domingo , 22 dezembro , 2024

Artigo | Katy Perry e os dez anos de ‘Teenage Dream’

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Levou nove anos desde sua estreia na indústria musical, mas Katy Perry finalmente alcançou o status de popstar e celebridade global com o lançamento de Teenage Dream. Considerado um dos álbuns que definiram a década passada e um dos mais comercialmente bem sucedidos de todos os tempos, o CD foi divulgado há exatos dez anos – e certamente merece nossa atenção não apenas pelos recordes de vendas, mas também pela arte que acompanhava uma performer que ainda tinha muitas histórias a nos contar e que começava a mergulhar de cabeça em um bem-vindo amadurecimento (alcançando-o, eventualmente, com o ótimo e subestimado Prism).

É claro que Perry já havia feito sucesso com suas produções anteriores, mais precisamente com os singles de One of the Boys, álbum em que, pela primeira vez, adotava o alter-ego supracitado e se rendia às incursões pop-rock de “I Kissed a Girl”, por exemplo. Em 2008, ela já havia causado certas polêmicas ao falar abertamente sobre bissexualidade e sobre curiosidades acerca de temas de orientação sexual – causando controvérsias tanto pelas secções conservadores da sociedade quando pela comunidade LGBTQ+. De qualquer forma, a artista tinha plena consciência de que se manteria firme às suas perspectivas e à sua borbulhante identidade até então apresentada, com intuito de não “alienar” seus fãs, conforme contou à Rolling Stone.



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Katy cumpriu com o prometido: depois de quase um ano de gravações, Teenage Dream nasceu e causou um impacto inegável na indústria. Para tanto, se reuniu com produtores que já haviam participado de incursões anteriores, como Dr. Luke e Max Martin, cujas estéticas fonográficas são imediatamente reconhecíveis ao longo de 12 faixas oficiais, guiadas por explorações temáticas que variam desde crescimento pessoal até o hedonismo de farrear como se não houvesse amanhã. Com batidas viciantes e memoráveis que fizeram parte de singles mundialmente conhecidos, o álbum vendeu nada menos que 8 milhões de cópias, tendo estreado em primeiro lugar à época de seu lançamento e recebido o lendário prêmio Spotlight, que havia sido concedido apenas a Michael Jackson em 1987 e que homenageia artistas que tenha conseguido colocar 5 canções promocionais de uma mesma obra no topo da Billboard Hot 100.

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Perry havia finalmente conquistado o mundo – isso era inegável. Mantendo suas firmes raízes para as concepções instrumentais que explorara alguns anos antes e encontrando sua voz para angariar uma legião de fãs, a artista foi sagaz ao extremo ao construir uma imagética única, com incursões que miméticas a Betty Boop, Shirley Temple e Betty Page – como os figurinos propositalmente exagerados, as vibrantes paletas de cor e um flerte com a pop art de Roy Lichtenstein e Andy Warhol dos anos 1960. A cereja do bolo, de fato, é sua paixão: talvez como nunca antes, Katy estava preocupada em fazer as pessoas dançarem e esquecer dos problemas do mundo. Como ela mesma falou, “sentia falta das coisas que faziam as pessoas pularem” (via Digital Spy).

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Teenage Dream realiza-se como um complexo trabalho que o impede de ser restringido apenas a um gênero. É óbvio que, à luz da configuração da própria performer e de sua efervescente importância, Katy retornava com um borbulhante pop – mas não apenas isso. Ao longo das faixas, é possível perceber certas tendências contemporâneas que voltavam a dominar o cenário musical mainstream, como as inflexões do soft-rock na adorável faixa epônima, o disco-rock da divertida e chocante “Peacock” e a eletrônica hipnótica de “E.T.” – um dos ápices do álbum que fornece uma visão mais dark e mais futurista das mensagens que ela deseja nos entregar. Esse abrangente alcance estilístico não apenas renderam sete indicações ao Grammy (incluindo Álbum do Ano e Gravação do Ano), mas também comparações com lendários atos, como Madonna e The Cardigans.

É aplaudível o modo como a cantora e compositora se mantém atenta às orientações atuais, sem abandonar suas clássicas influências. Temos a semi-balada rock-pop “The One That Got Away” – uma das construções mais emocionantes da década de 2010 que explora vocais impecáveis da lead singer e uma história de amor que atravessa as gerações; temos a aparição surpreendente de um disco-techno oitentista em “Hummingbird Heartbeat”, que foi feita para seu ex-namorado Russell Brand; e, finalizando a versão padrão do CD, a power-ballad “Not Like the Movies”, que opta pelas notas pungentes do piano e aposta novamente nas investidas românticas (uma ótima resolução para uma ótima produção musical).

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É fato dizer também que Teenage Dream não teve o reconhecimento que merecia quando foi lançado – e não me refiro aqui a números, visto que já provamos que o álbum foi um sucesso magistral no tocante a vendas. Aqui, menciono a recepção crítica, que parece não ter comprado as interessantes mensagens e as competentes delineações musicais das quais Perry se valeu – e a explicação veio com um teor bastante controverso. Certamente o álbum não está livre de deslizes pontuais ou progressões repetitivas – que até mesmo podem ser tachadas de “datadas”, por assim dizer; mas não podemos deixar de lado que a “vulgaridade” com que a obra foi encarada não foi nada menos que a expressão máxima de uma artista que fugia dos padrões impostos pelo cenário fonográfico e que buscava uma identidade única e que alegrasse seus fãs. Mais do que isso, especialistas comentaram sobre a falta de elegância da produção – o que é uma grande mentira, visto a presença de detalhes minuciosos em cada uma das faixas.

Felizmente, a iteração foi redescoberta nos últimos meses – ainda mais considerando seu iminente aniversário. No final das contas, Katy Perry fez algo que parou o mundo e que convidou todos a ouvirem aventuras amorosas, dançantes, narcóticas e livres que permanecem vivas no imaginário popular mesmo dez anos depois de sua estreia.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Levou nove anos desde sua estreia na indústria musical, mas Katy Perry finalmente alcançou o status de popstar e celebridade global com o lançamento de Teenage Dream. Considerado um dos álbuns que definiram a década passada e um dos mais comercialmente bem sucedidos de todos os tempos, o CD foi divulgado há exatos dez anos – e certamente merece nossa atenção não apenas pelos recordes de vendas, mas também pela arte que acompanhava uma performer que ainda tinha muitas histórias a nos contar e que começava a mergulhar de cabeça em um bem-vindo amadurecimento (alcançando-o, eventualmente, com o ótimo e subestimado Prism).

É claro que Perry já havia feito sucesso com suas produções anteriores, mais precisamente com os singles de One of the Boys, álbum em que, pela primeira vez, adotava o alter-ego supracitado e se rendia às incursões pop-rock de “I Kissed a Girl”, por exemplo. Em 2008, ela já havia causado certas polêmicas ao falar abertamente sobre bissexualidade e sobre curiosidades acerca de temas de orientação sexual – causando controvérsias tanto pelas secções conservadores da sociedade quando pela comunidade LGBTQ+. De qualquer forma, a artista tinha plena consciência de que se manteria firme às suas perspectivas e à sua borbulhante identidade até então apresentada, com intuito de não “alienar” seus fãs, conforme contou à Rolling Stone.

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Katy cumpriu com o prometido: depois de quase um ano de gravações, Teenage Dream nasceu e causou um impacto inegável na indústria. Para tanto, se reuniu com produtores que já haviam participado de incursões anteriores, como Dr. Luke e Max Martin, cujas estéticas fonográficas são imediatamente reconhecíveis ao longo de 12 faixas oficiais, guiadas por explorações temáticas que variam desde crescimento pessoal até o hedonismo de farrear como se não houvesse amanhã. Com batidas viciantes e memoráveis que fizeram parte de singles mundialmente conhecidos, o álbum vendeu nada menos que 8 milhões de cópias, tendo estreado em primeiro lugar à época de seu lançamento e recebido o lendário prêmio Spotlight, que havia sido concedido apenas a Michael Jackson em 1987 e que homenageia artistas que tenha conseguido colocar 5 canções promocionais de uma mesma obra no topo da Billboard Hot 100.

Perry havia finalmente conquistado o mundo – isso era inegável. Mantendo suas firmes raízes para as concepções instrumentais que explorara alguns anos antes e encontrando sua voz para angariar uma legião de fãs, a artista foi sagaz ao extremo ao construir uma imagética única, com incursões que miméticas a Betty Boop, Shirley Temple e Betty Page – como os figurinos propositalmente exagerados, as vibrantes paletas de cor e um flerte com a pop art de Roy Lichtenstein e Andy Warhol dos anos 1960. A cereja do bolo, de fato, é sua paixão: talvez como nunca antes, Katy estava preocupada em fazer as pessoas dançarem e esquecer dos problemas do mundo. Como ela mesma falou, “sentia falta das coisas que faziam as pessoas pularem” (via Digital Spy).

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Teenage Dream realiza-se como um complexo trabalho que o impede de ser restringido apenas a um gênero. É óbvio que, à luz da configuração da própria performer e de sua efervescente importância, Katy retornava com um borbulhante pop – mas não apenas isso. Ao longo das faixas, é possível perceber certas tendências contemporâneas que voltavam a dominar o cenário musical mainstream, como as inflexões do soft-rock na adorável faixa epônima, o disco-rock da divertida e chocante “Peacock” e a eletrônica hipnótica de “E.T.” – um dos ápices do álbum que fornece uma visão mais dark e mais futurista das mensagens que ela deseja nos entregar. Esse abrangente alcance estilístico não apenas renderam sete indicações ao Grammy (incluindo Álbum do Ano e Gravação do Ano), mas também comparações com lendários atos, como Madonna e The Cardigans.

É aplaudível o modo como a cantora e compositora se mantém atenta às orientações atuais, sem abandonar suas clássicas influências. Temos a semi-balada rock-pop “The One That Got Away” – uma das construções mais emocionantes da década de 2010 que explora vocais impecáveis da lead singer e uma história de amor que atravessa as gerações; temos a aparição surpreendente de um disco-techno oitentista em “Hummingbird Heartbeat”, que foi feita para seu ex-namorado Russell Brand; e, finalizando a versão padrão do CD, a power-ballad “Not Like the Movies”, que opta pelas notas pungentes do piano e aposta novamente nas investidas românticas (uma ótima resolução para uma ótima produção musical).

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É fato dizer também que Teenage Dream não teve o reconhecimento que merecia quando foi lançado – e não me refiro aqui a números, visto que já provamos que o álbum foi um sucesso magistral no tocante a vendas. Aqui, menciono a recepção crítica, que parece não ter comprado as interessantes mensagens e as competentes delineações musicais das quais Perry se valeu – e a explicação veio com um teor bastante controverso. Certamente o álbum não está livre de deslizes pontuais ou progressões repetitivas – que até mesmo podem ser tachadas de “datadas”, por assim dizer; mas não podemos deixar de lado que a “vulgaridade” com que a obra foi encarada não foi nada menos que a expressão máxima de uma artista que fugia dos padrões impostos pelo cenário fonográfico e que buscava uma identidade única e que alegrasse seus fãs. Mais do que isso, especialistas comentaram sobre a falta de elegância da produção – o que é uma grande mentira, visto a presença de detalhes minuciosos em cada uma das faixas.

Felizmente, a iteração foi redescoberta nos últimos meses – ainda mais considerando seu iminente aniversário. No final das contas, Katy Perry fez algo que parou o mundo e que convidou todos a ouvirem aventuras amorosas, dançantes, narcóticas e livres que permanecem vivas no imaginário popular mesmo dez anos depois de sua estreia.

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Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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