Ano após ano, a comunidade LGTBQIA+ ganha mais representatividade no cenário mainstream, conquistando um espaço que, poucas décadas atrás, era confinado a um papel coadjuvante e estereotipado.
Ainda que existam vários pontos que precisam ser melhorados, principalmente em relação às pessoas não-binárias e às pessoas transexuais, é notável como os personagens, título a título, se tornam mais complexos, críveis e com problemas pessoais que vão para além do preconceito enraizado, espalhando-se para obstáculos cotidianos através dos quais os memebros dessa comunidade se sentem representados.
Pensando nisso, preparamos uma breve lista elencando as melhores produções LGBTQIA+ de 2023, celebrando o término de mais um ciclo.
Confira abaixo as nossas escolhas e conte para nós qual a sua favorita:
10. NIMONA
‘Nimona’ se consagrou como uma das melhores animações do ano – quiçá a melhor. Na trama, Nimona, uma adolescente com o poder da metamorfose, vira alvo de um cavaleiro por assassinato. A missão do cavaleiro em matar Nimona fica complicada quando ele acusado de um crime e descobre que a jovem pode ser a única a conseguir exonerá-lo. E, dentro desse divertido universo, temos a complicada história de amor entre o cavaleiro exonerado, Ballister, dublado por Riz Ahmed, e Ambrosius Goldenloin, cavaleiro campeão dublado por Eugene Lee Yang e namorado de Ballister.
9. CLUBE DA LUTA PARA MENINAS
“Na trama, Rachel Sennott se une a Ayo Edebiri para navegar pelas tribulações de duas adolescentes lésbicas que tentam, a todo custo, sair do “fundo da cadeia alimentar” de seu colégio e conseguirem ficar com as garotas mais bonitas. É a partir daí que suas personagens, PJ e Josie (respectivamente) resolvem fazer de tudo para perder a virgindade – incluindo montar um clube de luta para meninas com o pretexto de ajudá-las a se defenderem dos meninos tóxicos, abusivos e manipuladores que percorrem os corredores todo dia” – T.N.
8. CASSANDRO
Com nada menos que 92% de aprovação no Rotten Tomatoes, ‘Cassandro’ pode até ter passado longe de seu radar, mas com certeza merece seu lugar na nossa lista. A trama nos leva ao início dos anos 1980 e acompanha o lutador gay Saúl Armendáriz vive em El Paso, Texas, e cruza regularmente a fronteira para Ciudad Juárez no México para participar de embates de lucha libre. Ele luta como El Topo até conhecer uma nova treinadora, Sabrina, que sugere que ele compita como um profissional exótico, levando à sua nova identidade e aumentando o sucesso como Cassandro.
7. GÊMEAS: MÓRBIDA SEMELHANÇA
“A princípio, Ellie [Rachel Weisz] demonstra ter uma liberdade mais urgente que a irmã, por vezes esquecendo-se da própria moral para deixar sua mente levá-la por onde quiser – transando com desconhecidos em bares e baladas, entupindo-se das mais variadas drogas e participando de jogos mentais que nem ao menos parecem abalar sua confiança. Todavia, é Beverly [Weisz] que insurge como a peça central de uma complexa e enigmática estrutura, postando-se como a base que sustente a relação pessoal e profissional entre elas – ora, há uma cena em que Ellie espirala em um misto de ódio e de ressentimento quando a irmã resolve passar alguns dias com sua namorada, Genevieve (Britne Oldford), chegando a cometer atos condenáveis por não saber como ‘viver’ sem sua outra metade” – T.N.
6. VERMELHO, BRANCO E SANGUE AZUL
“Se pensarmos no gênero romântico, a premissa delineada no parágrafo acima já foi vista inúmeras vezes. Todavia, não é o objetivo do filme trazer algo de novo a essas histórias, e sim aproveitar a crescente representatividade LGBTQIA+ na mídia para oferecer uma perspectiva diferente e que apenas recentemente começou a ganhar visibilidade. Alex e Henry devem se portar como foram ensinados, ainda que o príncipe tenha mais a perder pelo status que carrega e pelo fardo que a coroa pesa sobre sua cabeça. Mas isso não o impede de correr atrás de seus sonhos; por mais que não seja uma pessoa anônima, ele tem o direito de ser feliz – e encontra essa felicidade inesperada na personalidade despojada e descontraída de Alex. E o americano, por sua vez, vê em Henry alguém que pode equilibrar sua constante falta de discernimento (e que alegra seus dias como ninguém)” – T.N.
5. SALTBURN
“Criando um caleidoscópio de cores neon, Emerald Fennel faz de Saltburn um sonho de uma noite de verão. Luxúria, obsessão amorosa e desejos não consumados se fundem em um anseio compulsivo por algo que ainda não sabemos. Arranhando apenas a superfície de sua história, percorremos 1h30 de filme observando o suntuoso palácio de Saltburn como o palco para o que aparenta ser um vindouro crime passional. Mas enquanto nos distraímos com a beleza fugaz de uma família rica e mesquinha, custamos a perceber uma outra narrativa que gradativamente se aflora ao nosso redor. E de maneira quase metalinguística, a vencedora do Oscar transforma seu filme em uma catarse sobre si mesmo. Enquanto achamos que a trama se retém unicamente a uma paixão jamais consumada, Fennel vai além dessa superficialidade, para narrar um conto sobre poder, ostentação e um outro tipo de obsessão” – Rafaela Gomes
4. EILEEN
Com uma trilha sonora sempre marcada pelo jazz e blues, o suspense criminal ainda se consagra como uma eclosão psicoemocional. Trazendo um desfecho que nada mais é do que a consumação plena de uma confusa mente presa em seus próprios delírios, a produção é uma experiência cinematográfica que une elementos cult e blockbuster de forma precisa e certeira, nos mantendo aflitos e angustiados a todo momento. Superando nossas expectativas e subvertendo seu proposital apático início em um final explosivo, Eileen é imprevisível, angustiante e viciante. Com performances excepcionais de [Anne] Hathaway e [Thomasin] McKenzie, o thriller nos satisfaz por inteiro, mas ainda assim nos deixa à deriva, sedentos por muito mais dessa rica fonte jorrada por William Oldroyd.
3. EVERY BODY
Conquistando 97% de aprovação no Rotten Tomatoes, o documentário dirigido por Julie Cohen emergiu como mais um passo adiante na representatividade LGTBQIA+ no escopo cinematográfico. A produção, que merece nossa total atenção para compreender a pluralidade de gêneros e orientações sexuais ao redor do planeta, é centrada em três indivíduos que superaram a vergonha, o sigilo e a cirurgia não autorizada durante a infância para desfrutar de uma vida adulta bem-sucedida, escolhendo ignorar os conselhos médicos para esconder seus corpos e assumir quem realmente eram.
2. THE LAST OF US – 1ª TEMPORADA
‘The Last of Us’ estreou no começo do ano e, em pouco tempo, se consagrou como uma das melhores séries do século. E, dentro do incrível escopo arquitetado por Craig Mazin, temos uma profunda representatividade queer que vem com Ellie (Bella Ramsey), uma jovem garota lésbica que é a única chave para salvar a humanidade da contínua pandemia fúngica que varreu a humanidade. E isso não é tudo: também temos um capítulo inteiro dedicado ao relacionamento entre Frank (Murray Bartlett) e Bill (Nick Offerman), consagrado como um dos melhores episódios da década pela profunda trama arquitetada.
1. BLUE JEAN
“É muito provável que o longa-metragem não tenha passado por seu radar; entretanto, em um período em que a história se repete e que governos extremistas ao redor do mundo voltam a atacar os direitos da comunidade LGBTQIA+. Ora, Jean se encontra dentro de uma panela de pressão, em que ela deve tomar uma decisão de permanecer escondida e se mesclar com a parcela da população que não sofre com as políticas adotadas pelo parlamento inglês, ou assumir quem é e ter a oportunidade de ver o mundo mudar bem diante dos seus olhos. É notável como a narrativa, inclusive, parece espelhar as investidas pró-fascistas do parlamento italiano, em que a primeira-ministra Giorgia Meloni apresenta um prospecto medieval para os indivíduos queer do país” – T.N.
MENÇÃO HONROSA: GOOD OMENS – 2ª TEMPORADA
Se a 1ª temporada de ‘Good Omens’ nos deixou com a impressão de que Crowley (David Tennant) e Aziraphale (Michael Sheen) nutriam um sentimento maior do que amizade, o segundo ciclo expandiu a incrível mitologia criada por Neil Gaiman para confirmar nossas suspeitas. É claro que a trama da produção não se restringe apenas a isso, mas aposta na química impagável entre os protagonistas para construir uma subtrama apaixonante que se consagra nos momentos finais – e da forma mais entristecida possível. Ainda que tenham professado seu amor um pelo outro, Crowley e Aziraphale seguem em caminhos diferentes que, com sorte, irão se reencontrar no futuro.