The Batman (2022) já estreou e se tornou um grande sucesso de crítica e público. É seguro dizer que o mais recente filme do Homem-Morcego é o primeiro blockbuster a estrear este ano. Os envolvidos inclusive já discutem a continuação do filme, que recebeu sinal verde da Warner. Em The Batman, a jovem Zöe Kravitz (filha do músico Lenny Kravitz) personifica a vilã, ou anti-heroína, que também serve de interesse amoroso para o herói: a Mulher-Gato. Além, é claro, de seu alter-ego Selina Kyle. Kravitz é a quarta atriz a interpretar a personagem nas telonas, depois de Michelle Pfeiffer, Halle Berry e Anne Hathaway – sem contar Lee Meriwether, que participou da versão para o cinema do seriado dos anos 60 (aquele do Pow! Soc! Bam!, com Adam West).
E Zoë Kravitz foi também a terceira atriz a interpretar Selina Kyle nas telonas – depois de Pfeiffer e Hathaway -, já que por alguma razão a personagem de Halle Berry no tenebroso Mulher-Gato (2004) se chamava Patience Phillips, criada para o filme. Quem sabe já haviam previsto que o filme realmente testaria nossa “paciência” (com o perdão do trocadilho). Seja como for, aqui nesta nova matéria não iremos falar do novo The Batman, e nem mesmo da atuação elogiada de Kravitz como a vilã. O foco é na primeirona, a atriz que estreou a personagem no cinema. Falamos, é claro, de Michelle Pfeiffer. A estrela indicada ao Oscar viveu a anti-heroína no segundo filme do Homem-Morcego nos cinemas, no formato de superprodução: Batman – O Retorno. O filme, dirigido por Tim Burton, segue como um favorito dos fãs, e em 2022 completa 30 anos de sua estreia. Antes de Pfeiffer ser escalada, no entanto, outras atrizes chegaram perto de vestir a roupa preta, justíssima e viscosa da personagem nas telonas. É o que veremos abaixo. Essas são as atrizes que quase foram a Mulher-Gato antes de Michelle Pfeiffer.
Annette Bening
O destino conspirou a favor de Michelle Pfeiffer, eternizada como a Mulher-Gato de Batman – O Retorno (1992), um de seus papeis mais marcantes. Isso porque a atriz originalmente contratada para viver a personagem era Annette Bening, que havia obtido destaque com Os Imorais (1990) e recebido pelo filme sua primeira indicação ao Oscar. O fato sem dúvida chamou atenção dos realizadores do segundo longa do Homem-Morcego, que logo trataram de escala-la para o papel da vilã. Bening na época estava no topo do mundo, aos 34 anos (mesma idade de Pfeiffer) participando só no ano anterior, em 1991, de Culpado por Suspeita (com Robert De Niro), Uma Segunda Chance (com Harrison Ford) e o mais notório, Bugsy (ao lado do marido Warren Beatty) – filme indicado ao Oscar. Mas o destino não quis assim, e Bening precisou deixar a produção devido à gravidez de seu primeiro filho com Beatty, dando espaço assim para Michelle Pfeiffer brilhar.
Jodie Foster
Jodie Foster era outro nome quentíssimo da época, que os produtores queriam trazer para o elenco de Batman – O Retorno como a Mulher-Gato. Atriz mirim dos filmes da Disney, Foster recebeu sua primeira indicação ao Oscar com 15 anos pelo filme Taxi Driver (1976), clássico de Martin Scorsese. Depois disso na década de 80, levaria o Oscar pelo drama sobre estupro Acusados (1989), como atriz protagonista. Fato que ligou a antena dos produtores da Warner. Mas Foster não parou por aí, e em 1991 estrelou O Silêncio dos Inocentes, considerado um dos melhores (ou quem sabe “o” melhor) thriller de todos os tempos – e que lhe renderia uma segunda estatueta de atriz principal. O que acontece é que parte do acordo que a atriz tinha com o estúdio de O Silêncio dos Inocentes era que pudesse dirigir seu próprio filme, que terminou se tornando o drama Mentes que Brilham, sobre uma mãe solteira criando um pequeno menino prodígio. O fato fez a atriz abrir mão do papel da Mulher-Gato.
Susan Sarandon
Curiosamente, Susan Sarandon havia dividido as telas com Michelle Pfeiffer no divertido As Bruxas de Eastwick (1987), produção da Warner que também contou com Jack Nicholson (o Coringa do Batman original). Sarandon também era uma atriz indicada ao Oscar (por Atlantic City) e no ano anterior ao segundo filme do Batman, protagonizou o icônico Thelma & Louise – que lhe rendeu sua segunda indicação ao maior prêmio do cinema. Susan Sarandon é uma atriz conhecida pela sensualidade de seus papeis no início de carreira, então teria sido interessante ver o que ela faria como a Mulher-Gato. De qualquer forma, a atriz desistiria da vaga em prol do dramalhão O Óleo de Lorenzo, que traz Sarandon e Nick Nolte como os pais de um menino com uma doença rara. E a escolha de Sarandon pelo filme da Universal deu certo, já que ela receberia pelo papel sua terceira indicação ao Oscar.
Geena Davis
Por falar em Susan Sarandon e sua Louise, aqui temos a contraparte: Geena Davis e sua Thelma. A outra metade do icônico Thelma & Louise, a atriz Geena Davis igualmente saiu com uma indicação ao Oscar do projeto. Ao contrário da colega, no entanto, Davis já tinha sua estatueta do Oscar (como coadjuvante por O Turista Acidental, 1988), quando participou da obra feminista de Ridley Scott. A atriz já tinha sua cota de filmes famosos na bagagem (como A Mosca) e inclusive já tinha trabalhado com Tim Burton em Os Fantasmas se Divertem (Beetlejuice). Ou seja, parecia uma escolha óbvia para viver a Mulher-Gato. Porém, Geena Davis foi mais uma atriz que dispensou a oportunidade de viver a vilã em carne e osso. No mesmo ano, a atriz vivia uma repórter resgatada de um acidente de avião por um misterioso benfeitor em Herói por Acidente, com Dustin Hoffman e Andy Garcia; mas o filme que a fez desistir de Batman – O Retorno foi outra obra feminista: Uma Equipe Muito Especial, sobre a primeira liga de mulheres jogadoras de baseball, durante a Segunda Guerra Mundial, no ano de 1943 – filme que ainda conta com Tom Hanks e Madonna no elenco.
Lorraine Bracco
Muitos talvez não conheçam a atriz Lorraine Bracco, o nome menos famoso da lista. Mas com certeza muitos conhecem seu filme mais chamativo: Os Bons Companheiros (1990), de Martin Scorsese. Pois bem, Bracco viveu Karen, a esposa de Henry (Ray Liotta), e pelo papel recebeu uma indicação ao Oscar. Foi o que ligou o radar dos engravatados da Warner, que a colocaram na seleta lista das possíveis candidatas para o papel da Mulher-Gato em Batman – O Retorno. Bracco, no entanto, assim como as demais colegas acima, optou por outro projeto ao invés do filme de Tim Burton. Mas ao contrário de Jodie Foster, Susan Sarandon e Geena Davis, que obtiveram sucesso em sua desistência, o filme escolhido por Bracco para protagonizar foi considerado um fracasso. Trata-se de O Curandeiro da Selva, produção da Disney (através da Hollywood Pictures). Mas a verdade é: quem poderia imaginar, certo? Afinal, além de um grande estúdio por trás, o filme ainda trazia o eterno James Bond, Sean Connery, como protagonista, e o mesmo diretor de Duro de Matar (John McTiernan).
Madonna
Uma verdadeira força da natureza, é dito que a musa pop Madonna queria enfiar suas garras no papel, perseguindo a personagem Mulher-Gato com unhas e dentes. Apesar de ficar entre erros e acertos em seus filmes da década de 80, Madonna havia começado os anos 90 com um grande acerto, participando de Dick Tracy (1990), de Warren Beatty, num papel que lembra muito a vilã de Batman. Breathless Mahoney, o papel de Madonna em Dick Tracy, é uma cantora de cabaré para lá de sensual, que seduz o herói, mas igualmente possui um lado sombrio e misterioso – revelado ao final. Ou seja, certamente foi esta personagem que levou a material girl a desejar o papel na Warner. Mas os produtores terminaram optando por Pfeiffer. No mesmo ano, restou para Madonna estrelar o pseudo thriller erótico Corpo em Evidência.
Cher
Por falar em “cantrizes”, Cher é outra colega que dividiu as telas com Michelle Pfeiffer em As Bruxas de Eastwick (1987). De fato, é Cher quem ganha o crédito principal entre as três mulheres do filme, que conta além da morena, com a ruiva (Susan Sarandon) e a loira (Michelle Pfeiffer). Cher era outra estrela de Hollywood que perseguia o papel da Mulher-Gato com bastante afinco. Na época, também conhecida por seus papeis mais dramáticos, Cher já tinha uma indicação ao Oscar pelo drama biográfico Silkwood – Retrato de uma Coragem (1983), com Meryl Streep, e a vitória como melhor atriz por Feitiço da Lua (1988). Ou seja, uma musa conhecida por sua sensualidade, e ainda por cima vencedora do Oscar, Cher se via tranquilamente na corrida pelo papel. Porém, a diva foi outra que terminou sem a personagem em mãos. Cher só voltaria aos cinemas na comédia Fiel, Mas Nem Tanto (1996).
Demi Moore
Uma das mais jovens da lista (tendo a mesma idade de Jodie Foster), Demi Moore também começou sua carreira como atriz mirim, ainda bem jovenzinha. Parte do chamado Brat Pack, jovens estrelas adolescentes que dominavam Hollywood, vide Emilio Estevez, Charlie Sheen e Molly Ringwald, podemos dizer que o divisor de águas na carreira de Demi Moore para a vida adulta foi o romance de outro mundo Ghost – Do Outro Lado da Vida (1990), o qual estrelou aos 28 anos. E apesar de ser uma das atrizes que mais se declaravam ao papel da Mulher-Gato na época, a Warner talvez tenha pensado duas vezes na hora de contratar Moore devido aos três fracassos que ela lançaria em 1991: Nada Além de Problemas (da própria Warner), A Mulher do Açougueiro (da Paramount) e Pensamentos Mortais (da Columbia/Sony). Felizmente, Demi Moore recuperaria o prestígio logo depois, ao protagonizar sucessos como Questão de Honra (1992) e Proposta Indecente (1993).
Sigourney Weaver
Por mais que Sigourney Weaver tenha se interessado no papel da Mulher-Gato e tenha sido cogitada para a personagem, confesso que essa aqui seria uma escolha inusitada. Isso simplesmente porque Weaver é um verdadeiro colosso com seus 1.82 metros de altura – contra os 1.75 metros do protagonista Michael Keaton na pele de Batman. Tudo bem que o “problema” talvez pudesse ser contornado com efeitos e angulações, mas a verdade é que os realizadores talvez tenham percebido logo que isso não iria dar certo. A veterana Weaver, é claro, tinha no currículo franquias como Alien e Os Caça-Fantasmas, além de três indicações ao Oscar. No mesmo ano de Batman – O Retorno, a atriz estrelaria como Ellen Ripley pela terceira vez em Alien³ – então o mais polêmico capítulo da famosa franquia de terror e ficção científica.
Meryl Streep
“Meryl Streep pode fazer qualquer papel, até mesmo o Batman”! Esse era um bordão muito proferido pelos cinéfilos sobre a recordista de indicações ao Oscar. De fato, temos certeza de que ela poderia. Mas o que muitos talvez não saibam é que Streep chegou perto mesmo foi de viver a Mulher-Gato no cinema. Ou bem, pelo menos foi severamente cogitada pelos executivos da Warner. Um verdadeiro monstro sagrado, Streep àquela altura já possuía nada menos do que 9 indicações ao Oscar, e duas estatuetas para chamar de sua. Porém, aos 43 anos, contra os 41 anos de Michael Keaton, Meryl Streep foi considerada muito velha para o papel. Só não digo azar o deles, porque ganhamos a atuação definitiva na personagem com Michelle Pfeiffer (aos 34 anos). No mesmo ano, Streep mostrava sua melhor forma física em A Morte Lhe Cai Bem, de Robert Zemeckis.
Brooke Shields
Outra atriz que começou bem novinha, a musa dos anos 80 Brooke Shields obteve sua grande revelação no cinema aos 15 aninhos, ao protagonizar o clássico da Sessão da Tarde, A Lagoa Azul. O problema é que logo em seguida a carreira da jovem estrela iria rapidamente ladeira abaixo devido a uma série de projetos que se mostrariam verdadeiros fracassos, como: Sahara (1983), A Corrida Maluca (1989) e Brenda Starr (1989). E era justamente este último o que a atriz tinha para mostrar em seu currículo na época. Resultado: os realizadores acreditavam que a carreira de Brooke Shields já não possuía a mesma força para viver o papel da Mulher-Gato nas telonas.
Sean Young
Essa aqui vai de bônus. Toda história possui uma heroína trágica, e na trajetória do Homem-Morcego nos cinemas, a atriz Sean Young foi a maior prejudicada. Explico. Young, então conhecida por seus papeis em Blade Runner (1982), Duna (1984), Sem Saída (1987) e Wall Street (1987), havia sido contratada pela equipe para viver Vicki Vale em Batman (1989). No entanto, no início da produção, numa cena a atriz caiu do cavalo e se quebrou, precisando ser substituída às pressas por Kim Basinger. Quando chegou a vez de criar uma continuação para Batman, Sean Young desejava estar no topo da lista para uma nova chance como a atriz feminina principal. E para tanto aparecia em todos os lugares vestida como a Mulher-Gato, numa das campanhas mais agressivas para um papel. A atriz chegou ao ponto de invadir o escritório de Tim Burton e pular em sua frente vestida como a Mulher-Gato. No fim das contas nada adiantou, e Burton escolheu Annette Bening e depois Michelle Pfeiffer.