domingo , 22 dezembro , 2024

Artigo | Relembrando ‘Paddington 2’, uma das melhores sequências da história do cinema

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O que esperar de um filme cujo personagem principal é um pequeno e muito fofo urso pardo que vai morar em uma vizinhança habitada pelos atores e atrizes mais versáteis da indústria do entretenimento britânica? Exatamente aquilo que tal escopo nos leva a imaginar: uma narrativa satisfatória, agradável e que, ao final do dia, nos faz refletir sobre as pequenas coisas que tornam o nosso cotidiano mais feliz. E bom, se a história original já se tornou um sucesso tanto de crítica quanto de público, só posso dizer que As Aventuras de Paddington 2’ é uma sequência digna e que mantém o ritmo otimista que nos foi apresentado no predecessor de forma muito minimalista e aplaudível.

O protagonista titular retorna às telonas neste ano para mais uma de suas aventuras – e o inocente e muito bem antropomorfizado animal tem como principal objetivo encontrar o presente perfeito para o centésimo aniversário de sua Tia Lucy (Imelda Staunton), a qual o resgatou de uma trágica morte quando era apenas um filhotinho. Agora, residindo em Londres, mais precisamente na casa da cômica e adorável família Brown, ele receberá sua “musa inspiradora” e precisa fazer com que essa viagem valha a pena demonstrando todo o seu amor. Mas não espere que Paddington (marcando o retorno do carismático Hugh Bonneville à franquia) se renda às ostentações e às superficialidades de roupas de marca, perfumes caríssimos ou qualquer coisa do tipo; ele busca sim por algo singelo e marcante, como um poema, uma história – ou até mesmo um escondido livro pop-up escondido em meio às inúmeras tralhas de uma loja de antiguidades.



Desde o início do primeiro ato, somos apresentados a uma narrativa que definitivamente não segue o mesmo padrão dos filmes de gênero. Ao invés de nos apresentar a um núcleo familiar conturbado e que mantém esse padrão até a grande reviravolta do terceiro ato, toda a atmosfera é propositalmente otimista, como forma de nos direcionar aos clássicos contos de fada e até mesmo às histórias da carochinha que ouvíamos quando criança. Por mais que os obstáculos existam, eles em momento algum são perigosos ou frutos de um acontecimento ocasional, mas resgatam situações prováveis que ocorrem de jeitos cômicos e aventureiros – por mais bobos que possam parecer à prima-vista. Sem sombra de dúvida, todo o conjunto do produto final é o que realmente vale a pena e o que o torna uma obra belíssima, ainda que com seus aparentes, porém ignoráveis, deslizes.

Paddington é como qualquer vizinho que você possa conhecer; ele tem uma rotina, ele trabalha, ele tem desejos e comete erros – mas aqui, a principal fonte de envolvência que a trama emana é utilizar sua inocência e seu altruísmo e esperança em relação a todos com quem convive como base para quebras de expectativa que nos fazem rir e torcer para que as coisas deem certo no final das coisas. Há uma sequência, na verdade a principal que dá continuidade à sua futura jornada, em que ele acaba causando um erro irreversível no couro cabeludo de um cliente e perde seu emprego; tal acontecimento faz com que sua família o leve para um circo próximo, onde conhecem o ator e ilusionista Phoenix Buchanan (Hugh Grant) e, após conversar com ele pessoalmente, acaba revelando quais são seus planos para o aniversário da Tia.

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Acontece que o livro que deseja comprar é a chave para descobrir um tesouro de uma contorcionista assassinada há muito tempo e que se perdeu conforme os anos passaram. Sabe-se que a fortuna escondida tem suas pistas escondidas nas páginas do romance e que, caso caiam em mãos erradas, podem ser utilizadas não como forma de garantir o legado da artista em questão, mas sim para outros propósitos. Logo, Phoenix, com a mente ambiciosa que possui, acaba utilizando um de seus vários disfarces para roubar o pop-up e incriminar o urso, que eventualmente é pego pelos policiais e mandado para a prisão local.

O ápice do longa-metragem não é sua história, por mais comovente e completa que seja: com a chegada do último ato, Paul King e Simon Farnaby parecem se perder com a ordem de resolução dos eventos e prezam muito mais por uma estética que remonte ao gênero de ação e aventura em detrimento de algo mais original – temos até mesmo a insurgência da possível morte do protagonista e de sua ressurreição final por meio de forças externas. Mas toda a sua estética definitivamente rouba a atenção, principalmente pela montagem, que preza por flashbacks bem posicionados e cortes paralelos fluidos e que permitem o entrelace entre cenas divergentes entre si. King também entra como diretor do projeto e sua visão logo nos remonta a outros cineastas de grande peso dentro do cenário cinematográfico.

É quase impossível não realizar comparações entre Paddington 2’ e ‘O Grande Hotel Budapeste’. Desde sua narrativa rocambolesca e com núcleos narrativos bem definidos até o uso excessivo de enquadramentos simétricos e que permanecem na linha do horizonte, o filme pode não alcançar a mesma maestria, mas sem sombra de dúvida funciona como uma boa e comedida homenagem. O uso de tons pasteurizados também é muito bem-vindo, principalmente quando todo o foco da trama volta-se para dentro da prisão, onde o protagonista se encontra com o caricato e ao mesmo tempo complexo cozinheiro Knuckles McGinty (Brendan Gleeson). Aqui, a opção por tons como vermelho, rosa, laranja e seus derivados entra em constante choque com a atmosfera que uma facilidade carcerária normalmente deveria nos passar – e mais uma vez, nos recordamos da irreverência com a qual Wes Anderson trabalha magnificamente em sua obra.

Além de Gleeson, Sally Hawkins também tem os seus momentos de glória, principalmente quando em conjunto a Hugh Bonneville. Os dois interpretam a Sra. e o Sr. Brown, um casal diferente de todos que conhecemos e que nutrem uma paixão indescritível tanto por seu “filho adotivo” quanto pelas pessoas que os cercam. King sabe dosar muito bem o tempo de cena de cada um dos personagens quando em relação ao papel que ocupam dentro do arco principal, e não é nenhuma surpresa que a Sra. Brown e Paddington tenham momentos de pura comédia e também de um melodrama que se faz necessário dentro dos limites impostos pelo filme.

As Aventuras de Paddington 2’ é uma obra que nos faz pensar em ser pessoas melhores. Funcionando tão bem quanto a obra original, tudo aqui se encaixa quase perfeitamente, ainda que não se preocupe de forma mais endossada no tocante à narrativa; definitivamente, esta é uma daquelas histórias que beiram o impossível e que, mesmo assim, conversam com a nossa própria realidade em diversos níveis.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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O que esperar de um filme cujo personagem principal é um pequeno e muito fofo urso pardo que vai morar em uma vizinhança habitada pelos atores e atrizes mais versáteis da indústria do entretenimento britânica? Exatamente aquilo que tal escopo nos leva a imaginar: uma narrativa satisfatória, agradável e que, ao final do dia, nos faz refletir sobre as pequenas coisas que tornam o nosso cotidiano mais feliz. E bom, se a história original já se tornou um sucesso tanto de crítica quanto de público, só posso dizer que As Aventuras de Paddington 2’ é uma sequência digna e que mantém o ritmo otimista que nos foi apresentado no predecessor de forma muito minimalista e aplaudível.

O protagonista titular retorna às telonas neste ano para mais uma de suas aventuras – e o inocente e muito bem antropomorfizado animal tem como principal objetivo encontrar o presente perfeito para o centésimo aniversário de sua Tia Lucy (Imelda Staunton), a qual o resgatou de uma trágica morte quando era apenas um filhotinho. Agora, residindo em Londres, mais precisamente na casa da cômica e adorável família Brown, ele receberá sua “musa inspiradora” e precisa fazer com que essa viagem valha a pena demonstrando todo o seu amor. Mas não espere que Paddington (marcando o retorno do carismático Hugh Bonneville à franquia) se renda às ostentações e às superficialidades de roupas de marca, perfumes caríssimos ou qualquer coisa do tipo; ele busca sim por algo singelo e marcante, como um poema, uma história – ou até mesmo um escondido livro pop-up escondido em meio às inúmeras tralhas de uma loja de antiguidades.

Desde o início do primeiro ato, somos apresentados a uma narrativa que definitivamente não segue o mesmo padrão dos filmes de gênero. Ao invés de nos apresentar a um núcleo familiar conturbado e que mantém esse padrão até a grande reviravolta do terceiro ato, toda a atmosfera é propositalmente otimista, como forma de nos direcionar aos clássicos contos de fada e até mesmo às histórias da carochinha que ouvíamos quando criança. Por mais que os obstáculos existam, eles em momento algum são perigosos ou frutos de um acontecimento ocasional, mas resgatam situações prováveis que ocorrem de jeitos cômicos e aventureiros – por mais bobos que possam parecer à prima-vista. Sem sombra de dúvida, todo o conjunto do produto final é o que realmente vale a pena e o que o torna uma obra belíssima, ainda que com seus aparentes, porém ignoráveis, deslizes.

Paddington é como qualquer vizinho que você possa conhecer; ele tem uma rotina, ele trabalha, ele tem desejos e comete erros – mas aqui, a principal fonte de envolvência que a trama emana é utilizar sua inocência e seu altruísmo e esperança em relação a todos com quem convive como base para quebras de expectativa que nos fazem rir e torcer para que as coisas deem certo no final das coisas. Há uma sequência, na verdade a principal que dá continuidade à sua futura jornada, em que ele acaba causando um erro irreversível no couro cabeludo de um cliente e perde seu emprego; tal acontecimento faz com que sua família o leve para um circo próximo, onde conhecem o ator e ilusionista Phoenix Buchanan (Hugh Grant) e, após conversar com ele pessoalmente, acaba revelando quais são seus planos para o aniversário da Tia.

Acontece que o livro que deseja comprar é a chave para descobrir um tesouro de uma contorcionista assassinada há muito tempo e que se perdeu conforme os anos passaram. Sabe-se que a fortuna escondida tem suas pistas escondidas nas páginas do romance e que, caso caiam em mãos erradas, podem ser utilizadas não como forma de garantir o legado da artista em questão, mas sim para outros propósitos. Logo, Phoenix, com a mente ambiciosa que possui, acaba utilizando um de seus vários disfarces para roubar o pop-up e incriminar o urso, que eventualmente é pego pelos policiais e mandado para a prisão local.

O ápice do longa-metragem não é sua história, por mais comovente e completa que seja: com a chegada do último ato, Paul King e Simon Farnaby parecem se perder com a ordem de resolução dos eventos e prezam muito mais por uma estética que remonte ao gênero de ação e aventura em detrimento de algo mais original – temos até mesmo a insurgência da possível morte do protagonista e de sua ressurreição final por meio de forças externas. Mas toda a sua estética definitivamente rouba a atenção, principalmente pela montagem, que preza por flashbacks bem posicionados e cortes paralelos fluidos e que permitem o entrelace entre cenas divergentes entre si. King também entra como diretor do projeto e sua visão logo nos remonta a outros cineastas de grande peso dentro do cenário cinematográfico.

É quase impossível não realizar comparações entre Paddington 2’ e ‘O Grande Hotel Budapeste’. Desde sua narrativa rocambolesca e com núcleos narrativos bem definidos até o uso excessivo de enquadramentos simétricos e que permanecem na linha do horizonte, o filme pode não alcançar a mesma maestria, mas sem sombra de dúvida funciona como uma boa e comedida homenagem. O uso de tons pasteurizados também é muito bem-vindo, principalmente quando todo o foco da trama volta-se para dentro da prisão, onde o protagonista se encontra com o caricato e ao mesmo tempo complexo cozinheiro Knuckles McGinty (Brendan Gleeson). Aqui, a opção por tons como vermelho, rosa, laranja e seus derivados entra em constante choque com a atmosfera que uma facilidade carcerária normalmente deveria nos passar – e mais uma vez, nos recordamos da irreverência com a qual Wes Anderson trabalha magnificamente em sua obra.

Além de Gleeson, Sally Hawkins também tem os seus momentos de glória, principalmente quando em conjunto a Hugh Bonneville. Os dois interpretam a Sra. e o Sr. Brown, um casal diferente de todos que conhecemos e que nutrem uma paixão indescritível tanto por seu “filho adotivo” quanto pelas pessoas que os cercam. King sabe dosar muito bem o tempo de cena de cada um dos personagens quando em relação ao papel que ocupam dentro do arco principal, e não é nenhuma surpresa que a Sra. Brown e Paddington tenham momentos de pura comédia e também de um melodrama que se faz necessário dentro dos limites impostos pelo filme.

As Aventuras de Paddington 2’ é uma obra que nos faz pensar em ser pessoas melhores. Funcionando tão bem quanto a obra original, tudo aqui se encaixa quase perfeitamente, ainda que não se preocupe de forma mais endossada no tocante à narrativa; definitivamente, esta é uma daquelas histórias que beiram o impossível e que, mesmo assim, conversam com a nossa própria realidade em diversos níveis.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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