‘Tubarão’ (1975), de Steven Spielberg, completa nada menos que 50 anos de sua estreia em 2025. O filme chegou às salas de cinema dos EUA e grande parte do mundo no dia 20 de junho de 1975. No Brasil, o filme aportaria em 25 de dezembro do mesmo ano – sim, no dia de Natal, nada melhor não é mesmo? E por que ‘Tubarão’ é tão importante assim? Bem, podemos começar dizendo que foi o primeiro “filme-evento” da história do cinema – que dominou a cultura popular pelo mundo.
É claro, também foi o filme que mais arrecadou em bilheteria à época – se tornando uma sensação mundial. Depois dele, outros seguiram, mas estavam criados os blockbusters. Então, se temos os filmes de entretenimento de hoje, tudo isso é graças a ‘Tubarão’. Este ano, o clássico ganhará um documentário produzido pela National Geographic, que poderá ser conferido no dia 11 de julho no streaming da Disney+. A obra contará com entrevistas atuais de Steven Spielberg, dos envolvidos com a produção e de cineastas que foram influenciados pelo filme, como George Lucas, James Cameron e Jordan Peele, por exemplo. Ou seja, imperdível para qualquer fã.
O livro Tubarão (Jaws) foi escrito por Peter Benchley e publicado em 1974. A história se passa na fictícia cidade litorânea de Amity, onde um gigantesco tubarão-branco começa a atacar banhistas. O chefe de polícia Martin Brody, o oceanógrafo Matt Hooper e o caçador de tubarões Quint unem forças para eliminar a ameaça. Peter Benchley se inspirou em relatos reais de ataques de tubarão para compor o thriller, que rapidamente se tornou um best-seller. Seu sucesso chamou a atenção de Hollywood e, em 1975, foi adaptado para o cinema por Steven Spielberg. O livro e o filme ajudaram a moldar a imagem popular dos tubarões e tiveram grande impacto cultural.
A ideia para o filme ‘Tubarão‘ surgiu a partir do sucesso do livro, que chamou a atenção dos produtores Richard Zanuck e David Brown logo após sua publicação. Fascinados pela tensão e potencial cinematográfico da história, eles compraram os direitos antes mesmo de o livro se tornar um best-seller. A trama simples, mas eficaz — um tubarão aterrorizando uma comunidade costeira — prometia um suspense envolvente e visualmente impactante. Inicialmente, outros diretores foram cogitados para comandar a obra, mas o jovem Steven Spielberg, então com apenas 26 anos e recém-saído de seu primeiro longa, ‘Encurralado‘ (Duel), impressionou a dupla. Seu domínio da tensão visual foi o fator decisivo para sua contratação.
Spielberg viu em ‘Tubarão‘ uma oportunidade de explorar o medo do desconhecido e aprimorar sua habilidade de criar suspense com poucos recursos. No entanto, a produção foi marcada por enormes desafios, incluindo problemas técnicos com o tubarão mecânico e o difícil cronograma de filmagens no mar. Spielberg optou por mostrar o tubarão o mínimo possível, o que acabou aumentando a tensão e tornando o filme mais eficaz. Apesar das dificuldades, o resultado foi um enorme sucesso de bilheteria e crítica, estabelecendo Spielberg como um dos diretores mais promissores de Hollywood. ‘Tubarão‘, como citado, deu origem ao conceito moderno de “blockbuster de verão”, mudando para sempre a indústria cinematográfica.
A escolha do elenco principal de ‘Tubarão‘ foi fundamental para equilibrar o realismo e a tensão do filme. Roy Scheider foi escalado como o chefe de polícia Martin Brody, após impressionar Spielberg com sua atuação em ‘Operação França‘ (1971). Richard Dreyfuss, que inicialmente recusou o papel do oceanógrafo Matt Hooper, acabou aceitando após temer que sua carreira estagnasse — e sua performance trouxe leveza e inteligência ao trio. Robert Shaw, já experiente e respeitado, foi escolhido para interpretar o caçador de tubarões Quint, trazendo intensidade e uma presença ameaçadora ao personagem. A química entre os três, especialmente nos momentos no barco “Orca”, é um dos pontos altos do filme.
Antes da definição do elenco, diversos nomes foram considerados. Charlton Heston (‘Planeta dos Macacos‘) queria interpretar Brody, mas Spielberg temia que sua fama desviasse o foco da história. Para o papel de Hooper, Jeff Bridges e Jon Voight chegaram a ser cogitados, enquanto Lee Marvin e Sterling Hayden foram considerados para o papel de Quint, mas ambos recusaram. Robert Shaw, apesar de problemático nos bastidores devido ao alcoolismo, trouxe uma performance marcante, incluindo a icônica cena do monólogo sobre o USS Indianapolis. A escolha do elenco se provou acertada e essencial para o equilíbrio entre drama, suspense e carisma no filme. Com isso, ‘Tubarão‘ se tornou não só um sucesso de bilheteria, mas também um marco em atuações memoráveis.
Os efeitos práticos de ‘Tubarão‘ foram um dos maiores desafios da produção, centrando no tubarão mecânico apelidado de “Bruce”. Criado por uma equipe liderada por Bob Mattey, o animatrônico apresentava constantes falhas técnicas, especialmente nas filmagens em mar aberto, onde a água danificava seus mecanismos. Para contornar os problemas, Spielberg usou recursos criativos como câmeras subjetivas, barris flutuantes e trilha sonora tensa para sugerir a presença do tubarão. Algumas cenas também utilizaram imagens reais de tubarões, filmadas por mergulhadores australianos para dar maior veracidade. Spielberg posteriormente declarou que a produção foi um verdadeiro pesadelo logístico e emocional, chegando a pensar que sua carreira acabaria ali — mas o caos resultou em um clássico do cinema.
O surgimento do primeiro blockbuster da história do cinema ocorreu com o lançamento de do filme em 20 de junho de 1975. Com uma campanha publicitária sem precedentes, incluindo trailers na TV e estreia ampla em centenas de salas simultaneamente, o filme criou um fenômeno de expectativa e filas nos cinemas. A receita arrecadada nas primeiras semanas foi gigantesca, consolidando um novo modelo de lançamento para os grandes estúdios. Até então, os filmes estreavam de forma gradual, mas ‘Tubarão‘ mostrou que a estreia em massa podia render lucros rápidos e duradouros. Assim, inaugurou-se a era dos “blockbusters de verão”, mudando para sempre o marketing e a distribuição no cinema.
‘Tubarão‘ foi amplamente aclamado pela crítica, que destacou a direção habilidosa de Steven Spielberg, a construção do suspense e as atuações intensas do elenco principal. A trilha sonora icônica de John Williams, com suas notas ameaçadoras, também foi celebrada e se tornou um marco cultural. O filme conquistou três Oscars: Melhor Trilha Sonora Original, Melhor Edição e Melhor Som, além de uma indicação a Melhor Filme. Embora Spielberg não tenha sido indicado como diretor, o reconhecimento da Academia consolidou ‘Tubarão‘ como um feito técnico e narrativo. Seu impacto foi tão grande que permanece até hoje como um dos filmes mais influentes da história do cinema.
O sucesso de bilheteria de ‘Tubarão‘ em 1975 foi estrondoso e sem precedentes. Em seu primeiro fim de semana, arrecadou mais de US$7 milhões, um valor impressionante para a época. O boca a boca positivo e a campanha massiva de marketing impulsionaram o público aos cinemas durante todo o verão. Ao final de sua exibição, o filme havia faturado mais de US$470 milhões mundialmente, tornando-se a maior bilheteria da história até então.
O lançamento de ‘Tubarão‘ em 1975 gerou uma verdadeira febre cultural, com o público lotando os cinemas e debatendo cenas do filme por semanas. As pessoas evitavam as praias com medo de ataques de tubarão, e a trilha sonora de John Williams se tornou instantaneamente reconhecível em todo o mundo. O impacto foi tão grande que ‘Tubarão‘ inspirou brinquedos, quadrinhos, jogos de tabuleiro e produtos licenciados variados. Além disso, influenciou diretamente outras mídias, como séries de TV, livros e uma onda de filmes de terror envolvendo animais assassinos, como ‘Orca‘ (1977), ‘Piranha‘ (1978) e ‘Alligator‘ (1980). Seu legado também impulsionou a criação de atrações em parques temáticos e influenciou profundamente o gênero de suspense e aventura nos anos seguintes.
O longa encheu os olhos da Universal Pictures, que logo quis tirar do papel continuações para o filme. A primeira delas, ‘Tubarão 2‘ (1978), trouxe de volta Roy Scheider como o xerife Brody, agora enfrentando um novo tubarão em Amity. Dirigido por Jeannot Szwarc, o filme manteve parte da tensão do original, mas com menor impacto crítico e de bilheteria. Ainda assim, foi um sucesso comercial, consolidando a franquia como rentável. Sem Spielberg e Benchley envolvidos criativamente, a sequência apostou mais na ação e no suspense convencional. Apesar das comparações desfavoráveis, é considerada a melhor entre as continuações.
‘Tubarão 3‘ (1983) levou a franquia para um parque aquático e apostou na tecnologia 3D da época, mas foi duramente criticado por seu roteiro fraco e efeitos visuais pobres. Com um novo elenco, incluindo Dennis Quaid como o filho mais velho de Brody, o filme tentou renovar a fórmula, sem sucesso. Já ‘Tubarão 4: A Vingança‘ (1987) testou o limite do absurdo, com um tubarão supostamente em busca de vingança contra a família Brody. Estrelado por Lorraine Gary, que retornou como Ellen Brody, o filme foi um fracasso de crítica e bilheteria. Considerado o pior da franquia (e um dos piores da história do cinema), selou o fim definitivo da saga cinematográfica.
O legado de ‘Tubarão‘ é imenso e duradouro, sendo amplamente considerado um dos melhores e mais influentes filmes da história do cinema. O filme redefiniu o gênero de suspense e demonstrou como o terror pode ser construído com sugestão e atmosfera, em vez de exposição excessiva. Sua narrativa tensa, trilha sonora inesquecível e direção inventiva o transformaram em um clássico atemporal. ‘Tubarão‘ também elevou o status dos thrillers, que antes eram vistos como entretenimento menor, e provou que um filme de gênero poderia ser aclamado pela crítica e pelo público. Até hoje, é referência obrigatória em estudos de cinema e criação de tensão visual.
Além disso, ‘Tubarão‘ inaugurou a era moderna dos blockbusters ao estabelecer um novo modelo de lançamento: grandes estreias no verão, com ampla distribuição e campanhas publicitárias agressivas. Esse formato passou a ser adotado por Hollywood como padrão para grandes produções, abrindo caminho para filmes como ‘Star Wars‘, ‘Indiana Jones‘ e as franquias da Marvel. O sucesso de ‘Tubarão‘ também consolidou Spielberg como um dos cineastas mais importantes de sua geração. Ele mostrou que é possível unir arte e entretenimento em larga escala, e seu impacto pode ser sentido até hoje em praticamente toda superprodução lançada nos cinemas.