Chegou aos cinemas 20 anos atrás um longa-metragem alemão que impactaria os amantes da sétima arte com um recorte profundo, inteligente, divertido e emocionante do final da década de 80 quando após a queda do famoso Muro de Berlim uma família se blinda de mentiras por conta de uma situação peculiar, transformando um quarto numa espécie de museu de recordações de um tempo que nunca mais iria voltar. Adeus, Lênin! dirigido por Wolfgang Becker, transforma sua brilhante narrativa em uma aula de história e também de amor, entre um filho e sua mãe.
Na trama, conhecemos Alex (Daniel Brühl), um jovem morador da Alemanha Oriental, que tinha o sonho de ser astronauta e vive em um modesto apartamento junto de sua irmã e sua mãe. Essa última é uma influente mulher nos tempos de socialismo só que sofrera bastante no campo emocional, principalmente quando o marido a abandonara e nunca mais deu notícias. Durante uma passeata, mesmo que sem participar dela, a mãe sofre um ataque cardíaco e entra em coma. Em paralelo o Muro de Berlim não existe mais e a a crescente ocidentalização chega para o lado ex-oriental. Após 8 meses em coma, a mãe acorda milagrosamente, assim é dito pelo médico que ela não deve passar por grandes emoções. Alex então tem uma ideia mirabolante que é esconder que o socialismo alemão acabou transformando o quarto da mãe em um museu de memórias sobre aquele tempo. Mas será que ele conseguirá mentir pra sempre?
As descobertas culturais de um ocidente logo ali. A narrativa é brilhante em mostrar os impactos da crescente ocidentalização na visão de Alex e sua família. Ele consegue um emprego como instalador de antenas parabólicas e por meio do olhar do próximo vai tentando se encaixar em uma realidade nova, repleta de variáveis que ele nunca imaginara. Essa troca de ideologia política e seus rápidos impactos sociais, culturais e econômicos, chega ao mesmo tempo em que o protagonista encara a chegada do primeiro grande amor, uma enfermeira soviética que cuida de sua mãe, uma jovem que o ajuda a lidar com as transições desse momento.
Com a mentira precisando ser executada, através das suas mirabolantes criações para não deixar a mãe saber que o socialismo acabou, Alex acaba percebendo aos poucos que as descobertas culturais de um ocidente logo ali era uma questão de tempo e acaba criando todo um contexto como se daquela forma fosse a que ele gostaria que o rompimento acontecesse.
Há um olhar sobre a relação entre pais e filhos muito tocante. Um amor de um filho por sua mãe, a construção de uma família em meio a questões políticas importantes, um futuro promissor mas mesmo assim incerto repleto de laços quebrados onde a memória se torna uma peça importante do lembrar.
Adeus, Lênin! é muito mais que uma grande aula de história, é um filme que transborda as infinidades do amor, dos laços familiares em um mundo em constante modificações.