O Mundo Imaginário de Ben Stiller
Com um dos melhores trailers do ano, A Vida Secreta de Walter Mitty fez diversos críticos de cinema segurarem suas listas dos melhores até poderem conferir a nova obra dirigida e protagonizada por Ben Stiller (Vizinhos Imediatos do 3º Grau). Infelizmente, a reação geral é de que a obra será difícil ser encontrada em tais listas. Não que seja ruim, mas com o nível das produções que vimos este ano, e principalmente as que chegam nos Estados Unidos sedentas de prêmios, Walter Mitty não apresenta um desafio à altura.
Walter Mitty foi bem sucedido no quesito de esconder sua trama. Todos estamos cansados de produções que contam tudo em seus trailers, guardando bem pouco para o público pagante dos cinemas. Nada sabíamos de sua trama, apenas que seria um filme de alto conceito. Na verdade, após termos assistido ao filme percebemos que realmente não existe muito. Essa é uma história bem simples e nem um pouco complexa. Nada contra, afinal dessa descrição já nasceram muitas obras-primas. E um filme simples, mas bem trabalhado é sempre melhor do que uma bagunça que deseja falar sobre mil coisas de uma vez.
Walter Mitty, papel do também diretor Ben Stiller, é o típico sujeito retraído que simplesmente deixa sua vida passar por ele, sem muito domínio da coisa ou grandes interações. Apaixonado por uma colega de trabalho, vivida por Kristen Wiig (Minha Vida Dava um Filme), ele é incapaz de demonstrar grandes avanços. Walter passa o dia a sonhar com ela, mas não apenas isso, o sujeito parece simplesmente sonhar acordado constantemente, como uma espécie de distúrbio.
A chegada de um chefe cretino, e a perda de um fotograma complicam a vida profissional do protagonista também. O fato faz com que Walter tenha momentos decisórios em sua vida, ao sair pelo mundo em lugares exóticos, em busca do tal negativo que se encontra em posse do fotógrafo aventureiro Sean O´Connell – papel de Sean Penn (Caça aos Gângsteres). A escolha narrativa de Stiller é interessante, e o filme sem dúvidas ganha muitos pontos por seu visual maravilhoso.
Devido aos constantes devaneios do protagonista, a história pode fazer uso de momentos non sense, passados apenas na mente do personagem, mas traduzidos para o público de forma visual e muito cômica. Entre eles, temos a explosão de raiva de Walter em relação ao chefe (na qual os dois saem voando pelo prédio após atravessarem o elevador – momento mostrado no trailer), ou uma que traz Wiig e Stiller como dois idosos senis. Mas não é apenas em momentos de delírio que Stiller, o diretor, satisfaz. A fotografia de Stuart Dryburgh (O Piano) cria momentos belíssimos com as aventuras reais de Stiller igualmente.
De uma descida de skate por ruas íngremes, passando por um pulo no mar de um helicóptero e um vulcão em erupção, até uma simples partida de futebol, A Vida Secreta de Walter Mitty quase se comporta como um guia de turismo exótico em vídeo. E quem não gosta de viajar? Apesar de tudo isso, ao final o sentimento é o de que não existe muito no que segurar. Esse é um filme que possui “muita cobertura e pouco recheio”.
Afinal, a história do perdedor que precisa dar a volta por cima, mudar sua vida, triunfar profissionalmente, e ainda conquistar a garota de seus sonhos está mais do que batida, e já foi feita muitas outras vezes em obras melhores. Precisa existir um diferencial que crie empatia em cada um de nós, caso contrário será apenas mais um. Imagine do seguinte prisma: Como seria o filme sem toda a parte visual dos devaneios do protagonista? E a resposta é que perderia grande parte de seu impacto. Assim como Comer, Rezar e Amar (2010), a obra termina com gosto de ego trip. O que vale, e muito, a pena ser mencionado é a fantástica música “Dirty Paws”, da banda islandesa Of Monsters and Men, que faz parte da trilha.