domingo , 22 dezembro , 2024

‘A Lenda de Candyman’ | Conheça a história da franquia de terror slasher representativa

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A nova versão de Candyman, intitulada A Lenda de Candyman, já está nos cinemas nacionais e é produzida por Jordan Peele (Corra! e Nós). E se você achou o título muito familiar, mas não sabe exatamente onde ouviu o nome Candyman antes, estamos aqui para te ajudar a lembrar.

Em homenagem a este ícone subestimado da cultura pop e do terror, o CinePOP faz uma recapitulação da trajetória do personagem, dono de uma carga política pesada e polêmica, para você não ficar perdido assistindo ao novo filme nos cinemas.



Crítica | A Lenda de Candyman – Terror social ATERRORIZANTE com final arrebatador

Vem conhecer.

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O Conto

A origem de Candyman está diretamente ligada ao escritor Clive Barker, especialista no gênero e um dos maiores nomes do terror literário nos EUA. Em seu currículo como obra mais famosa o autor possui Hellraiser – Renascido do Inferno (1987), adaptação de seu livro The Hellbound Heart, o qual o próprio dirigiu para as telonas.

Candyman saiu originalmente da história The Forbidden, conto criado por Barker como parte de uma antologia na série Books of Blood, coletânea de seis livros lançados entre 1984 e 1985.

A trama se apoia fortemente em lendas urbanas, e fala sobre uma estudante universitária chamada Helen, que decide pesquisar sobre os grafites com desenhos de uma figura nas paredes de uma área pobre e perigosa de sua cidade. Ela então se depara com o mito do Candyman, o qual começa a investigar, somente para descobrir que esta lenda é muito real.

Existem duas grandes diferenças na transposição do conto para o cinema. A primeira é a locação – Barker usou como cenário uma zona pobre de sua cidade Liverpool, Inglaterra. A segunda é mais importante para a redefinição do personagem e todo o contexto no qual viria incluído. No conto, o Candyman é branco.

O Mistério de Candyman (1992)

Para a adaptação aos cinemas muito da essência do conto foi mantido, exceto as duas fortes diferenças citadas acima. O roteirista e diretor britânico Bernard Rose (Minha Amada Imortal, 1994) decidiu mover a trama para Chicago, nos EUA, após visitar a cidade durante um festival de cinema.

O local escolhido por Rose para centrar a história foi o infame conjunto habitacional Cabrini-Green, área perigosa da cidade, repleta de gangues e terríveis condições para os residentes. A equipe da produção inclusive precisou fazer acordo com os líderes criminosos do local a fim de assegurar sua segurança. O local foi demolido em 2011.

Assim, uma mudança étnica para o vilão foi prontamente estabelecida. A figura do “bicho-papão” no terror se tornava afrodescendente, já que mostrar um homem branco aterrorizando uma vizinhança predominantemente negra teria um contexto muito mais politicamente incorreto e de mau gosto.

Mesmo assim, ainda na década de 1990 onde questões raciais já eram discutidas com a importância e o fervor de hoje num país como os EUA, ter um assassino negro perseguindo uma protagonista branca causou desconforto e o filme não se viu livre de inúmeras polêmicas.

O diretor e o filme foram acusados de representar racismo e estereótipos raciais. Na época, diversos cineastas negros famosos, como Carl Franklin (Por um Triz, 2003) e Reginald Hudlin (Marshall: Igualdade e Justiça, 2017), se pronunciaram contra o filme, o definindo entre outras coisas como “preocupante”.

Em sua defesa, Rose disse que enfrentou as mesmas preocupações no início da produção, onde precisou realizar diversas reuniões com a NAACP, a Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor nos EUA. Seu ponto de vista e o dos produtores era o de estarem realizando apenas um filme de terror, uma diversão, e neste contexto não viam motivo do por quê um possível ícone do terror não poderia ser representado por um ator negro.

“Por que um negro não pode ser um Fantasma? Por que um ator negro não pode ser o próximo Freddy Kruger ou Hannibal Lecter? Se você está dizendo que ele não pode, isso é realmente perverso. Isto é um filme de terror…”, foi o que argumentou Rose para a organização liberar a produção do longa.

A defesa deu certo e Candyman se tornou o mais famoso antagonista negro em uma franquia de terror. Mas O Mistério de Candyman está longe de ser somente mais um slasher, se tornando um cult instantâneo, ainda hoje redescoberto, e recebendo elogios de parte da imprensa especializada na época.

Mesmo os detratores reconhecem um empenho maior em sua confecção, com uma história e personagens mais elaborados do que digamos nas inúmeras sequências de Sexta-Feira 13 e A Hora do Pesadelo.

O Mistério de Candyman é cinema à moda antiga, investe em clima e por isso possui uma narrativa mais lenta, de longos planos contemplativos – sem a edição picotada para servir ao público jovem. Existe certo romantismo na figura do fantasma com o gancho no lugar da mão, que aparece depois de ter seu nome repetido na frente do espelho por cinco vezes.

Para ter uma ideia, o Candyman só aparece após quase uma hora de exibição no filme original, deixando bastante tempo para sua mitologia ser desenvolvida até seu surgimento em tela.

Elenco

No elenco, no papel do personagem título, o subestimado Tony Todd dá vida ao trágico vilão. Esta é outra diferença em relação ao antagonista aqui, seu drama pessoal numa história de vingança. Dois anos antes, Todd havia participado do remake de A Noite dos Mortos Vivos, um dos mais emblemáticos filmes de terror da história do cinema.

Antes de sua escalação ao papel, o astro Eddie Murphy foi considerado para viver o personagem, mas um dos problemas foi sua altura de 1,75m, contra os 1,96m de Todd – uma figura mais imponente. Murphy, no entanto, protagonizaria um filme de terror três anos depois com Um Vampiro no Brooklyn, escrito pelo próprio ator e dirigido pelo lendário Wes Craven.

Tony Todd já chegou a afirmar que o papel de Candyman e este filme são os preferidos em sua filmografia.

No papel da heroína Helen, a indicada ao Oscar Virginia Madsen. A atriz pulou de um lado para o outro em relação ao papel que interpretaria durante a pré-produção. Originalmente, ela foi escalada para viver a melhor amiga da personagem principal, Bernie, já que a protagonista estava nas mãos de Alexandra Pigg, então esposa do diretor Rose.

Depois, ficou decidido que Bernie deveria ser uma atriz negra, e o papel foi parar com Kasi Lemmons (O Silêncio dos Inocentes), que se tornou uma diretora de prestígio, tendo comandado o recente Harriet (2019), indicado ao Oscar de melhor atriz este ano e ainda inédito no Brasil.

Nesta dança, Madsen quase ficou fora do filme, e se não estivesse disponível depois de Pigg ter sido vetada em prol de um nome mais chamativo para a produção, a protagonista Helen teria caído no colo de uma certa Sandra Bullock, atriz em ascensão na época, que era a segunda opção dos realizadores. Já imaginou?

Candyman 2: A Vingança (1995)

 

Tudo o que havia sido construído em relação ao desenvolvimento de clima, história, personagens, parte técnica e narrativa foi deixado de lado em nome de uma boa bilheteria. O primeiro filme se mostrou um sucesso, rendendo três vezes o seu orçamento somente nos EUA. Assim, os produtores viram a oportunidade de realmente transformar o Candyman no novo ícone do terror.

Isto significava deixar um pouco a qualidade e qualquer conteúdo adulto de lado em nome de agradar as massas, ou seja, o público jovem. Assim, o segundo Candyman se tornava verdadeiramente um filme slasher rotineiro.

A trama agora movia a ação dos subúrbios de Chicago para Nova Orleans, onde a cultura afrodescendente é muito forte nos EUA. A continuação optava por descortinar ainda mais do passado e mitologia em relação ao personagem título, o que havia sido apenas pincelado no original.

Aqui descobrimos que Daniel Robitaille (Todd), o nome verdadeiro do Candyman, havia sido um artista, filho de um escravo numa plantação justamente em Nova Orleans. Ele se apaixona pela filha branca de um rico fazendeiro, numa história trágica de amor proibido. O sujeito é atacado pelos locais, tem a mão serrada (e depois substituída por um gancho) e o corpo besuntado em mel de abelha – depois picado até a morte pelos insetos. Daí o apelido pelo qual ficaria eternizado, Candyman, o “Homem Doce”.

A personagem principal aqui é vivida por Kelly Rowan, e faz parte da linhagem responsável pelo assassinato de Robitaille, ou seja, desta vez é pessoal para o Candyman!

Curiosamente, o diretor e roteirista original, Bernard Rose, foi convidado para retornar ao comando da sequência, mas sua ideia viria logo a ser descartada. A história de Rose para a continuação não traria novamente o Candyman, mas seguiria explorando a natureza dos mitos do horror urbano. Obviamente, os produtores decidiram se garantir no sucesso adquirido da figura titular e transformá-lo num ícone. Assim, Bill Condon (A Bela e a Fera, 2017), em seu segundo filme para o cinema, foi quem sentou na cadeira de diretor.

Mais Controvérsia

Como se já não bastasse toda a polêmica que rodeou a produção do primeiro filme, especialmente envolvendo as questões raciais, a controvérsia voltou a ser pauta do segundo também. A principal delas envolveu o cartaz e o material de divulgação do longa. Na época, o caso real de OJ Simpson, considerado o julgamento do século (retratado em minisséries e documentários), no qual o esportista e ator foi acusado de assassinar sua esposa branca, Nicole, estava a toda tomando a mídia norte-americana de assalto.

Desta forma, ter um cartaz estampado por Tony Todd, um ator negro que guarda certa semelhança com Simpson, onde ele persegue uma mulher branca, era simplesmente inflamatório demais. A solução foi modificar todas as artes, escondendo bastante a figura do antagonista.

O segundo Candyman terminou arrecadando somente o dobro de seu orçamento nos EUA.

Candyman: Dia dos Mortos (1999)

Sim, embora muitos não saibam, ou desejem esquecer, tivemos um terceiro filme da assombração Candyman. Este é o único da franquia lançado diretamente em vídeo.

Ainda mais diluído de conteúdo e qualidade, desta vez o filme mostra o espírito tentando convencer uma descendente, Caroline, filha da protagonista do segundo filme, a se juntar a ele em sua matança. Para o papel principal, a atriz escolhida foi a coelhinha da Playboy, Donna D’Errico, mais conhecida por ser uma das salva-vidas de SOS Malibu (Baywatch), de 1996 a 1998. Ou seja, estava no auge da popularidade.

É claro que Bernard Rose e Bill Condon ficaram a quilômetros de distância, e a direção recaiu em Turi Meyer, veterano de séries de TV como Buffy – A Caça-Vampiros e Smallville.

Até mesmo Todd Tony parece desinteressado durante o filme e já afirmou que não gosta nada desta terceira produção.

A Lenda de Candyman (2021)

Parte reimaginação da obra original, parte “sequência espiritual”, o novo Candyman tem todos os elementos atrativos e parece estar sendo feito de maneira mais correta impossível.

Em primeiro lugar, temos a produção e roteiro de ninguém menos do que Jordan Peele – um dos fortes nomes do terror atual, acostumado a utilizar muito subtexto racial em suas produções absurdamente bem-sucedidas, vide Corra! (2017) e Nós (2019). Peele é a figura perfeita para trazer Candyman de volta ao radar do grande público, e embora não dirigiu, com o envolvimento no roteiro e produção podemos argumentar que este é em grande parte um filme seu.

A afirmação acima não diminui de forma alguma a verdadeira direção do longa. A Lenda de Candyman é uma colaboração de mentes brilhantes. No comando da obra, a promissora jovem cineasta Nia DaCosta, de 29 anos.

A diretora chamou atenção em seu filme de estreia, o drama Little Woods, um faroeste moderno protagonizado por Tessa Thompson e Lily James. Agora, DaCosta tem a chance de deixar fluir sua veia artística em um projeto mais ambicioso, e a julgar pelos elogios que o filme recebeu, com 90% de aprovação no Rotten Tomatoes, ela tem tudo para adentrar o time principal de Hollywood – e com um padrinho do nível de Peele, ela já está no caminho certo. A cineasta também assina o roteiro do novo Candyman.

Além deste timaço atrás das câmeras, no elenco protagonizando temos um casal de muito talento. O personagem principal desta vez é, de forma inédita na franquia, um homem. Anthony McCoy é um fotógrafo explorando as lendas da cidade, em especial um conjunto habitacional de Chicago. Para o papel, foi escalado Yahya Abdul-Mateen II, que vem construindo uma sólida carreira no cinema (Aquaman e Nós) e na TV (Black Mirror e Watchmen).

Atuando ao seu lado no papel de sua namorada, a bela Teyonah Parris. A atriz já trabalhou com o prestigiado Spike Lee em Chi-Raq (2015), com Barry Jenkins em Se a Rua Beale Falasse (2018) e na série da Marvel, WandaVision, no papel de Monica Rambeau.

Curiosamente, o personagem de Yahya neste filme é irmão de Anne-Marie McCoy, que apareceu em papel importante no filme original de 1992, e aqui volta a ser interpretada pela mesma Vanessa Williams.

E não é apenas esta ponte que teremos com a produção original, já que Tony Todd em pessoa retorna, reprisando o papel de Daniel Robitaille – mas misteriosamente não creditado como Candyman também.

O filme já está em exibição nos cinemas.

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Em homenagem a este ícone subestimado da cultura pop e do terror, o CinePOP faz uma recapitulação da trajetória do personagem, dono de uma carga política pesada e polêmica, para você não ficar perdido assistindo ao novo filme nos cinemas.

Crítica | A Lenda de Candyman – Terror social ATERRORIZANTE com final arrebatador

Vem conhecer.

O Conto

A origem de Candyman está diretamente ligada ao escritor Clive Barker, especialista no gênero e um dos maiores nomes do terror literário nos EUA. Em seu currículo como obra mais famosa o autor possui Hellraiser – Renascido do Inferno (1987), adaptação de seu livro The Hellbound Heart, o qual o próprio dirigiu para as telonas.

Candyman saiu originalmente da história The Forbidden, conto criado por Barker como parte de uma antologia na série Books of Blood, coletânea de seis livros lançados entre 1984 e 1985.

A trama se apoia fortemente em lendas urbanas, e fala sobre uma estudante universitária chamada Helen, que decide pesquisar sobre os grafites com desenhos de uma figura nas paredes de uma área pobre e perigosa de sua cidade. Ela então se depara com o mito do Candyman, o qual começa a investigar, somente para descobrir que esta lenda é muito real.

Existem duas grandes diferenças na transposição do conto para o cinema. A primeira é a locação – Barker usou como cenário uma zona pobre de sua cidade Liverpool, Inglaterra. A segunda é mais importante para a redefinição do personagem e todo o contexto no qual viria incluído. No conto, o Candyman é branco.

O Mistério de Candyman (1992)

Para a adaptação aos cinemas muito da essência do conto foi mantido, exceto as duas fortes diferenças citadas acima. O roteirista e diretor britânico Bernard Rose (Minha Amada Imortal, 1994) decidiu mover a trama para Chicago, nos EUA, após visitar a cidade durante um festival de cinema.

O local escolhido por Rose para centrar a história foi o infame conjunto habitacional Cabrini-Green, área perigosa da cidade, repleta de gangues e terríveis condições para os residentes. A equipe da produção inclusive precisou fazer acordo com os líderes criminosos do local a fim de assegurar sua segurança. O local foi demolido em 2011.

Assim, uma mudança étnica para o vilão foi prontamente estabelecida. A figura do “bicho-papão” no terror se tornava afrodescendente, já que mostrar um homem branco aterrorizando uma vizinhança predominantemente negra teria um contexto muito mais politicamente incorreto e de mau gosto.

Mesmo assim, ainda na década de 1990 onde questões raciais já eram discutidas com a importância e o fervor de hoje num país como os EUA, ter um assassino negro perseguindo uma protagonista branca causou desconforto e o filme não se viu livre de inúmeras polêmicas.

O diretor e o filme foram acusados de representar racismo e estereótipos raciais. Na época, diversos cineastas negros famosos, como Carl Franklin (Por um Triz, 2003) e Reginald Hudlin (Marshall: Igualdade e Justiça, 2017), se pronunciaram contra o filme, o definindo entre outras coisas como “preocupante”.

Em sua defesa, Rose disse que enfrentou as mesmas preocupações no início da produção, onde precisou realizar diversas reuniões com a NAACP, a Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor nos EUA. Seu ponto de vista e o dos produtores era o de estarem realizando apenas um filme de terror, uma diversão, e neste contexto não viam motivo do por quê um possível ícone do terror não poderia ser representado por um ator negro.

“Por que um negro não pode ser um Fantasma? Por que um ator negro não pode ser o próximo Freddy Kruger ou Hannibal Lecter? Se você está dizendo que ele não pode, isso é realmente perverso. Isto é um filme de terror…”, foi o que argumentou Rose para a organização liberar a produção do longa.

A defesa deu certo e Candyman se tornou o mais famoso antagonista negro em uma franquia de terror. Mas O Mistério de Candyman está longe de ser somente mais um slasher, se tornando um cult instantâneo, ainda hoje redescoberto, e recebendo elogios de parte da imprensa especializada na época.

Mesmo os detratores reconhecem um empenho maior em sua confecção, com uma história e personagens mais elaborados do que digamos nas inúmeras sequências de Sexta-Feira 13 e A Hora do Pesadelo.

O Mistério de Candyman é cinema à moda antiga, investe em clima e por isso possui uma narrativa mais lenta, de longos planos contemplativos – sem a edição picotada para servir ao público jovem. Existe certo romantismo na figura do fantasma com o gancho no lugar da mão, que aparece depois de ter seu nome repetido na frente do espelho por cinco vezes.

Para ter uma ideia, o Candyman só aparece após quase uma hora de exibição no filme original, deixando bastante tempo para sua mitologia ser desenvolvida até seu surgimento em tela.

Elenco

No elenco, no papel do personagem título, o subestimado Tony Todd dá vida ao trágico vilão. Esta é outra diferença em relação ao antagonista aqui, seu drama pessoal numa história de vingança. Dois anos antes, Todd havia participado do remake de A Noite dos Mortos Vivos, um dos mais emblemáticos filmes de terror da história do cinema.

Antes de sua escalação ao papel, o astro Eddie Murphy foi considerado para viver o personagem, mas um dos problemas foi sua altura de 1,75m, contra os 1,96m de Todd – uma figura mais imponente. Murphy, no entanto, protagonizaria um filme de terror três anos depois com Um Vampiro no Brooklyn, escrito pelo próprio ator e dirigido pelo lendário Wes Craven.

Tony Todd já chegou a afirmar que o papel de Candyman e este filme são os preferidos em sua filmografia.

No papel da heroína Helen, a indicada ao Oscar Virginia Madsen. A atriz pulou de um lado para o outro em relação ao papel que interpretaria durante a pré-produção. Originalmente, ela foi escalada para viver a melhor amiga da personagem principal, Bernie, já que a protagonista estava nas mãos de Alexandra Pigg, então esposa do diretor Rose.

Depois, ficou decidido que Bernie deveria ser uma atriz negra, e o papel foi parar com Kasi Lemmons (O Silêncio dos Inocentes), que se tornou uma diretora de prestígio, tendo comandado o recente Harriet (2019), indicado ao Oscar de melhor atriz este ano e ainda inédito no Brasil.

Nesta dança, Madsen quase ficou fora do filme, e se não estivesse disponível depois de Pigg ter sido vetada em prol de um nome mais chamativo para a produção, a protagonista Helen teria caído no colo de uma certa Sandra Bullock, atriz em ascensão na época, que era a segunda opção dos realizadores. Já imaginou?

Candyman 2: A Vingança (1995)

 

Tudo o que havia sido construído em relação ao desenvolvimento de clima, história, personagens, parte técnica e narrativa foi deixado de lado em nome de uma boa bilheteria. O primeiro filme se mostrou um sucesso, rendendo três vezes o seu orçamento somente nos EUA. Assim, os produtores viram a oportunidade de realmente transformar o Candyman no novo ícone do terror.

Isto significava deixar um pouco a qualidade e qualquer conteúdo adulto de lado em nome de agradar as massas, ou seja, o público jovem. Assim, o segundo Candyman se tornava verdadeiramente um filme slasher rotineiro.

A trama agora movia a ação dos subúrbios de Chicago para Nova Orleans, onde a cultura afrodescendente é muito forte nos EUA. A continuação optava por descortinar ainda mais do passado e mitologia em relação ao personagem título, o que havia sido apenas pincelado no original.

Aqui descobrimos que Daniel Robitaille (Todd), o nome verdadeiro do Candyman, havia sido um artista, filho de um escravo numa plantação justamente em Nova Orleans. Ele se apaixona pela filha branca de um rico fazendeiro, numa história trágica de amor proibido. O sujeito é atacado pelos locais, tem a mão serrada (e depois substituída por um gancho) e o corpo besuntado em mel de abelha – depois picado até a morte pelos insetos. Daí o apelido pelo qual ficaria eternizado, Candyman, o “Homem Doce”.

A personagem principal aqui é vivida por Kelly Rowan, e faz parte da linhagem responsável pelo assassinato de Robitaille, ou seja, desta vez é pessoal para o Candyman!

Curiosamente, o diretor e roteirista original, Bernard Rose, foi convidado para retornar ao comando da sequência, mas sua ideia viria logo a ser descartada. A história de Rose para a continuação não traria novamente o Candyman, mas seguiria explorando a natureza dos mitos do horror urbano. Obviamente, os produtores decidiram se garantir no sucesso adquirido da figura titular e transformá-lo num ícone. Assim, Bill Condon (A Bela e a Fera, 2017), em seu segundo filme para o cinema, foi quem sentou na cadeira de diretor.

Mais Controvérsia

Como se já não bastasse toda a polêmica que rodeou a produção do primeiro filme, especialmente envolvendo as questões raciais, a controvérsia voltou a ser pauta do segundo também. A principal delas envolveu o cartaz e o material de divulgação do longa. Na época, o caso real de OJ Simpson, considerado o julgamento do século (retratado em minisséries e documentários), no qual o esportista e ator foi acusado de assassinar sua esposa branca, Nicole, estava a toda tomando a mídia norte-americana de assalto.

Desta forma, ter um cartaz estampado por Tony Todd, um ator negro que guarda certa semelhança com Simpson, onde ele persegue uma mulher branca, era simplesmente inflamatório demais. A solução foi modificar todas as artes, escondendo bastante a figura do antagonista.

O segundo Candyman terminou arrecadando somente o dobro de seu orçamento nos EUA.

Candyman: Dia dos Mortos (1999)

Sim, embora muitos não saibam, ou desejem esquecer, tivemos um terceiro filme da assombração Candyman. Este é o único da franquia lançado diretamente em vídeo.

Ainda mais diluído de conteúdo e qualidade, desta vez o filme mostra o espírito tentando convencer uma descendente, Caroline, filha da protagonista do segundo filme, a se juntar a ele em sua matança. Para o papel principal, a atriz escolhida foi a coelhinha da Playboy, Donna D’Errico, mais conhecida por ser uma das salva-vidas de SOS Malibu (Baywatch), de 1996 a 1998. Ou seja, estava no auge da popularidade.

É claro que Bernard Rose e Bill Condon ficaram a quilômetros de distância, e a direção recaiu em Turi Meyer, veterano de séries de TV como Buffy – A Caça-Vampiros e Smallville.

Até mesmo Todd Tony parece desinteressado durante o filme e já afirmou que não gosta nada desta terceira produção.

A Lenda de Candyman (2021)

Parte reimaginação da obra original, parte “sequência espiritual”, o novo Candyman tem todos os elementos atrativos e parece estar sendo feito de maneira mais correta impossível.

Em primeiro lugar, temos a produção e roteiro de ninguém menos do que Jordan Peele – um dos fortes nomes do terror atual, acostumado a utilizar muito subtexto racial em suas produções absurdamente bem-sucedidas, vide Corra! (2017) e Nós (2019). Peele é a figura perfeita para trazer Candyman de volta ao radar do grande público, e embora não dirigiu, com o envolvimento no roteiro e produção podemos argumentar que este é em grande parte um filme seu.

A afirmação acima não diminui de forma alguma a verdadeira direção do longa. A Lenda de Candyman é uma colaboração de mentes brilhantes. No comando da obra, a promissora jovem cineasta Nia DaCosta, de 29 anos.

A diretora chamou atenção em seu filme de estreia, o drama Little Woods, um faroeste moderno protagonizado por Tessa Thompson e Lily James. Agora, DaCosta tem a chance de deixar fluir sua veia artística em um projeto mais ambicioso, e a julgar pelos elogios que o filme recebeu, com 90% de aprovação no Rotten Tomatoes, ela tem tudo para adentrar o time principal de Hollywood – e com um padrinho do nível de Peele, ela já está no caminho certo. A cineasta também assina o roteiro do novo Candyman.

Além deste timaço atrás das câmeras, no elenco protagonizando temos um casal de muito talento. O personagem principal desta vez é, de forma inédita na franquia, um homem. Anthony McCoy é um fotógrafo explorando as lendas da cidade, em especial um conjunto habitacional de Chicago. Para o papel, foi escalado Yahya Abdul-Mateen II, que vem construindo uma sólida carreira no cinema (Aquaman e Nós) e na TV (Black Mirror e Watchmen).

Atuando ao seu lado no papel de sua namorada, a bela Teyonah Parris. A atriz já trabalhou com o prestigiado Spike Lee em Chi-Raq (2015), com Barry Jenkins em Se a Rua Beale Falasse (2018) e na série da Marvel, WandaVision, no papel de Monica Rambeau.

Curiosamente, o personagem de Yahya neste filme é irmão de Anne-Marie McCoy, que apareceu em papel importante no filme original de 1992, e aqui volta a ser interpretada pela mesma Vanessa Williams.

E não é apenas esta ponte que teremos com a produção original, já que Tony Todd em pessoa retorna, reprisando o papel de Daniel Robitaille – mas misteriosamente não creditado como Candyman também.

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