Um por todos e todos por um. Trazendo um olhar singular para importantes acontecimentos históricos e políticos que envolveram a Alemanha no início da década de 1990, o longa-metragem O Grande Golpe do Leste une a reconstrução de laços familiares com um duelo de ideais entre o Socialismo e o Capitalismo, passados a limpo de forma bem-humorada. Escrito e dirigido por Natja Brunckhorst, e com o foco nas reflexões sobre um marcante momento da geopolítica, o projeto apresenta seus carismáticos personagens como porta-vozes de olhares do povo ao papel do estado.

Maren (Sandra Hüller) e Robert (Max Riemelt) são um casal que vivem os tempos de incertezas após o início da reunificação da Alemanha, meses depois da queda do Muro de Berlim. Moradores de um condomínio onde outros moradores passam pelas mesmas dificuldades e sem saber o que será do futuro, um dia encontram um bunker cheio de dinheiro prestes a perder o valor. Buscando trocar esse dinheiro o mais rápido possível, a família comunista e seus amigos embarcam numa série de aventuras para conseguir estabilidade num mundo novo que está por vir.
O retorno aos tempos em que os desdobramentos tiveram início na Conferência de Potsdam é muito bem construído, com diversos personagens representando pontos-chave para a futura reintegração do território alemão. A crise política e econômica do comunismo soviético e a migração de muitos habitantes da Alemanha Oriental para a Hungria – aqui personificado pelo personagem Volker (Ronald Zehrfeld) – se tornam entrelinhas dentro de todo o contexto. Jannik (Anselm Haderer), o filho do casal protagonista, fica com a missão de entregar o elo com as reinvidicações e protestos que também ajudaram a ruir a ideia do socialismo naquela parte da Europa.
Essa comédia dramática acerta em cheio ao nos levar pelas suas duas horas de projeção para um tour engraçado e reflexivo sobre as formas de olhar o mundo. É aquele filme que nem vemos o tempo passar, com um dinamismo que chama a atenção. O grande achado da narrativa é preencher todos os espaços ao associar a questão social com os desenrolares de problemas familiares, além de algumas subtramas aparecendo e somando-se ao discurso de traçar olhares para a conscientização política – de todas as idades – e uma curiosidade crescente sobre as formas de viver no iminente capitalismo.
Protagonizado pela indicada ao Oscar Sandra Hüller (Anatomia de uma Queda), novamente impecável em sua atuação, O Grande Golpe do Leste busca de maneira criativa e empolgante ser mais que um aulão de história. Estreia dia 12 de junho nos cinemas.