domingo , 22 dezembro , 2024

‘As Panteras’, ‘Tomb Raider’ e ‘Aves de Rapina’: O fim da hipersexualização feminina em Hollywood!

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As Bond Girls mais clássicas já representavam isso muito bem. Com corpos esguios e bem delineados, elas se apresentavam nos antigos filmes do James Bond como a personificação da beleza feminina. Com sua sexualidade sempre muito bem aflorada em figurinos mais reveladores, beldades como Ursula Andress (007 Contra o Satânico Dr. No), Diana Rigg (007 A Serviço Secreto de Sua Majestade) e Maud Adams (007 contra o Homem da Pistola de Ouro) seguiam à risca a descrição hipersexualizada presente nos livros e contos do escritor Ian Fleming. Esse mesmo exagero em objetificar a mulher era também a marca registrada dos cartazes desses e de tantos outros longas da popular franquia do agente secreto e frequentemente traziam a mulher como uma espécie de acessório sexual de Bond, com pouco valor em tempo de tela e pouca importância narrativa.

007 A Serviço Secreto de Sua Majestade

Obviamente, essa redução da mulher nas telonas – alimentada pela franquia Bond e perpetuada por tantas outras – acarretou em um efeito dominó catastrófico, impactando até mesmo em como Hollywood lidaria com o sexo feminino nos cinemas nas décadas seguintes. A falta de representatividade genuína tem gradativamente diminuído, mas saber retratar as mulheres em papéis que valorizem sua essência ainda é um desafio que a indústria patina em conseguir vencer. E após o surpreendente sucesso de Mulher-Maravilha, o primeiro filme solo de uma heroína após os fracassos de Mulher-Gato (2004) e Elektra (2005), a preocupação em garantir mais filmes estrelados por figuras femininas ganhou um outro adendo: Como atrair para os cinemas um público acostumado a associar a mulher unicamente à sua sexualidade?



Parecia até um tanto simples tentar responder a pergunta, mas o quadro atual que Arlequina: Aves de Rapina pintou nos cinemas – fracassando em sua bilheteria, mostra que encontrar o equilíbrio entre a sensualidade natural feminina e seu empoderamento talvez seja mais difícil que abrir espaço para mais produções dirigidas e estreladas por mulheres. Pulando de um extremo ao outro, Hollywood tem se debatido a respeito de como garantir uma verdadeira representatividade sem soar boçal ou misógino. Após anos e anos e uma sucessão de filmes que sempre transformaram a mulher em um objeto a ser desejado e consumado – vide O Pecado Mora ao Lado, Quanto Mais Quente Melhor, Mulher Nota 1000 e Barbarella -, a indústria do entretenimento parece tentar caminhar para a total não hipersexualização feminina – o que é extremamente importante, mas também parece esquecer que é possível garantir a valorização da mulher, mantendo sua saudável, inegável e natural sensualidade.

Barbarella

Os anos 2000 viram o início desse equilíbrio se firmar, em filmes que trouxeram mulheres badass, mas que continuavam exalando sua sensualidade. O remake de As Panteras é uma grande prova do sucesso que essa combinação pode gerar. Com um trio de mulheres bem distintas, o longa estrelado por Drew Barrymore, Lucy Liu e Cameron Diaz resgatou a clássica série dos anos 70 e arrebatou as audiências, com uma arrecadação de mais de US$ 264 milhões, a partir de um orçamento de US$ 93 milhões. Figurando no imaginário infantil feminino como o ideal que muitas garotinhas tinham do que é empoderamento, a comédia de ação ainda ganhou uma sequência de sucesso moderado, que embora tenha tido uma arrecadação um pouco inferior, consolidou a franquia de maneira honrosa, abocanhando mais de US$ 259 milhões.

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Outra saga de sucesso foi a adaptação do game Tomb Raider. A produção, estrelada por Angelina Jolie, trazia uma das mulheres mais sexy do mundo em um papel desbravador. Dona do seu próprio destino, exímia lutadora e astuta em cada movimento, ela fez da Lara Croft um ícone feminino, preservou a sensualidade natural da personagem, sem que esse aspecto ofuscasse toda sua agilidade em combate. Essa fórmula fez de Lara Croft: Tomb Raider a maior bilheteria inspirada em um game (naquela época) e também o filme mais lucrativo estrelado por uma mulher. Faturando mais de US$ 274 milhões, o longa ainda ganhou uma sequência.

Infelizmente, a meteórica jornada de sucesso desses filmes protagonizados por mulheres lançados nos anos 2000 não tem se repetido recentemente. Tentando resgatar o mesmo fulgor das franquias já citadas, os grandes estúdios de cinema tentaram apostar no sucesso de outrora e reativaram tanto a marca de As Panteras, bem como a de Tomb Raider. Trazendo um elenco mais jovem e coerente com o nosso atual contexto sócio cultural, a nova versão da franquia de espionagem tem o seu valor e foi bem executada. Mas mesmo sendo protagonizada por Kristen Stewart, Naomi Scott e Ella Balinska, ela não teve impacto nenhum nem com a audiência feminina, tão pouco com o público geral. Passando pelos cinemas de forma bem insossa, o longa – de orçamento de cerca de US$ 50 milhões – fracassou duramente, com uma pífia bilheteria de meros US$ 71 milhões. Já a atual Lara Croft, vivida pela vencedora do Oscar (e que estava no auge de sua popularidade em virtude disso) Alicia Vikander, também pereceu nas telonas. Embora sua premissa tivesse potencial, o longa amargou uma passagem bem efêmera nas telonas.

E mais recentemente, Aves de Rapina parece seguir pelo mesmo curso. Embora tenha conquistado 78% de aprovação no Rotten Tomatoes, o longa foi incapaz de cativar os fãs dos quadrinhos para o cinema e patina para suprir seu orçamento de cerca de US$ 100 milhões. E ainda que seu título original, Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa, tenha sido uma escolha duvidosa por parte da Warner Bros. – dificultando a associação dos fãs de Arlequina ao longa em questão, o problema no alcance do filme aparenta ir muito além da troca do título. Liderado totalmente por mulheres, a produção é a primeira adaptação de HQ que traz um time composto apenas por heroínas e deveria consolidar um novo tempo em Hollywood, abrindo caminho para mais filmes do gênero. No entanto, a história parece repetir os históricos de 2004 e 2005, abrindo brecha para um novo abismo entre a representatividade feminina e os cinemas.

O que ainda é preciso fazer para garantir que filmes protagonizados por mulheres alcancem o sucesso que genuinamente merecem? É incerto dizer com precisão quais as barreiras e consequências travaram a jornada promissora dos longas citados, mas é fato que ainda há alguns paradigmas e preconceitos a serem rompidos. Será que falta uma genuína distinção entre a sensualidade feminina e a hipersexualização dela nas telonas? Seria uma ausência de equilíbrio na sua representação? Será que os estúdios têm receio em investir na divulgação dessas produções, temendo um prejuízo maior? Falta ousadia na abordagem feminina? Como mudar essa antiga mentalidade acostumada com o James Bond do passado, a fim de garantir que mulheres duronas sejam devidamente celebradas nos filmes? O começo do fim da hipersexualização celebra um novo tempo do empoderamento feminino, mas se não começarmos a encontrar respostas para essas e tantas outras perguntas remanescentes, a jornada encorajadora de mulheres guerreiras nos cinemas pode mais uma vez cair naquele terrível e escuro ostracismo de 50 anos atrás.

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As Bond Girls mais clássicas já representavam isso muito bem. Com corpos esguios e bem delineados, elas se apresentavam nos antigos filmes do James Bond como a personificação da beleza feminina. Com sua sexualidade sempre muito bem aflorada em figurinos mais reveladores, beldades como Ursula Andress (007 Contra o Satânico Dr. No), Diana Rigg (007 A Serviço Secreto de Sua Majestade) e Maud Adams (007 contra o Homem da Pistola de Ouro) seguiam à risca a descrição hipersexualizada presente nos livros e contos do escritor Ian Fleming. Esse mesmo exagero em objetificar a mulher era também a marca registrada dos cartazes desses e de tantos outros longas da popular franquia do agente secreto e frequentemente traziam a mulher como uma espécie de acessório sexual de Bond, com pouco valor em tempo de tela e pouca importância narrativa.

007 A Serviço Secreto de Sua Majestade

Obviamente, essa redução da mulher nas telonas – alimentada pela franquia Bond e perpetuada por tantas outras – acarretou em um efeito dominó catastrófico, impactando até mesmo em como Hollywood lidaria com o sexo feminino nos cinemas nas décadas seguintes. A falta de representatividade genuína tem gradativamente diminuído, mas saber retratar as mulheres em papéis que valorizem sua essência ainda é um desafio que a indústria patina em conseguir vencer. E após o surpreendente sucesso de Mulher-Maravilha, o primeiro filme solo de uma heroína após os fracassos de Mulher-Gato (2004) e Elektra (2005), a preocupação em garantir mais filmes estrelados por figuras femininas ganhou um outro adendo: Como atrair para os cinemas um público acostumado a associar a mulher unicamente à sua sexualidade?

Parecia até um tanto simples tentar responder a pergunta, mas o quadro atual que Arlequina: Aves de Rapina pintou nos cinemas – fracassando em sua bilheteria, mostra que encontrar o equilíbrio entre a sensualidade natural feminina e seu empoderamento talvez seja mais difícil que abrir espaço para mais produções dirigidas e estreladas por mulheres. Pulando de um extremo ao outro, Hollywood tem se debatido a respeito de como garantir uma verdadeira representatividade sem soar boçal ou misógino. Após anos e anos e uma sucessão de filmes que sempre transformaram a mulher em um objeto a ser desejado e consumado – vide O Pecado Mora ao Lado, Quanto Mais Quente Melhor, Mulher Nota 1000 e Barbarella -, a indústria do entretenimento parece tentar caminhar para a total não hipersexualização feminina – o que é extremamente importante, mas também parece esquecer que é possível garantir a valorização da mulher, mantendo sua saudável, inegável e natural sensualidade.

Barbarella

Os anos 2000 viram o início desse equilíbrio se firmar, em filmes que trouxeram mulheres badass, mas que continuavam exalando sua sensualidade. O remake de As Panteras é uma grande prova do sucesso que essa combinação pode gerar. Com um trio de mulheres bem distintas, o longa estrelado por Drew Barrymore, Lucy Liu e Cameron Diaz resgatou a clássica série dos anos 70 e arrebatou as audiências, com uma arrecadação de mais de US$ 264 milhões, a partir de um orçamento de US$ 93 milhões. Figurando no imaginário infantil feminino como o ideal que muitas garotinhas tinham do que é empoderamento, a comédia de ação ainda ganhou uma sequência de sucesso moderado, que embora tenha tido uma arrecadação um pouco inferior, consolidou a franquia de maneira honrosa, abocanhando mais de US$ 259 milhões.

Outra saga de sucesso foi a adaptação do game Tomb Raider. A produção, estrelada por Angelina Jolie, trazia uma das mulheres mais sexy do mundo em um papel desbravador. Dona do seu próprio destino, exímia lutadora e astuta em cada movimento, ela fez da Lara Croft um ícone feminino, preservou a sensualidade natural da personagem, sem que esse aspecto ofuscasse toda sua agilidade em combate. Essa fórmula fez de Lara Croft: Tomb Raider a maior bilheteria inspirada em um game (naquela época) e também o filme mais lucrativo estrelado por uma mulher. Faturando mais de US$ 274 milhões, o longa ainda ganhou uma sequência.

Infelizmente, a meteórica jornada de sucesso desses filmes protagonizados por mulheres lançados nos anos 2000 não tem se repetido recentemente. Tentando resgatar o mesmo fulgor das franquias já citadas, os grandes estúdios de cinema tentaram apostar no sucesso de outrora e reativaram tanto a marca de As Panteras, bem como a de Tomb Raider. Trazendo um elenco mais jovem e coerente com o nosso atual contexto sócio cultural, a nova versão da franquia de espionagem tem o seu valor e foi bem executada. Mas mesmo sendo protagonizada por Kristen Stewart, Naomi Scott e Ella Balinska, ela não teve impacto nenhum nem com a audiência feminina, tão pouco com o público geral. Passando pelos cinemas de forma bem insossa, o longa – de orçamento de cerca de US$ 50 milhões – fracassou duramente, com uma pífia bilheteria de meros US$ 71 milhões. Já a atual Lara Croft, vivida pela vencedora do Oscar (e que estava no auge de sua popularidade em virtude disso) Alicia Vikander, também pereceu nas telonas. Embora sua premissa tivesse potencial, o longa amargou uma passagem bem efêmera nas telonas.

E mais recentemente, Aves de Rapina parece seguir pelo mesmo curso. Embora tenha conquistado 78% de aprovação no Rotten Tomatoes, o longa foi incapaz de cativar os fãs dos quadrinhos para o cinema e patina para suprir seu orçamento de cerca de US$ 100 milhões. E ainda que seu título original, Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa, tenha sido uma escolha duvidosa por parte da Warner Bros. – dificultando a associação dos fãs de Arlequina ao longa em questão, o problema no alcance do filme aparenta ir muito além da troca do título. Liderado totalmente por mulheres, a produção é a primeira adaptação de HQ que traz um time composto apenas por heroínas e deveria consolidar um novo tempo em Hollywood, abrindo caminho para mais filmes do gênero. No entanto, a história parece repetir os históricos de 2004 e 2005, abrindo brecha para um novo abismo entre a representatividade feminina e os cinemas.

O que ainda é preciso fazer para garantir que filmes protagonizados por mulheres alcancem o sucesso que genuinamente merecem? É incerto dizer com precisão quais as barreiras e consequências travaram a jornada promissora dos longas citados, mas é fato que ainda há alguns paradigmas e preconceitos a serem rompidos. Será que falta uma genuína distinção entre a sensualidade feminina e a hipersexualização dela nas telonas? Seria uma ausência de equilíbrio na sua representação? Será que os estúdios têm receio em investir na divulgação dessas produções, temendo um prejuízo maior? Falta ousadia na abordagem feminina? Como mudar essa antiga mentalidade acostumada com o James Bond do passado, a fim de garantir que mulheres duronas sejam devidamente celebradas nos filmes? O começo do fim da hipersexualização celebra um novo tempo do empoderamento feminino, mas se não começarmos a encontrar respostas para essas e tantas outras perguntas remanescentes, a jornada encorajadora de mulheres guerreiras nos cinemas pode mais uma vez cair naquele terrível e escuro ostracismo de 50 anos atrás.

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