Um filme só recebe continuação se fizer sucesso minimamente. É este sucesso que irá ditar se um filme é digno para ter sua história continuada. Por isso, muitas vezes ficamos nos perguntando por que determinado filme, mesmo deixando a porta aberta para isso, não recebeu uma sequência. A resposta é sempre: ele não fez sucesso suficiente.
Por outro lado, na Hollywood atual, se um filme se torna um estrondo na bilheteria, certamente será dado a ele o sinal verde para que ganhe a tão almejada “parte dois”. Mas para muitos, é aí que vem a parte mais difícil: fazer uma continuação à altura do original.
Nessa nova matéria iremos abordar um fato curioso em sequências de produções de sucesso: as piores decisões narrativas para continuar uma história adorada. Pode ser um detalhe na trama, o destino de algum personagem ou a história central. Confira abaixo.
Indiana Jones e a Relíquia do Destino (2023)
A franquia ‘Indiana Jones’ sempre foi sinônimo de aventura matinê, de humor e de positivismo. Até mesmo em seu episódio mais sombrio (‘O Templo da Perdição’), ainda tínhamos o espírito de alegria e diversão. Então, os fãs ficaram se perguntando de quem foi a ideia de criar o filme mais deprimente e para baixo de toda a saga. Sabemos que o herói está na terceira idade, mas precisava de um teor tão melancólico?
Digam o que quiserem de ‘O Reino da Caveira de Cristal’, mas pelo menos lá ainda tínhamos a energia triunfante, as gags e um clima mais despretensioso, que é o que sempre deu forma a tais filmes. O último filme do herói o apresenta como um velho ranzinza, solitário, deprimido, separado, e ainda mataram seu filho (apenas para dar cabo de Shia LaBeouf). De quebra a parceira de aventuras é sua afilhada mau caráter, que não vale nada e vive tentando trapacear o padrinho idoso.
‘A Relíquia do Destino’ é sem dúvida o filme mais deprimente da franquia, totalmente o oposto do que todos os fãs esperavam ver da despedida de um dos maiores heróis da sétima arte. Uma pena.
Coringa: Delírio a Dois (2024)
É claro que tínhamos que falar sobre ele. Mesmo os que não gostaram do primeiro ‘Coringa’, como este que vos fala, reconhecem o acontecimento inflamatório que se tornou a obra. Apoteótico, o filme tem em seu cerne a luta de classes – e faz boa companhia a produções lançadas no mesmo ano, como ‘Parasita’ e ‘Entre Facas e Segredos’. O que os três possuem em comum é a desmistificação dos poderosos e a ascensão, seja por quais os meios, das classes menos favorecidas.
O primeiro ‘Coringa’ em seu discurso tentava justificar os atos de um dos vilões mais famosos da cultura pop, e apontava: “essa é a razão para ele ser assim”. No filme, ele era uma vítima da sociedade, de uma máquina que sempre o massacrou, e agora ele revidava. As reclamações de quem não gostou parecem ter chegado aos ouvidos do diretor Todd Phillips, que na continuação decidiu reverter o quadro. Mas da pior forma possível.
O maior problema de ‘Delírio a Dois’ foi a sua ousadia. Foi diminuir o escopo da grandiosidade do original. É doido pensar que o primeiro custou US$55 milhões e tínhamos toda uma cidade e a sensação de estarmos nos anos 70. O segundo custou US$190 milhões e ficamos restritos a uma prisão, um tribunal e alguns cenários que representam os delírios do protagonista. Já pensou pagar para ver um filme e receber apenas alucinações que se passam na cabeça do personagem?
Alien³ (1992)
O problema da maioria das terceiras partes de uma trilogia é: geralmente são o pior capítulo. E com a saga espacial ‘Alien’ não foi exceção. O primeiro ‘Alien’ aterrorizou o mundo inteiro, e elevou a ficção científica e o terror a um novo patamar. Sete anos depois, o impensável acontecia, e James Cameron conseguia confeccionar uma sequência maior em todos os sentidos, adicionando bastante ação. Resultado: a maioria considera ainda melhor.
Assim, se tornava uma tarefa quase impossível elevar ainda mais o “sarrafo”. Por anos, o terceiro Alien se viu no “inferno dos desenvolvimentos”, mudando sua história, contratando e demitindo roteiristas e diretores. Até que David Fincher assumiu o cargo. Semelhante ao último ‘Indiana Jones’, ‘Alien³’ é o filme mais deprimente, sombrio e sem esperança da franquia.
Um filme que pega tudo o que de bom que havia sido construído anteriormente, incluindo os personagens, e joga pelo ralo nos primeiros minutos. A heroína está presa num planeta prisão. Todos os personagens são parecidos (de cabeça raspada e com a mesma vestimenta), se tornando difícil identifica-los entre si. E logo ficamos sabendo que a protagonista não possui muito tempo de vida. Ou seja, não existe salvação aqui. Simplesmente o fundo do poço.
Rocky V (1990)
O primeiro ‘Rocky’ é considerado por muitos uma obra-prima, um dos melhores filmes de esporte de todos os tempos, e levou o Oscar de melhor filme em 1977. A partir do terceiro, a franquia entrava na cultura pop de vez, adicionando bastante diversão e entretenimento como somente os anos 80 eram capazes. A saga deixava de lado a seriedade e abraça um tom quase cartunesco. O auge da franquia, sem dúvida, foi ‘Rocky IV’ (1985), uma luta não apenas de dois boxeadores, mas de dois países inteiros antagonistas na Guerra Fria: EUA e Rússia (União Soviética).
Por mais piegas e repleto de clichê que ‘Rocky IV’ seja, ele é também o ápice da franquia, o mais empolgante e que ainda hoje guarda algumas das cenas mais memoráveis de todas quando falamos no “garanhão italiano”. Justamente por isso, o russo Ivan Drago se tornou a face do desafio supremo, e retornou em ‘Creed II’. Então, qual seria o passo a seguir no próximo capítulo da saga. Na opinião de Sylvester Stallone na época: uma volta às origens.
Rocky estaria pobre de novo, precisaria voltar ao velho bairro, e se tornaria treinador de um novo campeão. Rocky não sobe aos ringues nesse, e a luta é nas ruas entre o mentor e o pupilo. As ideias aqui seriam melhor aproveitadas em ‘Creed – Nascido para Lutar’. Ainda mais levando em conta que Stallone ainda tinha idade para subir no ringue, e o fez ainda mais velho em ‘Rocky Balboa’ (2006), essa sim uma belíssima homenagem de despedida da franquia.
Rambo – Até o Fim (2019)
Continuaremos a falar de Sylvester Stallone. As maiores franquias do astro da ação, sem dúvida, são ‘Rocky’ e ‘Rambo’. E os episódios mais decepcionantes de ambas estas franquias são ‘Rocky V’ e ‘Rambo: Até o Fim’. No fim dos anos 2000, Sly havia conseguido um desfecho satisfatório para ambas estas franquias com ‘Rocky Balboa’ e ‘Rambo IV’ – uma despedida em alto estilo para os personagens. O principal é que a essência de ambos foi respeitada, em dois filmes emotivos e repletos de adrenalina ao mesmo tempo.
Para continuar ‘Rocky Balboa’, Stallone se tornou coadjuvante e confiou em um jovem diretor bem talentoso (Ryan Coogler) em ‘Creed’. Talvez esse fosse o caminho a seguir com ‘Rambo’ também, passar a tocha na frente e atrás das câmeras. Stallone não dirigiu o último ‘Rambo’, mas escreveu e protagonizou. O filme, porém, poderia ser qualquer outro de ação do repertório do ator, e se não disséssemos que leva o título Rambo, poucos o identificariam como tal.
Os filmes de Rambo são sobre guerra e possuem um grande escopo. Até mesmo no primeiro, uma cidade inteira é tomada numa “guerra de um homem só”, com direito a cenas de ação impressionantes, como um salto das rochas, uma queda de helicóptero, uma fuga de motocicleta e uma colisão de caminhão. Neste quinto filme, sentimos uma escala muito menor, num filme mais intimista, que não reflete em nada o espírito de Rambo. O ápice acontece dentro de uma fazenda, com o personagem criando armadilhas no estilo ‘Esqueceram de Mim’, para pegar meia dizia de mexicanos de um cartel.
Batman vs Superman – A Origem da Justiça (2016)
Terminando a matéria, temos um último item de uma franquia que já nasceu morta. Infelizmente. O universo DC no cinema nunca exibiu a melhor das formas. Filmes como ‘Superman – O Retorno’ (2006) e ‘Lanterna Verde’ (2011) tentaram ser o início de suas próprias franquias, para depois expandir tal universo, mas nenhum dos dois teve sucesso. O início oficial do chamado DCEU seria com ‘O Homem de Aço’ (2013), um novo reboot do Superman, que nem de longe foi um filme unânime.
A pressa de se equiparar ao que a Marvel vinha fazendo no cinema, terminou se tornando um desespero que atropelou os fundamentos básicos de qualquer construção. A empresa rival havia solidificado seus alicerces em filmes solo de personagens que serviram como base para o projeto maior e mais ambicioso. A Warner, por outro lado, correu direto para o projeto mais ambicioso. No caso, colocou todas as suas aspirações e pretensões em ‘Batman vs. Superman’, a continuação de ‘O Homem de Aço’. Esse era apenas o segundo filme da casa. Em contrapartida, a Marvel precisou de cinco filmes antes de criar o evento que foi ‘Os Vingadores’ (2012).
Para termos uma ideia, ‘Batman vs. Superman’ possui pelo menos três filmes em um só. Se o estúdio tivesse tido calma, poderia ter erguido seu império de forma mais adequada. O blockbuster poderia se concentrar no título ‘Batman vs. Superman’ e esquecer o subtítulo ‘A Origem da Justiça’ para uma eventual continuação. A introdução do Batman de Ben Affleck e sua rivalidade e eventual guerra contra o Superman já seria assunto o suficiente para encher um blockbuster, ainda mais introduzindo também o Lex Luthor de Jesse Einsenberg para tocar lenha nessa fogueira.
Um terceiro filme do Homem de Aço, aí sim poderia ser ‘A Origem da Justiça’, com a introdução da Mulher-Maravilha de Gal Gadot e os outros membros, que levaria diretamente ao filme da ‘Liga da Justiça’. E só depois a história envolvendo ‘A Morte de Superman’, com a introdução do monstro Apocalypse – que por si só merecia um filme próprio.