quinta-feira, março 28, 2024

Crítica | As Aventuras de Pi

Anunciado como um dos melhores filmes do ano, e forte concorrente a diversas indicações no Oscar, “As Aventuras de Pi” é um feito impressionante da sétima arte, e demonstra que ainda existe criatividade na hora de se contar histórias.

Baseado numa obra literária escrita pelo espanhol Yann Martel, tida como inadaptável ao cinema, “As Aventuras de Pi” ganhou forma quando o extraordinário Ang Lee aceitou o desafio de peito aberto. Na trama, toda contada em forma de flashback pelo protagonista para um escritor, somos apresentados a Pi (cujo apelido vem do nome Piscine, Piscina em português, grande paixão de seu tio), um jovem indiano criado ao lado do irmão num zoológico, ambição de seu pai negociante. Quando sua família decide se mudar para outro continente a fim de uma vida mais próspera, a trama verdadeiramente tem início após uma cena-espetáculo do naufrágio de um grande encouraçado. O rapaz é deixado à deriva num bote com alguns animais sobreviventes, e logo após somente com um tigre, o qual recebeu o singelo nome Richard Parker. Durante a maior parte, “As Aventuras de Pi” é um rapaz, um barco e um tigre. Elementos simples para uma grande história, emocionante para cativar qualquer espírito.

O cineasta Ang Lee é sem dúvidas um dos nomes mais expressivos do cinema atual. Natural de Taiwan, Lee conquistou o mundo e quebrou as barreiras da língua demonstrando ser um dos diretores mais globais de todos os tempos. Após alguns filmes feitos na sua terra, em seu idioma, Lee surpreendeu ao adaptar o conto clássico, e super inglês, de Jane Austen, “Razão e Sensibilidade”. Afinal o que um cineasta asiático saberia sobre uma obra de época de um outro continente. O diretor entregou um dos melhores filmes dos anos 90, impecável em sua estética e narrativa, ainda conquistando indicações no Oscar. De lá para cá, Ang Lee ficou entre erros e acertos, mas nunca se domesticou pela comodidade, sempre encarando desafios. O cineasta pode ser considerado o mais corajoso e ousado contador de histórias da atualidade, mesmo que não acerte sempre, o que conta na carreira de Lee é o gosto pela mudança. Lee já se aventurou em desmascarar a classe média americana dos anos 70 em “Tempestade de Gelo” (antes de Sam Mendes fazer o mesmo em “Beleza Americana”), desmistificar o gênero do faroeste e a imagem do cowboy americano por duas vezes, em “Cavalgada com o Diabo” e “O Segredo de Brokeback Mountain“, além de investir em filmes de artes marciais, e até mesmo no subgênero dos super-heróis.

Agora, Lee apresenta mais um filme único e inusitado em sua carreira. Um espanhol e um taiwanês contando a história de personagens indianos. Como se não bastasse a mistura globalizada, “As Aventuras de Pi” é um filme onde muito poderia dar errado. Foi necessário um diretor com a sensibilidade de Ang Lee para capturar cada nuance dessa obra, que não possui muitos diálogos, mas tem muito a dizer sobre a natureza humana, e seu espírito resistente. Os efeitos visuais aqui são simplesmente fantásticos, em muitos momentos, ou em sua grande maioria, são usados animais virtuais, ou seja, criados por efeitos especiais, e o grande êxito do filme é nos fazer não conseguir diferenciar tais momentos. O tigre Richard Parker é sem dúvidas um dos personagens mais icônicos do cinema no ano. As cenas em que o tigre olha para o nada, para a imensidão que os cerca, onde não conseguimos diferenciar o céu do mar, é de uma beleza poética emocionante. Os efeitos em 3D são magníficos, esse é o filme que merecia ter sido rodado em 48 quadros por segundo e não “O Hobbit”, para termos toda a vantagem dos efeitos em 3D, e não ficarem escurecidos pelo óculos, esse filme precisava ser mais claro. De qualquer forma, a única maneira de ver “As Aventuras de Pi” é em 3D, você perderá grande parte do impacto se optar pela versão normal (que nem sei se existe).


O filme é pura poesia e um deleite visual. Infelizmente, “As Aventuras de Pi” tem sim seus problemas. O primeiro deles sendo tudo o que envolve a trama central, ou seja, o começo e o fim. “As Aventuras de Pi” é sobre um náufrago e um tigre, e caso fosse apenas isso seria uma obra-prima, coisa que por pouco escapa de ser. Para termos conhecimento das origens e crenças do protagonista Pi, os realizados optam por todo um início onde isso é mostrado (sem necessidade de fato). A obra demora a engatar e a dizer sobre o que verdadeiramente irá falar. Isso causa confusão para as pessoas que não sabem do que o filme se trata, e podem achar que mudou totalmente a sua trama, quando a história central é justamente o que é mostrado por grande parte.


Digamos que o filme começa como uma história sobre um jovem indiano em busca de sua verdadeira fé, ao lado da família num zoológico, e inclusive temos acrescentado um interesse amoroso que não nos leva a nada, e cenas que mostram a infância de Pi sendo hostilizado pelos coleguinhas no colégio devido a seu exótico nome. Tudo isso se formos parar para pensar é completamente descartável e não soma nada na trama central, assim como o tio apaixonado por piscinas que simplesmente é eliminado sem cerimônia se tornando apenas uma pequena nota no filme. Seja como for, “As Aventuras de Pi” é uma obra quase perfeita, digna dos maiores épicos de Hollywood, que conta uma história diferente e inusitada, e ganha muitos pontos por ser um filme família com conteúdo. O filme fará você verdadeiramente pensar, sentir e refletir, e deverá merecidamente ser lembrado no próximo Oscar.

 

 

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