Animação tem uma quantidade considerável de momentos marcantes
Que Batman: A Série Animada é um clássico e muito provavelmente a melhor adaptação do Batman para uma mídia fora dos quadrinhos, isso todos já sabem. O programa que foi ao ar em 1992 mudou para sempre a indústria de animações infantis provando que esse nicho poderia oferecer algo maior do que apenas diversão superficial ou uma desculpa para vender brinquedos.
A equipe à frente do projeto (Bruce Timm, Paul Dini, Alan Burnett) percebeu que os quadrinhos do Batman tinham uma ligação muito forte com a literatura policial e o estilo de histórias pulp do passado. O mérito, no entanto, foi saber transmutar isso para uma animação que, ainda assim, não se desviasse do seu alvo primário que era o público infantil. Dessa maneira, com um roteiro riquíssimo em muitas vezes e (verdade seja dita) fraco em outras poucas, a série conquistou prêmios e respeito como uma forma de arte realmente diferente.
Assim sendo, seguem cinco episódios marcantes da série animada que colaboraram para o enriquecimento do universo do cavaleiro das trevas.
5) Pássaros Idênticos
É indiscutível que as melhores interpretações de vilões são aquelas que os humanizam de alguma forma. O fato deles naturalmente já terem certo carisma por não seguirem as mesmas regras dos heróis ganha ainda mais quando o espectador consegue se pôr no lugar deles e até se compadecer de uma determinada situação pela qual eles estão passando.
Nesse episódio em particular, ainda na primeira temporada, o foco é o vilão Pinguim que, após ter um roubo interrompido pelo Batman, vai para a prisão. Após cumprir sua pena ele descobre que todos os seus antigos associados o abandonaram e, dessa forma, começa a repensar sua vida. Enquanto isso uma socialite chamada Veronica acha que pode ganhar pontos na alta sociedade se transformar o Pinguim na atração de sua próxima festa.
Utilizando de sedução ela ilude Oswald (verdadeiro nome do vilão) fazendo-o achar que ela gosta realmente dele. O clímax, é claro, não poderia ser outro a não ser uma desilusão pública do criminoso enquanto todos fazem piada dele. É curioso como um episódio sobre o Pinguim casa particularmente bem com o final de Carrie – a estranha. Torna-se difícil não se compadecer com Oswald quando ele percebe que não era amado e sentir uma certa raiva da elite de Gotham por ter feito algo tão terrível. Sem dúvida os monstros mais feios.
4) A Busca do Demônio (parte 1 e 2)
Um detalhe muito legal sobre a série animada é que volta e meia algum nome conhecido fazia uma participação especial. Ron Perlman e Adam West são alguns dos nomes convidados mais conhecidos, porém, para os fãs dos quadrinhos outro nome se destacou. Nesse episódio em particular o lendário escritor do Batman nos anos 70, Dennis O’Neil, roteirizou as duas partes daquela que foi a introdução da Liga dos Assassinos na animação.
Mais do que isso, esse foi o episódio que apresentou Ra’s al Ghul e sua filha, Talia; duas peças centrais no universo de Bruce Wayne. Na primeira parte, o infame líder dos assassinos busca o detetive com um pedido de socorro para encontrar sua filha, supostamente sequestrada. Na segunda parte, Batman percebe que isso foi um teste de Ra’s para descobrir se ele é de fato digno de ser seu herdeiro.
O que se segue é uma adaptação da famosa luta de espadas entre o herói e o vilão vista na história The Demon Lives Again, também escrita por O’Neil em 1972. Esse episódio é facilmente um dos mais bem escritos da série e um verdadeiro tesouro para qualquer fã do Batman em quadrinhos mais antigos.
3) Um Favor para o Coringa
Se é possível dizer que alguma coisa da série mudou a DC Comics para sempre, falando como empresa de fato, então é sem dúvida esse episódio. Narrativamente ele começa bem interessante, o ponto de vista é trabalhado em torno de um cidadão comum de Gotham que está tendo um péssimo dia e, após sofrer uma cortada no trânsito, ele decide revidar e grita para o carro que o fechou. Acontece que o motorista era ninguém menos do que o Coringa. Percebendo isso, o protagonista tenta fugir, sem sucesso, e o vilão apenas deixa ele escapar com a promessa de que um dia ele vai procurá-lo e o sujeito deve estar disposto a ajudá-lo.
O grande diferencial dessa trama em relação ao resto da série é que o protagonista é uma pessoa comum que de uma hora para outra tem sua vida virada de cabeça para baixo, vítima de todo o sadismo do Coringa que o utiliza para cometer crimes ameaçando sua família. O que o torna um divisor de águas na história da DC Comics é que nele ocorre a primeira aparição da Arlequina; aqui sendo apenas uma ajudante do Coringa sem uma origem definida.
O roteiro do Paul Dini como sempre é bastante diferenciado quando lida com o palhaço príncipe do crime e aqui ele consegue mostrar de maneira leve e direta o mal que é esse personagem. Ao mesmo tempo, a introdução descompromissada da Arlequina iniciou um ciclo de lucro do qual a DC se aproveita até hoje, utilizando-a sempre que possível em todo tipo de material de divulgação ou produto.
2) Quase o Peguei
Mais um episódio focado em protagonismo deslocado do Batman, dessa vez sendo com os vilões. A trama toda se passa durante um jogo de cartas onde estão presentes Coringa, Pinguim, Duas-Caras, Hera Venenosa e Crocodilo. Durante a partida eles começam uma “competição” sobre quem chegou mais próximo de matar o homem morcego. O que se sucede são pequenas histórias de embates entre o herói e o criminoso que estiver narrando.
Novamente o roteiro do Paul Dini faz um belo trabalho individual com cada antagonista, casando a personalidade icônica de cada um deles junto a estratégia que eles praticaram para tentar matar o Batman no passado; dessa forma ele faz um trabalho de desenvolvimento desses antagonistas sem precisar jogá-los para o canto da trama em prol do Batman.
1) Coração de Gelo
A primeira posição não poderia ser outra senão desse episódio. Aquele que frequentemente é referenciado quando o assunto é a qualidade da série se tornou um exemplo de conquista técnica e uma unanimidade como o auge da série animada. A trama introduz uma nova versão do vilão Sr. Frio, originalmente criado para os quadrinhos em 1959, dessa vez não mais relegado ao papel de um criminoso qualquer com habilidades congelantes.
Agora ele é um homem desesperado em salvar sua esposa, a qual ele congelou para impedir que uma doença incurável a matasse, que comete uma série de roubos por Gotham a fim de criar uma máquina que pode salva-la. O trabalho que o Paul Dini (ele novamente) faz em humanizar o antagonista é digno de nota ao conceder uma motivação poderosa e justa que o coloca em uma posição que não está lá apenas para pôr o herói no pedestal.
Tecnicamente o episódio também inovou em qualidade, principalmente nos efeitos de nevasca. É dito que cada floco de neve que surge em tela foi feito individualmente e não é uma animação que fica em repetição. Uma motivação excelente, somada a uma presença imponente, serviram para pôr o Sr. Frio no primeiro patamar da galeria de vilões do Batman e também como um dos mais humanizados deles.
Menções honrosas:
- O Homem que Matou o Batman (grande episódio sobre a suposta morte do herói por um criminoso pé de chinelo. É interessante como cada vilão reage à notícia da morte dele; algo que Neil Gaiman faria anos depois com a minissérie Batman: O que aconteceu ao cavaleiro das trevas?).
- Duas-Caras Parte 1 e 2 (o nascimento do icônico vilão já vinha sendo preparado desde cedo com as aparições de Harvey Dent).
- Cuidado com o Fantasma Cinzento (episódio que se debruça sobre o herói de infância de Bruce Wayne e cuja a inocência Batman terá que provar. Conta com a participação especial de Adam West).