domingo , 22 dezembro , 2024

Após repercussão negativa, categoria Melhor Filme Popular é incerta no Oscar

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O mundo do Cinema foi pego de surpresa no dia 8 de agosto. Em uma decisão revolucionária, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas anunciou a inclusão de uma nova categoria na cerimônia do Oscar: “Best Popular Movie”, ou como gosto de chamar: “O Campeão do Povo”.

Hoje, a Acadêmia anunciou que decidiu adiar a criação da categoria após toda a polêmica, e irá estudar de maneira melhor planejada se incluirá ou não as mudanças.

“A série de reações que recebemos em relação a criação da categoria Melhor Filme Popular foi ouvida, e percebemos que realmente precisamos discutir mais profundamente com nossos membros. Fazemos mudanças no Oscar anualmente e queremos continuaremos a evoluir, enquanto ainda respeitando o maravilhoso legado dos últimos 90 anos”, afirmou o CEO da Academia, Dawn Hudson.



Sobre a categoria Melhor Filme Popular 

Ao longo dos anos, o Oscar seguiu uma linha de prestígio crescente, não à toa a cerimônia é vendida como a “Premiação Máxima do Cinema”. Nos últimos tempos, entretanto, essa curva veio decaindo, assim como a audiência e o interesse do público pelo evento. E quando a audiência vai lá embaixo, os patrocinadores deixam de ver aquilo como um negócio lucrativo e acabam desistindo de investir na grande festa. Por conta disso, os organizadores ficaram desesperados e passaram a tentar de quase tudo para fazer do Oscar algo chamativo para as novas gerações.

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Não é por acaso a crescente inclusão de filmes que exaltam ou trabalham com a diversidade de gênero, raça e classes sociais na premiação. Uma das maiores – senão a maior – reclamações era justamente a falta de filmes com protagonistas negros, latinos, mulheres, gays, trans e afins sendo indicados. A academia resistiu até o último momento, mas acabou abrindo um pouco a cabeça para esses filmes, antes esnobados.

Eles, aos poucos, pareciam estar incluindo fatores para agradar e atrair esse público de viés mais de esquerda para a cerimônia. Só que o mundo está polarizado, e quanto mais a Academia dava chances para um público diverso, mais o “homem branco e rico” ficava frustrado.

Entendo que deva ser frustrante para a Academia. Houve muita relutância para eles abrirem minimante a cabeça para trabalhos que fugissem dos padrões, os chamados “filmes de Oscar”. E quando eles começam a aceitar esse começo mínimo de uma premiação baseada na qualidade, não na cor ou gênero do elenco, a outra parte da audiência se mostra resistente e relutante a ela.

Junto a isso, a “comunidade nerd” ganhou muita voz na internet e muitos representantes no cinema. Os Blockbusters têm mantido os cofres dos estúdios cheios e esse tipo de público, esse tipo de dinheiro, não pode ser ignorado. Os Geeks enchem o saco todo ano pedindo pelo menos um filme de herói no Oscar. Por muito tempo, eles foram postos em segundo plano. Agora não dá mais.

E nessa onda de querer agradar a todos, eles vieram com essa ideia de “Jênio” de criar uma categoria para filme mais “popular”. O que pode parecer uma ideia inocente se mostra um grandessíssimo tiro no pé.

Mas apesar de burra, ela não veio do nada. Foi algo pensado e discutido muita gente antes de ser aprovada. E não precisa estar muito por dentro pra saber o que levou a Academia a amarrar essa corda no pescoço… estamos falando de dois filmes muito populares. Um do ano passado, outro desse ano. Dois arrasa-quarteirões de mesma temática: “Corra!” e “Pantera Negra”.

A simples indicação do suspense/ terror da Blumhouse foi o suficiente para encher a internet de Mimimi proveniente daqueles que chamam os outros de “Mimizentos”. Quando o filme foi agraciado com o prêmio de Melhor Roteiro Original… meu amigo, o choro foi tão grande que seria capaz de encher a Cantareira por 10 verões seguidos.

Essa quantidade considerável de reações negativas direcionou TODOS os olhares da Academia para o fenômeno de 2018: Mbappé Pantera Negra. O sucesso estrondoso da aventura africana da Marvel deixou os jurados do Oscar de cabelos em pé! Afinal, se ele não for indicado a nada ou ainda for indicado, mas não vencer nenhuma categoria, as críticas serão pesadíssimas em cima dos coroas do júri. Foi um blockbuster, mas muito mais que “apenas” um filme, foi um fenômeno cultural! A mobilização provocada por T’Challa e sua turma foi algo impressionante.

Eu, particularmente, não o indicaria para nenhuma categoria principal (apesar de achar que a estatueta de Melhor Canção Original já está no papo). Mesmo sendo um fenômeno cultural, ele segue a estrutura de alguns outros filmes da Marvel. E essa é minha opinião impopular. Entretanto, há muita gente por aí que vê a indicação de Pantera Negra a Melhor Filme como obrigação. E é algo que dá para entender, o que não dá pra entender é o Oscar de Melhor Atriz indo pra Gwyneth Paltrow em 1999.

Enfim, a saída mais fácil para não ser destruída na internet, seja pela direita ou pela esquerda, foi adotar a categoria de melhor filme popular. O problema é que isso levanta algumas questões debatidas há décadas!

O QUE É UM FILME POPULAR? POR QUE UM “FILME POPULAR” NÃO PODE SER INDICADO A MELHOR FILME? FILMES “CULT” VALEM MAIS QUE UM “FILME POPULAR”? POR QUE A OPINIÃO DA ACADEMIA RETRÓGRADA DÁ MAIS IMPORTÂNCIA PARA OS “FILMES DE ARTE” DO QUE PARA OS DO “POVÃO”?

Entendem? É surreal. Numa aparente tentativa de evitar problemas para eles, a Academia instaurou uma falsa democracia cinematográfica que vai separar e elitizar ainda mais certos filmes e rotular de maneira negativa outros.

Wall-E (2008) é um ótimo exemplo disso. O longa-animado recebeu SEIS indicações no Oscar 2009 (Melhor Roteiro, Melhor Canção, Trilha Sonora, Melhor Mixagem de Som, Melhor Edição de Som e Melhor Longa-Metragem de Animação). É um filme conduzido por um protagonista de vocabulário limitado a pouquíssimas palavras, recheado de situações “Kubrickianas” e tem um plot maravilhoso! Ele foi indicado a basicamente tudo, menos “Melhor Longa-Metragem”. Porém, venceu o segmento de “filme animado”. E aí, Wall-E deixa de ser um filme de arte só por ser feito em animação 3D? Ele é bom o suficiente pra vencer um filo, mas não é o bastante para os jurados o colocarem na “categoria principal”?  Na época, muito se falou em preconceito da Academia contra filmes animados ou direcionados a crianças.

Se eles queriam evitar discussões ou deixar a cerimônia mais acessível, erraram feio. Essa categoria, que deve ter Pantera Negra como vencedor, servirá apenas como paliativo. Filmes de heróis passarão a ganhar prêmios, com certeza. Mas todo esse começo de avanço iniciado nos últimos anos será jogado fora! Se preparem para ver filmes excelentes sendo subjugados a “Campeões do Povo” para que a Academia não precise fazer uma cerimônia mais justa e igualitária.

O humorista Roberto Bolaños, o querido Chaves, costumava dizer que não sabia a receita para o sucesso, mas sabia a receita para o fracasso: querer agradar a todos. Com essa nova “categoria”, o Oscar cavou sua própria cova. Cabe a nós assistir ao enterro ou debater para tentar mudar enquanto ainda há tempo.

A próxima Cerimônia do Oscar acontece dia 24 de fevereiro de 2019.

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Hoje, a Acadêmia anunciou que decidiu adiar a criação da categoria após toda a polêmica, e irá estudar de maneira melhor planejada se incluirá ou não as mudanças.

“A série de reações que recebemos em relação a criação da categoria Melhor Filme Popular foi ouvida, e percebemos que realmente precisamos discutir mais profundamente com nossos membros. Fazemos mudanças no Oscar anualmente e queremos continuaremos a evoluir, enquanto ainda respeitando o maravilhoso legado dos últimos 90 anos”, afirmou o CEO da Academia, Dawn Hudson.

Sobre a categoria Melhor Filme Popular 

Ao longo dos anos, o Oscar seguiu uma linha de prestígio crescente, não à toa a cerimônia é vendida como a “Premiação Máxima do Cinema”. Nos últimos tempos, entretanto, essa curva veio decaindo, assim como a audiência e o interesse do público pelo evento. E quando a audiência vai lá embaixo, os patrocinadores deixam de ver aquilo como um negócio lucrativo e acabam desistindo de investir na grande festa. Por conta disso, os organizadores ficaram desesperados e passaram a tentar de quase tudo para fazer do Oscar algo chamativo para as novas gerações.

Não é por acaso a crescente inclusão de filmes que exaltam ou trabalham com a diversidade de gênero, raça e classes sociais na premiação. Uma das maiores – senão a maior – reclamações era justamente a falta de filmes com protagonistas negros, latinos, mulheres, gays, trans e afins sendo indicados. A academia resistiu até o último momento, mas acabou abrindo um pouco a cabeça para esses filmes, antes esnobados.

Eles, aos poucos, pareciam estar incluindo fatores para agradar e atrair esse público de viés mais de esquerda para a cerimônia. Só que o mundo está polarizado, e quanto mais a Academia dava chances para um público diverso, mais o “homem branco e rico” ficava frustrado.

Entendo que deva ser frustrante para a Academia. Houve muita relutância para eles abrirem minimante a cabeça para trabalhos que fugissem dos padrões, os chamados “filmes de Oscar”. E quando eles começam a aceitar esse começo mínimo de uma premiação baseada na qualidade, não na cor ou gênero do elenco, a outra parte da audiência se mostra resistente e relutante a ela.

Junto a isso, a “comunidade nerd” ganhou muita voz na internet e muitos representantes no cinema. Os Blockbusters têm mantido os cofres dos estúdios cheios e esse tipo de público, esse tipo de dinheiro, não pode ser ignorado. Os Geeks enchem o saco todo ano pedindo pelo menos um filme de herói no Oscar. Por muito tempo, eles foram postos em segundo plano. Agora não dá mais.

E nessa onda de querer agradar a todos, eles vieram com essa ideia de “Jênio” de criar uma categoria para filme mais “popular”. O que pode parecer uma ideia inocente se mostra um grandessíssimo tiro no pé.

Mas apesar de burra, ela não veio do nada. Foi algo pensado e discutido muita gente antes de ser aprovada. E não precisa estar muito por dentro pra saber o que levou a Academia a amarrar essa corda no pescoço… estamos falando de dois filmes muito populares. Um do ano passado, outro desse ano. Dois arrasa-quarteirões de mesma temática: “Corra!” e “Pantera Negra”.

A simples indicação do suspense/ terror da Blumhouse foi o suficiente para encher a internet de Mimimi proveniente daqueles que chamam os outros de “Mimizentos”. Quando o filme foi agraciado com o prêmio de Melhor Roteiro Original… meu amigo, o choro foi tão grande que seria capaz de encher a Cantareira por 10 verões seguidos.

Essa quantidade considerável de reações negativas direcionou TODOS os olhares da Academia para o fenômeno de 2018: Mbappé Pantera Negra. O sucesso estrondoso da aventura africana da Marvel deixou os jurados do Oscar de cabelos em pé! Afinal, se ele não for indicado a nada ou ainda for indicado, mas não vencer nenhuma categoria, as críticas serão pesadíssimas em cima dos coroas do júri. Foi um blockbuster, mas muito mais que “apenas” um filme, foi um fenômeno cultural! A mobilização provocada por T’Challa e sua turma foi algo impressionante.

Eu, particularmente, não o indicaria para nenhuma categoria principal (apesar de achar que a estatueta de Melhor Canção Original já está no papo). Mesmo sendo um fenômeno cultural, ele segue a estrutura de alguns outros filmes da Marvel. E essa é minha opinião impopular. Entretanto, há muita gente por aí que vê a indicação de Pantera Negra a Melhor Filme como obrigação. E é algo que dá para entender, o que não dá pra entender é o Oscar de Melhor Atriz indo pra Gwyneth Paltrow em 1999.

Enfim, a saída mais fácil para não ser destruída na internet, seja pela direita ou pela esquerda, foi adotar a categoria de melhor filme popular. O problema é que isso levanta algumas questões debatidas há décadas!

O QUE É UM FILME POPULAR? POR QUE UM “FILME POPULAR” NÃO PODE SER INDICADO A MELHOR FILME? FILMES “CULT” VALEM MAIS QUE UM “FILME POPULAR”? POR QUE A OPINIÃO DA ACADEMIA RETRÓGRADA DÁ MAIS IMPORTÂNCIA PARA OS “FILMES DE ARTE” DO QUE PARA OS DO “POVÃO”?

Entendem? É surreal. Numa aparente tentativa de evitar problemas para eles, a Academia instaurou uma falsa democracia cinematográfica que vai separar e elitizar ainda mais certos filmes e rotular de maneira negativa outros.

Wall-E (2008) é um ótimo exemplo disso. O longa-animado recebeu SEIS indicações no Oscar 2009 (Melhor Roteiro, Melhor Canção, Trilha Sonora, Melhor Mixagem de Som, Melhor Edição de Som e Melhor Longa-Metragem de Animação). É um filme conduzido por um protagonista de vocabulário limitado a pouquíssimas palavras, recheado de situações “Kubrickianas” e tem um plot maravilhoso! Ele foi indicado a basicamente tudo, menos “Melhor Longa-Metragem”. Porém, venceu o segmento de “filme animado”. E aí, Wall-E deixa de ser um filme de arte só por ser feito em animação 3D? Ele é bom o suficiente pra vencer um filo, mas não é o bastante para os jurados o colocarem na “categoria principal”?  Na época, muito se falou em preconceito da Academia contra filmes animados ou direcionados a crianças.

Se eles queriam evitar discussões ou deixar a cerimônia mais acessível, erraram feio. Essa categoria, que deve ter Pantera Negra como vencedor, servirá apenas como paliativo. Filmes de heróis passarão a ganhar prêmios, com certeza. Mas todo esse começo de avanço iniciado nos últimos anos será jogado fora! Se preparem para ver filmes excelentes sendo subjugados a “Campeões do Povo” para que a Academia não precise fazer uma cerimônia mais justa e igualitária.

O humorista Roberto Bolaños, o querido Chaves, costumava dizer que não sabia a receita para o sucesso, mas sabia a receita para o fracasso: querer agradar a todos. Com essa nova “categoria”, o Oscar cavou sua própria cova. Cabe a nós assistir ao enterro ou debater para tentar mudar enquanto ainda há tempo.

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