quinta-feira , 21 novembro , 2024

Artigo | Fanatismo religioso e secularização: o final explicado de ‘A Primeira Profecia’

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Cuidado: muitos spoilers à frente.

Uma das franquias mais icônicas do terror ganhou um novo capítulo no último dia 04 de abril com o lançamento de A Primeira Profecia – que se passa anos antes do filme original, A Profecia, lançado em 1976.



Dirigido por Arkasha Stevenson em sua estreia no circuito de longas-metragens, o enredo acompanha uma jovem noviça estadunidense chamada Margaret Dalino (Nell Tiger Free), que é convocada por um Cardeal para trabalhar em um orfanato só para meninas em Roma antes de jurar seus votos como freira. Entretanto, conforme os dias passam, ela descobre que tanto a Abadia onde trabalha quanto as freiras que lá moram escondem um segredo obscuro que envolve o nascimento do Anticristo.

Levando em conta a história do título original, é apenas óbvio imaginar que a história da pré-sequência explora o modo como o Anticristo seria trazido ao mundo – explorando temas como o fanatismo religioso e a secularização. É notável como Stevenson nos joga diversas dicas do que podemos esperar da narrativa e de que forma as reviravoltas irão se desenrolar.

Logo de cara, podemos levar em consideração a época em que a trama é ambientada. No começo dos anos 1970, a Europa passava por profundas mudanças sociais e ideológicas que vinham acompanhadas de alterações consideráveis na arte, na política e na própria fé. Inspirados pelo movimento vanguardista que ganhava palanque através de nomes como Vivienne Westwood (cujas construções dentro do universo da moda eram reflexo da rebeldia da nova geração e da renegação de práticas impostas por aqueles no comando), os jovens se levantavam contra as instituições regentes, incluindo a Igreja Católica – promovendo um processo de separação entre as práticas sociais à medida que em se entende o mundo pela razão, e não por mitos ou pela fé (prática que é conhecida por secularização).

Esse termo é, inclusive, citado no longa-metragem pouco depois que Margaret chega à Roma. É crucial entender esse ponto da produção como uma premeditação do que acontece: afinal, Margaret cruza caminho com uma jovem menina órfã chamada Carlita Scianna (Nicole Sorace), que é tratada como uma espécie de pária e confinada a um quarto isolado das outras crianças. E, como descobrimos ao lado da protagonista e da ajuda do Padre Brennan (Ralph Ineson), Carlita foi escolhida pela própria Igreja como um receptáculo para trazer o Anticristo de volta – após várias tentativas falhas que culminaram no nascimento de bebês do sexo feminino deformados ou até mesmo natimortos (inadmissível para esse sórdido plano).

Mas por que isso é tão importante?

Se a secularização afastou a nova geração do poder promovido pela Igreja ao longo de século, caberia aos membros do clero fazerem o máximo possível para reafirmar essa hegemonia. Logo, criar um novo “mal” era o plano perfeito para que caos e morte se espalhassem pelo planeta a fim de que os descrentes recorressem ao perdão caso não desejassem arder em sofrimento eterno, renegando os “pecados” cometidos para se salvarem sob a tutela das “casas de Deus” e de um grupo específico de freiras, padres, arcebispos e cardeais que desejam, mais do que tudo, controlas as massas através do medo.

Toda a construção do filme é pautado nesse jogo de caça e caçador e parte de uma premissa que já foi utilizada inúmeras vezes no escopo da sétima arte – a questão de quem está no poder e quem não é forte o bastante para se desvencilhar dessa compulsoriedade autoritária. E essa habilidade de controle generalizado é encarnado por personagens-chave da narrativa, das mais variadas formas: temos a austeridade da Irmã Silvia (Sônia Braga), a pseudo-ingenuidade da noviça Luz Valez (Maria Caballero), o charme psicótico do Cardeal Lawrence (Bill Nighy) e vários outros, cada qual contribuindo para que o nascimento do Anticristo se concretize.

E isso nos leva à conclusão da narrativa. Carlita era apenas um peão dentro de um jogo muito mais intrincado e complexo que revela que Margaret, desde o começo, estava predestinada a ser a mãe do Anticristo – e que seria deixada para morrer após pari-lo. Todavia, ela dá à luz duas crianças: a primeira delas, um menino, se tornaria o Anticristo que conhecemos no filme original, recebendo, é claro, o nome de Damien para atar os nós com o clássico dos anos 1970; a segunda, uma menina, é deixada para morrer ao lado da mãe no altar preparado pela Irmã Silvia, pelo Cardeal Lawrence e o restante de seus asseclas (motivo pelo qual nenhuma das duas é mencionada em A Profecia).

Acreditando que ambas morreram queimadas, os membros da Igreja creem que podem seguir com seu plano – mas a verdade é que Margaret, sua filha recém-nascida e Carlita se isolam em uma casa no meio da montanha para viverem em paz, apenas para descobrirem que a infante terá um papel decisivo na derrota de Damien e dos planos da Igreja.

Lembrando que o filme já está em exibição nos cinemas nacionais.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Dirigido por Arkasha Stevenson em sua estreia no circuito de longas-metragens, o enredo acompanha uma jovem noviça estadunidense chamada Margaret Dalino (Nell Tiger Free), que é convocada por um Cardeal para trabalhar em um orfanato só para meninas em Roma antes de jurar seus votos como freira. Entretanto, conforme os dias passam, ela descobre que tanto a Abadia onde trabalha quanto as freiras que lá moram escondem um segredo obscuro que envolve o nascimento do Anticristo.

Levando em conta a história do título original, é apenas óbvio imaginar que a história da pré-sequência explora o modo como o Anticristo seria trazido ao mundo – explorando temas como o fanatismo religioso e a secularização. É notável como Stevenson nos joga diversas dicas do que podemos esperar da narrativa e de que forma as reviravoltas irão se desenrolar.

Logo de cara, podemos levar em consideração a época em que a trama é ambientada. No começo dos anos 1970, a Europa passava por profundas mudanças sociais e ideológicas que vinham acompanhadas de alterações consideráveis na arte, na política e na própria fé. Inspirados pelo movimento vanguardista que ganhava palanque através de nomes como Vivienne Westwood (cujas construções dentro do universo da moda eram reflexo da rebeldia da nova geração e da renegação de práticas impostas por aqueles no comando), os jovens se levantavam contra as instituições regentes, incluindo a Igreja Católica – promovendo um processo de separação entre as práticas sociais à medida que em se entende o mundo pela razão, e não por mitos ou pela fé (prática que é conhecida por secularização).

Esse termo é, inclusive, citado no longa-metragem pouco depois que Margaret chega à Roma. É crucial entender esse ponto da produção como uma premeditação do que acontece: afinal, Margaret cruza caminho com uma jovem menina órfã chamada Carlita Scianna (Nicole Sorace), que é tratada como uma espécie de pária e confinada a um quarto isolado das outras crianças. E, como descobrimos ao lado da protagonista e da ajuda do Padre Brennan (Ralph Ineson), Carlita foi escolhida pela própria Igreja como um receptáculo para trazer o Anticristo de volta – após várias tentativas falhas que culminaram no nascimento de bebês do sexo feminino deformados ou até mesmo natimortos (inadmissível para esse sórdido plano).

Mas por que isso é tão importante?

Se a secularização afastou a nova geração do poder promovido pela Igreja ao longo de século, caberia aos membros do clero fazerem o máximo possível para reafirmar essa hegemonia. Logo, criar um novo “mal” era o plano perfeito para que caos e morte se espalhassem pelo planeta a fim de que os descrentes recorressem ao perdão caso não desejassem arder em sofrimento eterno, renegando os “pecados” cometidos para se salvarem sob a tutela das “casas de Deus” e de um grupo específico de freiras, padres, arcebispos e cardeais que desejam, mais do que tudo, controlas as massas através do medo.

Toda a construção do filme é pautado nesse jogo de caça e caçador e parte de uma premissa que já foi utilizada inúmeras vezes no escopo da sétima arte – a questão de quem está no poder e quem não é forte o bastante para se desvencilhar dessa compulsoriedade autoritária. E essa habilidade de controle generalizado é encarnado por personagens-chave da narrativa, das mais variadas formas: temos a austeridade da Irmã Silvia (Sônia Braga), a pseudo-ingenuidade da noviça Luz Valez (Maria Caballero), o charme psicótico do Cardeal Lawrence (Bill Nighy) e vários outros, cada qual contribuindo para que o nascimento do Anticristo se concretize.

E isso nos leva à conclusão da narrativa. Carlita era apenas um peão dentro de um jogo muito mais intrincado e complexo que revela que Margaret, desde o começo, estava predestinada a ser a mãe do Anticristo – e que seria deixada para morrer após pari-lo. Todavia, ela dá à luz duas crianças: a primeira delas, um menino, se tornaria o Anticristo que conhecemos no filme original, recebendo, é claro, o nome de Damien para atar os nós com o clássico dos anos 1970; a segunda, uma menina, é deixada para morrer ao lado da mãe no altar preparado pela Irmã Silvia, pelo Cardeal Lawrence e o restante de seus asseclas (motivo pelo qual nenhuma das duas é mencionada em A Profecia).

Acreditando que ambas morreram queimadas, os membros da Igreja creem que podem seguir com seu plano – mas a verdade é que Margaret, sua filha recém-nascida e Carlita se isolam em uma casa no meio da montanha para viverem em paz, apenas para descobrirem que a infante terá um papel decisivo na derrota de Damien e dos planos da Igreja.

Lembrando que o filme já está em exibição nos cinemas nacionais.

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