Quase um ano depois da pandemia do COVID-19, ainda estamos confinados em casa e exercendo o necessário isolamento social para que esse vírus seja contido. Entretanto, nossos dias enclausurados não são tão ruins assim – principalmente considerando a quantidade de ótimas séries que vêm sendo lançadas dia após dia nas principais plataformas de streaming.
Desde as já veteranas ‘Pose’ e ‘Love, Victor’, por exemplo, até a estreia de minisséries irretocáveis como ‘The Underground Railroad’ e ‘Mare of Easttown’, o CinePOP preparou uma breve matéria especial com as melhores produções televisivas de 2021 (até o momento). E, além disso, já incluímos a incrível 3ª temporada de ‘Sex Education’, que já tivemos a oportundidade de assistir e que estreia amanhã, 17 de setembro, na Netflix.
Confira abaixo nossas escolhas e conte para nós qual a sua favorita:
SEX EDUCATION
“Episódio a episódio, é notável como o roteiro atinge um potencial esplêndido e que faz algo muito difícil no escopo audiovisual: manter sua qualidade sem se valer do pedantismo. Por um lado, os tópicos apresentados e explorados já foram vistos em construções similares; por outro, nunca foram tratados com tamanha franqueza quanto aqui. Percebe-se a preocupação em cultivar um terreno que celebra a infinita diversidade do elenco, trazendo causas LGBTQIA+ ao mainstream – incluindo duas pessoas não-binárias -, debates pungentes sobre depressão e ansiedade, discussões sobre mecanismos de enfrentamento de traumas e a livre expressão da entidade mental humana e até críticas à burocracia tradicionalista do sistema de ensino atual (que se aplica a diversos países, não só ao representado na série)” – Thiago Nolla
POSE
“Se os esforços estéticos são perfeitos sem querer ousar mais do que conseguem, as refinadas técnicas que Canals e seu time empregam merecem reconhecimento. Em comparação ao início da saga, a deslumbrante e vibrante paleta de cores por vezes manchava as telas em uma profusão frenética de glitter, passos de dança e figurinos chamativos que causavam uma explosão sensorial intensa; agora, tudo continua, mas com uma sobriedade que acompanha o amadurecimento das personagens sem se esquecer do refúgio artístico que criaram para se salvarem e se encontrarem em meio a tanto ódio – com destaque ao trabalho de Simon Dennis e Nelson Cragg numa progressiva e estonteante fotografia” – Thiago Nolla
THE UNDERGROUND RAILROAD
“As performances são nada menos que viscerais e brutais. Mbedu rouba a cena ao encarnar Cora e ao deixar transparecer as múltiplas feridas que a acompanham desde pequena – o abandono da mãe, o sadismo de seus donos e as névoas de um futuro incerto. Como é de esperar, Jenkins promove um circense movimento de altos e baixos, nos convidando para um passeio de montanha-russa que não deixa nada de fora e não imprime nenhuma sensação desnecessária e forçada; pelo contrário, nota-se o modo como o realizador tem respeito pelos personagens e cultiva o terreno para que flores (ou ervas daninhas) cresçam na imensidão. Dessa forma, Cora não está protegida, mas é acolhida de modos variados por aqueles que querem o seu bem ou que apenas querem se aproveitar de uma condição condenável – por exemplo, quando ela cruza caminho com a fanática Ethel Wells (Lily Rabe) ou a distorcida mentalidade da Srta. Lucy (Megan Boone)” – Thiago Nolla
MARE OF EASTTOWN
“A obra, supervisionada pela HBO, já é interessante por, mais uma vez, apostar no gênero do drama criminal – dessa vez, nos levando à pequena cidade da Pensilvânia que empresta seu nome ao título. No centro desse melancólico e controverso vilarejo, Winslet insurge como Mare Sheehan, uma detetive sem papas na língua cujo principal objetivo é manter a ordem entre os seus vizinhos e, caso nada de errado aconteça, voltar para a casa que divide com a mãe (Jean Smart), com a filha (Angourie Rice) e com o neto, que passou aos seus cuidados após a aparente morte do filho mais velho, que lhe aparece em momentos mais catárticos e reveladores. Outrora uma famosa jogadora de basquete no colégio local, Mare é conhecida por todos e parece se arrastar para enfrentar os inúmeros problemas de todo dia” – Thiago Nolla
ONLY MURDERS IN THE BUILDING
Já renovada para a 2ª temporada, ‘Only Murders in the Building’ foi uma das grandes surpresas de 2021 e merece nossa atenção pelo total descomprometimento e leveza com que trata seus temas. A trama segue três estranhos que compartilham uma obsessão pelo gênero true crime e que, de repente, se veem envolvidos em um crime na vida real. Quando uma morte horrível ocorre dentro de seu exclusivo prédio de apartamentos no Upper West Side, o trio – formado por Mabel (Selena Gomez), Charles (Steve Martin) e Oliver (Martin Short) – começa a suspeitar de assassinato e usa seu conhecimento de true crime para investigar o caso. Mas não demora para que o trio perceba que um assassino pode estar vivendo entre eles e que, portanto, estão em perigo. Agora, eles vão ter de correr para decifrar as pistas e descobrir a verdade – antes que seja tarde demais.
MANHÃS DE SETEMBRO
“De certo modo, a carga dramática é centralizada na conturbada dinâmica entre duas mulheres diferentes que se unem por um tempo já esquecido, mas que conseguiu calcar um caminho que intercruzasse num futuro distante; e, enquanto é redundante falar da interpretação aplaudível de Teles, Liniker rouba a cena em uma rendição invejável que dá início a uma nova faceta de sua carreira: Cassandra reúne as minorias em um tour-de-force que oscila da independência sistemático ao conflito interno; sendo uma mulher negra, pobre e trans, ela encontrou seu lugar em meio a amigos próximos – como é o caso do casal gay formado por Paulo Miklos e Gero Camilo – e insurgiu como uma força imensurável em meio a tantas adversidades. É por esse motivo que a conquista de uma quitinete ou a possibilidade de cantar em um clube é motivo de alegria e de que as coisas seguem um caminho de ‘otimismo realista'” – Thiago Nolla.
RICK E MORTY
Retornando para sua 5ª temporada, a animação adulta ‘Rick e Morty’ permanece como um dos grandes títulos das últimas décadas do cenário estadunidense – e é claro que a nova leva de episódios não seria diferente. Aqui, o amadurecimento e os conflitos dos personagens principais entram como força-motriz de uma cadeia de eventos que culmina em uma das maiores reviravoltas do ano – e uma construção competente e de tirar o fôlego que destila traços do que poderemos ver em temporadas futuras.
THE WHITE LOTUS
“O aspecto mais vantajoso da produção é o fato de não se levar a sério: White, juntamente ao seu time criativo, não tem quaisquer intenções de arquitetar algo exclusivo ou original, e sim utilizar fórmulas constantes do cenário do entretenimento para criticá-las em um espectro ácido e divertido. Nenhum diálogo está fora de lugar e, mais do que isso, é notável como cada sequência caminha para um lugar diferente. Há certos momentos em que os personagens cruzam caminho, como a chocante interação entre Rachel e Nicole, ou o vergonhoso meltdown de Shane quando percebe que não é superior a ninguém dentro de um lugar em que todos se rendem à alienação e ao individualismo. Aliado a uma estética complexa e paradoxal – que cria um conflito entre uma tétrica trilha sonora e uma fotografia vibrante e panfletária -, o roteiro leva certo tempo para acertar no ritmo e caminha para um grandioso finale” – Thiago Nolla
CRUEL SUMMER
“É essa contraposição complementar entre as personagens que permite que o público se envolva, acompanhadas de um estelar elenco de complexos coadjuvantes que, em nenhum momento, mostram-se desnecessários; pelo contrário, Jamie (Froy Gutierrez), Mallory (Harley Quinn Smith), Vince (Allius Barnes) e tantos outros encarnam papéis de extrema importância para a compreensão da obra, entrelaçando-se com reviravoltas fantásticas e uma densidade dramática que não encontramos com tanta facilidade em séries similares. Como se não bastasse, Sarah Drew, que imortalizou a Dra. April em ‘Grey’s Anatomy’, mergulha de cabeça em um tour-de-force que rouba os holofotes em qualquer momento que dá as caras – passando de mãe preocupada a uma mulher que resolve deixar tudo para trás e seguir seus sonhos, visto que não encontra apoio na própria casa” – Thiago Nolla
HACKS
“Duas personalidades completamente diferentes. Duas fases de vida nada iguais. Idades distantes. As protagonistas embarcam em argutos debates sobre a vida, que vão desde os confrontos sobre a não mais atemporalidade de algumas piadas de Vance até mesmo as questões complicadas familiares que a diva do stand up enfrenta mas sem nunca se abrir. Tudo se encaixa com perfeição pelas linhas de um roteiro sublime, até as subtramas são ótimas equilibrando a comédia com dramas ligados ao coração. Há um destaque para a força dessas mulheres sempre à frente de seus tempos. Somos testemunhas de uma forte relação de amizade que nasce aos poucos, também podemos enxergar como ‘mãe e filha’, em meio a todo o caos que insiste em chegar dia após dia dentro do brilho das inesquecíveis noites de shows. Hannah Einbinder e Jean Smart possuem uma harmonia fantástica em cena, um diálogo melhor que o outro. Hacks merece aplausos de pé! Que chegue logo a segunda temporada!” – Raphael Camacho
WANDAVISION
“Com atuações muito boas em personagens excelentes, o saldo da primeira produção original da Marvel no Disney+ é bem positivo. Revolucionaram o mercado? Não acredito, mas nem sempre queremos ver alguém inventando a roda, basta nos entregar uma boa história e bom desenvolvimento de personagens que já ficamos mais que satisfeitos. E isso WandaVision faz muito bem. Fica difícil de controlar a ansiedade para ver o que a Marvel fará daqui pra frente, porque seus primeiros passos no Disney+ foram muito promissores” – Pedro Sobreiro
LUPIN
“A tripla direção de Marcela Said, Ludovic Bernard e Louis Leterrier é afinada, construindo um arco geral da missão de maneira sólida e homogênea sem deixar a peteca cair em nenhum dos cinco episódios. De mero golpista, Assane passa a justiceiro a la ‘V de Vingança’ com uma pegada de 007, e a gente torce por ele, graças à atuação primorosa de Omar Sy, que consegue mudar totalmente sua postura, sua expressão e até mesmo sua voz a cada novo disfarce que Assane usa, com um charme e carisma irresistíveis” – Janda Montenegro
LOVE, VICTOR
“É notável a evolução estética e técnica da segunda temporada em comparação com a anterior. Apesar da insistência alaranjada da fotografia, que por vezes denuncia uma repetição formulaica e que já é vista em diversas produções similares, a coesão do roteiro é o que rouba nossa atenção, fazendo questão de dar enfoque em cada uma das personas. Victor rege boa parte dos eventos que se sucedem, mas entrelaçando-se àqueles que o cercam, não fazendo-os depender dele; Mia passou dez semanas como monitora de um acampamento de férias para colocar a cabeça no lugar, entendendo que não poderia ficar brava com Victor por ser quem ele é, mesmo se sentindo traída; Felix (Anthony Turpel) e Lake (Bebe Wood) se unem em um casal perfeito que, como é de esperar, também passa por inúmeras problemas até culminar em uma realização chocante” – Thiago Nolla
SOMBRA E OSSOS
“Eric Heisserer, resgatando obras anteriores (incluindo o reflexivo sci-fi ‘A Chegada’), sabe como controlar e equilibrar o arco de cada protagonista e coadjuvante para fornecer o máximo de profundidade a cada um deles, supervisionando um time criativo que ainda tem muito a contar. Mesmo assim, é inegável dizer que, conforme nos aproximamos dos episódios finais da temporada de abertura, algo falta; a obrigação de não deixar pontas soltas (e aqui, não me refiro aos cliffhangers para ciclos futuros, e sim a decisões mirabolantes que não condizem com o que foi apresentado) mostra-se como fator decisivo para solavancos rítmicos e um aguardado clímax que não atinge sua potencialidade total” – Thiago Nolla
SWEET TOOTH
“A série ganha notoriedade pelo modo como estrutura a história. Enquanto nada é essencialmente original ou revolucionário, Jim Mickle, que desenvolveu a obra e abarcou a direção do primeiro episódio, conduz com maestria uma aventuresca análise do que significa viver em meio à desordem. Gus e Jepperd são delineados com personalidades totalmente diferentes e que entram em conflito numa constância caótica, a princípio não nutrindo de afeição um pelo outro apenas para culminar em um respeito e um carinho mútuos que o transformam em família. Mas eles não são os únicos que desfrutam de momentos de protagonismo, ainda mais pelo sutil movimento multicronológico que Mickle ergue” – Thiago Nolla