QUEBRANDO A BANCA VIRTUAL
Aposta Máxima (Runner, Runner no original) é um suspense relativamente interessante, que mesmo sem ter sido esse o seu propósito de existir inicialmente, após o resultado soa como um produto para capitalizar em cima do potencial do músico (e agora ator) Justin Timberlake (O Preço do Amanhã) como protagonista. No filme, o astro pop vive Richie Furst, um jovem apostador virtual buscando lucrar um pouquinho. Ao ser trapaceado num site, o sujeito resolve ir reclamar pessoalmente com o dono da empresa, Ivan Block, personagem do ator, e agora diretor de mão cheia, Ben Affleck (Argo).
O empresário e aspirante a magnata vê no protagonista potencial, e resolve alistá-lo como funcionário, e eventualmente seu braço direito nos negócios. O que o personagem principal não contava, é que nesse ramo as coisas não parecem o que são, e mais de uma vez sua vida correrá risco. Desde agentes do FBI fechando o cerco até corruptos surrando-o, o personagem de Timberlake percebe que definitivamente esse não é um emprego de nove as cinco. Por essa premissa já podemos perceber que Aposta Máxima não é das produções mais originais, e remete desde A Firma (1993), até filmes mais recentes como Quebrando a Banca (2008).
Aposta Máxima não é um filme ruim. Entretém e diverte enquanto você está assistindo, e com apenas 91 minutos de exibição, não chega a incomodar nem um pouco. O grande problema é que a obra é o que o grande crítico Roger Ebert chamava de chiclete para o cérebro, uma vez que seu gosto tenha passado, realmente não conseguimos lembrar uma cena sequer. Esse é um filme extremamente genérico e esquecível. Não existe um único momento de grande diferencial para as inúmeras outras obras semelhantes e ela. Nada aqui gruda. Embora Affleck (em especial, vivendo seu primeiro vilão) e Timbelake estejam bem em cena, todo o resto não os ajuda muito.
A britânica Gemma Arterton (João e Maria – Caçadores de Bruxas), a terceira em destaque na trama, personifica a síndrome do belo objeto de cena, um dos clichês mais irritantes de produções hollywoodianas desse tipo, nas quais belas mulheres servem apenas para viver romances descartáveis com os protagonistas, parecerem lindas, e mais nada. Se até mesmo James Bond já deu espaço para suas coadjuvantes brilharem em sua nova fase, vide Cassino Royale. Personagens assim são um grande retrocesso para atrizes. Fato que chama a atenção negativamente para o roteiro da dupla Brian Koppelman e David Levien (Cartas na Mesa, O Júri e Confissões de uma Garota de Programa).
Fora isso, um momento chave na trama não bate. A cena envolve um grande investidor, que Affleck e Timberlake desejam chantagear para que trabalhe com eles. O sujeito é um notório mulherengo, mas casado. E com um plano digno da mente mais infantil, o sujeito é levado ao mar num iate ao lado de beldades treinadas para seduzi-lo. Ao cair em tentação, chegam as fotos do ocorrido, com os papéis para que o sujeito irredutível faça o acordo. Simples não? Aposta Máxima é dirigido pelo jovem Brad Furman, cujo trabalho anterior foi o vastamente superior O Poder e a Lei (2011), com Matthew McConaughey.
A produção é de Leonardo DiCaprio, um astro que não se envolve em qualquer tipo de projeto. Por todos esses nomes, esperava-se que Aposta Máxima fosse muito mais afiado, inteligente e diferenciado. O resultado final soa como uma obra passageira e despretensiosa, dessas que não recomendamos de verdade aos amigos. Justin Timberlake veio ao Brasil para o Rock in Rio, e em sua passagem por terras cariocas tirou tempo para promover o filme, e louvar cineastas como David Fincher e os irmãos Coen. No fundo Timberlake entende as regras do jogo, e sabe que infelizmente nem só de cineastas desse porte vive um ator.