em competição no Festival de Cannes de 1956, o filme destaca o caso amoroso entre a rainha e o oficial sueco Axel de Fersen, numa mistura de romance com reconstrução histórica.
A adaptação mais famosa do mesmo conto é a ópera pop moderna Maria Antonieta (2006), de Sofia Coppola, protagonizada por Kirsten Dunst e Jason Schwartzman.
Casanova e a Revolução (1982), de Ettore Scola
Sob a ótica do diretor italiano Ettore Scola e protagonizado por Marcello Mastroianni e Harvey Keitel, Casanova e a Revolução mergulha em uma noite na França de 1791, quando todo uma conversação política dá-se entre personagens testemunhas de um mundo em iminente transformação.
Presente na competição oficial do Festival de Cannes 1982, o longa dispõe-se a olhar os desdobramentos da revolução. No meio da noite, uma carruagem com Luís XVI e Maria Antonieta sai discretamente do Palácio Real. O escritor Nicolas Restif de la Bretonne (Jean-Louis Barrault) assiste a cena e persegue o veículo.
No caminho, ele encontra o cavaleiro Casanova (Mastroianni) e a condessa Sophie de la Borde (Hanna Schygulla). Os três compartilham a mesma carruagem e, a partir desses personagens, Casanova e a Revolução discute as ideias políticas do ilustre momento, ou seja, uma aula de história do diretor e roteirista Ettore Scola.
A Inglesa e o Duque (2001), de Éric Rohmer
Outro grande cineasta francês, Éric Rohmer, narra a Revolução Francesa por meio de uma relação amorosa afetuosa e, por vezes, tempestuosa. Adaptado das memórias da fidalga Grace Elliott (1760-1823), o filme mostra o relacionamento entre a monarquista inglesa (Lucy Russell) e Philippe (Jean-Claude Dreyfus), duque de Orleans, primo do rei Luís XVI, porém defensor de ideais revolucionários.
Visualmente deslumbrante, A Inglesa e o Duque usa a tecnologia para dar vida ao passado com sofisticação. O longa é ambientado em pinturas de Paris de Jean-Baptiste Marot. Filmado em fundo fundo verde, os atores foram inseridos digitalmente nas ilustrações. Este é um dos mais singulares filmes a abordar o tema já no momento da decisão de execução do rei Luís XVI em janeiro de 1793.
Adeus, Minha Rainha (2012), de Benoît Jacquot
Sempre existe uma nova perspectiva para contar uma conhecida história. Dessa maneira, Benoît Jacquot coloca suas lentes sobre o amor platônico de Sidonie Laborde (Léa Seydoux), uma jovem servente do palácio completamente devota à rainha Maria Antonieta (Diane Kruger).
Adaptado do livro homônimo de Chantal Thomas, Adeus, Minha Rainha concentra-se nos quatro dias da Tomada da Bastilha em 1789 e a fuga de alguns membros da corte. Filmado em grande parte no próprio Château de Versailles, a produção foge dos códigos tradicionais dos filmes históricos ao dar conotações homoafetivas entre a duquesa Gabrielle (Virginie Ledoyen) e Maria Antonieta.
Nomeado a 10 Césars, o Oscar francês, Adeus, Minha Rainha ganhou três: direção de arte, figurino e fotografia.