sexta-feira , 22 novembro , 2024

Artigo | Conheça ‘The Room’, considerado um dos PIORES filmes da história do cinema

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A ideia de “pior filme do mundo” é praticamente inexistente, principalmente se considerarmos que a experiência cinematográfica é subjetiva para toda e qualquer pessoa. Deve-se levar em conta inclusive a memória afetiva que tal espectador carrega no momento em que as luzes se apagam e determinada obra começa a ser transmitida nas telas, o que, na maioria das vezes, impacta na recepção do público em relação a alguma história – por mais ruim que ela seja em teoria. Entretanto, há um longa-metragem que consegue superar todas as expectativas e que faz jus à posição que ocupa – e essa “obra-prima” às avessas é intitulada The Room. 

É bem provável que grande parte das pessoas já tenha ouvido falar dele. O drama – se é que podemos chamá-lo disso – foi produzido, dirigido e estrelado em 2003 pelo inesquecível Tommy Wiseau, ainda que essa memorabilidade exista por todos os motivos errados. Esse foi a sua única investida para o mercado do entretenimento norte-americano, e não é nenhuma surpresa que o diretor tenha se aposentado quase definitivamente após promover seu “filho”: absolutamente cada um dos aspectos que compõe uma obra audiovisual, desde a pré-produção até o momento em que a tela se apaga mais uma vez indicando seu término, é errado. E não, não estou exagerando ao dizer que não há um ponto sequer ou uma simples faísca de esperança que se salve do completo fracasso e vergonha alheia que sentimos após os quase 100 minutos finalmente chegarem a uma conclusão risível. 



Primeiro, devemos pensar ao redor de que a trama gira – e a resposta não poderia ser outra além de indefinível. É claro que o título premedita certas possibilidades, visto que faz menção ao cenário principal da história (um pequeno e claustrofóbico apartamento), mas se pensarmos no escopo geral, nas motivações dos personagens e até mesmo como seus arcos são construídos, entramos em um beco sem saída e simplesmente permanecemos lá. Temos algumas figuras soltas que habitam as construções cênicas, mas que se portam de forma tão mecânica que chega a ser angustiante suas expressividades tão presentes quanto uma porta. O protagonista Johnny (Wiseau) vive junto com sua namorada/futura esposa Lisa (Juliette Danielle). Os dois têm alguns amigos em comum. E, bom… É isso. 

Não há uma linha narrativa a ser seguida, não há uma cronologia e nem mesmo algo que permite o mínimo de conexão ou aceitação da audiência em relação aos personagens. E definitivamente a estética escolhida pelo diretor ajuda a esse total afastamento: o escopo imagético é horrível. Pífio, por assim dizer. Wiseau opta por mostrar de forma quase obrigatória cada um dos acontecimentos que se desenrolam: se um dos personagens enche o copo, a câmera se isola em planos detalhes para mostrar todos os movimentos (desde o abrir da garrafa até a ingestão do líquido); caso haja um diálogo entre mais de duas pessoas, as reações se tornam extremamente saturadas mais uma vez pelo uso de enquadramentos fechados, prezando pelo começo e término das falas antes do brusco corte para o próximo que fala. 

Qualquer criação mais ousada é inexistente. Não há montagens paralelas, quebras de cronologia, paralelismos cênicos e nem mesmo o clássico misè-en-scene parecem encontrar espaço em uma fórmula endossada e inquebrável. É quase impossível dividir o longa em atos, visto que os três se mesclam em uma amálgama insuportável de ser acompanhada com a seriedade necessárias – seriedade essa que infelizmente tira ainda mais o pequeno brilho que The Room poderia ter. Mas ao que tudo indica, ao menos à prima-vista, a obra se leva muito a sério e tenta ser um drama psicológico-familiar com inúmeras tramas que deveriam servir como bases mais complexas para a construção dos protagonistas. Levar isso em consideração é, sem dúvida, um dos equívocos mais drásticos a se cometer: se você procura ter um pouco de diversão com essa “rendição cinematográfica”, não o encare como uma iteração séria. 

Há um certo vício de linguagem no começo do primeiro ato que deixa sua marca de forma definitiva: Lisa parece não estar contente com sua atual situação e busca sensações novas ao trair seu companheiro com o melhor amigo Mark (Greg Sestero). Isso já premedita o quê? Cenas picantes. Cada sequência de sexo segue escolhas identitárias que se assemelham a videoclipes românticos e clichês, incluindo as transições em cross-fade e a captura de diversos planos alternados entre gerais, médios e fechados que tentam transpassar intimidade e sensualidade, mas acabam sendo extremamente cômicas. 

Agora vamos às partes mais dolorosas: as atuações. Não sei de que modo posso começar a analisar as “incríveis” performances dos atores e atrizes que compõe tal obra. Primeiramente, é necessário reafirmar que o roteiro, também escrito por Wiseau, não ajuda nem um pouco quando o quesito é respaldar aqueles que irão encarnar os personagens. As falas são autoexplicativas demais, e são proferidas com uma linearidade e mediocridade puras. Todos ali são essencialmente canastrões e tentam realmente arquitetar alguns momentos de catarse que são falsas, artificiais e que, ao invés de divertirem, incomodam até a última gota. Há uma sequência em particular em que o diretor, que como supracitado dá vida ao protagonista, abre a porta da cobertura dizendo “eu não a machuquei. Eu não… Ah, oi Mark!” de modo tão infantilizado que chega a ser surreal – aliás, em diversos momentos me perguntei se o elenco não havia tomado algumas doses de medicamentos para poder atuar com tamanha… Excentricidade.

The Room não chega nem mesmo a ser engraçado, e sim doloroso. É muito válido que Wiseau entenda o completo fracasso de sua homenagem ao sonho americano e diga mesmo assim que ele conseguiu alcançar seu objetivo. Realmente conseguiu – e garanto que ficará marcado na História durante muito, muito tempo. 

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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É bem provável que grande parte das pessoas já tenha ouvido falar dele. O drama – se é que podemos chamá-lo disso – foi produzido, dirigido e estrelado em 2003 pelo inesquecível Tommy Wiseau, ainda que essa memorabilidade exista por todos os motivos errados. Esse foi a sua única investida para o mercado do entretenimento norte-americano, e não é nenhuma surpresa que o diretor tenha se aposentado quase definitivamente após promover seu “filho”: absolutamente cada um dos aspectos que compõe uma obra audiovisual, desde a pré-produção até o momento em que a tela se apaga mais uma vez indicando seu término, é errado. E não, não estou exagerando ao dizer que não há um ponto sequer ou uma simples faísca de esperança que se salve do completo fracasso e vergonha alheia que sentimos após os quase 100 minutos finalmente chegarem a uma conclusão risível. 

Primeiro, devemos pensar ao redor de que a trama gira – e a resposta não poderia ser outra além de indefinível. É claro que o título premedita certas possibilidades, visto que faz menção ao cenário principal da história (um pequeno e claustrofóbico apartamento), mas se pensarmos no escopo geral, nas motivações dos personagens e até mesmo como seus arcos são construídos, entramos em um beco sem saída e simplesmente permanecemos lá. Temos algumas figuras soltas que habitam as construções cênicas, mas que se portam de forma tão mecânica que chega a ser angustiante suas expressividades tão presentes quanto uma porta. O protagonista Johnny (Wiseau) vive junto com sua namorada/futura esposa Lisa (Juliette Danielle). Os dois têm alguns amigos em comum. E, bom… É isso. 

Não há uma linha narrativa a ser seguida, não há uma cronologia e nem mesmo algo que permite o mínimo de conexão ou aceitação da audiência em relação aos personagens. E definitivamente a estética escolhida pelo diretor ajuda a esse total afastamento: o escopo imagético é horrível. Pífio, por assim dizer. Wiseau opta por mostrar de forma quase obrigatória cada um dos acontecimentos que se desenrolam: se um dos personagens enche o copo, a câmera se isola em planos detalhes para mostrar todos os movimentos (desde o abrir da garrafa até a ingestão do líquido); caso haja um diálogo entre mais de duas pessoas, as reações se tornam extremamente saturadas mais uma vez pelo uso de enquadramentos fechados, prezando pelo começo e término das falas antes do brusco corte para o próximo que fala. 

Qualquer criação mais ousada é inexistente. Não há montagens paralelas, quebras de cronologia, paralelismos cênicos e nem mesmo o clássico misè-en-scene parecem encontrar espaço em uma fórmula endossada e inquebrável. É quase impossível dividir o longa em atos, visto que os três se mesclam em uma amálgama insuportável de ser acompanhada com a seriedade necessárias – seriedade essa que infelizmente tira ainda mais o pequeno brilho que The Room poderia ter. Mas ao que tudo indica, ao menos à prima-vista, a obra se leva muito a sério e tenta ser um drama psicológico-familiar com inúmeras tramas que deveriam servir como bases mais complexas para a construção dos protagonistas. Levar isso em consideração é, sem dúvida, um dos equívocos mais drásticos a se cometer: se você procura ter um pouco de diversão com essa “rendição cinematográfica”, não o encare como uma iteração séria. 

Há um certo vício de linguagem no começo do primeiro ato que deixa sua marca de forma definitiva: Lisa parece não estar contente com sua atual situação e busca sensações novas ao trair seu companheiro com o melhor amigo Mark (Greg Sestero). Isso já premedita o quê? Cenas picantes. Cada sequência de sexo segue escolhas identitárias que se assemelham a videoclipes românticos e clichês, incluindo as transições em cross-fade e a captura de diversos planos alternados entre gerais, médios e fechados que tentam transpassar intimidade e sensualidade, mas acabam sendo extremamente cômicas. 

Agora vamos às partes mais dolorosas: as atuações. Não sei de que modo posso começar a analisar as “incríveis” performances dos atores e atrizes que compõe tal obra. Primeiramente, é necessário reafirmar que o roteiro, também escrito por Wiseau, não ajuda nem um pouco quando o quesito é respaldar aqueles que irão encarnar os personagens. As falas são autoexplicativas demais, e são proferidas com uma linearidade e mediocridade puras. Todos ali são essencialmente canastrões e tentam realmente arquitetar alguns momentos de catarse que são falsas, artificiais e que, ao invés de divertirem, incomodam até a última gota. Há uma sequência em particular em que o diretor, que como supracitado dá vida ao protagonista, abre a porta da cobertura dizendo “eu não a machuquei. Eu não… Ah, oi Mark!” de modo tão infantilizado que chega a ser surreal – aliás, em diversos momentos me perguntei se o elenco não havia tomado algumas doses de medicamentos para poder atuar com tamanha… Excentricidade.

The Room não chega nem mesmo a ser engraçado, e sim doloroso. É muito válido que Wiseau entenda o completo fracasso de sua homenagem ao sonho americano e diga mesmo assim que ele conseguiu alcançar seu objetivo. Realmente conseguiu – e garanto que ficará marcado na História durante muito, muito tempo. 

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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