Globalização, especulação imobiliária, inflação desenfreada, desemprego, fome, aumento da pobreza, aquecimento global, violência, pressão social. São muitos os motivos pelos quais as grandes metrópoles estão rapidamente adoecendo e se tornando locais desafiadores, mesmo para quem ama morar ali. Na mesma proporção, o poder aquisitivo das pessoas tem diminuído, enquanto o custo de vida tem aumentado. Dentre outras coisas, essa equação tem resultado em aumento do stress, desespero, taquicardia, violência, levando muitos a situações extremas como o que vemos em ‘Confinado’, mais novo thriller de ação que chega a partir da próxima semana nos cinemas brasileiros.
Numa fria tarde, Eddie (Bill Skarsgård, o eterno palhaço malvado de ‘It: A Coisa’) tenta deixar sua van no conserto, mas não consegue pagar pelo serviço pois lhe faltam quase quinhentos dólares. O problema é que para conseguir dinheiro, ele precisa da van; do contrário, ele fica na mão. Não bastasse isso, sua ex-mulher, está aborrecidíssima com ele pois mais uma vez Eddie esqueceu de buscar Sarah (Ashley Cartwright), a filha deles, na escola. Sem encontrar uma saída para seu problema imediato, uma vez que está desempregado há muito tempo, Eddie acha como solução buscar algo de valioso em algum carro esquecido destrancado, de modo que ele possa revender o objeto no mercado paralelo. Quando ele encontra um SUV de luxo destrancado, Eddie tem certeza de que tirou a sorte grande, mas, para seu desespero, ele fica completamente preso dentro do veículo – e, pior parece que tudo fora previamente planejado pelo dono do automóvel.
‘Confinado’ tem uma premissa muito interessante, que é a do rato preso na ratoeira e como ele fará para se livrar da armadilha, enquanto o gato observa e se delicia. Mais ou menos como é a premissa de ‘Tom e Jerry’, mas sem a inocência do humor infantil.
Partindo dessa premissa, o roteiro de Michael Arlen Ross (que deve ter dado o conceito do filme), junto com Mariano Cohn e Gastón Duprat (responsáveis por pérolas do humor crítico como a série ‘Meu Querido Zelador’) caminha por dois trajetos que por ora soa como se fossem dois roteiros se empurrando em cena. Em um primeiro plano, o personagem genérico falido na vida, que não é bom em nada, que decide roubar por necessidade mas que no fundo é um cara bom; num plano mais aberto, vemos que essa premissa é apenas o gatilho para o filme debater os problemas da sociedade (especialmente de uma cidade grande, onde se passa a história), como as causas da violência, as consequências das drogas e outros vícios, o futuro das crianças, etc. Assim temos o protagonista por horas preso num carro sofisticado, sofrendo as consequências de seu ato e falando no telefone com o dono (uma participação bem luxuosa de Anthony Hopkins, que narra a maior parte de suas falas e só aparece no fim) e tendo que ouvir dele, um homem rico, quais são os problemas do mundo. Esse debate ocupa a maior parte do longa, e, como não há ação no segundo ato do filme, a produção se transforma num grande debate social entre um homem aristocrata cheio da razão e um marginalizado pobre de bom coração.
Tendo realizado anteriormente ‘Brightburn – Filho das Trevas’, o diretor David Yarovesky poderia ter equilibrado melhor o ritmo de seu filme para o espectador, pois ‘Confinado’ acaba que se divide muito abruptamente em drama, debate social, e ação, prolongando uma boa ideia em um longa de uma hora e meia de duração e muito close na marca Dolus, o nome do carro.
