quinta-feira , 26 dezembro , 2024

Chadwick Boseman: A volta para casa de um herói do mundo

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* Por Marcelo David Macedo

“Crime, futebol ou música. (…) Eu não consigo fugir disso aí”, lamentava um jovem Mano Brown em “Negro Drama”, clássico dos Racionais MC’s gravado em 2002. Na canção, dele e de Edi Rock, os pretos mais perigosos do Brasil denunciavam um país racista que nega chances e sonhos a pessoas pretas. Um lugar que insistia em ser um não-lugar, onde crianças brancas que querem ser astronautas encontram guarida, e crianças pretas que sonham ter uma profissão são ridicularizadas. A negritude brasileira começa a morrer quando seus sonhos, por mais utópicos que sejam, são pisados ao nascer. Como sonhar em sermos heróis se não tínhamos heróis como nós, com nossa cor, com nosso cabelo?



Chadwick Aaron Boseman (1976-2020) nos libertou desse destino. Ao nascer na Carolina do Sul, um dos territórios mais racistas dos Estados Unidos, foi herói desde cedo. No início da carreira, foi morar no Brooklyn e trabalhou no Harlem, bairros com forte presença negra em suas ruas e culturas. Bebeu de fontes racializadas para se definir como o herói negro que o mundo conheceu. Foi ator, diretor e roteirista.

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E nada disso consegue dimensionar o que de fato Boseman foi para crianças e adultos pretos em todo o mundo. Com seu T’Challa, o eterno rei de Wakanda que em segredo virava o Pantera Negra, ensinou a adultos que heróis podem chegar tarde, mas chegam; e para crianças, uma lição ainda maior, a de que pretinhos e pretinhas podem ser o que quiserem, desde que queiram – e que violências diversas, praticadas por policiais ou não, não nos matem na travessia.

Ver Boseman atuar sempre foi a certeza de que podemos e ponto, seja o que for, porque a classe e a elegância com a qual dava vida a heróis reais eram únicas no mundo. Em 2013, no filme “42”, o ator deu vida a Jackie Robinson, o primeiro jogador de beisebol negro da principal liga estadunidense, morto em 1972; no ano seguinte,  em “Get On Up”, fez James Brown, o artista mítico que balançou o mundo com sua música preta; em 2017, estrelou “Marshall” com o papel de Thurgood Marshall, que em 1967 se tornou o primeiro juiz negro da Suprema Corte dos Estados Unidos. Poderia ser ainda mais: “Yasuke”, filme anunciado em 2019 que contaria a história do personagem-título, que viveu no século XVI e é o único samurai conhecido de origem africana, o teria como protagonista. Todos heróis reais, que sob o talento de Boseman se tornaram ainda maiores.

Chadwick Boseman, que morreu aos 43 anos, em casa e junto à sua família, sempre entendeu a grandeza daquilo que passou a vida representando: grandes ícones raciais daqui, de lá e do mundo inteiro. Boseman, ele mesmo, se tornou mais um. Se foi jovem, vítima de um câncer no cólon descoberto em 2016 e que fez parte de sua trajetória durante todo o auge de uma carreira tão brilhante quanto eterna. Que a volta para casa de um herói como ele tenha o conforto e o amor que foi semeado com a sua arte. Wakanda forever, Chadwick também.

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Pedro Sobreirohttp://cinepop.com.br/
Jornalista apaixonado por entretenimento, com passagens por sites, revistas e emissoras como repórter, crítico e produtor.

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“Crime, futebol ou música. (…) Eu não consigo fugir disso aí”, lamentava um jovem Mano Brown em “Negro Drama”, clássico dos Racionais MC’s gravado em 2002. Na canção, dele e de Edi Rock, os pretos mais perigosos do Brasil denunciavam um país racista que nega chances e sonhos a pessoas pretas. Um lugar que insistia em ser um não-lugar, onde crianças brancas que querem ser astronautas encontram guarida, e crianças pretas que sonham ter uma profissão são ridicularizadas. A negritude brasileira começa a morrer quando seus sonhos, por mais utópicos que sejam, são pisados ao nascer. Como sonhar em sermos heróis se não tínhamos heróis como nós, com nossa cor, com nosso cabelo?

Chadwick Aaron Boseman (1976-2020) nos libertou desse destino. Ao nascer na Carolina do Sul, um dos territórios mais racistas dos Estados Unidos, foi herói desde cedo. No início da carreira, foi morar no Brooklyn e trabalhou no Harlem, bairros com forte presença negra em suas ruas e culturas. Bebeu de fontes racializadas para se definir como o herói negro que o mundo conheceu. Foi ator, diretor e roteirista.

E nada disso consegue dimensionar o que de fato Boseman foi para crianças e adultos pretos em todo o mundo. Com seu T’Challa, o eterno rei de Wakanda que em segredo virava o Pantera Negra, ensinou a adultos que heróis podem chegar tarde, mas chegam; e para crianças, uma lição ainda maior, a de que pretinhos e pretinhas podem ser o que quiserem, desde que queiram – e que violências diversas, praticadas por policiais ou não, não nos matem na travessia.

Ver Boseman atuar sempre foi a certeza de que podemos e ponto, seja o que for, porque a classe e a elegância com a qual dava vida a heróis reais eram únicas no mundo. Em 2013, no filme “42”, o ator deu vida a Jackie Robinson, o primeiro jogador de beisebol negro da principal liga estadunidense, morto em 1972; no ano seguinte,  em “Get On Up”, fez James Brown, o artista mítico que balançou o mundo com sua música preta; em 2017, estrelou “Marshall” com o papel de Thurgood Marshall, que em 1967 se tornou o primeiro juiz negro da Suprema Corte dos Estados Unidos. Poderia ser ainda mais: “Yasuke”, filme anunciado em 2019 que contaria a história do personagem-título, que viveu no século XVI e é o único samurai conhecido de origem africana, o teria como protagonista. Todos heróis reais, que sob o talento de Boseman se tornaram ainda maiores.

Chadwick Boseman, que morreu aos 43 anos, em casa e junto à sua família, sempre entendeu a grandeza daquilo que passou a vida representando: grandes ícones raciais daqui, de lá e do mundo inteiro. Boseman, ele mesmo, se tornou mais um. Se foi jovem, vítima de um câncer no cólon descoberto em 2016 e que fez parte de sua trajetória durante todo o auge de uma carreira tão brilhante quanto eterna. Que a volta para casa de um herói como ele tenha o conforto e o amor que foi semeado com a sua arte. Wakanda forever, Chadwick também.

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