Cuidado: muitos spoilers à frente.
Tem sido uma longa jornada para a franquia ‘Pânico’ – e, quando todos acreditavam que ela tinha terminado, um novo capítulo da saga slasher chega aos cinemas e prepara o terreno para futuros títulos que têm toda a chance de acontecer.
Dirigido por Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillet, e contando com o roteiro de James Vanderbilt e Guy Busick, o filme recebeu diversas críticas elogiando o caráter nostálgico e promissor da narrativa, que apresentou ao público uma nova geração de vítimas e inverteu os papéis a que estávamos acostumados nas incursões predecessoras. Em outras palavras, Sidney Prescott (Neve Campbell), Gale Weathers (Courteney Cox) e Dewey Riley (David Arquette) não carregam mais o protagonismo que tinham no passado, e sim funcionam como alicerces para que personagens como Sam (Melissa Barrera), Tara (Jenna Ortega) e Mindy (Jasmin Savoy Brown) roubem os holofotes e percebam que são apenas a ponta de um iceberg de reviravoltas que tem um potencial quase ilimitado de exploração.
É possível até dizer que a estrutura da trama é mais corajosa do que os longas anteriores, equiparando-se à refrescante e mortal aventura da obra de 1996, comandada pelo lendário Wes Craven. Ao longo de quase duas horas de duração, Sidney, Gale e Dewey não dão as caras logo no primeiro ato, mas deixam espaço considerável para que os estreantes cresçam e se desenvolvam fora dos padrões formulaicos do gênero, fomentando personalidades que dialoguem com os espectadores e que façam com que nos importemos com seus desejos e vontades. É nesse âmbito que os personagens-legado, como são chamados, não estão livres de serem mortos pelo serial killer – ora, Dewey, em um confronto lendário com Ghostface, é brutalmente assassinado e prova que esse capítulo é apenas o começo de uma provável série que pode inclusive lapidar vícios estéticos.
Sam é imposta como uma versão mais “atualizada” de Sidney – enquanto Sidney retorna, junto a Gale, como mentora de jovens que não têm ideia do motivo de estarem sendo caçados por um homicida mascarado. As personagens vividas por Campbell e Cox nem ao menos se chocam com o fato de Ghostface retornar dez anos mais tarde para Woodsboro, prontas para atacarem e colocarem fim a mais um reino de terror e caos que se desenrola. Por essa razão, todos os motivos se canalizam para Sam, a suposta final girl com passado traumático que deve compreender como suas ações desencadearam esse massacre: ela é filha de Billy Loomis (Skeet Ulrich), o Ghostface original (e é tratada como uma psicopata em potencial); ela é traída pelo namorado, Richie (Jack Quaid), que se alia a Amber (Mikey Madison) para matar seus amigos; e, no topo de tudo isso, deve lidar com experiências de quase morte e uma interminável jornada para proteger a si mesmo e a irmã (Ortega).
Quando Richie e Amber finalmente revelam ser os serial killers, explicam os motivos que os levaram a cometer tantas atrocidades – e, apesar das explanações seguirem os passos metalinguísticos da franquia em si, apostam fichas demais em uma paixão pelo filme original que torna tudo muito frenético. Eles se baseiam nos eventos de ‘Pânico 4’ para construir uma narrativa que seja melhor que a anterior e que realmente prometa que essa geração se torne a protagonista. É bem provável que tenhamos dado adeus a Sidney e a Gale, mesmo que elas não tenham morrido, para que Sam, Tara e os outros possam ter o seu momento de brilhar. Talvez o aspecto mais interessante seja o fato de Richie e Amber quererem transformar Sam na vilã, utilizando as ações realizadas pelo pai para comprovar sua tendência à psicopatia.
Na grand finale, os assassinos enfrentam a própria ruína – e Sam contraria as expectativas das final girls que já foram levadas às telonas, tomando uma adaga em mãos e impiedosamente fazendo com que Richie pague pelo que fez (uma atitude um tanto quanto “estranha”, considerando que Sam é a heroína). Mas tudo é compreendido de forma considerável quando percebemos que Sam é “guiada” pelo fantasma do pai e extravasa sua raiva por quase perder o restante da família com a mesma arma que Billy utilizou duas décadas e meia mais cedo – ora, até o modo de limpar a faca cheia de sangue é similar.
Considerando que nenhum elemento existe sem segundas intenções, uma das teorias que corrobore com títulos futuros é o último frame do longa-metragem, em que mais um Ghostface aparece. Será que Sam pode ser a próxima homicida? Pensar nisso parece uma loucura, mas, enquanto ‘Pânico’ adotou um tom mais dramático e trágico e se afastou da mera superexposição slasher, não ficaria surpreso em ver uma investida mais psicológica, que mostre apreço por uma camada diferente do que já vimos na saga. A proposta é arriscada e, por isso, nos leva a uma outra plausível teoria: Tara.
A irmã mais nova de Sam foi uma das mais caçadas por Ghostface no filme e quase morreu algumas vezes, sendo esfaqueada e espancada diversas vezes – e servindo como o deus ex machina que deu fim à vida de Amber com um tiro certeiro. É possível que Tara seja o alvo dos corolários de um trauma como este e, mergulhando num ciclo de caótica loucura, adote o alter-ego do serial killer para dar continuidade ao sangrento legado de um dos antagonistas mais famosos da cultura pop.
Ainda há uma terceira opção, que envolve a sutil aparição de Kirby (Hayden Panettiere), a única sobrevivente do grupo de jovens do longa anterior. E, apesar da transformação da personagem em uma assassina ser uma jogada estratégia e inteligente, também na pegada dos traumas, o problema aqui reside no retorno de Panettiere, que está engolfada em um relacionamento abusivo e declarou uma aposentadoria do mundo da atuação (temporária, assim esperamos).
É admissível que até um mastermind esteja por traz da saga, escondendo-se nas sombras até ser a hora certa de atacar. Qualquer que seja a linha adotada pelos realizadores, sabemos que será com a mais pura das intenções – e, mesmo que o futuro não seja concreto, já despertou nos fãs uma série de teorias que podem ser aproveitadas para re-eternizar a figura de Ghostface na história.