MATTHEW McCONAUGHEY NO AUGE DE SEU RENASCIMENTO ARTÍSTICO, MOSTRA QUE É UM GRANDE ATOR
O universo precisa de equilíbrio. E o universo cinematográfico é igual. Na semana passada tivemos duas estreias mais distante impossível de suas extremidades opostas. Sem Dor, Sem Ganho e Frances Ha. E nesse fim de semana o mesmo acontece com as estreias de O Casamento do Ano e Amor Bandido. Mas não se deixe enganar pelo título brasileiro, Mud é um dos melhores filmes do ano. Essa não é mais uma comédia romântica hollywoodiana dispensável, embora intrigue saber se esse era o desejo dos responsáveis por intitulá-lo.
Na verdade, trata-se de mais uma produção da chamada “McConaissance”, a era da renascença do ator Matthew McConaughey, abandonando a imagem (e os milhares de dólares) de galã em comédias rasas, para recobrar o título que recebeu assim que surgiu em cena: um dos atores mais promissores de sua geração. A renascença de McConaughey teve início em 2011 com O Poder e a Lei, e se consolidou em 2012, ano no qual o ator entregou nada menos do que cinco trabalhos significativos. Entre eles: Bernie – Quase um Anjo (de Richard Linklater), Killer Joe – Matador de Aluguel (de William Friedkin), Magic Mike (de Steven Soderbergh), o ainda inédito no Brasil Obsessão (The Paperboy, de Lee Daniels), e este Amor Bandido.
E a reviravolta na carreira do ator parece ter funcionado. Esse ano ele lança trabalhos com Martin Scorsese (O Lobo de Wall Street) e o comentado e elogiado Dallas Buyes Club, filme que gera falatório de indicações para McConaughey. O ator já tem agendado Interstellar, nova superprodução de Christopher Nolan, no qual será o protagonista. É seguro dizer que McConaughey se reinventou e está de volta. Em Amor Bandido, o ator cria um de seus personagens mais interessantes ao dar vida ao sujeito conhecido apenas como Mud.
Foragido da lei, e escondido numa pequena ilha numa parte pobre do Arkansas, o protagonista é descoberto por dois meninos de 14 anos. Logo uma amizade se desenvolve entre os três, em especial entre o criminoso e o jovem Ellis, vivido por Tye Sheridan (A Árvore da Vida). O sujeito logo lhes conta sua missão no local, entrar em contato com sua amada Juniper (Reese Witherspoon) e com ela fugir dali de barco, já que é justamente por causa dela que o sujeito encontra-se em tal condição de fugitivo.
McConaughey está simplesmente fantástico como o ambíguo personagem, e nos deixa descobrir ao lado dos jovens protagonistas, do que é realmente capaz. O ator consegue atingir uma grande abrangência em sua interpretação. Os meninos estão igualmente eficientes, a naturalidade com que interpretam reflete sua escolha para o projeto. Naturais do local, era exigido que soubessem andar de moto, barco e manusear todo tipo de ferramenta e veículo para um nível maior de credibilidade de jovens livres do interior. Além de Tye Sheridan, temos também Jacob Lofland, que faz um ótimo trabalho vivendo seu melhor amigo, Neckbone.
Essa é uma mudança para os projetos que Witherspoon tem escolhido recentemente também. E aqui ela demonstra que existe uma atriz debaixo da estrela de comédias-românticas. A atriz parece ter se inspirado no companheiro e seguirá em projetos de maior qualidade artística e dramática com Devil´s Knot. Ray McKinnon (Footloose, 2011) e Sarah Paulson (Virada no Jogo), que interpretam os pais do menino Ellis, estão igualmente ótimos e muito críveis como um casal passando por um momento difícil que acaba por atingir sua cria. E o elenco coadjuvante ainda conta com desempenhos satisfatórios de atores como Michael Shannon (O Homem de Aço), Sam Shepard (O Homem da Máfia), Joe Don Baker (Programa Animal) e Paul Sparks (da série Boardwalk Empire).
O diretor da obra não poderia deixar de ser mencionado. O jovem e autoral Jeff Nichols, do ótimo O Abrigo (um dos melhores e mais elogiados filmes de 2011), com Michael Shannon e Jessica Chastain (Mama), continua seu percurso como um dos melhores cineastas americanos da atualidade. Com Amor Bandido, Nichols dá mais um passo rumo a se tornar um grande nome, indispensável dentro do cinema, e um dos poucos que resiste como prova de que ainda existe qualidade (e muita) no cinema dos Estados Unidos.
Essa é uma história de amadurecimento e ensinamento, que correm numa via dupla entre os personagens principais. Uma história de amor, sobre como é ao mesmo tempo fácil e difícil desistir dos sonhos e objetivos. Emocionante, sincero e realístico, Amor Bandido é um desses filmes recheados de sensações, e que acima de tudo possuem a capacidade de transportar-nos para o local apresentado, longe de nossa realidade, como num piscar de olhos. São filmes assim que ainda nos fazem ter grande esperança na mágica do cinema.