quarta-feira , 26 fevereiro , 2025

Crítica | ‘Cruel Summer’ é uma incrível e angustiante série de suspense teen


Em mais uma de suas investidas originais, a Freeform deu vida a um interessante suspense adolescente que poderia falhar por completo em cumprir com todas as mensagens propostas. Entretanto, Cruel Summer superou as expectativas quando fez sua estreia oficial – e quando finalmente estreou no Brasil através da Amazon Prime Video –, tornando-se uma das melhores e mais competentes produções de 2021.

A simples história tenta buscar certa originalidade e, em boa parte, consegue ao centrá-la em duas jovens, Jeanette (Chiara Aurelia) e Kate (Olivia Holt). Jeanette é uma garota nerd de quinze anos que tem como principal inspiração (e inveja) a popular, descolada e adorável Kate. Entretanto, as coisas mudam de cenário quando Kate some da pequena cidade de Skylin, no Texas, sob circunstâncias misteriosas. Jeanette, dessa maneira – e sem saber o que aconteceu -, se transforma naquilo que sempre almejou e vê seu mundo virar de cabeça para baixo quando Kate é resgatada de um sequestro que durou meses, inclusive virando alvo de culpa por não tê-la ajudado quando teve a oportunidade. E, ao longo de dez episódios, o criador Bert V. Royal, aliando-se a uma equipe artística de ponta, não deixa quaisquer brechas para descobrirmos quem é a verdadeira culpada – e quem é a vítima.



cruel summer

Royal tem uma ideia muito bem estruturada do que deseja fazer: o enredo divide-se em três partes, estendendo-se ao longo de 1993, 1994 e 1995 – antes, durante e depois dos trágicos eventos que se abateram sobre as vidas de Kate e de Jeanette. É notável a profunda transformação das protagonistas, que, separando-se como inimigas, voltam a convergir em um amadurecimento mandatório que as faz enxergar as mazelas do mundo com outros olhos. Kate, outrora complacente com as exigências de uma mãe narcisista e cruel, encara o retorno para casa da mesma maneira que a cela no porão da casa de seu algoz; Jeanette, desfrutando das vantagens de ser notada e amada pelas pessoas, é, rapidamente, destronada como pária da cidade, afastando-se daqueles que prometeram apoiá-la em tudo o que acontecesse.

É essa contraposição complementar entre as personagens que permite que o público se envolva, acompanhadas de um estelar elenco de complexos coadjuvantes que, em nenhum momento, mostram-se desnecessários; pelo contrário, Jamie (Froy Gutierrez), Mallory (Harley Quinn Smith), Vince (Allius Barnes) e tantos outros encarnam papéis de extrema importância para a compreensão da obra, entrelaçando-se com reviravoltas fantásticas e uma densidade dramática que não encontramos com tanta facilidade em séries similares. Como se não bastasse, Sarah Drew, que imortalizou a Dra. April em ‘Grey’s Anatomy’, mergulha de cabeça em um tour-de-force que rouba os holofotes em qualquer momento que dá as caras – passando de mãe preocupada a uma mulher que resolve deixar tudo para trás e seguir seus sonhos, visto que não encontra apoio na própria casa.


cruelsummer 1

Algumas escolhas visuais são um tanto quanto óbvias, mas práticas. Os três períodos representados são diferenciados em paletas de cor e filtros diferente: 1993, por ser uma época mais vibrante e pacífica, é retratado com tons mais alegres; a sobriedade começa a aparecer em 1994, em que a primeira reviravolta toma lugar, culminando, um ano mais tarde, em uma escura e claustrofóbica arquitetura que prenuncia o julgamento e o confronto final entre Kate e Jeanette. Quanto à montagem dos episódios, vê-se um apreço de Royal por uma transição estática entre uma época e outra, não pensando duas vezes antes de misturar os diferentes períodos em que a narrativa se passa; eventualmente, o frenesi excessivo pode nos distanciar do que realmente importa.

No final das contas, essa múltipla amálgama é um recurso bastante utilizado em diversas obras similares, desde os melodramas até os suspenses – algo que não tem muito de novo para contar, mas cuja praticidade é explorada ao máximo em prol de um objetivo. Nesse caso, é tal estrutura na qual Cruel Summer se alicerça que permite brincar com os pontos de vistas e no choque estrondoso de duas pessoas que não poderiam imaginar o que as aguardava no futuro: Jeanette vê todos os seus sonhos se desmantelarem, enquanto Kate, cansada da fachada perfeita que é obrigada a demonstrar dia após dia, joga tudo para o alto e coloca os próprios princípios em cheque.

Assista também: 



cruel summer

À medida que chegamos à conclusão da primeira temporada, sabemos que a história se fechará – ao menos por enquanto. Porém, a decisão de colocar uma espécie de epílogo permite que mais tramas surjam nos próximos episódios. E garanto que, se há algo diferente a se contar, estaremos lá para acompanhar cada passo de cada personagem.


Assista:

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Em mais uma de suas investidas originais, a Freeform deu vida a um interessante suspense adolescente que poderia falhar por completo em cumprir com todas as mensagens propostas. Entretanto, Cruel Summer superou as expectativas quando fez sua estreia oficial – e quando finalmente estreou no Brasil através da Amazon Prime Video –, tornando-se uma das melhores e mais competentes produções de 2021.

A simples história tenta buscar certa originalidade e, em boa parte, consegue ao centrá-la em duas jovens, Jeanette (Chiara Aurelia) e Kate (Olivia Holt). Jeanette é uma garota nerd de quinze anos que tem como principal inspiração (e inveja) a popular, descolada e adorável Kate. Entretanto, as coisas mudam de cenário quando Kate some da pequena cidade de Skylin, no Texas, sob circunstâncias misteriosas. Jeanette, dessa maneira – e sem saber o que aconteceu -, se transforma naquilo que sempre almejou e vê seu mundo virar de cabeça para baixo quando Kate é resgatada de um sequestro que durou meses, inclusive virando alvo de culpa por não tê-la ajudado quando teve a oportunidade. E, ao longo de dez episódios, o criador Bert V. Royal, aliando-se a uma equipe artística de ponta, não deixa quaisquer brechas para descobrirmos quem é a verdadeira culpada – e quem é a vítima.

cruel summer

Royal tem uma ideia muito bem estruturada do que deseja fazer: o enredo divide-se em três partes, estendendo-se ao longo de 1993, 1994 e 1995 – antes, durante e depois dos trágicos eventos que se abateram sobre as vidas de Kate e de Jeanette. É notável a profunda transformação das protagonistas, que, separando-se como inimigas, voltam a convergir em um amadurecimento mandatório que as faz enxergar as mazelas do mundo com outros olhos. Kate, outrora complacente com as exigências de uma mãe narcisista e cruel, encara o retorno para casa da mesma maneira que a cela no porão da casa de seu algoz; Jeanette, desfrutando das vantagens de ser notada e amada pelas pessoas, é, rapidamente, destronada como pária da cidade, afastando-se daqueles que prometeram apoiá-la em tudo o que acontecesse.

É essa contraposição complementar entre as personagens que permite que o público se envolva, acompanhadas de um estelar elenco de complexos coadjuvantes que, em nenhum momento, mostram-se desnecessários; pelo contrário, Jamie (Froy Gutierrez), Mallory (Harley Quinn Smith), Vince (Allius Barnes) e tantos outros encarnam papéis de extrema importância para a compreensão da obra, entrelaçando-se com reviravoltas fantásticas e uma densidade dramática que não encontramos com tanta facilidade em séries similares. Como se não bastasse, Sarah Drew, que imortalizou a Dra. April em ‘Grey’s Anatomy’, mergulha de cabeça em um tour-de-force que rouba os holofotes em qualquer momento que dá as caras – passando de mãe preocupada a uma mulher que resolve deixar tudo para trás e seguir seus sonhos, visto que não encontra apoio na própria casa.

cruelsummer 1

Algumas escolhas visuais são um tanto quanto óbvias, mas práticas. Os três períodos representados são diferenciados em paletas de cor e filtros diferente: 1993, por ser uma época mais vibrante e pacífica, é retratado com tons mais alegres; a sobriedade começa a aparecer em 1994, em que a primeira reviravolta toma lugar, culminando, um ano mais tarde, em uma escura e claustrofóbica arquitetura que prenuncia o julgamento e o confronto final entre Kate e Jeanette. Quanto à montagem dos episódios, vê-se um apreço de Royal por uma transição estática entre uma época e outra, não pensando duas vezes antes de misturar os diferentes períodos em que a narrativa se passa; eventualmente, o frenesi excessivo pode nos distanciar do que realmente importa.

No final das contas, essa múltipla amálgama é um recurso bastante utilizado em diversas obras similares, desde os melodramas até os suspenses – algo que não tem muito de novo para contar, mas cuja praticidade é explorada ao máximo em prol de um objetivo. Nesse caso, é tal estrutura na qual Cruel Summer se alicerça que permite brincar com os pontos de vistas e no choque estrondoso de duas pessoas que não poderiam imaginar o que as aguardava no futuro: Jeanette vê todos os seus sonhos se desmantelarem, enquanto Kate, cansada da fachada perfeita que é obrigada a demonstrar dia após dia, joga tudo para o alto e coloca os próprios princípios em cheque.

cruel summer

À medida que chegamos à conclusão da primeira temporada, sabemos que a história se fechará – ao menos por enquanto. Porém, a decisão de colocar uma espécie de epílogo permite que mais tramas surjam nos próximos episódios. E garanto que, se há algo diferente a se contar, estaremos lá para acompanhar cada passo de cada personagem.

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Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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