sábado , 21 dezembro , 2024

Berlim 2023 | Crítica | Propriedade – O Terror da Desigualdade Social levado à Extrema Violência

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Logo nos primeiros segundos uma cena chocante de violência urbana, gravada em um celular, marca o início da narrativa de Propriedade, do pernambucano Daniel Bandeiras. A partir do choque inicial, o espectador fica em alerta sobre cada passo dos personagens na tela, onde tudo é inesperado. 

Elaborado durante 10 anos e recheado de temas políticos e sociais, o roteiro de Propriedade é o elemento mais forte do longa-metragem. Após o sacode inicial, a narrativa baixa a tensão em um momento mãe e filha. O diálogo entre elas é capenga e deseja esconder bastante os motivos da desconfiança da mãe Teresa (Malu Galli). 



Por outro lado, o enredo destaca o segundo protagonista, o carro novo do marido Roberto (Tavinho Teixeira). Saído da oficina após uma blindagem, o veículo torna-se a prova de qualquer bala, já que o casal parte para o um terreno hostil e a precaução é importante . A partir dessas evidências, o suspense é construído ao redor desses personagens.

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Embora não estejamos em uma adaptação de Stephen King, seja Christine – O Carro Assassino (1983), seja Cujo (1983), o automóvel é o elemento chave de erupção de uma disputa pela propriedade do título. Esta analogia aparece em diversos aspectos do longa por meio dos questionamentos entre o direito de possuir algo e o dever de servir a alguém. 

Ao chegar na fazenda, o casal se depara com uma inabitual desordem. Onde estão todos os empregados? Por que a televisão da sala está ligada? Um grito, um objeto quebrado e a narrativa parte em outra direção. Até aqui, Propriedade tem um tratamento instigante, muito mais pelo conteúdo do que pela forma. 

Quando os empregados da fazenda, o filme passa de suspensão para um filme de horror. As comparações podem ser feitas com as obras de John Carpenter, ou mesmo, do conterrâneo do diretor Kleber Mendonça Filho. Ambos cineastas utilizam a violência e o escárnio como meio extremo de representação de uma cisão social. Quando o sangue começa a escorrer, as assimilações com Bacurau (2019) são inevitáveis. 

Existe uma diferença latente entre as obras de Kleber Mendonça Filho e Daniel Bandeira. O primeiro tinha à sua disposição atores consagrados e talentosos, como Sônia Braga, Karine Telles, Thomas Aquino e Bárbara Colen. Já os atores deste filme nos distancia dos acontecimentos ao ter falas sem emoção e reações caricaturas para a situação. 

Em um cenário de guerra e horror, o desespero e as motivações emocionais são elementos primordiais. Com um desfecho inesperado e ousadas propostas, Daniel Bandeira cria uma real atmosfera de tensão, medo e desespero. Um terror baseado na desigualdade social e estrutural do nosso país, no qual de forma extrema quem não tem o que comer deseja eliminar aqueles que esbanjam camarões frescos.

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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Elaborado durante 10 anos e recheado de temas políticos e sociais, o roteiro de Propriedade é o elemento mais forte do longa-metragem. Após o sacode inicial, a narrativa baixa a tensão em um momento mãe e filha. O diálogo entre elas é capenga e deseja esconder bastante os motivos da desconfiança da mãe Teresa (Malu Galli). 

Por outro lado, o enredo destaca o segundo protagonista, o carro novo do marido Roberto (Tavinho Teixeira). Saído da oficina após uma blindagem, o veículo torna-se a prova de qualquer bala, já que o casal parte para o um terreno hostil e a precaução é importante . A partir dessas evidências, o suspense é construído ao redor desses personagens.

Embora não estejamos em uma adaptação de Stephen King, seja Christine – O Carro Assassino (1983), seja Cujo (1983), o automóvel é o elemento chave de erupção de uma disputa pela propriedade do título. Esta analogia aparece em diversos aspectos do longa por meio dos questionamentos entre o direito de possuir algo e o dever de servir a alguém. 

Ao chegar na fazenda, o casal se depara com uma inabitual desordem. Onde estão todos os empregados? Por que a televisão da sala está ligada? Um grito, um objeto quebrado e a narrativa parte em outra direção. Até aqui, Propriedade tem um tratamento instigante, muito mais pelo conteúdo do que pela forma. 

Quando os empregados da fazenda, o filme passa de suspensão para um filme de horror. As comparações podem ser feitas com as obras de John Carpenter, ou mesmo, do conterrâneo do diretor Kleber Mendonça Filho. Ambos cineastas utilizam a violência e o escárnio como meio extremo de representação de uma cisão social. Quando o sangue começa a escorrer, as assimilações com Bacurau (2019) são inevitáveis. 

Existe uma diferença latente entre as obras de Kleber Mendonça Filho e Daniel Bandeira. O primeiro tinha à sua disposição atores consagrados e talentosos, como Sônia Braga, Karine Telles, Thomas Aquino e Bárbara Colen. Já os atores deste filme nos distancia dos acontecimentos ao ter falas sem emoção e reações caricaturas para a situação. 

Em um cenário de guerra e horror, o desespero e as motivações emocionais são elementos primordiais. Com um desfecho inesperado e ousadas propostas, Daniel Bandeira cria uma real atmosfera de tensão, medo e desespero. Um terror baseado na desigualdade social e estrutural do nosso país, no qual de forma extrema quem não tem o que comer deseja eliminar aqueles que esbanjam camarões frescos.

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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