Annabelle é apenas uma boneca medonha. Assumo que este foi o meu pensamento ao sair da cabine de imprensa deste novo filme de terror, com estreia marcada para a próxima quinta-feira, dia 09 de outubro. Ao analisar o filme internamente, os problemas de roteiro de Annabelle ficam evidentes: em Invocação do Mal, a boneca faz apenas uma participação como coadjuvante, canal para a presença do mal.
Não satisfeitos, os envolvidos no projeto resolveram produzir um spin-off, a febre atual do cinema no que podemos chamar de era ultra-pós-moderna, ou seja, um momento com grande público consumidor, poucas ideias diferenciadas e a queda da famigerada “originalidade”. As tramas que seguem o padrão spin-off aproveitam um acontecimento interno de um filme, ou um personagem, como no caso de Annabelle, para preencher as lacunas com uma nova história.
Nada contra o modelo, acho até uma boa saída para a configuração atual do cinema, mas é preciso investir mais em roteiro, indo além dos cuidados com a trilha sonora, a direção de arte e a atmosfera sombria.
Os filmes de terror estão na berlinda. Invocação do Mal, em 2013, mostrou-se um processo de oxigenação para o gênero, desgastado com as continuações de Jogos Mortais e com a falta de criatividade nas narrativas. Annabelle, subgênero do terror (filmes sobre bonecos assassinos ou malditos), aposta na história da boneca para assustar, mas recorre aos problemas de sempre no que tange aos ditames das continuações: nos aspectos internos, não consegue manter o clima do filme que serve como ponto de partida.
Invocação do Mal já começa arrepiando com um ótimo trabalho de som, com uma câmera que mostra apenas o necessário, e assim, mantém o espectador atento. Annabelle prolonga-se demais para dar o seu ponto de virada, se preocupa demais em explicar o que não queremos saber e pasmem, possui apenas três momentos realmente assustadores, e estes, se você já assistiu aos trailers ou spots, são previsíveis, pois estão todos nos parcos minutos destas chamadas publicitárias.
Com 98 minutos de produção, Annabelle é dirigido por John. R. Leonetti, responsável pela direção de fotografia de Invocação do Mal. Você, caro leitor, deve estar se perguntando os motivos para minha relação tão afetuosa com o citado Invocação do Mal. Antes de adentrar ainda mais na análise de Annabelle, preciso esclarecer: ano passado, o filme foi lançado e considerado por muitos como uma ousada aposta para o gênero. Muitos filmes tentam emular o sucesso de O Exorcista e não conseguem êxito. Com exceção do ótimo O Exorcismo de Emily Rose, Invocação do Mal foi a opção que mais aproximou-se do clássico com Linda Blair, haja vista a orquestração do horror e da maneira cuidadosa como os atores e demais profissionais conduziram o roteiro.
Annabelle vai na contramão, aposta nos sustos fáceis e não convence: para que, em nome de qualquer santidade, o diabo precisa de uma boneca para conseguir a alma de uma criança? A estratégia não convence. A boneca torna-se obsoleta e observem, desaparece da narrativa em alguns momentos, perdendo a sua função mínima de conduzir o “cão” rumo ao massacre de uma família. Há um quê de Chucky, há uma “pegada” Barbie, mas no final das contas, Annabelle deixou todas as expectativas despencarem, mas nem por isso eliminou as possibilidades para uma continuação.
Na trama, um casal se prepara para a chegada de sua primeira filha. No processo de estabelecimento no bairro e amizade com a vizinhança, marido e mulher se encontram numa situação bizarra: o casal vizinho é brutalmente atacado por dois jovens, oriundos de uma seita maligna. Por algum motivo os dois jovens acabam na casa do casal, partem para o ataque violento, são mortos pela polícia, mas os danos parecem irreversíveis: antes de morrer, a mulher da seita satânica agarra-se à Annabelle, e assim, a boneca torna-se recipiente para o mal (o diabo).
Pronto, daí em diante, a boneca é jogada no lixo, mas retorna para o acervo do casal, misteriosamente, estes, já morando em outra cidade e tentando recomeçar a vida. Neste processo narrativo, todos os ícones do terror de base católica são apresentados: esculturas bizarras, livros de ocultismo, coadjuvantes com histórias de horror para contar, pregações de padres e as infames perturbações de Satanás, membro-chefe do inferno que não deixa o jovem casal em paz. São muitas as considerações sobre este filme, mas o espaço curto e a dinamicidade do jornalismo cultural me permitem apenas a crítica ligeira. Assistam, reflitam e depois retornem para o nosso habitual debate. Há espaço de sobra na esfera virtual e a crítica só se tornará completa com a participação de vocês: leitores, espectadores e internautas.