sábado , 23 novembro , 2024

Bling Ring: A Gangue de Hollywood

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Cínico e provocante: Sofia Coppola, em proposta documental, sintetiza uma geração com um caso verídico.

A busca por destaque e rápida ascensão sempre foi algo muito recorrente na mente de grande parte dos adolescentes, de um modo geral. Estar engajado dentre os mais populares, exibir bens materiais e expor seu cotidiano abertamente, é pra alguns o caminho mais fácil de alcançar tal objetivo. Principalmente, em momentos como esses, que as redes sociais são, de certa forma, uma espécie de ponte e mosaico, que possibilita o massagear de egos e facilita a exposição pública da vida destas pessoas.

Então, não havia melhor época para levar isso às telonas e trazer uma linha de debate sobre a futilidade da geração atual, que perdeu a noção do que é certo e errado, simplesmente por tentar se firmar num status quo vazio e frívolo. Como também é correto afirmar que a cineasta americana Sofia Coppola, filha de Francis Ford Coppola, foi, de fato, a escolha certa para essa empreitada. Pois, além de partilhar disso tudo, diretamente, ela sempre foi boa em analisar personagens que conseguiram o acesso à fama, mas são socialmente frustrados, e vivem numa constante solidão – assim como fez em sua obra prima Encontros e Desencontros, ou no recente e alternativo Um Lugar Qualquer.



emma-watson-bling-ring

Há poucos anos atrás, tivemos notícias que um bando de jovens desocupados, de classe media alta, tiveram a brilhante ideia de formar uma pequena quadrilha, que teria a seguinte função: entrar sorrateiramente na casa de famosos, surrupiar dinheiro e objetos pessoais das vítimas, para que depois pudessem vender e exibir aos colegas, em festas, boates e, até mesmo, nas próprias redes sociais. Algo, obviamente, sem sentido, para alguém em sã consciência, mas não para esse grupo e seu meio social.

Celebridades como Paris Hilton, Orlando Bloom, Rachel Bilson e, sim, Lindsay Lohan – ela mesmo que já foi acusada e sentenciada por ter cometido delitos semelhantes aos destes delinquentes – tiveram suas residências invadidas e perderam cerca de US$ 3 milhões (R$ 6 milhões) em dinheiro e artefatos. Alguns dos artistas, como Paris Hilton – a própria heroína de barro dos ladrões juvenis –, só vieram dar falta dos objetos, depois de três ou mais furtos dos sujeitos – sim, eles não só repetiam visitas nas mansões roubadas outrora, como também davam festas por lá. O que só que ratifica a ingenuidade (imbecilidade) desses garotos, em relação aos crimes que cometiam.

É nisso, então, que Bling Ring: A Gangue de Hollywood se baseia, prometendo ser um grande sucesso provocador, que irá mexer com diversos públicos, de variadas faixas etárias.

blingring

Engendrando uma narrativa bastante orgânica, Sofia Coppola é esquemática, segue o ritmo cool daquela atmosfera e desenvolve bem cada personagem de sua estória. Em vinte minutos de exibição, o espectador já tem uma opinião formada, em relação a cada figura da trama. Ou você, imediatamente, toma asco e começa a detestá-los, ou embarca, com eles, naquela que, pra muitos, é uma aventura inesquecível ou “experiência de vida” – como afirma a personagem Nicki, brilhantemente interpretada por Emma Watson (a eterna Hermione da saga Harry Potter). Com ideais tolos e de uma falsidade inacreditável, ela é propositalmente desagradável e sintetiza todos os elementos e referenciais de seu grupo.

E assim, em cima de cada personalidade, a diretora vai construindo e enriquecendo seu conto. Colocando em prática, de forma sínica, os sonhos pueris e a equivoca consolidação do sucesso de seus protagonistas. Como, por exemplo, o enrustido Marc (Israel Broussard), que ver na amizade da líder da gangue e personagem mais canalha do grupo, Rebecca (Katie Chang), uma oportunidade para ser ele mesmo. Podendo se assumir como homossexual, e sendo feliz e popular, como sempre desejou. Mas que depois irá descobrir uma realidade não tão incendiária.

4c4ed452dd8852d9cc_q5m6ii5jo

Mesmo sem ir mais afundo, não desenvolvendo um maior estudo psicológico sobre o tema abordado, Sofia em nenhum instante perde a mão. Com um roteiro bastante enxuto, assinado por ela mesmo, o filme tem um time ideal e diálogos espertos. Até mesmo em aspectos estéticos, a fita acerta e impressiona. A fotografia do sempre excelente Harris Savides (Milk – A Voz da Igualdade) – que aqui faz seu último trabalho, pois este veio a falecer no ano passado –, é aqui bastante intensa e cintilada. Ressaltando todo brilho daquele universo e destacando o figurino e a direção de arte; que também acerta, por se atentar nas principais grifes/marcas, e em maiores detalhes, que são fundamentais para que a trama torne-se mais crível. Esses e outros artifícios fazem com que o espectador deixar-se levar completamente pela estória, parecendo estar assistindo a algo quase que documental.

Em suma, acredito que Sofia Coppola e sua jovem equipe tenham conseguido, sim, obter êxito em sua proposta de deixar registrado, na sétima arte, esse curioso fato. Que, de certa maneira, imprime bem essa geração e gênese das mídias e redes sociais, e sua apavorante capacidade, que vai além do que muitos pensariam que pudesse acontecer. Servindo até como uma espécie de aviso, para que os responsáveis possam participar mais da vida igualitária de seus filhos. Pois, a única coisa que eles são vítimas, e têm em comum, é justamente a ausência dos pais, que nunca os colocaram limites ou partilharam, pontualmente, suas duvidas e incertezas.

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Wilker Medeiroshttps://www.youtube.com/imersaocultural
Wilker Medeiros, com passagem pela área de jornalismo, atuou em portais e podcasts como editor e crítico de cinema. Formou-se em cursos de Fotografia e Iluminação, Teoria, Linguagem e Crítica Cinematográfica, Forma e Estilo do Cinema. Sempre foi apaixonado pela sétima arte e é um consumidor voraz de cultura pop.

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Então, não havia melhor época para levar isso às telonas e trazer uma linha de debate sobre a futilidade da geração atual, que perdeu a noção do que é certo e errado, simplesmente por tentar se firmar num status quo vazio e frívolo. Como também é correto afirmar que a cineasta americana Sofia Coppola, filha de Francis Ford Coppola, foi, de fato, a escolha certa para essa empreitada. Pois, além de partilhar disso tudo, diretamente, ela sempre foi boa em analisar personagens que conseguiram o acesso à fama, mas são socialmente frustrados, e vivem numa constante solidão – assim como fez em sua obra prima Encontros e Desencontros, ou no recente e alternativo Um Lugar Qualquer.

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Há poucos anos atrás, tivemos notícias que um bando de jovens desocupados, de classe media alta, tiveram a brilhante ideia de formar uma pequena quadrilha, que teria a seguinte função: entrar sorrateiramente na casa de famosos, surrupiar dinheiro e objetos pessoais das vítimas, para que depois pudessem vender e exibir aos colegas, em festas, boates e, até mesmo, nas próprias redes sociais. Algo, obviamente, sem sentido, para alguém em sã consciência, mas não para esse grupo e seu meio social.

Celebridades como Paris Hilton, Orlando Bloom, Rachel Bilson e, sim, Lindsay Lohan – ela mesmo que já foi acusada e sentenciada por ter cometido delitos semelhantes aos destes delinquentes – tiveram suas residências invadidas e perderam cerca de US$ 3 milhões (R$ 6 milhões) em dinheiro e artefatos. Alguns dos artistas, como Paris Hilton – a própria heroína de barro dos ladrões juvenis –, só vieram dar falta dos objetos, depois de três ou mais furtos dos sujeitos – sim, eles não só repetiam visitas nas mansões roubadas outrora, como também davam festas por lá. O que só que ratifica a ingenuidade (imbecilidade) desses garotos, em relação aos crimes que cometiam.

É nisso, então, que Bling Ring: A Gangue de Hollywood se baseia, prometendo ser um grande sucesso provocador, que irá mexer com diversos públicos, de variadas faixas etárias.

blingring

Engendrando uma narrativa bastante orgânica, Sofia Coppola é esquemática, segue o ritmo cool daquela atmosfera e desenvolve bem cada personagem de sua estória. Em vinte minutos de exibição, o espectador já tem uma opinião formada, em relação a cada figura da trama. Ou você, imediatamente, toma asco e começa a detestá-los, ou embarca, com eles, naquela que, pra muitos, é uma aventura inesquecível ou “experiência de vida” – como afirma a personagem Nicki, brilhantemente interpretada por Emma Watson (a eterna Hermione da saga Harry Potter). Com ideais tolos e de uma falsidade inacreditável, ela é propositalmente desagradável e sintetiza todos os elementos e referenciais de seu grupo.

E assim, em cima de cada personalidade, a diretora vai construindo e enriquecendo seu conto. Colocando em prática, de forma sínica, os sonhos pueris e a equivoca consolidação do sucesso de seus protagonistas. Como, por exemplo, o enrustido Marc (Israel Broussard), que ver na amizade da líder da gangue e personagem mais canalha do grupo, Rebecca (Katie Chang), uma oportunidade para ser ele mesmo. Podendo se assumir como homossexual, e sendo feliz e popular, como sempre desejou. Mas que depois irá descobrir uma realidade não tão incendiária.

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Mesmo sem ir mais afundo, não desenvolvendo um maior estudo psicológico sobre o tema abordado, Sofia em nenhum instante perde a mão. Com um roteiro bastante enxuto, assinado por ela mesmo, o filme tem um time ideal e diálogos espertos. Até mesmo em aspectos estéticos, a fita acerta e impressiona. A fotografia do sempre excelente Harris Savides (Milk – A Voz da Igualdade) – que aqui faz seu último trabalho, pois este veio a falecer no ano passado –, é aqui bastante intensa e cintilada. Ressaltando todo brilho daquele universo e destacando o figurino e a direção de arte; que também acerta, por se atentar nas principais grifes/marcas, e em maiores detalhes, que são fundamentais para que a trama torne-se mais crível. Esses e outros artifícios fazem com que o espectador deixar-se levar completamente pela estória, parecendo estar assistindo a algo quase que documental.

Em suma, acredito que Sofia Coppola e sua jovem equipe tenham conseguido, sim, obter êxito em sua proposta de deixar registrado, na sétima arte, esse curioso fato. Que, de certa maneira, imprime bem essa geração e gênese das mídias e redes sociais, e sua apavorante capacidade, que vai além do que muitos pensariam que pudesse acontecer. Servindo até como uma espécie de aviso, para que os responsáveis possam participar mais da vida igualitária de seus filhos. Pois, a única coisa que eles são vítimas, e têm em comum, é justamente a ausência dos pais, que nunca os colocaram limites ou partilharam, pontualmente, suas duvidas e incertezas.

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Wilker Medeiros, com passagem pela área de jornalismo, atuou em portais e podcasts como editor e crítico de cinema. Formou-se em cursos de Fotografia e Iluminação, Teoria, Linguagem e Crítica Cinematográfica, Forma e Estilo do Cinema. Sempre foi apaixonado pela sétima arte e é um consumidor voraz de cultura pop.

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