A Lenda do Tesouro Perdido: No Limiar da História é a mais recente investida dos estúdios Disney em revitalizar uma de suas queridas franquias do passado, a transformando num programa moderno para as novas gerações e também os fãs. A ideia desta vez é atualizar e dar continuidade aos filmes de sucesso da década de 2000, A Lenda do Tesouro Perdido (2004) e A Lenda do Tesouro Perdido: Livro dos Segredos (2007), ambos protagonizados por Nicolas Cage.
Em No Limiar da História a protagonista agora é a jovem Jess Valenzuela, papel de Lisette Olivera, e o programa ainda traz no elenco a presença de Catherine Zeta-Jones loira no papel da vilã Billie. O elo com as produções para o cinema nas telas são Justin Bartha retornando como o sidekick de Cage, Riley Poole, e Harvey Keitel dando vida novamente ao personagem Peter Sadusky. Ao que tudo indica, se a série for bem, em breve poderemos ver também os retornos de Nicolas Cage e Diane Kruger, quem sabe. Atrás das câmeras, o seriado garantiu os mesmos profissionais dos filmes, com a produção de Jerry Bruckheimer e Jon Turteltaub (diretor dos longas), além da adição de Mira Nair – diretora e produtora do programa. A estreia ocorre no dia 14 de dezembro e é uma das grandes apostas da Disney+ para o fim de ano.
Entrando já nesse clima nostálgico, e aproveitando a estreia dos trailers de A Lenda do Tesouro Perdido: No Limiar da História, resolvemos relembrar com você os filmes que deram origem à série. Nessa matéria, daremos uma olhada no longa original de 2004 – que foi o início de tudo. Confira.
Um protagonista historiador e criptógrafo se tornando um caçador de tesouros moderno, desvendando enigmas com mapas e pistas, contando com ajuda de aliados e ao mesmo tempo sendo perseguido pelas autoridades e rivais – e no fim desvendando algumas das maiores conspirações da sociedade mundial. Não dá para saber exatamente se o roteiro escrito a cinco mãos por Jim Kouf, Cormac Wibberley, Marianne Wibberley, Oren Aviv e Charles Segers para A Lenda do Tesouro Perdido (2004) teve de fato alguma influência pescada do romance O Código Da Vinci, do autor Dan Brown, lançado em 2003, um ano antes da estreia deste filme. A verdade é que antes de seu mais famoso livro, Brown havia lançado Anjos e Demônios com o mesmo personagem Robert Langdon protagonizando. Porém, foi O Código Da Vinci que se tornou filme primeiro, nas formas de uma superprodução bancada pela Sony, com Tom Hanks estrelando. E como nos bastidores de Hollywood, as informações fluem como águas de um rio, é claro que os realizadores do “rival” estavam sabendo tempos antes de o filme da Sony se concretizar. O que pode ter “inspirado” ou “instigado” a produção de Tesouro Perdido. As tramas são realmente semelhantes.
Mesmo que tenha sido inspirado por O Código Da Vinci para sair do papel, o resultado final de A Lenda do Tesouro Perdido guarda suas distinções e está mais voltado para o clima de diversão escapista, sem qualquer peso ou seriedade, como uma versão light e moderna de Indiana Jones. A Lenda do Tesouro Perdido se concentra mais na ação e na aventura, enquanto O Código Da Vince busca laços com o suspense e o drama. Fora isso, a trama de Da Vince possui ares internacionais, enquanto Tesouro se concentra nas raízes formadoras, escondidas nos EUA.
A Lenda do Tesouro Perdido foca no personagem Benjamin Franklin Gates, que ainda não infância ouviu de seu avô (papel do lendário Christopher Plummer), uma história sobre a existência do chamado “tesouro nacional” escondido na América pelos Cavaleiros Templários, os Maçons e os membros Fundadores dos Estados Unidos. Na fase adulta, interpretado por Nicolas Cage, Ben continua a acreditar piamente neste grande tesouro, enquanto seu pai Patrick, papel de Jon Voight, desmerece o conto como história da carochinha. Em uma expedição, financiada por um ricaço, papel de Sean Bean, o protagonista de fato encontra um navio contendo um artefato que serve como primeira pista. O item revela que atrás da declaração da independência dos EUA está o mapa que leva até o tal tesouro almejado. O ricaço se revela um criminoso, e decide roubar a declaração da independência para chegar até as raridades. Assim, Ben Gates faz de sua missão impedir que o vilão chegue até o tesouro, e para isso, após informar o FBI (encabeçado pelo personagem de Harvey Keitel) e a diretora do arquivo nacional (papel da loira Diane Kruger), que não acreditam nele, decide roubar por conta própria o mesmo documento histórico, a fim de evitar que caia nas mãos erradas.
Por ser mais voltado para toda a família, incluindo as crianças, o roteiro de A Lenda do Tesouro Perdido escolhe por vezes o caminho da obviedade, nos martelando na cabeça com referências de fácil acesso para qualquer um. Nada que chegue a incomodar. Temos, por exemplo, os nomes do trio de homens de três gerações da família Gates baseados nos Pais Fundadores dos EUA: Benjamin Franklin, Patrick Henry e John Adams. Fora isso, a personagem de Diane Kruger, Abigail Chase é uma combinação de Abigail Adams, esposa de John Adams, e Samuel Chase, um dos responsáveis pela assinatura da declaração da independência, depois se tornando um dos juízes da Suprema Corte dos Estados Unidos.
O projeto começou a tomar forma verdadeiramente quando a ideia foi comprada por Jerry Bruckheimer, um dos maiores produtores e empresários de Hollywood de todos os tempos. Bruckheimer ajudou a firmar os blockbusters na década de 1980, tendo debaixo do cinturão alguns dos maiores sucessos da época, vide Um Tira da Pesada (1984) e Top Gun – Ases Indomáveis (1986). Nos anos 1990, consolidou uma parceria de sucesso com a Disney, entregando títulos celebrados da ação, vide A Rocha (1996), Con Air – A Rota da Fuga (1997) e Armageddon (1998). Na década seguinte seria responsável por tirar da cartola um dos maiores acertos da Disney, Piratas do Caribe (2003). Assim, como havia trabalhado com o astro Nicolas Cage em três filmes da Disney previamente, escalá-lo para ser o protagonista de A Lenda do Tesouro Perdido foi um pulo. Apesar disso, Cage revelou em entrevista que inicialmente estava reticente em aceitar o papel. O astro é especialista em criar personagens bizarros, que se tornam por consequência icônicos. No entanto, o pensamento de Cage sobre a trama é que era muito surreal a proposta de roubar a declaração da independência. Ao memo tempo o conceito aguçou a curiosidade do ator.
Nessa época, em meados dos anos 2000, a Disney investia em propriedades de seus parques temáticos, os adaptando para se tornarem franquias rentáveis nas telonas, como foi o caso com o citado Piratas do Caribe e também com Mansão Mal Assombrada. E embora A Lenda do Tesouro Perdido não seja verdadeiramente uma atração dos parques da Disney, tem toda a cara e o espírito da coisa. Justamente por isso, antes de receber sua classificação etária da censura, o filme se encontrava sob o selo da Touchstone Pictures, responsável pelas obras, digamos, mais intensas do estúdio. Uma vez analisado seu conteúdo familiar e recomendado para todos os públicos, o longa trocou de selo passando para a boa e velha Walt Disney Pictures.
Para a tarefa de comandar a produção era escalado Jon Turteltaub, cineasta “cria” da Disney tendo trabalhado para o estúdio em comédias bem-sucedidas como Jamaica Abaixo de Zero (1993), Enquanto Você Dormia (1995), Fenômeno (1996) e Duas Vidas (2000). A Lenda do Tesouro Perdido foi seu primeiro filme de aventura em clima de superprodução, e o diretor se saiu tão bem na empreitada que seu comando nas cenas de ação foram as partes mais elogiadas pelos especialistas, além de lhe garantir o retorno na direção da sequência igualmente. Turteltaub retornará na produção da série No Limiar da História. Segundo o próprio diretor numa entrevista do DVD de A Lenda do Tesouro Perdido, o corte inicial do longa possuía nada menos que 4 horas de duração. Quem sabe com o lançamento do seriado, e com o título novamente em voga, a Disney não se anime para lançar em sua plataforma de streaming a versão alongada do original?
Com orçamento de US$100 milhões, A Lenda do Tesouro Perdido estreou no dia 19 de novembro de 2004 nos EUA, e chegava ao Brasil no dia 31 de dezembro do mesmo ano. Em sua estreia no primeiro fim de semana, o filme embolsou US$35 milhões, fechando a conta nos EUA com US$173 milhões em caixa. No mundo, o filme se tornaria um grande sucesso com uma bilheteria total de US$347 milhões, garantindo assim a franquia para a Disney – que dura até hoje, 18 anos depois. O filme se tornou um clássico instantâneo logo em seu lançamento, com a frase proferida por Nicolas Cage, “Eu vou roubar a Declaração da Independência”, se tornando um dos memes mais célebres relacionados ao ator e ao filme. O longa também é considerado um dos mais divertidos de todos os tempos dentro do subgênero de “caça ao tesouro”. Além de poder ser comprado na lojinha de souvenirs do Arquivo Nacional nos EUA (ao menos no passado de uma era de mídias físicas), é um dos poucos filmes nos quais Sean Bean não morre. E isso por si só é motivo para comemorar.