Os cinéfilos de cada época têm em sua disponibilidade armas diferentes para dar vazão à sua paixão: assistir a filmes. Até, mais ou menos digamos, o fim dos anos 1970, os amantes do cinema tinham como única saída o método mais convencional e ainda muito enaltecido pelos cinéfilos raiz: a ida ao cinema, o templo para os amantes da sétima arte. É claro que nessa época também já podiam contar com as exibições na TV aberta, já que o advento de se assistir programações em casa surgiu na década de 1950 nos EUA. De lá para cá muita coisa mudou.
Os anos 1980, uma das épocas mais queridas dos últimos quarenta anos, trouxeram muitas novidades para os cinéfilos. Nos cinemas, foi a inauguração dos blockbusters, os filmes que eram verdadeiros arrasa-quarteirões e migravam das telas para fazer parte de nosso dia a dia, através das milhares de mercadorias que estendiam a popularidade de tais obras – como bonecos e videogames, por exemplo. Foi também a época do surgimento das vídeolocadoras, lojas especializadas em aluguéis de filmes pelo meio de fitas VHS. Assim que um filme saía dos cinemas, alguns meses depois (às vezes chegando a quase um ano) ele estava disponível para ser assistido em casa pelos sócios do estabelecimento. E muitos destes longas ganhavam sobrevida no mercado de vídeo, depois de terem passado em branco em sua estadia nas telonas.
Tudo isso ajudou a criar sessões de filmes também nas programações das TVs abertas na época – em especial as duas mais populares do período: a Globo e o SBT. Para a geração que foi criança e adolescente nos anos 80, um dos programas que mais se tornou querido foi a Sessão da Tarde, de pé até hoje. O programa diurno serviu como companhia para muitas crianças nas tardes após a escola e foi a chance de muitos conferirem seus filmes preferidos, inúmeras vezes. Hoje, a Globo aposta na programação da Sessão de Sábado, aos sábados a tarde, para suprir a nostalgia dos fãs.
Hoje, os mais novos contam com as plataformas de streaming para assistir filmes a qualquer dia e a qualquer hora. E quem sabe o que virá amanhã em termos da relação dos cinéfilos e os filmes. Seguindo por este caminho da nostalgia, reunimos 10 produções clássicas dos anos 80 que marcaram época na Sessão da Tarde e que se encontram disponíveis atualmente para serem assistidas na Netflix. É a união de dois mundos, passado e futuro dando as mãos em prol da nostalgia. E você não pode perder. Confira abaixo e prepare-se para voltar no tempo.
De Volta para o Futuro (1985)
Faça um favor a si mesmo se ainda não assistiu a este que não apenas é um dos maiores clássicos saídos dos anos 80, como também é considerado um dos melhores filmes da sétima arte. Muito falado e debatido, creio que De Volta para o Futuro só não é conhecido ou foi visto pelas gerações mais novas – que precisam consertar isso imediatamente. Mas o que talvez nem todos saibam é que a aventura cômica sobre viagem no tempo produzida por Steven Spielberg teria outro protagonista. O ruivinho Eric Stoltz chegou a ser contratado e a gravar grande parte de suas cenas quando os realizadores perceberam que ele não estava dando certo no papel protagonista de Marty McFly. Assim, às pressas ele foi substituído pelo “segundo” e único Michael J. Fox, que se tornaria um astro e o resto é história. Quem quiser ir além, a trilogia completa está disponível na Netflix.
Top Gun – Ases Indomáveis (1986)
O universo é cíclico, não há dúvidas. E o mundo do cinema também. Vira e mexe vemos sucessos do passado retornando dez, vinte, trinta ou quarenta anos depois para dar continuidade a algum sucesso do passado. É onde se encaixa este item, que foi o divisor de águas na carreira do ator Tom Cruise, o transformando em um astro definitivo. Pois bem, 36 anos depois e o astro faz de novo, com a continuação tardia Top Gun – Maverick se tornando o filme número 1 de 2022. É muita onda. Voltando ao passado, o primeiro Top Gun foi o filme número 1 de seu respectivo ano, um sucesso estrondoso graças à mescla de cenas de ação eletrizantes e nunca antes vistas de combates aéreos, uma bela história de amor em seu núcleo (que ainda funciona, sendo muito à frente de seu tempo nas questões femininas) e uma trilha sonora inesquecível – que dirá “Take My Breath Away” da banda Berlin.
Os Caça-Fantasmas (1984)
Verdadeiro fenômeno dos anos 80, assim como De Volta para o Futuro, Os Caça-Fantasmas mistura elementos de fantasia e humor em sua narrativa. Mas ao contrário do citado filme sobre viagem no tempo, Os Caça-Fantasmas é mais cínico, menos afetuoso e guarda ainda momentos de terror e suspense em sua trama. A história apresenta três cientistas resolvendo abrir seu próprio negócio como exterminadores de entidades sobrenaturais e começam a lucrar bastante com isso – era o empreendedorismo falando alto já naquela época – e de quebra se tornando os novos heróis de Nova York. No meio do filme, o quarto membro da equipe se une a eles. O sucesso gerou um famoso desenho animado, antes mesmo do lançamento do segundo filme em 1989 (que também está disponível na Netflix). Depois disso foi uma espera interminável para um terceiro filme – que nunca viria, ao menos não da forma que todos queriam, com a equipe original ainda em forma. A vida tem dessas. Mas sempre teremos os dois clássicos para nos confortar.
Os Intocáveis (1987)
Na era de ouro da Televisão, assim que o advento chegou aos lares dos americanos e depois do resto do mundo, era preciso encher a rede de programas para serem assistidos. Assim nasceu o formato dos seriados, histórias contínuas que veríamos a cada semana. Um destes pioneiros foi o seriado Os Intocáveis, que narrava as desventuras do agente do FBI Eliot Ness, que realmente existiu e virou herói americano durante a época da Lei Seca na Chicago dos anos 1930 – e seu combate a mafiosos, em especial Al Capone. Na série, Ness enfrentava todo tipo de mafioso e não apenas Capone. O mestre Brian De Palma adaptou a ideia para o cinema num filme que se tornou sensação e chegou até o Oscar. Do programa, apenas Ness foi levado, com as formas de Kevin Costner. E o elenco ainda contava com Sean Connery, Andy Garcia e Robert De Niro como Capone.
Karatê Kid – A Hora da Verdade (1984)
Esse é provavelmente o clássico da década de 80 com o qual as novas gerações estão mais conectadas atualmente. Isso, é claro, devido ao estrondoso sucesso da série Cobra Kai com o público mais novo – além é claro dos mais saudosistas também. Cobra Kai é realmente um sucesso independente se você é fã mais antigo, que conhece Karatê Kid desde a época do seu lançamento e curtiu as sequências na Sessão da Tarde, ou se faz parte de uma geração que nasceu trinta anos depois. Justamente essa popularidade da série que fez despertar nos mais novos a curiosidade de buscar de onde tudo nasceu. E a Netflix, dona atual do programa de artes marciais e drama, não deixou por menos e tratou de incluir em seu acervo a primeira aventura de Daniel LaRusso, do eterno Sr. Miyagi, Johnny Lawrence e Kreese. Além das duas continuações diretas ainda na década de 1980, e da quarta aventura com Hilary Swank.
Um Príncipe em Nova York (1988)
É impossível falar de anos 80 sem falar de Eddie Murphy. E é impossível falar de Sessão da Tarde sem falar de Um Príncipe em Nova York. De fato, a comédia sobre um príncipe africano de férias na cidade de Nova York, disfarçado e com o propósito de achar o amor verdadeiro ainda é tão popular que continua a ser exibido, como na nova Sessão de Sábado na Globo recentemente – além de nunca ficar de fora de catálogos de streamings. Foi essa popularidade cult durante 34 anos que fez uma continuação finalmente sair do papel. Precisava? Não. Mas é claro que gostamos de ver o retorno do Príncipe Akeem e toda a trupe. É claro também que o original continua imbatível, ainda mais se levarmos em conta o humor mais “sujo”, por assim dizer, de uma época mais politicamente incorreta.
Um Tira da Pesada (1984)
Por falar em Eddie Murphy, quatro anos antes do sucesso estrondoso de Um Príncipe em Nova York (um de seus filmes mais populares), o humorista se tornava um astro e entrava para o time A de Hollywood graças a esta comédia de ação que serviu como divisor de águas em sua carreira. Antes de Um Tira da Pesada, o ator havia obtido sucesso em longas como 48 Horas (1982) e Trocando as Bolas (1983) – mas sempre co-protagonizando ao lado de figuras famosas como Nick Nolte ou Dan Aykroyd. Com Um Tira da Pesada, Murphy mostrava que estava pronto para carregar um filme nas costas sozinho. E o resultado foi um dos mais icônicos do gênero, que abriu portas para outras produções adoradas como Máquina Mortífera e A Hora do Rush, por exemplo. O sucesso deu continuidade para duas continuações, e mais uma está sendo planejada na atualidade.
Irmãos Gêmeos (1988)
Eddie Murphy aparece aqui de novo. Afinal, como dito, o ator foi uma das figuras mais emblemáticas dos anos 80. E calma, antes que você diga que eu estou louco e que Murphy não tem nada a ver com Irmãos Gêmeos, deixe-me continuar e concluir o raciocínio. Realmente Eddie Murphy não teve qualquer ligação com esta comédia de Ivan Reitman, protagonizada pelos irmãos gêmeos mais diferentes da sétima arte: Arnold Schwarzenegger e Danny DeVito. Essa foi a primeira comédia do grandalhão austríaco que demonstrou que ele também funcionava no humor. Marcou uma geração. A única conexão que podemos fazer é que Irmãos Gêmeos bateu de frente com Um Príncipe em Nova York, duas comédias icônicas lançadas no mesmo ano. Mas bem, eis que muitos anos depois surge a vontade de continuar essa história. O mote? Julius e Vincent descobrem que possuem outro irmão, ainda mais diferente – interpretado por ninguém menos que Eddie Murphy. O título? Trigêmeos. E não é pegadinha, o filme se encontra em fase de pré-produção. Agora me diga, se esse filme tivesse surgindo nos anos 80, no auge do trio, ninguém segurava.
A Lagoa Azul (1980)
Agora sim, falamos do GOAT da Sessão da Tarde. Quando perguntamos que filme os fãs mais lembram ao pensarem no citado programa diurno da Globo, a grande maioria – ao menos dos mais velhos – irão dizer A Lagoa Azul. A verdade é que a fita deve ter ficado gasta de tanto ser exibida no programa. A história sobre duas crianças náufragas numa ilha deserta, que crescem e se tornam um belo casal é atemporal e remete ao bíblico Adão e Eva no paraíso. No filme, outro sobrevivente adulto é responsável pela criação dos pequenos, mas quando se tornam jovens adultos, o sujeito morre, deixando os pombinhos para descobrir o amor e a luxúria nas formas de Brooke Shields e Christopher Atkins. Uma trama simples, mas na época inexplorada e que fez muito sucesso.
La Bamba (1987)
Terminando a volta nostálgica ao passado, essa é outra produção que é sinônimo de Sessão da Tarde, e foi exibida até enjoar. Este amigo que vos fala nunca havia assistido a este filme completo do início ao fim até ele estrear na Netflix. Ou melhor, devo dizer, achava que não havia assistido, porque bastou conferir o longa recentemente para perceber que de fato já havia visto todas as cenas de tanto que La Bamba passou na Sessão da Tarde e eu “pescava” um trecho por vez. O filme, é claro, é a cinebiografia de Ritchie Valens, descendente de mexicanos, vindo de uma família pobre e problemática, que escalou para o sucesso meteórico com músicas como Come On Let’s Go, Donna e, é claro, La Bamba. O cantor infelizmente morreria aos 17 anos num acidente aéreo, o mesmo que vitimou o músico Buddy Holly. La Bamba, o filme, fez muito sucesso, numa época bem anterior à febre de cinebiografias musicais que temos hoje como Bohemian Rhapsody, Rocketman e Elvis.