terça-feira, abril 23, 2024

Crítica 2 | Café Society

UMA ÓTIMA COMÉDIA DE ALLEN

 

Desde 2005, com o fabuloso Match Point, o diretor e roteirista Woody Allen entrou em uma nova boa safra. O que não significa que entregue apenas obras-primas. Já virou uma máxima da crítica falar que ele tem altos e baixos e que “o pior Allen ainda é melhor do que a maioria dos filmes em cartaz” – ou qualquer coisa do tipo. É algo natural para quem tem a produtividade de um filme por ano.

Nesta fase mais recente, Allen produziu, ao menos, 4 grandes obras: Match Point, Vicky Cristina Barcelona, Blue Jasmine e Meia-Noite em Paris (ainda que eu tenha um problema com esse filme e precise revê-lo). Junto deles, tivemos alguns fiascos e um punhado de obras que flutuam em entre o bom e o ótimo. O recente Café Society está entre um dos melhores filmes que o diretor colocou nas telas nesta década.

café society

Ou melhor: Café Society é a melhor comédia de Allen nesta década. É um trabalho que articula muito bem vários temas recorrentes na sua obra, tudo embalado em uma plasticidade impecável. Ainda que não seja a obra-prima que alguns falam, sobram qualidades e certamente é bem melhor do que sua comédia anterior Magia ao Luar.

Nos anos 1930, o jovem Bobby (Jesse Eisenberg), que troca o Bronx, em Nova York, por Hollywood, onde seu tio Phil Stern (Steve Carell) é agente das grandes estrelas. Lá, ele se envolve com Vonnie (Kristen Stewart). Outros elementos como a família judia e a máfia completam a história.

café society

A narrativa de Café Society tem dois momentos bem claramente delimitados. Na primeira parte, Bobby é um anônimo tentando vencer na vida, ainda deslumbrado com Hollywood. Na segunda parte, Bobby sobe na vida dirigindo um clube noturno e passa a fazer parte do crème de la crème da sociedade. Aquele Bobby humilde e bicho do mato da primeira parte vira um homem sofisticado, que circula muito a vontade pelo meio dos ricos e famosos.

O maior sonho do Bobby da primeira parte é uma vida simples ao lado de Vonnie. Na segunda parte, encontramos um Bobby mais ambíguo: enquanto anda com desenvoltura entre as altas rodas nova-iorquinas, alguns gestos seus apontam um desejo de viver outra realidade. Isto fica especialmente evidente na relação com a sua esposa.

Não deixe de assistir:

CinePOP - Café Society 3

Essa estrutura dupla me lembrou outro filme de Allen. Na comédia Trapaceiros, de 2000, um grupo tenta construir um túnel para roubar um banco e usa como fachada uma loja de biscoitos (ou bolachas, você escolhe, não vou me meter em polêmica). O assalto fracassa, mas a loja de fachada da certo e eles ficam ricos. Na segunda parte do filme, o ex-ladrão Ray (Woody Allen) não consegue se adaptar ao ambiente da alta sociedade.

Em Trapaceiros, a crítica à alta sociedade é direta e mesmo ingênua, reflexo daquele período de vacas magras pelo qual passava o diretor. Em Café Society, Allen gera uma ambivalência imensa: Bobby tem atração e rejeição por aquela vida na alta sociedade. A simples e brilhante cena final consegue sintetizar visualmente essa dubiedade do personagem.

Ainda que o roteiro tenha alguns problemas – especialmente na primeira parte, na qual a história da máfia fica mal encaixada – a história flui bem e possui ótimos momentos de humor. O que deixou este crítico realmente deslumbrado foi a parte plástica da obra. Direção de arte, figurino, movimentação de câmera, todos os elementos plásticos do filme são de uma sofisticação que não via fazia tempos nos trabalhos de Allen.

cafesociety_2

O que mais se destaca é a fotografia de Vittorio Storaro – vencedor do Oscar pelas fotografias de Apocalypse Now e O Último Imperador. Com uma fotografia fortemente calcada em tons de amarelo, Storaro cria variações que traduzem, com muita sutileza, os sentimentos das personagens e as relações entre eles. Há instantes nos quais isso fica bem evidente, como na diferença da fotografia entre Nova York (um cinza mais escura e fria) e Hollywood (um amarelo quente e sofisticado). Há outros mais sutis, como mudar a luminosidade dos rostos dos personagens para destacá-los durante diálogos. Poderia desfiar parágrafos e mais parágrafos só sobre o trabalho de Storaro, mas prefiro torcer para que ele vença o máximo de prêmios ano que vem.

E, aí, o que achou do filme? Riu bastante, ou saiu da sala de cinema achando este apenas mais um filme pé-no-saco do Woody Allen? Na sua cidade, é bolacha ou biscoito? Vamos, comente, compartilhe e curta nossas redes sociais:

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